quinta-feira, 31 de julho de 2014

O Reino do Imaginário


Um dos grandes causadores de guerras e morticínios, através da História, tem sido o conflito entre as diversas religiões.
Como todas elas reivindicam a posse da Verdade, fica mesmo difícil impedir que elas se esmurrem até jorrar sangue.
Mas tudo tem solução.
Inventei uma teoria que poderá acabar com todas essas disputas.

Vivemos em um mundo no qual impera a Realidade. Muitos pretendem ignorá-la, mas ela sempre acaba por impor-se.
É verdade que os seres humanos (não sei se também os animais e mesmo as plantas) têm momentos de fuga à Realidade, por meio da Imaginação. São breves momentos, sem maiores consequências, mas que proporcionam quase sempre um certo prazer.

Percebi, a partir disso, que depois da morte, o que nos espera é esse mundo já entrevisto no exercício fugaz da Imaginação.
Depois de mortos, abandonamos o mundo da Realidade e ingressamos no mundo da Imaginação.

É verdade que alguns grupos, particularmente alguns sul-americanos vinculados à Esquerda já conseguem vivenciar o mundo da Imaginação antes mesmo de morrer. Ou, quem sabe, já morreram e ninguém os alertou em relação a isso.

Quanto à maioria dos seres humanos, o reino do Imaginário só será acessível depois da morte.
Ou seja, o indivíduo morre e ingressa no terreno da Imaginação.

Que significa viver no mundo da Imaginação?
Significa que o indivíduo irá viver naquilo que ele imaginava, quando vivo, como sendo a vida após a morte.
Desde logo, adianto já, um ateu como eu deixará de existir. Era o que ele, em vida, imaginava como sendo seu estado após a morte.
Já um homem-bomba muçulmano, por exemplo, terá o desfrute de suas 21 virgens prometidas por Alá.
Um católico passará uma temporada no Purgatório e, caso a família que lhe restou no mundo da Realidade pague as devidas missas post mortem, ingressará depois no Paraíso.
Paraíso que, para evangélicos de todos os matizes será imediatamente franqueado. Sentar-se-ão junto aos anjos e entoarão hinos de louvor a Deus e a Jesus. Este estará sentado à direita do Eterno, caso o crente tenha sido, em vida, um neoliberal, ou à esquerda do Criador, caso se trate de algum adepto da Esquerda.
Quanto ao judeus, talvez tenham de curtir o Sheol por algum período.

O importante nisso tudo é que – de algum modo – todas as religiões se mostrarão verdadeiras. Tudo o que os fiéis de qualquer uma delas imaginar tornar-se-á efetivo na vida após a morte.


Só ainda não sei muito bem aonde irá parar o bispo Macedo.

domingo, 27 de julho de 2014

Elogio de Lula


Lula viveu uma infância difícil mas muito instrutiva.
Com os conhecimentos adquiridos na adversidade, logo percebeu que ser operário era muito ruim.
Enfronhou-se no sindicato.
Seu primeiro grande feito foi o de ter se tornado líder sem ser taxado de pelego. Isso deve ter exigido muita habilidade. Em um ambiente de total peleguismo, ele foi dos primeiros a afastar-se desse padrão. E talvez o único que, em seguida, não exagerou na dose e foi cair direto na clandestinidade. Ele soube dosar a coragem.
Além de ter demonstrado senso de oportunidade, contou com o momento histórico certo. Era a hora de alguém ocupar o lugar que ele ocupou.

Mais adiante, percebeu que a intelectualidade tupiniquim salivava por um operário que se dispusesse a travar uma luta contra a ditadura militar e – glória das glórias – talvez até batalhar pelo socialismo. E – desta vez com mais facilidade – venceu mais uma etapa em sua ascensão: enfiou grande parte da intelligentsia brasileira no bolso.

Com companheiros sindicais e com a maioria dos intelectuais, estava pronto o quadro para a criação de um partido político que lhe servisse de base para sua pretensão de mais altos voos.

Nessa fase, foram muitas as derrotas. Mas a cada uma delas ele aprendia mais lições.

Depois que, com a capacidade burocrática de José Dirceu, conseguiu adequar sua máquina partidária às necessidades eleitorais, chegou a seu primeiro grande objetivo: a Presidência da República.

