sábado, 31 de agosto de 2013

A feia piedosa

Ser feia não é defeito. Apenas sina.
Beleza não é fundamental, como teimou Vinicius.
Mas se juntarmos à feiura um gosto por textos de auto-ajuda, nem é preciso mau hálito.

O diabo é que alguém assim, ao obter - sabe deus como - alguns diplomas e títulos, pode começar a alimentar a falsa ideia de que a bem-aventurança deve ser distribuída democraticamente.
E é então que começa o sofrimento.

A busca do príncipe encantado passa a equiparar-se à procura da fonte da eterna juventude.
Mas como sucedem-se os sapos e nenhum deles nem sequer se deixa beijar, o remédio é glorificar a Virgem, com a qual aumenta pouco a pouco a identificação.

E, valha-me deus, nem um maldito Panthera aparece.

sábado, 24 de agosto de 2013

Meus amigos do Facebook

Tenho pouco mais de uma centena de amigos no Facebook.
Desses, uns quase cem não escrevem nada, não dão palpites em nada. Nem sei se aparecem para ler alguma coisa. E se o fazem, apenas clicam em “like”.
Uma meia dúzia corresponde a minhas expectativas: dá opiniões e comenta as minhas.
Umas boas duas dúzias são formadas por pessoas que têm convicções – políticas e/ou religiosas – bastante arraigadas. Com essas é impossível dialogar.
Tenho amigos absolutamente contrários ao PT (Partido dos Trabalhadores, Brasil). Para esses o Brasil é vítima dessa corja. Tirá-la do poder é a prioridade.
Outros são adeptos do PT. Para eles, José Dirceu é um bom sujeito, Lula tirou o Brasil da miséria (ou a miséria do Brasil, algo assim).
O socialismo, para uns, é um regime libertário, democrático. Parece-me que sonham acordados.
Ou, talvez, não tenham acordado. E, a julgar pela idade provecta de alguns, jamais acordarão.
Outros publicam frases ou conjunto de frases de teor acaciano. E aceitam que essas boçalidades tenham sido escritas por, exemplo, Fernando Pessoa.
Isso indica que jamais leram Pessoa. Mas, advertidos do erro, apenas afirmam que não se preocupam com isso.
Minha vontade é a de escrever uma imbecilidade qualquer e atribuir a autoria à pessoa que publicou uma idiotice como sendo da lavra de Fernando Pessoa. Mas não o faço porque corro o risco de ver a bobagem elogiada por muitos.
Vários são crédulos. Ou crentes, se preferir.
Não creem em Pai Natal nem Saci Pererê. Mas veneram a Virgem Maria e uma cambada quase infinita de santos.
Alguns, protestantes, não dão essa importância toda a Maria. Mas acreditam que o judeu, aquele, o tal de Jesus, ressuscitou.
Ora, nada tenho a conversar com essa gente. Dialogar não é o forte dela.
Por essas e por algumas outras, encerrei minha participação no Facebook.

Amigos, para mim, são outra coisa.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Senhor dos Aflitos

A festa de Passos de Lomba foi neste último domingo, dia 11 de agosto.
Missa na Capela de Nosso Senhor dos Aflitos, procissão à volta da capela, que o sol não estava para brincadeiras. Depois, o de sempre: leitão, cabrito etc etc.
A pinguinha (vinho) e, por que não, um bagaço.

O interior da capela só fotografei após a missa. Quando cheguei a missa já começara...

(clique nas fotos para ampliá-las)

Como lá dentro não cabia toda a gente, ficaram muitos à sombra das árvores, a assistir à missa pelos auto-falantes.






Enfim, terminada a missa, saiu a procissão.




(não sei por que esse telefone da banda tem algum dígito a menos...)


Ainda antes do fim da missa já alguns procuravam alimento que não fosse o espiritual.


sábado, 10 de agosto de 2013

Exame de ADN para Panthera


Quando comecei o terceiro ano (terá sido mesmo o terceiro? Talvez o segundo... Sei lá) do curso na época chamado, no Brasil, de ginasial (enfim, eu tinha uns 12 ou 13 anos) levei pra casa no primeiro dia de aulas a lista de materiais necessários: livros, cadernos etc etc. Para Geografia, o livro era o de Haroldo de Azevedo. Minha mãe providenciou as compras e lá veio no meio delas o livro de Geografia, em edição recente. Ao fuçar as coisas de minhas irmãs, descobri o mesmo livro mas em edição um bocadinho mais antiga (apenas uns 10 anos mais antiga... desculpem lá, minhas manas)
Comecei a comparar os dois exemplares. Em ambos havia um capítulo que hoje pareceria brincadeira: Provas da Redondeza da Terra.
No livro de minhas irmãs estampava-se uma foto do horizonte no mar. Em cima dela fora traçada uma linha reta para mostrar que o horizonte que parecia reto na verdade não o era. Com a reta traçada sobre a foto ficava claro que a linha do horizonte era curva.
Tentei reproduzir isso nas fotos abaixo, tiradas de meu apartamento em Matosinhos (Porto). Percebam que quase consegui provar que a Terra é plana...



