domingo, 13 de setembro de 2009

Puebla de Sanabria


Hoje, domingo, resolvemos ir a Puebla de Sanabria. Sai-se de Bragança pela saída Norte, que leva a Portelo. São 15 km até a fronteira e mais 20 km em Espanha, até Puebla de Sanabria. No caminho há algumas aldeias (Rabal, por exemplo) e vários restaurantes que ainda teremos de visitar, com o tempo. A estrada é bastante sinuosa mas bem sinalizada, com bom piso e bem segura. Não é recomendável percorrê-la em velocidade média acima dos 50 ou 60 km/hora. Assim, leva-se uns 40 minutos até lá.

Lugarzinho adorável, Puebla de Sanabria. Cheio de turistas, tem vários hotéis, restaurantes, cafés e bares.

As fotos mostro depois, quando voltar a São Paulo. Aqui vão umas poucas, tiradas com o telemóvel.

CLIQUE PARA AMPLIAR
CLIQUE PARA AMPLIAR
CLIQUE PARA AMPLIAR
CLIQUE PARA AMPLIAR
 CLIQUE PARA AMPLIAR

Sábado de verão em Passos


Neste sábado acordei tarde e com uma preguiça do tamanho do mundo. Era tal, a preguiça, que, depois do pequeno almoço, passámos na farmácia para medir minha pressão arterial. Eu sempre trago comigo o aparelho para medir pressão. Como nunca o utilizo, não o trouxe, desta vez.
O resultado foi uma pressão um tantinho acima do normal mas nada alarmante.
E lá fomos nós, em direção a Vinhais.
Não quis ir ao restaurante do primo Isaías. O Rossio, na saída para Chaves. Se lá vou, não me deixa pagar.
Fomos ao Vasco da Gama, o melhor restaurante de Vinhais logo depois do Rossio, claro, claro.
A posta de vitela que lá comemos foi a melhor carne que já comi nos últimos tempos.
Lá, além de comermos, conversámos com um casal que tem um filho piloto da TAP e um genro que é o bam bam bam da engenharia: além de ter trabalhado na construção do metro do Porto, participou da construção do metro de Tel Aviv e participa, agora, do projeto do TGV de Lisboa-Madrid. É pouco?

Daí, depois de uma visita rápida ao Isaías, fomos a Passos.

Primeiro, casa de Zelinda (minha prima) e Alípio. Ambos de jeito ríspido e um tanto seco, mas doces como os tomates daqui. Alípio estava às voltas com a perseguição a uma toupeira que lhe arrasa a plantação. De Zelinda, ouvimos as últimas notícias do povo da aldeia.

Encontrámos o Kico, irmão da Fernanda, recém operado do coração. Colocaram-lhe umas peças novas no motor e tem toda a aparência de estar ótimo, do alto de seus 77 anos.

Em casa da Dora, minha outra prima, tomámos mais uma pinguinha (vinho tinto feito por eles), comemos presuntos, peras e pavias (espécie de pêssego. O termo parece derivar do galego).

Dora é pessoa rara. Criada no duro trabalho do campo, é de uma delicadeza que contrasta com suas mãos ásperas. Dela ouvi, há tempos, a afirmação de que gostaria de morrer após algum tempo de doença. Isso porque sabe que a morte súbita é mais doída para os que ficam. E ela prefere sofrer a que eles sofram.

Tenha certeza: ela não disse isso por demagogia. Tal categoria não habita seu mundo.

De lá, depois de a Baixinha insistir com o Arnaldo que só queria CINCO peras, fomos à casa de Maria Tereza.

Comi uvas, enquanto a Baixinha sorvia um chá bem quente.

Maria Tereza (Treza, pela pronúncia portuguesa) é uma típica viúva trasmontana. Veste-se sempre de preto, tem o rosto enrugado. Ao vê-la, assim, de relance, tem-se a impressão de tratar-se de alguém que só aguarda a morte. Apreciada com mais vagar, percebe-se uma pessoa de um amor à vida discreto mas intenso.

De volta à casa de Dora e Arnaldo, lá estava o saco plástico com as peras, a esperar-nos. Contei: eram dez.

Despedimo-nos deles, também de Alípio e Zelinda, que já jantavam e voltámos a Bragança.

Deixei para o final o melhor: estávamos a ver os porcos da Dora. São três. Dois ainda pequeninos, um já grande. Será este o sacrificado em dezembro, quando das matanças.

Sim, as matanças que horrorizam os politicamente corretos.

Chegou um casal que não conhecíamos. Dora apresentou-me à mulher do casal. A Baixinha se aproximava. A mulher perguntou-me, referindo-se à Baixinha:

- É sua filha?

Quer elogio maior?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Esquecimento, calor e incêndios


Ontem aproveitei um tempinho livre pra fotografar a Câmara Municipal e outras coisinhas mais.
Já em casa, constatei ter esquecido em São Paulo o cabo que permite passar as fotos para o computador. Só quando voltarmos ao Brasil é que poderei postar fotos. É verdade que posso postar fotos tiradas com o celular/telemóvel. Mas a qualidade é inferior.
Enquanto isso, cabe informar que o calor, por estas bandas, está forte.
Graças a isso, agora há pouco, bem ao meio-dia, passou por aqui um helicóptero com uma enorme bolsa de água pendurada. Tudo indica que iria ajudar a apagar algum incêndio.
Ainda hoje quero ver se mostro aqui algumas fotos tiradas com o telemóvel.

Até já.

sábado, 5 de setembro de 2009

Bragança - setembro 2.009


Lá vamos nós. Bragança não nos espera. Aliás, Bragança nem sabe que existimos. Mas, desta vez, espero deixar registadas aqui várias fotos de Bragança. São só duas semanas de permanência. São fantásticas duas semanas de permanência.
Nós sempre aparecemos por lá em épocas erradas. Inverno, fim de férias, coisas assim.
Não vamos a turismo. Vamos providenciar a mudança.
Mudança que deve ocorrer no final do próximo ano.
Os emigrantes já se foram. Passearam bastante por lá em agosto.
Agora vamos chegar.
E, se você quiser conhecer melhor Bragança, fique de olho.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A doação e seus mistérios


Aconteceu com um colega de trabalho.
Ele foi ficando doente dos rins. Começou a fazer hemodiálise diariamente.
Enfim, os rins pifaram totalmente.
Uma irmã propôs-se a doar-lhe um rim.

O transplante foi feito.

Deixe que eu diga que sempre achei esse tipo de doação de uma beleza sem igual. Você deixar que tirem de você um pedaço importante para que alguém possa reviver.

Pouco tempo depois, a descoberta: o rim transplantado continha um tumor maligno.

Não sei detalhes do caso. Além de ser totalmente ignorante nessa matéria.

Mas gosto de pensar que o tumor já existia no rim enquanto ele estava no corpo da irmã. E me agrada, também, imaginar que estava prestes a produzir metástase.

A doação livrou-a do câncer.

O irmão doou-lhe a saúde.

Retribuição de generosidade. Tudo casual, como deve ser – e é – a vida.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Cabeça serve pra separar orelhas


O médico Roger Abdelmassih está preso sob a acusação de ter estuprado mais de 50 pacientes.
É claro que até o trânsito em julgado de sentença condenatória ele deve ser considerado inocente.
Isso significa, entre outras coisas, que nós não devemos cuspir nele, nem xingá-lo em público, nem ofender a mamãezinha dele, coisas assim.
Agora: precisa marcar consulta com ele?!
O agendamento de consultas, na clínica dele, continua normal. Só há data disponível para consulta com ele no dia 31 de agosto. Hoje é 19.
Que será que esses casais que ainda ligam pra marcar consulta têm no interior do crâneo?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Arrumando a casa

extraído de www.fotosdahora.com.br

[extraído de www.fotosdahora.com.br]



Estou organizando os relatos de viagens. Todos eles vão ser indexados aí à direita da tela, logo abaixo do índice de Topologia Trivial.
Como isso dá um trabalho danado, vou devagar. Mas já há, lá, várias viagens.
Divirtam-se.

domingo, 9 de agosto de 2009

Futurriculum vitae


Elio Gaspari comenta hoje, na Folha (só para assinantes Folha ou UOL), que a expressão "doutoranda", constante do currículo de dona Dilma Rousseff, foi traduzida para o inglês, dada a inexistência naquela língua de correspondente para o termo (assim como não existe correspondente para "despachante", por exemplo), por "atualmente ela está buscando um grau de doutora em economia monetária e financeira na Unicamp".
No gênero, é o segundo caso de que tenho notícia.
O primeiro ocorreu lá na longínqua década de 80. Eu gerenciava a área de sistemas de uma empresa. Precisava contratar um coordenador de suporte técnico. A empresa colocou anúncios em jornais e choveram currículos.
Um deles, no quesito Línguas, informava que o cidadão conhecia o Português, o Inglês e FUTURAMENTE o alemão.

