segunda-feira, 29 de abril de 2013

Soluções novas para velhos problemas

No Brasil, actualmente, discute-se a questão da idade adequada à responsabilização penal dos cidadãos.
Muito bem.
Deveríamos começar a discussão a partir da questão:
Há cidadãos no Brasil?
Mas, com isso, muitas pessoas ficariam chocadas, revoltadas, iriam revirar-se na cama antes de dormir.
Então vamos pular esse item.
Sugiramos logo a solução: as pessoas devem ser responsabilizadas criminalmente desde o nascimento.
Desse modo, um recém nascido que cometa um homicídio bárbaro, deverá sofrer as consequências.
Mas... quais consequências?
Tomar mamadeira (em Portugal diz-se biberão) só de 12 em 12 horas.
Não! dirão os adeptos de ideologias de esquerda. Afinal, o bebé é, apenas, uma vítima da iniquidade burguesa. Tornou-se assassino justamente por carência de biberão.
Além disso, os locais nos quais receberá sua dose de leite são de péssima qualidade. Neles não há nem TV a cabo.
Então tá.
Que mamem de 6 em 6 horas. Mas apenas pelo prazo máximo de 3 meses. Depois, que tudo se normalize. Ou seja: quem tem tem. Quem não tem não tem.
Já o grosso da população (ou os grossos da população, como queiram) prefere mesmo a pena de morte.
Acontece que essa mesma maioria se diz católica. Ou ao menos cristã. E, ipso facto, é contra o aborto. Ora, aborto e pena de morte para recém nascidos são coisas perigosamente próximas. Aí a discussão se embaralha. Melhor matar os recém nascidos criminosos de maneira informal, como se faz com boa parte dos adultos criminosos.
Ainda este último domingo, uma senhora revelou à Folha de SPaulo que foi estuprada aos 19 anos. Mas era no tempo da ditadura, o garoto estava subnutrido. Coisas assim. Por isso, ela é contra baixar a maioridade penal para 16 anos. Do ponto de vista lógico, perfeito!
O indivíduo estupra por estar subnutrido. Ergo, a maioridade tem de continuar nos tais 18 aninhos.

Que falta faz o Chacrinha!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre a Fé

É famosa a definição de fé que consta em Hebreus 11:1:

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem

Temos, então, uma definição bíblica de fé. Daquilo que é a Fé. Inclusivamente com muitos exemplos, no próprio capítulo 11 de Hebreus.
Muito bem. Meu interesse, neste post, é pensar um bocadinho sobre algumas coisas que a Fé não é.

Nos meus tempos de Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), meu orientador, o grande lógico Newton da Costa, costumava brincar - ele que se notabilizara mundo afora por sua tese sobre Lógicas Inconsistentes - a repetir que um de seus maiores desejos era o de provar que 2 + 2 = 5.
Mas atenção! O desejo dele era provar isso. E não, ter fé nisso. Além do mais, tratava-se de brincadeira.

Não é possível ter fé em que Lula não tenha sido presidente da República no Brasil ou que o inefável Cavaco não seja o presidente de Portugal. É apenas possível ter fé em que não voltem a ser o que já foram.
Não é possível ter fé em que a Terra seja plana. Outrora já foi possível ter fé nisso. Hoje não mais é.
Não é mais possível ter fé em que Moisés tenha escrito os livros do Pentateuco. Nem que as cartas atribuídas a Paulo sejam todas dele. Já está provado que nada disso é verdadeiro. O Catecismo diz o contrário? Pior para o Catecismo.
Enfim: não é possível ter fé em algo que já se sabe ser factualmente falso.

Maria pariu Jesus e continuou virgem. É possível ter fé nisso? É.
Há várias indicações de que isso não tenha sido facto. Mas não há prova disso. Então é possível ter fé nisso.
É possível ter fé na existência de seres extra-terrestres? Claro. Por mais mistificação que exista em torno desse tema, é possível que existam seres inteligentes fora de nosso planeta.
Quanto a mim, coloco alguma dúvida quanto à existência de vida inteligente cá na Terra...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Utilidade Pública






Aliás a materna era Maria Amélia. Mas até que uma vovozinha Rúbrica não ficava de todo mau. Quando um burocrata qualquer pedisse a ela que apusesse rúbrica em um documento, ela sentava em cima.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Código da Auto-Ajuda

Às vezes alguns juristas se reúnem para elaborar um Código. Ou seja, uma compilação das leis a respeito de um determinado assunto que permita consultar toda a legislação referente ao tema em uma única fonte. Sem precisar garimpar leis e mais leis. A definição de Código é um bocadinho mais elaborada, mas fiquemos com essa ideia simples. Há Código Civil, Código Penal, Código Tributário etc etc.

Proponho a criação de um Código da Auto-Ajuda. Terá de resultar de elaboração coletiva de vários Paulos Coelhos espalhados mundo afora.