Instalado no Palácio do Planalto, passou a enfrentar os desafios de governo. Pela primeira vez deixava de ser pedra e passava a ser vidraça.

Foi então que demonstrou invulgar capacidade de adaptação. Aquilo que chamamos de inteligência.

Dou um exemplo de algo que vivi de perto: em 2003 eu já trabalhava na Receita Federal havia dez anos. Presenciei colegas petistas a babar na ânsia de botar as mãos no butim.
Lula frustrou tais expectativas. No Ministério da Fazenda colocou Palocci e um receituário ortodoxo. Na Receita Federal só tirou o Secretário, Everardo Maciel, para disfarçar a continuidade. Manteve toda a equipe da administração da era Fernando Henrique.
Os camaradas ficaram a ver navios. Tudo continuou como estava. Afinal, é por meio da Receita que entram recursos no Tesouro. O restante é centro de custos.
E Lula sabia que líder sindical e intelectual são excelentes pra bater bumbo, mas muito ruins pra empurrar carro alegórico. Só muito lentamente o PT começou a desfrutar das delícias do Poder.

A partir daí, Lula passou a fazer qualquer coisa que lhe apeteça.
Elegeu a neófita Dilma para nada mais nada menos que Presidente da República.
Elegeu outro desconhecido para a Prefeitura de São Paulo.
Manda e desmanda no país.

Sei que é pouco cabível fazer comparações entre personagens pertencentes a momentos históricos diferentes. Mas não me impeço de afirmar que Lula já é – a essa altura – mais importante que Getúlio Vargas na História do Brasil.


O que – a meu ver – diz imenso a respeito do país em que nasci.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

CONVERSA DE BOTECO


Já agora, desculpem o desabafo.
É que acabo de ocupar algum tempo a ler “Os Fluidos”, quarenta páginas que compõem o capítulo 14 do livro “A Gênese – os milagres e as predições segundo o Espiritismo”.

Para Kardec, tudo é “fluido”. É fluido elétrico, fluido magnético, fluido sonoro, fluido cósmico, fluido espiritual etc etc.
Para a ciência, fluido é uma substância que, quando em repouso, não oferece resistência a uma força de cisalhamento.
Os tais “fluidos” do século 19 são os “campos” da ciência.
Algum apressadinho burgesso dirá: ora, é só uma nomenclatura diferente.
Não. Não é “só” isso.
A ciência não tem pretensões ontológicas. Em miúdos: a ciência não busca “o que é” isso ou aquilo. A ciência contenta-se com o “como é”, “como funciona”.
Quando se trata, por exemplo, de um campo magnético, fala-se de algo que se traduz por um certo número de equações matemáticas. Com elas, posso calcular os exatos valores do campo magnético em qualquer ponto.
Já o fluido espiritual ou o fluido cósmico são conversa de boteco depois da décima cerveja.
Ou, se preferem uma imagem mais culinária, são pastéis de vento.
Quanto a mim, já que é pra viver do passado, escolheria a expressão típica do romantismo do século XVIII: “um não sei que de...”.

Alguns definem uma pessoa desagradável pela característica de que, quando tem tosse, ao invés de ir ao médico vai ao teatro.

Se me permitem a ousadia de um conselho, se quiserem falar em ciência, ao invés de sessão espírita procurem um bom curso de Física, por exemplo.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

O governo brasileiro e seu amor às ditaduras

A Guiné Equatorial vai, enfim, ser aceita na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Portugal foi o único dos membros da CPLP que ofereceu alguma resistência a isso. Acabou por concordar para não isolar-se demasiado.

Deixo logo claro que não estou aqui a criticar a decisão do governo brasileiro - que me parece estúpida - de apoiar essa admissão, por ser o governo de predominância petista. Não estou a fazer campanha eleitoral. Nunca tive simpatia pelos tucanos e Eduardo Campos já deu mesmo mostras de ser um novo Collor.

Dito isso, acrescento que tenho consciência de que diplomacia se faz, no mais das vezes, guiada pela busca da satisfação dos interesses geopolíticos ou econômicos do país.

Mas, como jamais diria um matemático, tudo tem limite.