E eu, pra cúmulo dos cúmulos, contratei o indivíduo.
Talvez nem precisasse dizer, mas não deu certo.

sábado, 1 de agosto de 2009

Ainda Portugal


Não tenho escrito muito neste blog. Aliás, em lugar nenhum.
Por um lado, é fácil explicar: o que acontece aqui, no Brasil, me enche de tédio. Não me sinto inclinado a escrever sobre Sarney, Lula e companhia bela. É tudo tão previsível, tudo tão melancólico.
Sobre o que acontece em Portugal, particularmente sobre o que acontece em Bragança, gostaria de escrever. E tento. Acontece que ainda estou muito longe dos acontecimentos de lá. É difícil escrever à distância.
Quando estiver morando lá, a situação será outra.

Por enquanto, só gostaria de deixar registado um protesto:

É incrível como, na imprensa brasileira, existe um descaso absoluto a respeito de Portugal. Nos últimos tempos, a única notícia relacionada a Portugal foi a de que quase metade da população gostaria que Portugal se unisse à Espanha. E, mesmo essa informação só chegou aos jornais daqui porque foi noticiada em El Pais, jornal madrilenho. E foi resultado de uma pesquisa conduzida pela Universidade de Salamanca. O jornal El Pais é referência para a imprensa brasileira a respeito da Europa. Jornais como o Público, revistas como Sábado, são ignorados pela imprensa tupiniquim. Imprensa, aliás, constituída – salvo as honrosas exceções de sempre – por analfabetos funcionais.
Músicos populares brasileiros deitam e rolam em Portugal. Portugal, para eles, é um pouco como a Bahia, para os artistas baianos: eles adoram a Bahia, mas moram – todos – no Rio de Janeiro ou em São Paulo e têm apartamentos em Manhattan ou em Paris, à beira do Sena. Aparecer na Bahia, só em época de carnaval (pra faturar com os trios elétricos) ou quando morre a mãe.
Os portugueses adoram o Brasil, idolatram os brasileiros e tudo o que eles produzem, sem saber (ou desprezando) o quanto são ignorados e ridicularizados cá nos tristes trópicos.
Portugal, no Brasil, não existe. Ou é o bobo da corte.
O Brasil, em Portugal, se esbalda.
Paciência.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Antes que seja obrigatório


Há um e-mail que circula pela Internet sobre as etapas históricas – digamos assim – do homossexualismo: primeiro era o amor que não ousa dizer seu nome (Oscar Wilde), depois chegou a fase de ele sair gritando por aí (Millor) e é bom sair logo do país antes que se torne obrigatório.
Pois bem. Parece que a terceira etapa está chegando.

Uma psicóloga, Rozângela Alves Justino, corre o risco de ter seu registro profissional cassado (para assinantes Folha ou UOL) por oferecer tratamento para que homossexuais passem a ser heterossexuais.

Ela tem um blog. Além disso, expõe suas ideias neste artigo (no qual, aliás, afirma preferir o termo homossexualidade em vez de homossexualismo por entender que este último sugere doença).

Tenho pouquíssima afinidade com as ideias dela.

Mas acho um tremendo absurdo querer impedi-la de oferecer o tal tratamento.

Várias entidades do movimento gay defendem a cassação da psicóloga por considerar que homossexualismo não é doença e, portanto, não comporta tratamento.

Pois bem. Isso me parece levar à conclusão de que as cirurgias plásticas de embelezamento, as lipoesculturas etc etc apontam para a feiúra como sendo doença.

Eu, como feio assumido, exijo a cassação da licença de todos os pitanguis do país.

E você? Concorda?

domingo, 12 de julho de 2009

Pasmem, senhores leitores!


Um amigo de um amigo, com o qual cheguei a jogar alguma sinuca, há tempos, ficou marcado por uma carta que resolveu enviar, se não me engano, ao Estadão.
Melhor, ficou marcado por uma expressão que usou na tal carta.
O sujeito era – e suponho que ainda seja – de muito bom humor. Engraçado, mesmo.
Mas mergulhou de cabeça no espírito do leitor-que-escreve-pra-jornais e perpetrou esse “pasmem, senhores leitores!” do título do post.
Pra quê.
Toda vez, nas conversas com amigos, quando alguém queria salientar qualquer coisa, lá vinha o “pasmem, senhores leitores!”.
Lembro dele sempre que leio os painéis dos leitores dos jornais.
Invariavelmente, o leitor-que-escreve-pra-jornais é um indignado. Vocifera contra tudo e contra todos.
Pra ele, o mundo não passa da semana que vem. A ruína moral chegou a seu limite.

Atualmente, a bola da vez, no Brasil, é o Sarney.
Tá certo que o homem exagerou. Privatizou o Maranhão, privatizou o Senado Federal, arrumou empreguinhos e empregões para um monte de apaniguados.
Quando foi presidente da República, eu passava boa parte de meu tempo em Brasília, em gabinetes de políticos, em repartições públicas, em escritórios de lobistas etc etc.
Apesar de, naquela época, a bandalheira correr soltíssima, o que mais me incomodava era a cafonice da turma. O Sarney, por exemplo, não recebia em audiência nenhum indivíduo que estivesse enfiado em um terno marrom.
A nata da brasilidade é de uma superstição irritante. A ignorância geral é assustadora. O brega é a marca registada de nossos homens públicos, com seus cabelos indecorosa e horrorosamente pintados.
Pra voltar a Sarney, ele é daqueles que em Nova Iorque circula de limusine branca.

Perto de tudo isso, o leitor-que-escreve-pra-jornais se preocupa com superfaturamento, falta de licitação, desvio de verba, bobagens assim.

A não ser, vez ou outra, um texto do Nelson Motta, ninguém reclama da cafonália geral.

Acho que vou escrever um protesto e mandar pra tudo quanto é jornal.
Ainda mais agora, que fizeram transbordar minha paciência com panegíricos ao tal Michael Jackson, com detalhes intermináveis do casamento do Pato, do casamento do Robinho, do primeiro aniversário do filho do Kaká etc etc etc.

E, claro, não deixarei de usar o Pasmem, senhores leitores!.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Quem disse que Bragança não tem?


Está bem. Você não gosta de montanhas. Prefere praia?

Bragança tem.

Não só é uma praia de qualidade como fica em um lugar cujo nome já é uma atração: Freixo de Espada à Cinta.

Estamos ainda no distrito de Bragança. A distância da cidade de Bragança até a praia da Congida não chega a 60 km.

Mais ou menos à mesma distância fica Zamora, cidade espanhola que não tem praias mas é encantadora.

Escolha.

CLIQUE PARA AMPLIAR

(e há mais praias, claro, claro)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dúvida


Como sabem meus amigos portugueses que freqüentam este blog, sou um português à distância, desinformado dos detalhes da política portuguesa.
Vai daí, peço que me esclareçam: quando o ministro da Economia fez o gesto de chifres dirigido ao lider do PCP, Bernardino Soares, estava a insinuar que Soares era o Diabo ou era um cornudo?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sistema de vendas inovador


Claro que para alguém que ainda mora em São Paulo (eu), a notícia lida no Mensageiro de Bragança a respeito de apreensão de drogas soa como brincadeira de criança.
Basta reparar na quantidade de drogas apreendidas: 124 doses de heroína, 16 de cocaína e 353 de haxixe.
Agora: o que mais me chamou a atenção foi que, no meio das demais apreensões (algum dinheiro vivo, carros, telemóveis, umas duas ou três armas mixurucas etc) figurava uma matraca.
Fui até consultar um dicionário de Portugal pra ver se matraca tem, lá, o mesmo significado que no Brasil. Tem.

Será que era pra anunciar os produtos?

domingo, 14 de junho de 2009

Ideias do Meu Bazar

* * *


A Folha de S.Paulo, hoje, destaca em primeira página:

Mais de 90% dos analfabetos não vão a aulas


E explica: "Mais de 90% dos analfabetos absolutos do país não freqüentam classes de alfabetização".

Penso que a notícia relevante seria:

Mais de 90% dos estudantes, no Brasil, são analfabetos.


E nem adianta explicar.

* * *


Pouca gente dos tempos da militância de esquerda nos anos 60 e 70 gosta de reconhecer: o movimento estudantil (M.E.) era profundamente desprezado por nós, os da chamada Esquerda Revolucionária (maneira disfarçada de excluir o Partidão). Eu mesmo, quando fui escalado pelo POC para presidir o centrinho da Filosofia da USP, encarei a tarefa quase como castigo.
A utilidade que se enxergava no M.E. era a de fornecedor de quadros para a militância. Para falar em uspianês, o M.E., enquanto movimento de massas, era até ridicularizado, dentro das organizações (ALN, VAR, POC et caterva).
A atual greve na USP só confirma que o M.E. soube utilizar bem o clima democrático das últimas décadas: melhorou pra pior.

* * *

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dúvidas em torno da tragédia


A queda do avião da Air France me deixou bastante perturbado. Afinal, percorro mais ou menos essa rota com certa regularidade.
Contudo, minha perplexidade não impede que eu pense. E há certos aspectos periféricos nessa tragédia que minha compreensão não alcança.