Sinto mesmo falta desse Código. Porque, atualmente, o terreno da Auto-Ajuda está confuso.
Um afirma que o verdadeiro amor não faz sofrer. Vem outro e diz que amar dói.
Um terceiro garante que a vida é bela. Vem um quarto e nos conclama a que sejamos fortes para enfrentar as amarguras da vida.
A lista é infindável.
Mas uma vez elaborado o Código toda essa ambiguidade será evitada.
E seremos estupidamente felizes. Ou felizmente estúpidos.

domingo, 14 de abril de 2013

Ser mau não é bom

Nos tempos vividos no Presídio Tiradentes, São Paulo, Brasil, gostávamos de gastar tempo a caçoar do mundo e de seus habitantes.
É verdade que não incluíamos nesse universo as centenas de baratas que insistiam em passear pelas madeiras das armações de nossas camas. Essas, na impossibilidade de matá-las a todas, nós ignorávamos.

Entre nossos alvos preferidos estavam as Esquerdas. Afinal, vivíamos o tempo todo cercados pelo que sobrara delas.

Meu companheiro de cela, o Mesquita, costumava brincar com o maniqueísmo da esquerda maoísta. Dizia que os simpatizantes da Revolução Chinesa tinham o lema:

Presidente Mao bom. Outros não bom.

Essas lembranças me acodem a propósito de uma dúvida que alimento há muito. 
A saber:  
Por que na França, terra de Hippolyte Léon Denizard Rivail, para os íntimos Allan Kardec, quase ninguém segue suas ideias e no Brasil há tanta gente que se diz espírita?
Adianto que continuo sem resposta a essa questão.

Mas arrisco alguns palpites.
O primeiro deles: brasileiro (muitos, não todos, é óbvio) não é chegado a fortes convicções teológicas e não quer meter-se em confusões a respeito de religião, assunto que ele prefere deixar de lado para dedicar atenção mais minuciosa a futebol, carnaval e telenovelas. Desse modo, aumentam os adeptos de variado número de sincretismos religiosos, por exemplo. Jogar no liquidificador as mais variadas crenças, de preferência de origens bem distintas (catolicismo, seitas de origem africana etc etc) costuma fornecer uma batida que impede maiores questionamentos. Coisas na linha sou devoto de Nossa Senhora dos Orixás ou algo parecido. Ou, como já disse a presidenta Dilma, sou devota de Nossa Senhora de Maneira Geral (e o disse ao vivo, no programa do inefável Datena, na TV Band).
O espiritismo vai um tanto nessa linha: mistura ideias da literatura de auto-ajuda com pitadas de religião, no sentido de ligação ao divino.
O lema dos cardecistas parece ser:
Como é bom ser bom.
Fora alguns malucos de plantão, há alguém que defenda o contrário?

Mais um palpite: o espiritismo é mesmo excelente para driblar qualquer discussão sobre religião.
Experimente dizer a alguém, no Brasil, que você é ateu. Verá que comprou no mínimo um olhar de espanto, no limite uma discussão barra pesada.
Ao contrário, diga que é espírita. Pronto. Assunto encerrado. Você não precisa frequentar igreja nenhuma (a menos que goste. E pode ser qualquer uma), não precisa explicar suas crenças nem falar a respeito de sua doutrina.

Afinal, todo mundo sabe que é bom ser bom.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Buraco sem fundo

Sempre que, no Brasil, é assassinado alguém de classe média, volta a discussão:  deve-se baixar a maioridade criminal para algo como 16 anos? As pessoas morrem como moscas, no Brasil, mas há certas mortes que valem mais a pena.

Desde que passei um tempinho na cadeia, lá na década de 70, me dei conta de alguns detalhes importantes. Afinal, na tranca sobra pouca coisa pra se fazer além de pensar.

A prisão não pode - até mesmo por uma questão de, digamos assim, mecânica dos fluidos - ser melhor do que a vida da maioria do lado de fora.
Desde que me conheço, as prisões, no Brasil, são verdadeiros infernos. Aliás, desconfio que assim foi desde 1.500 d.C.. Mesmo que as prisões sejam desse modo, conheci várias histórias de presos que, soltos, cometeram algum pequeno delito para poder voltar ao presídio.
Então, não adianta pensar em melhorar as condições carcerárias se - antes - não forem melhoradas as condições de vida do povo em geral.

Antes de prosseguir, é preciso que deixe claro que não tenho nenhuma opinião definida sobre toda essa questão. Tenho dúvidas. E já considero isso uma conquista.

Não entendo o porquê de raramente, no Brasil, considerar-se a possibilidade de não estabelecer uma idade fixa para a maioridade. Deixá-la ao talante da Justiça.
Será porque ninguém acredita no Poder Judiciário? Será mesmo esse Poder o mais corrupto da República?
Algum tempo atrás, na Inglaterra, dois garotos de 11 anos foram considerados adultos, do ponto de vista penal, ao terem raptado um bebé pela simples razão de queriam saber se um bebé explodiria quando uma composição do Metro passasse por cima dele. Viram. E foram condenados a 15 anos de prisão.