A Guiné Equatorial tem como língua efetiva o Espanhol. Sua segunda língua oficial, desconhecida da quase totalidade de sua população é o Francês. O Português passa a ser sua terceira língua, que jamais será falada por seus habitantes enquanto as coisas continuarem como são naquele país.

E como são as coisas na Guiné Equatorial?

O ditador Obiang impera há 35 anos. É um dos ditadores mais ricos do mundo. Canibalizou toda a oposição.
Seu filho, vice-presidente por decreto do pai, está acima das leis do país. Se ele vir uma mulher que considere bonita, manda buscá-la para usufruir dela.
É colecionador de preciosidades caríssimas e tem residências espalhadas pelo mundo, inclusivamente em São Paulo.
O país é o terceiro país da África subsaariana em produção de petróleo, atrás de Angola e Nigéria.
A renda per capita do pequeno país, graças a isso, é enorme. Mas beneficia apenas a família do ditador. O restante dos habitantes vive uma miséria escandalosa.
Obiang procura canais que lhe deem alguma respeitabilidade internacional e que lhe facilitem a lavagem de dinheiro.

Acaba de encontrar.

Sei que quase ninguém no Brasil vai dar importância a tudo isso. Afinal, uma das poucas coisas inteligentes que me lembro de ter ouvido da boca de FHC foi que o brasileiro costuma ser caipira. Ou seja, voltado para seu pequeno mundinho circundante.

Não importa. Deixo aqui meus parabéns aos governantes brasileiros. Tantos anos de luta por uma sociedade melhor nos levaram ao ponto de prestigiar um carniceiro hediondo apenas por algumas gotas de petróleo.

Bom proveito!

domingo, 20 de julho de 2014

Kardec e Galileu

O livro de Kardec, A Gênese, um dos cinco pilares do Espiritismo, deve ter sido pensado com o objetivo de esclarecer a maneira de o Espiritismo enxergar a origem das coisas. Do Universo, da humanidade etc.
Eu imaginava que seria recheado de ideias sussurradas a Kardec por espíritos evoluídos, que levantassem o véu de sobre nossas raízes.
Ledo engano. As primeiras 235 páginas (sic!) são uma dissertação a respeito daquilo que a ciência apurou até a redação do livro. E mal digerida. Alguém dirá: mas o que tens contra a ciência? E eu respondo: o facto de ser o estado-da-arte da ciência em meados do século 19. E transmitido por um leigo.
Ao invés de ler a respeito de camadas geológicas, por exemplo, explicadas pela ciência de meados do século 19, seria mais produtivo ler sobre isso um texto científico atual.
Mas há mais. Muito mais.
A certa altura, Kardec passa a transcrever um texto psicografado, cuja autoria é atribuída a ninguém menos que Galileu, aquele. Trata-se do capítulo VI: Uranografia Geral.

Aliás, sobre psicografia tenho muito a comentar. Mas fica pra outra oportunidade. Vamos adiante.

Kardec explica, várias vezes, que os espíritos são proibidos por Deus de nos revelar coisas que ainda desconhecemos para não nos furtar o trabalho de descobri-las por conta própria.
Muito bem.
No século 19 era corrente a teoria dos “fluidos”. Esses permeavam toda a matéria. E os havia de vários tipos: o fluido elétrico, o fluido magnético etc etc.
Kardec usa e abusa dessa teoria. É fluido pra cá, fluido pra lá.
As pestes que assolaram a Europa, por exemplo, como a peste bubônica, eram atribuídas a fluidos que contaminavam as pessoas.
Ora, Kardec escreveu A Gênese em 1868. Apenas 26 aninhos depois, em 1894, Alexandre Yersin isolou a bactéria que recebeu nome em sua homenagem: Yersinia Pestis. É a bactéria responsável pela peste bubônica. Lá se foi ralo abaixo a teoria dos fluidos. Com o desenvolvimento científico que se operou nessa mesma época, a eletricidade, o magnetismo etc deixaram de ser “fluidos”.
Pois bem. Galileu, que contribuiu com o livro de Kardec fornecendo-lhe umas quarenta páginas, não poderia – por determinação divina – ter-lhe antecipado todas essas descobertas da ciência. Mas poderia, ao menos, dizer-lhe:
  • Allan, meu filho, não fala essas coisas que logo logo elas vão pegar mal.
Não só ele não falou nada como até hoje os espiritistas se utilizam dessa terminologia dos fluidos. Sem qualquer pudor.
Mas tem mais. Galileu, que agora (em 1868) já era espírito, podia viajar por todo o cosmo. Mas não se dignou a dizer a Kardec para não falar que a Lua era habitada. Deixou que Kardec quebrasse a cara nesta nota de rodapé ao texto de Galileu, ao falar da Lua:
“O hemisfério inferior, o único que vemos, seria desprovido de tais fluidos e, por isso, impróprio à vida que, entretanto, reinaria no outro. Se, pois, o hemisfério superior é habitado, seus habitantes jamais viram a Terra, a menos que excursionem pelo outro, o que lhes seria impossível, desde que este carece das condições indispensáveis à vitalidade.” (capítulo VI, item 25, Nota, pág. 140)
É facto que Kardec afirma que tal “teoria” ainda não foi confirmada por nenhuma observação direta (nem poderia...). Mas acrescenta: “Não se pode, porém, deixar de convir em que é a única, até ao presente, que dá uma explicação satisfatória das particularidades que apresenta o globo lunar.” (pág. 140).