1. A Air France reservou mais de uma centena de quartos em hotel no Rio de Janeiro para hospedar as famílias das vítimas. Beleza. Gesto louvável.
Mas já me parece um pouco estranho, o fato. Afinal, penso que a grande maioria das famílias das vítimas era do próprio Rio de Janeiro. Eu, caso estivesse na situação de parente de alguma vítima, preferiria aguardar as notícias em minha casa, lugar - por definição - onde me sinto mais... em casa, aconchegado.
Além disso, sempre que um repórter, de rádio ou de TV, se refere ao pessoal hospedado no tal hotel, informa que estão lá "parentes e amigos" das vítimas. A partir daí, decididamente não entendo mais nada. Amigos também se mudam para o hotel para aguardar notícias?!

2. Amanhã deve ser divulgada a lista dos passageiros do fatídico vôo. Pelo que ouço, sempre em rádio ou TV, algumas famílias pediram que não sejam divulgados os nomes de seus parentes vitimados pela tragédia. Por que?!
Entendo que seja deprimente e injusto, para uma família, ver um parente algemado e metido em camburão diante das câmeras de TV, quando das já famosas operações da Polícia Federal. Afinal, até que se prove a culpa deles, são inocentes.
Mas não querer que se divulgue o nome de um parente que morreu em acidente aéreo me parece pra lá de excesso de zelo.

De qualquer forma, o fato de eu ter tais dúvidas não quer dizer muita coisa. Afinal, o que mais tenho são dúvidas.
E se alguém souber esclarecer algum desses pontos acima, fico agradecido.

De resto, são questões sem importância, que servem - quando muito - para distrair-me do espanto diante do horror do evento.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

AF447


Junto com a vida de 228 pessoas, lá se vai uma de minhas últimas crenças: a de que o perigo nas viagens aéreas está sempre na decolagem ou na aterrizagem.
O avião da Air France já estava em altitude e velocidade de cruzeiro. As primeiras avaliações apontam para, talvez, um raio em meio a turbulência, sobre o Atlântico.

Começa muito mal, a semana.

domingo, 31 de maio de 2009

Minha homenagem a um belo domingo de maio







Paolo Conte - Wonderfull...


Via Con Me :

Via, via, vieni via di qui,
niente più ti lega a questi luoghi,
neanche questi fiori azzurri…
via, via, neache questo tempo grigio
pieno di musiche e di uomini che ti son piaciuti,

It’s wonderfoul, it’s wonderfoul, it’s wonderfoul
good luck my babe, it’s wonderfoul,
it’s wonderfoul, it’s wonderfoul, I dream of you…

chips, chips, du-du-du-du-du

Via, via, vieni via con me
entra in questo anore buio, non perderti per niente al mondo…
via, via, non perderti per niente al mondo
Lo spettacolo d’ arte varia di uno innamorato di te,
it’s wonderfoul, it’s wonderfoul……

...

Via, via, vieni via con me,
entra in questo amore buio pieno di uomini
via, via, entra e fatti un bagno caldo
c’è un accappatoio azzurro, fuori piove un mondo freddo,

it’s wonderfoul, it’s wonderfoul…

sexta-feira, 29 de maio de 2009

For here or to go


Em qualquer lanchonete de Nova Iorque, depois que você faz o pedido, lá vem a pergunta:
- Vai comer aqui ou vai levar.

Já faz algum tempo, percebi que dilema semelhante ocorre na leitura de blogs.
posts que a gente lê e pronto. Acabou.
Uns poucos a gente leva na memória e saboreia mais tarde, devagar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Bragança: paraíso no interior do país


Desde que comecei a pensar na possibilidade de viver em Bragança, Portugal, venho matutando a ideia de atrair para lá pessoas interessadas em desenvolver empreendimentos dos quais possam tirar seu sustento e gerar empregos.
Eis que descubro, agora, já haver projeto nesse sentido: Novos Povoadores.

Continuo sem saber como colaborar para tornar realidade essa ideia. Mas qualquer pessoa que desejar informações sobre essa possibilidade pode entrar em contato comigo. No que puder, comprometo-me a ajudar. Ao menos com informações.

Bragança (a cidade e todo o distrito) é região maravilhosa, dotada de infra-estrutura invejável, e – surpresa: está ficando deserta.

É possível ver-se, em tal contradição, um nicho de oportunidades.

Atualização (29/05/2009): Ainda sobre a infra-estrutura da região, leia isto.

sábado, 23 de maio de 2009

Romances e e-mails


Não satisfeito em ser filho de Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Sousa Tavares resolveu ainda ser advogado, jornalista e magnífico escritor.

Faz pouco, terminei de ler seus dois romances: Equador e Rio das Flores.

Não sei o que mais admirar neles: se o enredo envolvente ou a pesquisa detalhada.

Em Rio das Flores, que é o segundo romance de Tavares mas foi o primeiro que li, as mais de 600 páginas contam parte da história da primeira metade do século XX por meio do protagonista que nasce em 1.900 e é acompanhado até 1.945 (por acaso, o ano em que nasci). História contada da perspectiva das planícies do Alentejo, mas incluindo desde minúcias do mundo das touradas espanholas do início do século até detalhes da vida em Lisboa ou Rio de Janeiro.
Não à toa, a elaboração de Rio das Flores custou a Tavares três longos anos.

Equador foi seu primeiro romance. Um pouco menor, algo além de 500 páginas, abrange também período mais curto – os anos de 1.905 a 1.908 – mas é dotado de um enredo mais denso, mais dramático, talvez até por seu cenário: as ilhas de São Tomé e Príncipe, na costa africana , junto à linha do equador. Nele a pesquisa já impressiona. Tudo é descrito à perfeição, no detalhe.

Um desses detalhes chamou particularmente minha atenção. A certa altura, mais exatamente à página 507 da 1ª edição da Editora Nova Fronteira, o autor coloca seu protagonista na seguinte situação:
Passou um algodão com água oxigenada na ferida, que fez espuma e lhe ardeu.
Ora. Essa cena se dá no início de 1.908.
Circula na Internet um e-mail (você já deve ter recebido o dito cujo, provavelmente várias vezes) que situa a invenção da água oxigenada em 1.920. Nem coloco link. Basta ir ao Google e consultar água oxigenada. Milhares de blogs já reproduziram o tal e-mail.

Resultado: ou Tavares comeu bola ou o tal e-mail é mentiroso.

Claro que até os gênios cometem suas batatadas, vez em quando. Mas, no caso, fico com a segunda hipótese.
É inacreditável a quantidade de besteiras passadas e repassadas na Internet, via e-mails e blogs etc. Essa, a da invenção da água oxigenada, seria apenas mais uma.

Aliás, por falar em Google, se você pesquisar Miguel Sousa Tavares vai descobrir que o homem é polêmico. Há na Internet um sem número de textos desancando o coitado. Não o conheço a não ser pela leitura dos seus dois romances. Desse ponto de vista, é muito bom. Além do mais, parece que é adepto do FC Porto.

Talvez seu maior defeito, involuntário, é verdade, seja ter um nome cuja sigla é MST.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

Solar Bragançano


De tanto irmos ao Solar, a Baixinha iniciou uma amizade com a proprietária, sra. Ana.
Quando se aproximava o dia do retorno a São Paulo ela nos disse:
Venham cá na quinta-feira [nosso último dia em Bragança]. Quero servir-vos perdiz, que considero o melhor prato da casa.
Na hora do almoço, na quinta-feira, lá estávamos nós.
Ela, um tanto sem graça, nos informou que esperava que fôssemos jantar.
Dissemos, então, que voltaríamos para jantar.
Já nos preparávamos para ir embora quando ela insistiu para que comêssemos alguma coisa.
Serviu-nos um peixe, delicioso.
A certa altura do almoço, ela – discretamente – chegou-se à nossa mesa e nos mostrou, em um saco plástico – as duas perdizes que fariam nossa delícia ao jantar. Estavam lá, quietinhas (sejamos claros: mortinhas), com suas penas e tudo mais que compõe uma perdiz.

À noite, além do magnífico prato de perdiz, revisitámos a famosa musse de castanhas de autoria da sra. Ana.
Deveria ser compulsório, o saboreá-la de joelhos, em posição de prece.

Corroboração


Ronaldo, em sua entrevista à Folha de S.Paulo, disse que prefere que seu filho seja educado na Espanha. Prefere que seu filho tenha amigos europeus. Que a meninada brasileira é malandra. Etc etc.

É simples: quem pode, cai fora do Brasil.

Quem quiser que se escandalize.

Coloque a culpa da paisagem na janela.