Esse é outro detalhe: 15 anos, na Inglaterra ou em quase qualquer outro lugar, são 15 anos. No Brasil, os condenados o são a centenas de anos. Cumprem 5 ou 6 e vão embora, em liberdade.

Outra questão complicada é a Pena de Morte (assim, em maiúsculas, pra dar mais importância). A avassaladora maioria da população brasileira é a favor. Mas, nesse aspecto, as tais elites conservadoras e as esquerdas revolucionárias (exagerei!) se unem para garantir que a voz do povo é a Voz de Deus mas nem sempre. Hay que caminar muy despacio...
Sá coméquié! O povo sabe quando sabe, e a gente sabe quando o povo não sabe.

Tem também a turma que tira da reta em relação à pena de morte e prefere a prisão perpétua. Claro, desse modo evita-se que um erro judicial se torne incorrigível. Se bem que criaria emprego de carrasco. E o pessoal anda ávido. Mas a prisão perpétua também gera empregos.

Outra possibilidade é o antigo olho por olho. Dia desses, na Arábia Saudita, um rapaz que deixou outro paraplégico foi condenado a ficar - ele também - paraplégico. Não sei o que vão fazer. Acho que lhe vão aplicar uma injecção que resolva a questão.
Confesso que isso me causa náuseas. Mas não sei o que resultaria de plebiscito a respeito no Brasil...

A única coisa de que tenho certeza, nisso tudo, é que nada vai acontecer, no Brasil varonil.

terça-feira, 9 de abril de 2013

O mundo é tudo aquilo que é o caso

Já escrevi em algum lugar, alguma hora, que o Tractatus, de Wittgenstein, foi traduzido para o português, no Brasil, pelo aloprado professor Giannotti. e que Vilem Flusser, outro maluquete, discordou da tradução - veja só - da primeira frase.
Para um, era: O mundo é tudo o que ocorre. (Giannotti)
Para o outro: O mundo é tudo o que é o caso.
Haja!
Nas traduções para o inglês:
The world is everything that is the case.
ou
The world is all that is the case.
O tradutor do Google concorda com Flusser. O que não significa quase nada...

Quanto ao original alemão: Die Welt ist alles, was der Fall ist.

Aliás, nada disso parece significar nada.
Enquanto a Coreia do Norte ameaça o mundo com aquilo que é o caso, no Brasil o caso é o deputado Feliciano, dublê de pastor do fim do mundo e seus ferrenhos adversários de sofá.
Em Portugal, discute-se se a austeridade grudou no fundo da panela, ou seja, se o fogo deveria ter sido abrandado um bocadinho antes.
E o primeiro ministro que colocou a panela a ferver torna-se agora comentarista da situação.
Haja!

Enquanto o frio não permite que a Primavera se estabeleça, Bragança continua a ser o caso.
Bem haja!

sábado, 6 de abril de 2013

Maturidade



Há sentimentos que ameaçados seguidamente por desejos acabam por naufragar. Alguns deles passam até a ser malvistos por quem os nutria. Mas jamais serão substituídos por nada.
Antes, deixarão vazio seu lugar.
Se é possível chamar vazio àquela nostalgia intitulada maturidade.




1º prémio do concurso Gentes, Usos e Costumes  (2003)
Publicado no livro homónimo organizado pela Câmara Municipal de Bragança

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Lume aceso


É agora uma mulher madura. Esposa, mãe, avó.
Nos tempos de menina teve uma paixão. Intensa como deve ser uma paixão. De curta duração, por desígnio do destino.
Com o crescimento veio a razão.
Manteve-se fiel a suas origens, casou-se com o homem adequado, teve os filhos que desejava.
Viveu e vive com a tranquilidade que se espera resultar da sensatez.
Só ela, nas entranhas, sabe ser a antiga paixão a manter o lume aceso do desejo de viver.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Notícias urgentes!

Cavaco Silva abandona a Presidência e a família
Declarou que, com o baixo valor das pensões que recebe, prefere entrar para o convento das carmelitas descalças.

Pastor Feliciano pede o fim do arco-íris
Em oração inflamada, durante o culto da Páscoa, o dublê de deputado e exorcista brasileiro pediu a Deus que não permita mais essa pouca vergonha nos céus.

Prefeito de São Paulo já quase consegue equilibrar-se
Lula prometeu que semana que vem tira as rodinhas auxiliares da bicicleta de Haddad.

Vem aí o Domingão do Platão!
Baseado na já quase centenária experiência vencedora do Domingão do Faustão, que cuida da educação dos brasileiros aos domingos, quando as escolas não funcionam, o ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, vai conduzir programa parecido, na RTP. Se o programa não der certo, ele já tem programado um curso de alta costura a fazer em Paris.