sábado, 31 de julho de 2004

Era uma vez - II
A neblina se dissipa



Não me lembro se era manhã ou tarde. Era dia.
A porta da cela foi aberta e entrou um rapaz sorridente, simpático, comunicativo. Logo pensei: como alguém pode sorrir aqui?
Ele foi explicando: estava em trânsito para Brasília, ia prestar depoimento em um processo no qual estava envolvido. Vinha do presídio Tiradentes. Já estava preso havia alguns meses. Havia sido pego pelo pessoal do DOPS (Depto de Ordem Política e Social). Já estivera ali, na Oban (Operação Bandeirantes), algum tempo atrás. Dia seguinte já iria embora. Como respondia a vários processos em cidades diferentes – viajava não raro.
Naquele momento eu, que vivia aquele pesadelo sem noção do que aconteceria em seguida, sem mesmo saber se existiria um “em seguida”, sentindo em torno de mim uma espessa neblina que não me permitia enxergar nada, a não ser aquele lugar absurdo no qual militares e policiais se revezavam vinte e quatro horas por dia para torturar os presos e arrancar deles confissões, naquele momento, por causa daquela conversa, comecei a sentir que a neblina se dissipava, já dava pra ver um pouco mais longe. Se a visão não era reconfortante, pelo menos era melhor do que o nada anterior.
O rapaz apresentou-se: era Altino Dantas (hoje membro do PT, já foi vereador em Santos, vejam só). Disse que a Oban era o inferno. Mas, quando fôssemos para o DOPS, seria o purgatório. O Presídio Tiradentes era o céu. Ainda detalhou: quando você é preso pela Oban, não apanha no DOPS. E vice-versa.
Existia uma rivalidade entre os órgãos de repressão.
Irônico mas real.


quarta-feira, 28 de julho de 2004

Era uma vez - I
Faz 33 anos



Íamos entrar em casa. Voltávamos – minha mulher e eu – de uma viagem. Antes que eu pudesse abrir a porta, ela se abriu e uma dúzia de indivíduos à paisana, portando metralhadoras, saiu apressadamente e nos cercou.
Levantei os braços, pedi calma aos homens em círculo (percebi que um deles, talvez o mais novo, tremia muito). Fazia frio em São Paulo, eu usava um casaco pesado. Eles achavam que havia alguma arma oculta por minha roupa. Bobagem. Nunca dei um tiro em minha vida.
Meu pecado era o de ter opiniões. E expressá-las como podia.
Começava uma história nada agradável de recordar.
Talvez qualquer dia eu coloque aqui trechos dela.
Por enquanto, fico feliz ao perceber que continua frio em São Paulo mas os ares são democráticos. O totalitarismo derreteu-se.
Por enquanto.


sexta-feira, 23 de julho de 2004

Carlos Paredes
(16/02/1.925 - 23/07/2.004)


Para ouvir sua guitarra, vá aqui.


A foto, eu a copiei daqui.

Atualização (14/05/2007): Troquei o link que permitia ouvir a guitarra de Paredes. O que eu tinha inserido, originalmente, já não mais existia.

quinta-feira, 22 de julho de 2004

Inocentes não falam "Desconheço"


Não sei em Portugal. Mas no Brasil, quando algum 'colarinho branco' é surpreendido em alguma atividade - digamos - suspeita e vai a interrogatório, no âmbito policial ou na Justiça, o Teste Lingüístico é infalível: se, em resposta a pergunta do tipo 'Conhece fulano?', ou 'Que sabe a respeito de...?', o cidadão se sai com um 'Desconheço', pode crer, é culpado.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

Felicidade


Duas amigas conversam (na verdade, duas irmãs):
- Como estás?
- Ah. Estou feliz!
- Por que?
- Meu colesterol baixou.

Pode?!

segunda-feira, 19 de julho de 2004

Argumentum Ornithologicum


Ontem, folheando livros de Borges pra escrever o spasso abaixo, esbarrei com o texto que traz o título acima e que passo a traduzir. Assim, pretendo dar 'trabalho' a meus amigos virtuais do Diário de uns ateus:


Fecho os olhos e vejo um bando de pássaros. A visão dura um segundo ou talvez menos; não sei quantos pássaros vi. Era definido ou indefinido seu número? O problema envolve o da existência de Deus. Se Deus existe, o número é definido, porque Deus sabe quantos pássaros vi. Se Deus não existe, o número é indefinido, porque ninguém pôde contá-los. Neste caso, vi menos de dez pássaros (digamos) e mais de um, mas não vi nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três ou dois pássaros. Vi um número entre dez e um, que não é nove, oito, sete, seis, cinco, etcétera. Esse número inteiro é inconcebível; ergo, Deus existe. (Jorge Luiz Borges, in El Hacedor)

Divirtam-se, crianças.