Mas até a primeira-dama quis ter cidadania italiana.
Quem sabe ela venha a me ser útil, disse ela, com raro lampejo de perspicácia.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Explicação


Quando era criança, não via graça em ganhar qualquer competição (por exemplo, uma partida de botão) se não fosse de forma honesta.
Eu era assim. Fazer o quê.
Utilizei bons anos de minha juventude a lutar pelo que entendia ser a saída honrosa para o Brasil.
Fui torpedeado. Não me refiro ao óbvio: prisão, tortura etc.
O pior – para mim – foi a oposição de todos. Familiares, amigos, conhecidos. Todo mundo.
Claro que meus familiares sempre me seguraram a barra. Mas foi sempre apesar de.
Ninguém achava que eu estivesse certo.
Ao contrário: todo mundo queria que eu partisse pra outra. Que saísse dessa enrascada.
Enfim, saí.
Hoje sei que o caminho que tentei trilhar estava redondamente errado.
Passados muitos anos, consegui entender que o Brasil quer outra coisa de você. Quer que você seja esperto.
Pois bem. É isso que querem?
Fui esperto.
E me dei bem.
Mas não sou feliz por isso.
Divirto-me com os moralistas que reclamam da falta de ética de políticos etc.
São incompetentes.
Se tivessem um mínimo de capacidade, tirariam proveito.
É assim que funciona.

Meu sentimento em relação ao Brasil não poderia ser outro:
Tenho nojo deste país.
Nojo.

Aqui vivi mais de sessenta anos, lutei para que isto aqui fosse um lugar mais decente, fui massacrado por ter tido tal pretensão, cansei-me de ver a sacanagem prevalecer.

Por causa disso, vou embora, tão logo me seja possível.

Voltarei aqui com freqüência porque cá residem minhas irmãs e alguns de meus filhos e netos. Muitos de meus tios e tias. E primos e primas. Alguns pouquíssimos amigos. Enfim, porque – quer queira quer não – aqui estão minhas raízes.

Continuarei a sentir um frio na espinha ao assobiar o Hino Nacional.

Mas sei, a essa altura da vida, que isso é coisa de imbecil que não caiu na real.

Estamos nas mãos dos sindicalistas espertos, dos apóstolos e bispas sacanas, dos espertalhões da política, dos financistas malandros.

Adeus, pessoal. Tô fora.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pergunta


Qual é o trunfo que o tal Cesare Battisti tem nas mãos para que o governo brasileiro se comprometa tanto em defendê-lo?
Essa corja só se movimenta quando pressionada.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Deus


Minha chefe me passou hoje, por e-mail, um artigo que saiu na revista Viver Brasil.
A matéria trata do preconceito de que são vítimas os ateus, no Brasil e mundo afora.
Mas se refere, principalmente, ao caso brasileiro.
Só uma parcela ínfima da população brasileira é constituída de ateus (1,4%).
Pesquisa sobre o sentimento das pessoas a respeito de diferentes grupos revela:
Os ateus ficam em primeiro lugar – empatados com os usuários de drogas – no quesito ódio/repulsa: 17% dos entrevistados sentem ódio dos ateus. O segundo lugar fica para os garotos de programa, com 10%.
Na categoria antipatia os ateus também lideram: 25%.

A matéria está aqui.

Deve ser graças ao fato de a avassaladora maioria dos brasileiros ser temente a Deus que vivemos nesse verdadeiro paraíso de ética, moral e bons costumes.

Amém.

domingo, 10 de maio de 2009

Loas à incompetência


Estou há um mês a aguardar que a NET resolva o problema de intermitência do sinal do Virtua e do NET Fone.
Os técnicos vêm, dizem que – desta vez – tudo está resolvido e... o problema persiste.

Isso é apenas a ponta de imenso iceberg.

Somos todos incompetentes, inclusive – senão principalmente – eu.

Aliás, esse é, quase, o título de um livro de administração lá da década de 70 do século passado. Mas, agora, a situação é menos conceitual e mais prática.

Eu, na minha profissão, exercida já pra lá de 15 anos, me considero incompetente. Mas, ao menos, tento não dar grandes vexames.

O mesmo não é possível afirmar a respeito dos técnicos da NET (e de outras operadoras, claro, claro). Nem a respeito de – por exemplo – médicos.

Vamos a um caso concreto:

Faz uns 15 anos, um ortopedista descobriu que eu tinha gota. Cheguei à clínica, em que ele trabalhava, com o pé submetido a intensa dor. Dedão do pé. Eu achava que a dor era resultado de algum choque no jogo de futebol. Naquele tempo eu ainda jogava futebol.
Não. Era gota.
Se você não sabe eu explico: gota é o resultado do acúmulo de excesso de ácido úrico nas juntas. Os cristaizinhos ficam ali e – de repente – resolvem inflamar a região. A dor é tamanha que o contato de lençóis é doloroso.
Pois bem. O tal médico (não vou citar nomes. Seria injusto acusar alguns quando tantos são incompetentes) receitou-me um tratamento tão complicado quanto inútil: deixar o pé mergulhado em solução de permanganato de não sei o quê durante não sei quanto tempo. A coisa toda implicava manter o pé mergulhado naquele líquido roxo, dentro de um balde, depois enxugar o pé em toalha que ficava obviamente toda roxa etc etc.
O resultado era rigorosamente nulo.
Fora a sujeira, eu ficava sem poder sair de casa durante alguns dias. Isso atrapalhava a vida toda, como se pode depreender.
Até que um colega de trabalho me deu a dica da injeção de Voltaren. Ele, aliás, disse mais: mandava o farmacêutico misturar Voltaren com não sei o que e ficava bom imediatamente.
Eu preferi me restringir ao Voltaren. Meia hora depois da picada na bunda eu estava pronto para outra crise.
E a vida ganhou nova dinâmica.
Como quase todo mundo sabe, Voltaren não é flor que se cheire. É preciso não abusar.
Vai daí, na primeira crise de gota que surgiu, procurei uma médica que me receitou Zyloric.
Tomei e ... piorei.
Quando li a bula (que não havia lido até então porque, afinal, o remédio tinha sido receitado por uma médica), percebi que a dita cuja bula trazia – destacada em letras vermelhas – a advertência: não tome este remédio durante crise de gota.
Beleza.
Conversando com um cunhado que também padecia de gota, fui advertido:
Verifique se seu remédio de pressão não retém ácido úrico.
Não deu outra. Li a bula e verifiquei que o remédio que tomava, para equilibrar a pressão, retinha ácido úrico no organismo (Tenoretic).
Falei sobre isso ao médico que freqüentava à época. Era, diga-se um medalhão. Cobrava os tubos.
Displicentemente, o dito cujo concordou em trocar o remédio de pressão por outro (Atenol). Se eu não tivesse dito nada, tudo ficaria como estava. Claro que nunca mais voltei ao consultório do imbecil.
Mais adiante, o dr. Mistrorigo (esse é dos bons) ensinou-me a controlar a crise com doses cavalares (de hora em hora) de colchicina. A coisa funciona assim: quando você percebe o início da crise, começa a tomar colchicina (comprimidos) de hora em hora. Depois de uns cinco ou seis comprimidos você começa a sentir enjôo e é acometido de intensa diarréia. Aí você interrompe a ingestão de colchicina.
A crise de gota vai embora. Mas o processo é um tanto desagradável...
Por recomendação de vários médicos, passei a tomar colchicina diariamente.
Um belo dia, a dúvida me assaltou (aliás, em São Paulo, a melhor coisa é ser assaltado por dúvidas. Os outros tipos de assaltos são muito piores):
Diabos. A colchicina impede as crises de gota. Mas o ácido úrico continua a ser produzido por meu organismo em excesso.
Resolvi – por minha conta – passar a tomar Zyloric. Com isso, baixei a níveis normais o ácido úrico em meu organismo.
Quando fui a um urologista, ano passado, fazer o exame de próstata, ouvi dele – que se disse também vítima de gota – a recomendação de que continuasse com o Zyloric mas interrompesse a Colchicina.
Foi a maior besteira. Mergulhei em crise forte de gota.
Descobri, a duras penas, que é preciso manter os dois remédios.
Hoje, passados 15 anos da primeira crise, consigo administrar a gota. Não tenho crises, reduzi a Colchicina e o Zyloric às doses mínimas que garantem a sanidade.
Apesar de um bando de médicos incompetentes que me fizeram sofrer um bocado.
Viva a incompetência geral.

sábado, 2 de maio de 2009

Mais uma despedida de Bragança


O mês de maio começou com muito sol, em Bragança. Como era dia de viagem, tratámos de acordar cedo (nem tanto: 8 horas). Foi abrir a janela e vislumbrar o balão a sobrevoar o IP4 lentamente:




Últimos preparativos, desligar o aquecimento, desligar a água e lá vamos nós, num Fiat alugado, até o Porto. Ou melhor, até o aeroporto do Porto, que como aprendi recentemente fica na Maia.