Na edição comprada para mim, mais recente, a foto já era tirada de um balão meteorológico ou coisa que o valha. Percebia-se claramente a "redondeza" da Terra, sem necessidade de traço algum sobreposto à foto.
Imagino que nas edições seguintes o capítulo todo deve ter sido eliminado. Afinal, já não era necessário provar que a Terra era redonda.

Há, contudo, alguns temas que - por variadas razões - não só continuam a exigir provas que mostrem sua falsidade, como pior: são considerados verdadeiros por milhões de pessoas.
Um deles é a virgindade de Maria.
Curioso: há outros mitos que são cultivados por largas porções da Humanidade. Mas dentro de certos limites. Por exemplo: o Pai Natal (ou Papai Noel, como se diz no Brasil). As crianças acreditam em Pai Natal até certa idade. Há um momento em que os pais cumprem a dolorosa missão de desenganar os petizes.
- Vejam, crianças. Pai Natal não existe.
Já a virgindade de Maria, assim como outros mitos que vieram do paganismo e foram incorporados pelo cristianismo, tem gente - e bota gente nisso - que acredita nessa história pelo resto da existência.
Pense em uma vizinha (ou um vizinho) sua (seu). Imagine que você diga a ela (ele) que a vizinha do 47 está grávida mas não transou com ninguém. Você acha que ela (ele) vai acreditar?
Duvide-o-dó!
Mas uma pá de gente acredita que Maria pariu Jesus sem ter transado com ninguenzinho.
Mas existem fortes indícios (não provas indiscutíveis, é verdade) de que Maria teve um caso com o soldado romano Panthera. Ou foi estuprada por ele.
Se isso é mesmo a expressão da verdade não se sabe. Ao menos no atual estado das pesquisas. E talvez nunca se tenha uma prova cabal.
Mas quanto a mim pelo menos, não aceito que - naquela época, em que não havia inseminação artificial nem nada disso - uma mulher ficasse grávida sem ter conhecido homem (no sentido que é comum na Bíblia)..

Mas... fazer o quê. A Igreja - a Santa Igreja - já matou muita gente que afirmava a redondeza da Terra ou outras heresias do gênero.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A esquerda e sua ignorância


Foi em 1.968.
No cursinho pré-vestibular em que eu dava aulas de Matemática, um amigo meu lecionava História.
Era jornalista e homem de esquerda.
Belo dia, anunciou o nascimento de seu primeiro filho.
Desejei tudo de bom a seu rebento.
Nos dias subsequentes notei um certo mal estar dele em relação a mim.
Esperei mais um bocadinho.
O desencontro persistia.
Questionei.
Ele abriu o jogo:
- Você chamou meu filho de rebento. Fiquei chateado.
E toca a explicar a ele que essa palavra não era pejorativa.
Nunca soube se ele, de facto, desculpou-me. Já nem espero que tenha entendido.
Depois disso ele doutorou-se e publicou vários livros.

A situação parece não se ter alterado muito.
A esquerda brasileira carece de quadros alfabetizados.

sábado, 3 de agosto de 2013

Austeridade ou o quê?

Gosto muito da maneira de minha prima Zelinda cumprimentar-me sempre que me encontra:
 - Estás bem ou o quê?
 Discute-se muito, em Portugal, a respeito da tal austeridade.
 Aviso logo aos habitantes de gabinetes que não percam seu tempo a ler o que vai abaixo. Não vou citar autores nem desenvolver teses sobre o tema.
 Prefiro falar de alguns detalhes que me atraem a atenção quando o assunto é esse: austeridade.
 Já me parece um bocadinho esdrúxulo colocar tal palavra no centro de uma discussão sobre como recuperar a economia debilitada de vários países.
 É um tanto quanto aquele índice de felicidade que criaram no Butão (Gross National Happiness (GNH) ).
 Austeridade é parente de felicidade e não apenas uma rima pobre. O que é austero para uns não o é para outros.
 Ou seja, austeridade - assim como felicidade - além de difícil definição é de impossível medição.
 Ora veja.
 Vai a qualquer cidade espanhola. Entre o meio-dia e as cinco da tarde verás todo o comércio fechado, com a eventual excepção dos restaurantes.
 Isso nada tem a ver com capitalismo ou com socialismo. É tradição.
 Coaduna-se esse hábito com austeridade?
 Estou em Bragança, Portugal. Vou à farmácia buscar meu desodorante (ou desodorizante, tanto faz) favorito. Encomendei-o há dois ou três dias.
 Informam-me:
 - Está esgotado!
 Pergunto:
 - Já não o fabricam mais?
 - Não. Não é isso. O estoque acabou.
 - Ah! E quando posso vir buscá-lo?
 - Só em Setembro. O laboratório fecha para férias todo o mês de Agosto.
 Em Portugal, com a inevitável excepção do turismo, quase nada existe em Agosto.
 Coaduna-se esse hábito com austeridade?
.
Não fiquei de dar respostas.