Cosmogonias


Adão e Eva, o Éden, a serpente e o fruto proibido, são - talvez - nosso mais conhecido mito de origem. Mas há muitos outros. Faz tempo, interessado no assunto, comprei em um sebo uma obra em italiano que recenseava mitos de origem de povos do mundo inteiro. Eram quatro grossos volumes (que não li porque não leio italiano. Aí você me pergunta: por que comprou? sei lá). Há mitos de origem para todos os gostos. E muito o que conversar sobre eles. Lembro-me de um em que tudo começa em um lago onde nadam alguns patos (sic). Vai daí que Brama pousa no lago primevo e põe um enorme ovo do qual nasce... Brama. Então ele cria o mundo etc etc. Esse mito (que acho ter lido em Borges mas não encontro mais aonde) mostra a dificuldade do ser humano em lidar com o Princípio.
Por falar em Borges, em Otras inquisiciones (La Creación y P.H.Gosse) ele discute a questão do umbigo de Adão. Se Adão tinha umbigo, sem ter tido cordão umbilical, como fica o princípio de razão que exige que todo efeito tenha causa? Gosse bolou uma saída engenhosa: o tempo seria infinito para frente e para trás. Mas Deus, que pode interrompê-lo para o Juízo Final, eliminando dessa forma todo um porvir hipotético, pôde também interromper o fluxo temporal infinito em outro determinado momento, o momento da Criação. Assim, houve toda uma cadeia de eventos anteriores ao Paraíso, mas tais eventos não se realizaram. Dito de outra forma: podem existir esqueletos de gliptodontes, mas não houve jamais gliptodontes.
Borge, no mesmo texto, cita uma variante muito gira (como dizem os portugueses. Os cariocas usam 'muito manêra') inventada por Bertrand Russell: "No capítulo nono do livro The analysis of mind (Londres, 1921) supõe que o planeta foi criado há poucos minutos, provido de uma humanidade que 'recorda' um passado ilusório."
Já o gajo aqui bolou uma cosmogonia diferente. Vamos a ela:


Na Terra dos Deuses, em algum bairro perdido em certa metrópole, uma casa térrea, com grande quintal, abriga uma simpática família de divindades. Dois deusesinhos brincam animadamente nos fundos da residência. Um deles sugere.
- Vamos criar um mundo?
O outro logo concorda, mas acrescenta:
- Mas um mundo diferente, com uns seres estranhos. Vamos chamá-los de homens.
- Homens. Bom. Muito bom. Mas só homens não. Vamos criar dois tipos.
Homens e Mulheres, então. Certo?
- Certo!
E os dois começam a brincadeira. E vão desenvolvendo idéias e sofisticando a criação.
De repente, quando tudo já está bem adiantado, ouvem a mãe chamar para o almoço. Como a fome já chegou, largam tudo no quintal e correm para dentro de casa.
E lá ficamos nós, largados naquele quintal, à mercê dos ventos e da chuva.

sábado, 17 de julho de 2004

Jogo do Tempo


Volta e meia me divirto com esse jogo. Ele consiste em voltar mentalmente cinco anos para trás e analisar quais das minhas circunstâncias atuais eram previsíveis então.
O mais comum é perceber que não muito do que me cerca hoje e daquilo que constitui agora meu dia-a-dia era planejado - ou sequer cogitado - por mim há cinco anos.
E aí começa a segunda parte do jogo: em que circunstâncias estarei eu daqui a cinco anos?
É divertido levantar hipóteses. Já sei que é exercício inútil. Mas os jogos devem ser lúdicos, não úteis.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Monstros


"Da desgraça vindoura apenas recolhemos o medo. O monstro vem para avisar e encher os homens de angústia.
(...)
Os homens precisam de monstros para se tornarem humanos."
José Gil.