Desta vez, ao contrário da viagem de ida, tudo se encaixou perfeitamente: chegámos ao aeroporto com tempo de folga. Foi devolver o carro, fazer o check in para o vôo até Madrid, almoçar no próprio aeroporto (comida horrorosa, em um tal de La Pausa). Depois entrar no avião (que não era um Embraer, mas também separava a classe econômica da executiva por meio de uma pequena cortina no corredor), sair com quase nenhum atraso, chegar a Barajas, e... bem, Barajas parece ter sido construído para que se brinque de esconde-esconde.
Para quem, como foi nosso caso, desce em um dos terminais 1, 2 ou 3, e precisa embarcar no terminal 4 (vôos internacionais), brinca-se assim: pega-se o autobus para o terminal 4. O dito cujo percorre trechos de auto-estradas e, depois de uns cinco minutos chega ao terminal 4.
Faz-se o check in, passa-se pelo controle de bagagem e verifica-se, no cartão de embarque, se seu portão de embarque é o M, o R, o S, o U ou um monte de outras letras. O nosso era RSU. É, não pense que você fica sabendo logo qual das letras é a sua. Isso vai aparecer nos painéis de informação mais tarde, quando estiver na hora do embarque.
Seja lá qual seja sua letra, há que embarcar em um trem. Isso: um trem. O citado veículo roda durante alguns minutos e pára em uma estação, tipo metrô.
Não se esqueça de descer. Aliás, eles insistem - por um alto-falante estridente, em espanhol e em inglês, que se faça isso.
Esqueci de mencionar que para embarcar no malfadado trem desce-se uma infinidade de escadas rolantes. Depois, quando se desembarca, sobe-se tudo de novo.
Bem. Ao chegar à região dos portões de embarque, percebe-se que U (nosso caso) subdivide-se em váááários Us. A coisa vai de U31 (algo assim. Começar do 1 é que não começa. Seria muito óbvio) até - digamos - U64. Isso, decerto, repete-se para todas as demais letras.
Depois de algum tempo de espera, começa a aparecer nos muitos vídeos espalhados pela imensidão dessa casa maluca que é Barajas a letra que será a de seu vôo. No nosso caso, o RSU que constava do cartão de embarque definiu-se como U.
Quase no momento do embarque vem a informação conclusiva: U 59.
É verdade que você apanha um bocado para encontrar o tal U 59. Por qualquer razão que minha mente não atinge, todas as placas indicativas apontam para portões de U 31 a U 51. Perguntados sobre onde ficará o abençoado U 59, os funcionários respondem candidamente que é só ir em frente, contra todas as indicações de que aquele corredor de comprimento aparentemente infinito leva apenas até o U 51.
Concluo que a aritmética espanhola deve ter lá suas peculiaridades.
Mas confie! Você chegará ao U 59.
Uma vez embarcados, voámos praticamente no horário.
São Paulo nos aguardava com temperatura amena (19 °C), às 6 da manhã.

P.S.: Só pra vocês não pensarem que eu exagero ao falar do labirinto que é Barajas, vejam só:
Quando estávamos já dentro do avião, o comandante informou que íamos demorar um pouquinho mais para decolar porque era preciso retirar do compartimento de bagagem as malas de pessoas que tinham feito check in, embarcado, portanto, suas bagagens, mas não haviam aparecido para o embarque.
Não tenho dúvidas: ficaram perdidas dentro do Barajas.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Renascer em Bragança

CLIQUE PARA AMPLIAR
Diferentemente do que se conhece no Brasil, este negócio, em Bragança, tem toda probabilidade de tratar-se de empreendimento honesto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

À beira da estrada


Li, dia desses, que a esposa de um apresentador de TV foi baleada à beira da Avenida Brasil, Rio de Janeiro. Tudo por que o casal parou para comprar uma garrafa de água de um vendedor ambulante.

Ontem, saímos de Bragança em direção ao Porto para comprar alguns móveis de varanda em Lordelo, junto a Paços de Ferreira (o lugar perfeito para se comprar móveis em Portugal. Fica a menos de 20 km do Porto e dispõe de uma infinidade de fábricas de móveis.). No caminho, parámos em uma estação de serviço à beira da auto-estrada A4, junto a Penafiel, para comermos um lanche que leváramos de casa.

O lugar é lindo e muito bem cuidado. Mesas e bancos de madeira ficam espalhados por um relvado. Como estamos na Primavera, há flores por toda parte. As casas de banho (banheiros) estão sempre impecavelmente limpas. Há restaurante e uma lanchonete na qual se toma um café delicioso.

CLIQUE PARA AMPLIAR
CLIQUE PARA AMPLIAR
CLIQUE PARA AMPLIAR

Enquanto devorava meu sanduíche acompanhado de um iogurte, comentei com a Baixinha: se estivéssemos no Brasil, não pararia em um lugar assim por nada.

Aqui, a Baixinha esqueceu uma caixa de lenços na casa de banho. Ao voltarmos, várias horas depois, parámos lá mais uma vez e ela recuperou a caixa de lenços, que a aguardava – intacta.

domingo, 26 de abril de 2009

Minha filha, minhas filhas


Hoje, cá de Bragança, conversei com minha filha primogênita, que mora em Westport, Connecticut, USA. Via Skype.

Contou-me que minha neta recém nascida, Isabella, está bem, mas não ganha peso como as estatísticas recomendam. Contou-me, também, que comprou uma balança e que pesa até as fraldas da pequena, para ter certeza de que a pequerrucha está a fazer todo o xixi programado pelos levantamentos estatísticos.

Lembrei a ela que, quando ela era dessa mesma idade, eu a pesava antes e depois de cada mamada. E registrava tudo em gráfico, para visualizar melhor o desenvolvimento dela. E que ela jamais ultrapassava o limite mínimo de peso. Da mesma forma que Isabella. E que deu no que deu: uma mulher maravilhosa.

Sei que tudo se repetirá, eterno retorno, e Isabella será quase tão fantástica quanto a mãe.

Igual é difícil.

sábado, 25 de abril de 2009

Problemas de fronteira


Bragança fica a uns 20 km da Espanha. Por isso mesmo, muito do que aqui se consome vem das terras espanholas. Mesmo alimentos produzidos em França têm seus rótulos escritos em espanhol e em português.
Vai daí, estava eu a beber um iogurte espanhol e resolvi ler o rótulo bilíngüe.

Além da lista de ingredientes e coisas assim, próprias de embalagens de produtos desse gênero, esbarrei na seguinte informação, primeiro em espanhol, depois em português:

Conservar entre O˚C y 8˚C

Conservar entre O˚C e 6˚C

Já não basta a esdrúxula diferença de fuso horário, que coloca sempre a Espanha uma hora adiante, mesmo em longitudes idênticas?

Temos agora um fuso térmico?

Socorro, professor Pasquale


Desde que comecei a freqüentar Portugal (já lá se vão muitos anos), chamou-me a atenção o modo de o português pronunciar a dupla “sc”. Por exemplo, “piscina”, em Portugal, é “pixina”. "Adolescente” é "adolexente” etc etc. A lista é grande. Parte dela vai aqui:

abscesso, abscissa, acrescentar, acrescer, acréscimo, adolescente, apascentar, aquiescência, aquiescer, ascender, ascensão, asceta, condescendência, consciência, cônscio, convalescer, crescente, crescer, descendência, descender, descentralização, descer, descerrar, descida, discente (que aprende), discernimento, disciplina(r), discípulo, efervescência, fascículo, fascismo, florescer, imisção (mistura), imiscível, imprescindível, intumescer, irascível, isóscele(s), miscelânea, miscigenação, nascença, nascer, néscio, obsceno, onisciência, oscilar, oscilação, piscicultura, piscina, plebiscito, prescindir, recrudescer, remanescente, reminiscência, renascença, rescindir, rescisão, ressuscitar, seiscentésimo, seiscentos, suscetível, suscitar, transcendência, víscera.

Ora. Desde quando constatei tal pronúncia, gostei. No Brasil, não há distinção de pronúncia entre “piscina” e “passeio”, por exemplo. Entendi que tal distinção era importante. “Piscina”, por exemplo, vem do latim “piscis”, peixe, e – portanto - a pronúncia diferenciada enfatiza a origem constituinte do termo.

Muito bem. Acontece que, hoje, ao saborear uma lasanha de mariscos no Gôndola, ouvi um vizinho de mesa pronunciar “seixentos”.
A partir de então, fiquei embasbacado. Afinal, seiscentos é a justaposiçào de seis e de cento. Não penso que se deveria pronunciar daquela maneira. O s e o c não formam um conjunto. O s pertence ao seis. O c a cento.