Os monstros mostram-se aqui.

quinta-feira, 15 de julho de 2004

A Montanha


Lá pelos meus doze anos, acompanhei meu pai, uma noite, em visita a um tipo notável. Era o pastor Tecê Bagby. Filho dos primeiros missionários americanos batistas no Brasil (Anne e William Bagby), nascera aqui e - apesar de ter sido educado nos Estados Unidos - fazia questão absoluta de ser considerado brasileiro. Só pra dar uma idéia, o nome da figura era Taylor Carey Bagby (sendo esse último pronunciado com "é" na sílaba tônica). Ele inventou o nome Tecê (iniciais dos seus prenomes) e exigia que o chamassem Tecê Bagbi (o "a" pronunciado como "a" e a tônica no "i").
Em seu apartamento em São Vicente (pra quem não sabe, cidade grudada em Santos), conversou com meu pai e me ignorou durante bom tempo. Eu o observava. Sua figura de patriarca era realçada pela poltrona um tanto solene em que se instalara. Lá pelas tantas, quando a prosa com meu pai esmoreceu, voltou-se para mim.
- Quantos anos tens?
Eu, já antevendo o papo de sempre: "e em que série da escola estás? puxa, como é adiantado, o menino! etc etc etc.", fiz a minha parte:
- Doze anos.
E ele sentenciou o que jamais esqueci:
- Filho, é nessa idade que se começa a escalar a montanha da estupidez. Lá pelos dezoito anos, chega-se ao topo. A maioria fica por lá. Faça um esforço para descer.
Desde então, tenho feito o diabo pra voltar à planície.
Mas. É tão bom o clima aqui no alto.

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Agora é jurisprudência:
"Cu de bêbado não tem dono"


Ou, para ouvidos mais pudicos:
"O orifício circular corrugado, localizado na parte ínfero lombar da região glútea de um indivíduo em alto grau etílico deixa de estar em consonância com os ditames referentes ao direito individual de propriedade".

Deu em O Globo de hoje:

BRASÍLIA. A sentença é insólita e inédita. O Tribunal de Justiça de Goiás decidiu que o homem que, por vontade própria, participar de uma sessão de sexo grupal e, em decorrência disso, for alvo de sexo passivo, não pode declarar-se vítima de crime de atentado violento ao pudor. O acórdão do TJ de Goiás, publicado no dia 6, é um puxão de orelhas no autor da ação que reclamava da conduta de um amigo.

Luziano Costa da Silva acusou o amigo José Roberto de Oliveira de ter praticado contra ele “ato libidinoso diverso da conjunção carnal”. Silva alegou que, como estava bêbado, não pôde se defender. Por meio do Ministério Público, recorreu à Justiça. Mas o tribunal concluiu que não há crime, já que a suposta vítima teria concordado em fazer sexo grupal.


Ótimas piadas infames a respeito estão aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2004

Esses contadores fantásticos
E seus programadores maravilhosos
(ou vice-versa)


Eu já havia instalado um contador de leitores neste blog. É aquele ali à direita, que informa: "n a ler este blog agora". Belo dia, descobri outro e resolvi instalar o dito cujo também. Assim, daria pra ver se os dois funcionavam direitinho. É o "( m online )" e eu o alojei logo abaixo do primeiro. Não dizem que na comunicação é sempre necessária alguma redundância? Pois é.
Vai daí que (eu já esperava por isso. Afinal, já fui programador, sei que herrar é umano) aconteceu o previsível. Volta e meia cada um marca uma coisa.
Nada do outro mundo, dirá você. E eu concordo. Só fico meio grilado quando o de baixo (isso só acontece com ele) indica "( 0 online )". Sei lá. Me dá uma sensação de vazio. Não é nem aquilo de me sentir um zero à esquerda. É só zero mesmo. Tout court, sacou. Nulidade. Nada.
Baixo astral, cara.


Atualização (14/05/2007): Por essas e por outras, retirei do blog esses dois contadores de acesso.

sábado, 10 de julho de 2004

Quousque tandem?


Quem sabe. Talvez falar em latim ajude.
Quousque tandem abutere, CNBB, patientia nostra?
Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet?