E agora?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Diferenças entre países desenvolvidos e repúblicas bananeiras


Chegados a Bragança, fui buscar o Smart que comprámos. O funcionário da concessionária levou-me à empresa de seguros. Até aí, nada de extraordinário. Em São Paulo, sempre que compro um carro, só o retiro da concessionária depois de feito o seguro.
A pequena diferença é que – aqui – essa providência é obrigatória.
Não só é necessário circular levando consigo a Carta Verde (que faz as vezes da apólice de seguro) como há que se ter colado ao pára-brisas um pequeno selo (destacado da Carta verde) com os dados básicos do seguro.
No Brasil, fica a critério do dono do veículo fazer ou não seguro do mesmo. É pra lá de comum a pessoa levar um esbarrão de outro automóvel e ouvir a confissào do condutor desastrado:
- Não tenho como pagar.
E fica por isso.
O outro detalhe diferenciador exige uma digressão:
Há muitos anos, quando eu respondia pela área administrativa de uma empresa de insumos agrícolas, na qual os seguros eram importantes (nem tanto os de veículos; mais os relativos às fazendas da empresa) aprendi com um corretor de seguros que nos prestava serviços que, ao se fazer um seguro de automóvel, é recomendável estipular valores altos para os danos contra terceiros. No Brasil, tais danos são divididos em danos pessoais (DP) e danos materiais (DM).
Por um lado, aumentos significativos em DP e DM não implicam aumentos sensíveis no prêmio a se pagar. Por outro lado, imagine você abalroar uma Mercedes último modelo. Quanto não sairá o conserto. Pior: imagine o condutor do outro veículo (aquele que você arrebentou) ter de ficar uns 15 dias em uma UTI.
Pois bem: há anos que estipulo DM e DP em R$ 100.000,00 cada. Sempre que mudo de corretora sou obrigado a orientá-la quanto a isso. Porque a praxe, no Brasil, é qualquer coisa – no máximo – igual a R$ 10.000,00.

Pois bem. Voltemos à apólice de meu carrinho. O funcionário que me preparou os papéis do seguro foi mostrando os valores. Todos dentro do esperado. Ao chegar aos danos contra terceiros, a surpresa:
Seguro contra terceiros (e isso – disse-me – é a praxe em Portugal): 1.800.000,00 euros.

É preciso dizer mais alguma coisa?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A ida dos que ficaram


Pois bem. Nào tendo sido possível viajar na sexta, embarcámos no domingo.

Já na sexta, em Guarulhos, o atendente da TAP me dissera que eu teria de pagar uma multa de 100 euros para trocar a data das passagens de sábado para segunda. As passagens de Madrid ao Porto, diga-se. Mas o dito atendente informou que a multa poderia ser paga em Madrid, na segunda-feira. Eu, submisso ao princípio de que problema adiado é problema resolvido, deixei a multa para ser paga em Madrid. Até porque não senti firmeza no atendente, que encarava o monitor do computador dele com olhar de quem vislumbra um ET.

Partimos de São Paulo quase no horário. Sei lá por que ventos, chegámos a Madrid uns 45 minutos depois da hora prevista. Até aí tudo bem. Afinal, teríamos de fazer hora até o embarque para o Porto, às 12:40. E eram, apenas, 7:30.

Feita a alfândega (e eu, que temia a alfândega espanhola por minha mulher, dadas as notícias recentes sobre maus tratos a passageiros brasileiros, tive de ser esperado por ela, liberada que foi, instantaneamente, por um sonolento vigilante espanhol) fomos ao check in da TAP (depois de uns passeios por Barajas, claro, claro).
Como eu já esperava, a atendente disse-me para ir à loja da TAP, pagar a tal multa.

Para minha consternação, um muy amable rapaz informou-me: há a multa (100 euros), mais a diferença de tarifas: por insondáveis desígnios divinos, a passagem no vôo da segunda, no qual embarcaríamos, era sensivelmente mais cara que aquela de que não havíamos desfrutado no sábado, graças ao pecado original da perda do vôo São Paulo – Madrid. Resumo: havia que desembolsar 240 euros. Com o coração a sangrar, entreguei meu cartão de crédito para ser guilhotinado (debitado, para ser moderno).

Como quem vai às batatas, o dito rapaz pergunta ao funcionário a seu lado:
- Houve mesmo o vôo Madrid - Porto de sábado, 9:50?
- Não. Foi cancelado.
O muy amable devolve meu cartão de crédito e explica:
- Como o vôo que o senhor perdeu não houve, não há que cobrar multa nem diferença de tarifas. Pode embarcar.

E lá fomos nós, rumo a um ... –adivinhe! Embraer ERJ 145. Pura engenharia brasileira a serviço de nossas férias.

Eu jamais voara em um Embraer. Posso dizer que gostei. Só achei ridícula a divisão entre classe econômica e classe executiva: todos os assentos são iguais. O que separa as duas classes é uma cortininha. E, para gáudio dos que advogam facilidades para a mobilidade entre as classes, a base de sustentação da cortininha é móvel. A comissária de bordo pode colocá-la mais para a frente (e restringir os lugares disponíveis para os protegidos da sorte) ou pode deslocá-la para trás, diminuindo as desigualdades sociais. Bisbilhotando a classe executiva, constatei que as duas pessoas lá aboletadas, um ancião de ar esnobe e sua presumível esposa, sósia da rainha da Inglaterra, consumiam o mesmo sanduíche horrendo que matava a fome de nós, pobres mortais da fileira 6 em diante. Apenas o faziam em pratos de louca, enquanto nós o atacávamos a partir de bandejinhas de isopor.

Tudo isso parece apontar para o Brasil como o berço de um futuro e promissor socialismo. No bojo do qual todos lembrar-se-ào da Embraer e de seu papel preponderante na edificação da sociedade sem classes a partir da cortina flutuante de seus ERJ 145.

sábado, 18 de abril de 2009

A volta dos que não foram


Ontem, 17, era dia de partir para Bragança, no nordeste trasmontano. Desta vez, o roteiro era: Guarulhos – Madrid (pela Iberia), Madrid – Porto (pela TAP), e Porto – Bragança (de carro, alugado na Europcar).
Tudo organizadinho, bonitinho.
Apenas a dupla aqui (a Baixinha e eu) não considerou devidamente o tremendo trânsito paulistano de uma tarde de sexta-feira de um feriadão enorme (terça é feriado). E perdeu o vôo para Madrid.
Quando conseguimos que o táxi nos deixasse no embarque do aeroporto de Guarulhos já encontrámos o check in encerrado.
Toca a entrar em fila de espera para o vôo seguinte. Em vão. Tudo lotado.
Hoje, sábado: tudo igualmente lotado. Deve ser a crise.
Resultado: só poderemos partir amanhã, domingo.
E passámos a tarde de sexta-feira correndo da loja da Iberia para a loja da TAP e vice-versa. Com a enorme vantagem de fazer excelente exercício físico. Talvez propositalmente, as duas lojas ficam nos extremos opostos do aeroporto.
Finalmente, conseguimos transferir o vôo da TAP para segunda-feira, só que no vôo das 12:40 (o de hoje sairia às 9:50). Para quem tem chegada prevista a Madrid lá pelas 6:45 será uma bela oportunidade de conhecer todos os meandros do Barajas.
Ao entrar em contato agora pela manhã (pra ser exato, agora de madrugada, horário de São Paulo) com o pessoal da Europcar no Porto para explicar que precisava alterar a reserva do carro para segunda-feira, fui informado de que minha reserva continuaria viva. Não sei exatamente o que isso significa. Só espero que a tal reserva não morda.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Adriano, o Imperador


Imperador, o Nero também era.

Preparem-se. Depois da entrevista que o moço deu na tarde de hoje, a quantidade de bobagens que vamos ler/ouvir a respeito vai bater recordes.

Então, por que não colocar aqui algumas bobagens de minha autoria?

Adriano é da estirpe de Ronaldo, Ronaldinho, Robinho, Viola etc etc.
Viola, por exemplo, foi viver na Espanha e não se habituou à comida local. Chegou a alimentar-se apenas de biscoitos. Para um atleta profissional isso deve ser excelente. Aliás, pra qualquer um.
Viola sentia falta do arroz-feijão-mistura de seus tempos de favela.
Maravilha. A comida espanhola não chega aos pés de uma gororoba dessas.

Adriano vivia à beira do lago Cuomo.
Tem, com a Inter de Milão, contrato de 5 milhões de euros anuais.

Tudo bobagem. O bom é curtir os amigos em uma favela carioca.

Quando ainda não havia o fatídico politicamente correto, se alguém dizia que um fulano era louco, logo se perguntava:

- Rasga dinheiro?

Outro dito popular que me ocorre:

- Dinheiro não aceita desaforo.

Quando acabar a grana, o Imperador ficará também sem os amigos de agora.

E sentirá saudades destas paisagens do lago Cuomo:





Sobre corrupção - 3


A corrupção também nos dá suas lições. Por exemplo, ela ensina que branco e preto só tabuleiro de xadrez. De resto, há sempre zonas cinzentas. No caso, entre o legal e o ilegal. Ou, se preferir, entre o legal e o legal!

Veja o caso do auxílio moradia para os parlamentares brasileiros. Na atual avalanche de denúncias contra nossos valorosos representantes, surgiu a questão do uso do auxílio moradia (que deveria cobrir aluguel de imóvel para o parlamentar em Brasília) para pagamento de leasing de flat em hotel sofisticado.

Fui buscar no Google links sobre o assunto e encontrei vários: quase todos do início do século. A coisa é mais velha que andar pra frente.