(Até quando enfim abusarás, CNBB, da nossa paciência?
Por quanto tempo ainda este teu rancor zombará de nós?)
Este discurso de Cícero contra a CNBB (ou melhor, contra Catilina. A adaptação é minha) vem a propósito de matéria na Folha de S.Paulo (FSP) de hoje (Caderno Cotidiano, C6), pela qual somos informados a respeito das idéias do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, sobre a interrupção da gravidez quando houver laudo médico atestando a anencefalia do feto. A autorização para essa interrupção foi concedida por liminar do ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Dom Odilo argumenta: "A mulher que gera um filho com anencefalia pode passar por um drama grave e por muitos sofrimentos, sabendo que o feto pode morrer ainda no seu seio ou então logo depois de nascer. Temos que ter muita compreensão com essa mãe e a sociedade dispõe de muitos meios para ajudá-la. Mesmo o risco para a saúde da mãe pode ser controlado pela medicina. Mas o sofrimento da mãe não é justificativa suficiente para tirar a vida do filho dela".
Das idéias à ação, a CNBB pediu anteontem ao presidente do STF, Nelson Jobim, a cassação da medida liminar.
A matéria da FSP esclarece: "Fetos com anencefalia têm defeito de fechamento na calota craniana e ausência de cérebro, o que impede a sobrevivência fora do útero. O problema pode ser detectado por meio de exames."
Não custa lembrar que uma liminar como essa não obriga nenhuma mãe a abortar, apenas permite que ela decida fazê-lo ou não. Mas a CNBB, talvez por ser a proprietária do direito de vida e morte, quer que seja proibido o aborto, mesmo em tais circunstâncias.
Ainda o inefável dom Odilo: "a vida humana não está apenas num órgão, como o cérebro, por mais importante que ele seja. A vida está no conjunto das funções do organismo."
Então tá. Afinal, tudo indica que alguém, mesmo sem cérebro, pode chegar a ser até secretário-geral de uma CNBB.

P.S.: sobre o assunto, leia também aqui.

Bocaccio e o Saca-Mulas


Há muitos cavalos de assaz mau trote na blogolândia.
Este aqui é de um cavalgar seguro.

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Elsa Joana de Morais Nunes Ribeiro Alves


Em fevereiro deste ano, escrevi aqui:
"Elsinha tem esse nome enorme mas é pequena ainda e tem só onze anos."
Pois é, hoje ela faz doze. Daqui de São Paulo mando um beijo enorme pra ela, que vive em Bragança, com os pais.
Ao invés de dar a ela um presente, ela é que nos vai presentear com um de seus textos. A escolha é minha, o prazer é de todos que lerem.

O Livro Que Não Tinha Letras.


Lá estava o livro numa velha biblioteca. A capa tinha pó e as folhas estavam amarelecidas pelo passar do tempo. Folheei algumas páginas e reparei que não tinha letras, nem sequer imagens. Este livro era diferente de todos os outros que eu conhecia. Este livro falava. Contava histórias de um palhaço sem sorriso, de um monstro bom e de uma bola que não rolava. Também falava de um mar sem água, de um céu sem lua, de um sol que não brilhava e de uma estrela que assustava.
Já cansada de ouvir tantas histórias, resolvi fechá-lo. Mas, quando tentava fazê-lo, estava na minha frente o palhaço sem sorriso que me pediu para não fechar o livro, porque assim ele voltaria a sorrir, o sol a brilhar, o mar a ter água, a bola a rolar …


Parabéns! Nos vemos em dezembro.

terça-feira, 6 de julho de 2004

Todo mundo é incompetente,
por que não o Caetano?


No início dos anos 70, o livro "Todo mundo é incompetente inclusive você: As leis da incompetência" (Laurence J. Peter e Raymond Hull. Trad. Heitor Ferreira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971) divulgou o Princípio de Peter: as pessoas vão sendo promovidas nas empresas por se mostrarem competentes naquilo que fazem. Quando começam a demonstrar alguma incompetência no nível a que chegaram, param de ser promovidas e se estabilizam nesse patamar. Donde se conclui que a tendência é todo mundo ser incompetente.
Me lembrei desse 'princípio' ao ouvir o cd 'a foreign sound', de Caetano Veloso. Sempre achei Caetano um excelente intérprete (das suas próprias músicas e das de outros compositores). Quando ouvi, por exemplo, Caetano interpretar 'Carolina', de Chico Buarque (também nos anos 70), tive uma longa discussão com Fernando Mesquita, um de meus companheiros de xadrez 12, pavilhão 2, Presídio Tiradentes (afinal, a gente não tinha mesmo muito o que fazer, dentro daquela cela): ele dizia que se tratava de gozação do Caetano com o Chico; eu duvidava, por achar magnífica a interpretação. Até hoje não sei se o Mesquita tinha razão, mas - eventuais sarcasmos caetanísticos à parte - acho a interpretação excelente. Ainda agora.
De repente, Caetano me sai com esse cd monocórdico, não sei se pretensioso ou preguiçoso. Me parece que ele acaba de atingir seu nível de incompetência. Canções deslumbrantes, marcadas, através dos tempos, por interpretações maravilhosas, são tratadas todas no mesmo diapasão. Tudo irritantemente igual. Lá na faixa 15 (Detached) ele tenta variar e se arrebenta. Volta ao marasmo já na faixa 16 e não sai mais dele. O que ele diz: 'Por todo o mundo há pessoas que gostariam de achar um meio de agradecer à música popular americana por ter enriquecido e embelezado suas vidas. Muitos tentam. É o que faço aqui [neste cd].'
De minha parte, não me senti enriquecido pelas interpretações de Caetano. Ao contrário, fiquei mais de quarenta reais mais pobre. É o preço do cd.

domingo, 4 de julho de 2004

0 x 1


Bem na hora
Em que o povo português
Mais se agregava.

Portugal x Grécia


Reitero meu lema:

Eu acho é pouco,
Eu quero é mais.


Só que hoje em grego (ou quase, sacumé, a cultura não é tanta quanto a da Arca):

Nada de sophrosyne,
Quero é hybris.
*

Perdemos o Rumo
(mas ganhamos Ná Ozzetti)


Estava a ler um post do Ene Coisas no qual Luis Ene fala que continua a ouvir Ná Ozzetti.
Voltei vinte e três aninhos atrás. Naquele distante ano de 1.981, Raimundo Pereira lutava para manter em pé o jornal Movimento, sucessor de Opinião. Ofereci ajuda. Fazia um pouco de tudo (muito pouco, diga-se) para que o jornal continuasse a sair.
Foi nesse contexto que fui ao Lira Paulistana (ficava na rua Teodoro Sampaio, perto da praça Benedito Calixto, São Paulo. Fechou as portas em 1.985) para assistir ao show de um grupo praticamente desconhecido: Rumo. O trabalho do grupo era, em grande parte, reflexo da genialidade de Luiz Tatit, mas a voz de Ná Ozzetti (então em início de carreira) já impressionava. Quando a apresentação terminou, comprei o disco Rumo (1.981) e fui para casa escrever um texto sobre o grupo.
Dia seguinte corri à sede do Movimento para entregar o artigo. Raimundo estava lá para informar que o jornal havia acabado.
Devo ter as folhas datilografadas guardadas em alguma pasta no meio desta bagunça que é meu escritório. Que importa? Já não servem para nada.
Serve - sim - o disco de vinil que ainda reproduz bastante bem os sons daquele tempo irreproduzível.

sábado, 3 de julho de 2004

Sophia de Mello Breyner Andresen, 1919-2004


Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem.



Hoje se foi Sophia, expoente da Literatura Portuguesa.
Hoje recebi a notícia de que meus filhos acabam de 'nascer' portugueses. Entre eles, Sofia.

quinta-feira, 1 de julho de 2004

Final da Euro2004:
Felipão x Parreira


Um olhar brasileiro sobre a Euro Copa. As seleções que se enfrentam no domingo próximo são caracterizadas pelo estilo desses dois técnicos: o atual e o anterior treinadores da seleção do Brasil. Scolari conseguiu imbuir a seleção portuguesa daquele espírito que levou os brasileiros à conquista do penta. Já o técnico alemão da seleção grega adota fundamentos coincidentes com os de Carlos Alberto Parreira, a saber: prioridade para a manutenção da posse de bola (o que se costuma chamar - no Brasil - de 'valorização da posse de bola'), prioridade para a defesa, para o 'não tomar gols'. Como já disse Parreira há muito tempo, para ele 'o gol [a favor, entenda-se] é um detalhe'. Basta verificar a média de gols feitos pela Grécia nos últimos trinta jogos: pouco superior a um gol por partida. Lema dessa seleção grega: tudo para não levar gol; se possível fazer um. Afinal, basta um gol para ganhar-se uma disputa, desde que não se sofra nenhum...
De minha parte, preferia os checos na final. Assistiria, assim, a uma verdadeira partida de futebol.
Domingo veremos a seleção portuguesa a jogar futebol, contra outra seleção que parece jogar xadrez.