Um deles termina citando o comentário de Gilberto Kassab, na época deputado federal, hoje prefeito de São Paulo:

"Fiz um negócio legal. Não tenho nada a esconder", afirma ele. O imóvel está registrado em nome da empresa RK Engenharia – que pertence ao próprio deputado Gilberto Kassab. Escondeu só um pouquinho.

Ora, o parlamentar recebe R$ 3.800,00 por mês para pagar aluguel de um imóvel. Em vez disso, usa o auxílio para pagar prestação do flat em que se hospeda e depois de algum tempo é dono do tal flat. Todo mundo saiu ganhando. Ou, ao menos, ninguém perdeu: o auxílio iria ser pago de qualquer forma; o parlamentar iria morar de graça mesmo; quando abandonasse o imóvel simplesmente devolveria as chaves e até logo. Ao fazer o leasing ganha o imóvel. Não é interessante?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

De marolinhas e tsunamis


Andam querendo assustar a gente. Talvez sem intenção. Talvez apenas porque assim vendam mais jornais.
Mas, nesse aspecto, sou mais Lula: a situação está mais pra marolinha.

As manchetes são sempre do tipo:

INDÚSTRIA DA GOIABADA NÃO DEMITIA TANTOS DESDE 2.001

Os olhos do leitor se arregalam. Já se sente desempregado, apesar de não trabalhar em nada parecido com fábrica de goiabada.
Ocorre que, bem lida, essa frase pode ser reescrita assim:

AGORINHA MESMO, EM 2.001, INDÚSTRIA DA GOIABADA DEMITIU TANTO OU MAIS QUE ESTA SEMANA.

Ora, se sobrevivi a 2.001, até com alguma galhardia, qual o problema? Sobreviverei também a 2.009. Se não eu, ao menos a indústria da goiabada.

É verdade que, volta e meia, surge alguma manchete um tanto mais assustadora:

PRODUÇÃO DE PICOLÉS DE COCO ATINGE SEU NÍVEL MAIS BAIXO DESDE 1.944.

Epa! Agora complicou um pouco. Nasci em 1.945. De sorte que acabo de ser informado de que jamais, durante a minha já exageradamente longa existência, produziram-se tão poucos picolés de coco. Aqueles que na minha infância a Kibon chamava de Jajá.

Mas, pensando bem, nem essa manchete é tão terrível. Mesmo com uma oferta pequena de Jajás, sob o calorão reinante em Santos, meu pai e minha mãe não desistiram de me fabricar.

E cá estou eu. Com ou sem picolés de coco.

Sobre corrupção - 2


Como vimos na primeira lição, a corrupção não é pra qualquer um. É pra quem tem talento.
Mas o povão se esforça pra se mostrar digno dela.
Você conhece alguém que passe escritura de imóvel pelo valor real da transação?
Eu conheci um: meu pai.
Ele cometeu esse deslize e pagou caro por isso. Os fiscais passaram lá em casa e descobriram alguns pelos em ovo para multá-lo (década de 50, século passado).
Quem mandou querer ser diferente, não é mesmo?
Outro dia, em entrevista a Marília Gabriela, Eduardo Giannetti lembrou episódio vivido por ele: alunos seus participaram de passeata exigindo ética na política. Dias depois, durante prova, tentaram colar adoidado.
Pois é.

Como costumava dizer minha mãe:
- Todo mundo é muito honesto mas meu capote sumiu.

Nossos políticos são corruptos? Claro.
Mas continuarão a ser eleitos porque o pessoal prefere votar em corrupto. O eleitor raciocina: quem sabe esse cara me descola alguma boquinha.
Aliás, esse raciocínio já é tão generalizado que gente honesta (ou cagona) nem se candidata.

Com isso, podemos unir estas novas reflexões às da primeira lição:

Todo mundo procura ser corrupto. Se só consegue praticar as pequenas corrupções do cotidiano, paciência. Fica nisso. Omite alguns rendimentos na declaração de imposto de renda. Se é um mísero assalariado e essa omissão não é possível, trata de inflar as despesas médicas, incluir dependentes inexistentes ou não permitidos etc etc.

Chateado por não poder praticar corrupções de vulto, vota em camaradas que façam isso por ele.

Em resumo, concluímos que todo mundo comete seus pecadilhos. Os talentosos partem pra pecados capitais. Os demais ou se contentam em admirar os bem sucedidos ou desabafam fazendo a apologia da virtude.

Qualquer hora destas, terceira aula.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sobre corrupção - 1


É. Começo com “1” porque acho que vou escrever vários posts sobre isso.
Mas vamos devagar.
Por enquanto, vou ressaltar apenas um aspecto da corrupção:

A corrupção exige talento do corrupto.

Pode reparar. Todo mundo (todo mundo, em termos. Só o pessoal pequeno burguês ressentido que escreve pra jornais, faz comentários em blogs, manda e-mails pra meio mundo etc), todo mundo, como eu dizia, fala cobras e lagartos contra a corrupção. É sempre aquilo de “assim não é possível”, “que falta de vergonha” etc etc.

Acontece que – esses mesmos caras – se pudessem, seriam corruptos. Com uma honrosa exceção: a dos cagões. É.

Há muita gente que não pratica corrupção porque se caga de medo.

Então, chegamos a uma brilhante taxonomia: há os corruptos, os cagões e alguns poucos loucos desvairados.

Entre os corruptos, há toda uma subdivisão. Mas, por hora, ficaremos com os cagões.

Esses, ou realmente têm um medo imenso de serem repreendidos pelo sistema ou – simplesmente – não se corrompem por falta de talento para tanto.

Pois é isso: ser corrupto não é pra qualquer um. Tem gente que, ao criticar algum corrupto exposto à execração pública, afirma coisas tais como:

- Assim até eu! Roubando desse jeito!

Acontece que se você conseguisse colocar o tal crítico em situação de poder corromper-se, na grande maioria dos casos ele não conseguiria consumar o ato de corrupção.

Corromper-se exige engenho e arte.

E isso, essa verdade simples e elementar, jamais será acatada por um moralista.

A primeira lição acaba aqui. O aprendizado tem de ser lento. Afinal, a contra informação é gigantesca e esmagadora.

terça-feira, 31 de março de 2009

Há esperança


O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como inimigo.

Poucos discordarão dessa descrição dos dias atuais.

Ocorre que este trecho faz parte do primeiro número de As Farpas, de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. É de maio de 1.871 mas começou a ser vendido em Lisboa no mês de junho.

Então, viva!
Se tudo já era assim há 138 anos, talvez não piore antes de 2.147.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Reflexões quase teológicas


imagem tirada de ceticismo.net

Se houvesse um Código de Defesa do Consumidor quando Deus criou o mundo, ele teria sido obrigado - depois do primeiro pecado de Adão e Eva - a providenciar recall do ser humano.


* * * * *


imagem tirada de semiramis.weblog.com.pt

Do jeito como anda deteriorada a humanidade, é capaz de já estar vencido seu prazo de validade.

domingo, 8 de março de 2009

Dia da mulher


1° Coríntios 14, 34-35: Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos, porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.

sábado, 7 de março de 2009

Para minha neta Bruna


És a primeira filha de minha primeira filha.
Amo meus demais filhos tanto quanto amo minha primogênita.
Mas primeiro filho é primeiro filho.
Quando saí da Maternidade São Paulo, na Frei Caneca, em São Paulo, pra ir buscar em casa algumas roupas pra minha mulher logo depois de minha primogênita ter nascido e ouvi no rádio o locutor dizer:
- 28 de novembro de 1.975,
senti alguma coisa dentro de mim que jamais se reproduziu.
Não há sentimento comparável àquele que se tem com o nascimento do primeiro filho.
Vai daí, sei que tua mãe vai amar tua irmã, Isabella, tanto quanto te ama.
Mas jamais qualquer coisa poderá suplantar o teu surgimento.

Dito isso, quero que ouças esse DVD que te envio.

Clique para ampliar
Ele serve pra duas coisas, ao menos:
Em primeiro lugar, as músicas que vais ouvir são – quase todas – as que passei minha infância a cantar.
Isso servirá, me parece, para que conheças melhor teu avô.
Em segundo lugar, poderás conhecer melhor a cultura do país em que vives. Essas músicas fazem parte da formação de quase todas as crianças americanas.

Teu avô é ateu. Mas, se puderes crer na mensagem que essas músicas transmitem, melhor pra ti.
Se não, se não precisares dessa muleta, enfrenta as dificuldades por tua conta, mas ouvindo boa música gospel, como eu.

Beijinhos trasmontanos do

grampa Beto

sexta-feira, 6 de março de 2009

Se crês em lúfrios,
eu te abranizo!


Acabo de criar uma religião. A Igreja Carólica da Goiabada Azeda.
Ela consiste na adoração de alguns poucos deuses, a saber: Paterson, Sonson e Holyspirson (por serem deuses brasileiros e de origem popular, seus nomes tinham de terminar em son).
Quem quiser aderir, basta acreditar neles, depositar neles toda sua esperança e fé.
Só não podes acreditar em lúfrios.
Caso incorras nesse grave pecado, eu te abranizo!
Ser abranizado é o pior castigo que se pode infligir a um fiel, na Carólica.

É óbvio que só vai ficar chateado com a abranização de quem quer que seja o sujeito que se deixar seduzir pela minha conversa mole, ou melhor, carólica.

Vai daí, não sei por que todo esse alvoroço só porque um arcebispo, ou algo assim, excomungou a mãe e a equipe médica que fez o aborto da menina de nove anos estuprada pelo padrasto.
Mesmo quando ele, o arcebispo, colocou a cereja no bolo ao afirmar que o padrasto não pode ser excomungado porque o que ele fez não permite a excomunhão, continuo sem saber para que tanto alarido.

Só é prejudicado pela tal excomunhão aquele que leva essa entidade abjeta que é a igreja católica romana a sério. E, agora digo eu, se o cidadão se sente diminuído pela excomunhão é porque a merece.

Aliás, além de excomungados, considerem-se também abranizados pela Igreja Carólica da Goiabada Azeda.

Abraço

Pai e filha

domingo, 1 de março de 2009

Questão de qualidade


Se não me engano, a Bíblia diz que quem crê recebe a vida eterna. Quem não crê, a morte.
Ao menos é o que parecem dizer estes versículos:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)


Penso não ser bem assim (blogueiro dá palpite em tudo).

Apesar das diferentes maneiras de se entender a palavra inferno, aprendi desde criança que inferno é um lugar quente pra burro onde a gente sofre muito. Acho até que vem daí meu pouco apreço pelo verão.

Pra sofrer como o diabo (sem trocadilho) é preciso estar vivo.
Portanto, a questão da salvação não se coloca como dilema entre a vida e a morte.

É tão somente uma questão de qualidade de vida.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A formação de José Serra


Tenho lido alguns artigos que questionam a trajetória política de José Serra, governador de São Paulo que quer ser presidente da República do Brasil.
Questiona-se sua pretensa condição de economista.
Pergunta-se de que modo conseguiu o estudante de origem humilde sobreviver no exterior, primeiro no Chile, depois nos Estados Unidos.

Quanto à questão do diploma, me parece uma questão burocrática. A formação dele, no exterior, não foi validada no Brasil.
Já quanto aos recursos para sobreviver no exterior, tenho uma história pra contar:

Lá pelos idos de 1.991, fui convidado por um amigo a almoçar com ele e com seu sócio. Acontece que o tal sócio era colega nosso de Escola Politécnica. Nós três havíamo-nos formado no mesmo ano, ainda que em modalidades diferentes.
Claro que a conversa durante o almoço girou em torno da época de faculdade e dos colegas dos quais fomos nos lembrando.
O sócio de meu amigo, falecido tragicamente poucos anos depois, era conhecido por suas posições políticas mais à direita.
A certa altura, começou a revelar que na década de 60 os Estados Unidos haviam assediado vários líderes estudantis brasileiros para que fossem para lá, fazer alguns estudos, conhecer outros pontos de vista etc etc.
Citou o Serra como exemplo de um que topou.
Diga-se: o depoimento desse colega me pareceu, desde o primeiro momento, autêntico. Principalmente porque ele nos contou essa história para lamentar-se de – à época – não ter aceitado o convite.
Segundo a conclusão dele: todos os que aceitaram se deram muito bem.

A julgar pelo Serra, parece que sim.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bem-vinda, Isabella


Nasceu ontem, no hospital de Norwalk, Connecticut, USA, minha segunda neta, Isabella.
Ela ainda não sabe o tamanho da fria em que entrou. Mas espero que colabore pra que esse mundo se torne menos insuportável.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A dificuldade de ser original


Na década de 70, século passado, já lá se vão uns trinta anos, meu colega de trabalho João Gutierrez (às vezes também chefe) chegou à empresa em uma segunda-feira pós final de semana prolongado com a seguinte história:
Passara o final de semana, com a família (mulher e filhos pequenos), em alguma praia do litoral norte de São Paulo. No domingo, ficou matutando: qual a melhor hora pra voltar a São Paulo?
Conclusão: resolveu voltar de madrugada. Acordou a família lá pelas 3 da manhã, colocou tudo no carro e preparou-se para percorrer uma estrada vazia.
Quando chegou à estrada, tudo parado. Uma multidão de carros deslocava-se vagarosamente.
Demorou horas pra chegar em casa.
Deduziu: em São Paulo, quando você tem uma ideia qualquer, pode ter certeza de que um milhão de pessoas está tendo a mesma ideia ao mesmo tempo.

Isso há trinta anos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Feira do Fumeiro em Vinhais


Já, já, em agosto, completam-se dez anos desde quando conheci Vinhais.
E - incrível - nunca lá estive na época da Feira do Fumeiro.
A Saltapocinhas me questiona, em comentário:
Tens uma feira de fumeiro e enchidos na tua terra e andas por aí a ouvir discursos de políticos?? ai, ai...
A censura dela esquece que não se faz tudo que se quer (além de ser apenas uma brincadeira).
Quando estiver a morar em Bragança não perderei nenhuma Feira do Fumeiro. A menos que haja neve o bastante para impedir que se chegue a Vinhais.
Mas, para isso, é preciso que a tal Comissão de Anistia dê andamento ao processo em que solicito o reconhecimento de um ano e meio de trabalho na USP. Período esse que a Reitoria da USP não quis reconhecer.
A questão é essa: para ir morar em Bragança é preciso, antes, tratar da aposentadoria/reforma.
Ocorre que trabalhei alguns anos na USP. Preciso que esse tempo de trabalho seja contado para completar meus 35 anos de trabalho comprovado.
Comecei a trabalhar na USP no início de 1.970, com a criação do Instituto de Matemática e Estatística (IME-USP).
No final de julho de 1.971 fui preso.
Meu contrato com a USP durou até meados de 1.972 e não foi renovado porque eu continuava em cana.
Saí em liberdade condicional no início de 1.973. O IME-USP me chamou para continuar a trabalhar lá, mas não havia condições políticas para a recontratação. Sugeriram, então, que eu ficasse recebendo bolsa de estudos até que se fizesse uma anistia que permitisse minha nova contratação.
Fiquei mais um ano e meio.
Como a anistia não aparecia no final do túnel, arrumei emprego em empresa e fui embora da USP.
Inicialmente, a USP só reconhecia o tempo de trabalho até a data da prisão.
Recorri administrativamente e consegui que a USP reconhecesse o período em que estive preso.
Quanto ao ano e meio posterior à prisão, disseram que só a Comissão de Anistia poderia reconhecer.
Entrei com processo há dois anos e meio. Ele continua parado no protocolo.
Caso a Comissão reconheça meu ano e meio final na USP, posso me aposentar ainda este ano. Caso contrário, só no final de 2.010.
Como leio nos jornais que a Comissão de Anistia pretende analisar todos os processos até o final de 2.010, já imagino o final dessa novela: no final de 2.010, quando eu não precisar mais desse tempo para completar os 35 anos de trabalho, eles - alegremente - me reconhecerão o tal ano e meio.

(e pensar que toda essa conversa começou graças a alheiras e chouriças)

As armadilhas dos idiomas


Um mexicano procurado pela Espanha por liderar tráfico de cocaína para a Europa foi localizado em presídio de São Paulo, dizendo-se natural de Minas Gerais.

Ele acabou por trair-se ao mencionar ter um niño (em vez de dizer que tinha um filho).

Claro. Pra se passar por mineiro, ele tinha de dizer:

- Tenho um niño, uai.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Bacalhau basta


Hoje, segunda-feira, dia 2 de fevereiro, é dia de Iemanjá.
Sei disso desde garoto, graças aos versos de Caymmi, na canção Dois de Fevereiro:
Dia 2 de fevereiro
Dia de festa no mar.
Eu quero ser o primeiro
a saudar Iemanjá.


Hoje, segunda-feira, dia 2 de fevereiro, faz 5 anos que este blog começou.

Uma coisa nada tem a ver com a outra.
Coincidência, apenas.

Aliás, hoje é dia de eleições no Congresso brasileiro.

Sarney foi eleito presidente do Senado. Enquanto eu almoçava, ele começou seu discurso de posse. Quase perdi o apetite ao verificar como o homem se leva a sério. Mencionou o número de livros que já perpetrou, não esqueceu de dizer que alguns foram traduzidos para outras línguas. Lembrou que faz parte de várias associações literárias mundo afora. É o decano da Academia Brasileira de Letras.
Os demais elogios que ele outorgou à sua modesta pessoa não tive o desprazer de ouvir. Desliguei a TV.

Na Câmara dos Deputados o presidente eleito foi Michel Temer.

Enquanto o primeiro dedicava boa parte de seu tempo a maltratar a Língua Portuguesa, o segundo usava seu tempo livre, poucos anos atrás, batendo em algo menos intangível.

Outra pura coincidência.

O fato é que esses serão os sucessores de Lula e José Alencar pelos próximos dois anos.

E você queria que eu produzisse um blog melhor?