Afinal, se Galileu não podia nem dizer a Kardec que isso era uma imensa besteira, pra que serve o depoimento dele?

Mas há mais: se você vai ouvir o depoimento de um espírito evoluído como deveria ser o de Galileu, é razoável que você aguarde revelações no mínimo instigantes.
Mas o que se lê é uma imensa verborragia. Vou citar apenas dois trechos da fala de Galileu:
  1. “Que mortal poderia dizer das magnificências desconhecidas e soberbamente veladas sob a noite das idades que se desdobraram nesses tempos antigos, em que nenhuma das maravilhas do Universo atual existia; nessa época primitiva em que, tendo-se feito ouvir a voz do Senhor, os materiais que no futuro haviam de agregar-se por si mesmos e simetricamente, para formar o templo da Natureza, se encontraram de súbito no seio dos vácuos infinitos; quando aquela voz misteriosa, que toda criatura venera e estima como a de uma mãe, produziu notas harmoniosamente variadas, para irem vibrar juntas e modular o concerto dos céus imensos!” (item 14, pág. 133)
  2. “E, quando esses períodos da nossa imortalidade nos houverem passado sobre as cabeças, quando a história atual da Terra nos aparecer qual sombra vaporosa no fundo da nossa lembrança; quando, durante séculos incontáveis, houvermos habitado esses diversos degraus da nossa hierarquia cosmológica; quando os mais longínquos domínios das idades futuras tiverem sido por nós perlustrados em inúmeras peregrinações, teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade imóvel.” (item 52, pág. 155).

Não sei dizer se Paulo Coelho ou Lya Luft fariam melhor. Nunca li nenhum deles.
Mas me causa imensa tristeza perceber que tantas pessoas vêem nessas cataratas de termos imponentes e vazios uma revelação divina.

Valha-me deus!


sábado, 19 de julho de 2014

Ainda o racismo em Kardec

Dia desses escrevi que Kardec tinha concepções racistas. A tal ponto que a publicação de suas obras, no Brasil, foi condicionada pelo Ministério Público Federal à publicação, junto a cada obra dele, de Nota Explicativa que tenta dizer que não é o que é.
As citações que fiz, eu as tirei de um artigo na Revista Espírita Ano V - 1862, mês de Abril (Perfectibilidade da Raça Negra).
Meus amigos espiritistas acorreram a dizer que nessa revista saíam artigos que ainda não tinham sua validade confirmada etc e tal.
Isso não deixa de ser verdade. Mas, então, vamos às considerações racistas de Kardec tiradas de A Gênese, um dos livros basilares da doutrina espírita.
As páginas que menciono referem-se à 52ª edição brasileira da Federação Espírita Brasileira (FEB).

A questão das raças é abordada por Kardec no capítulo XI (Gênese Espiritual):
É assim que as raças adiantadas têm um organismo ou, se quiserem, um aparelhamento cerebral mais aperfeiçoado do que as raças primitivas. Desse modo igualmente se explica o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e às linhas do corpo.” (item 11, pág. 242).
Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral.” (item 30, pág. 252).
Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, […] Fora, com efeito, impossível atribuir-se a mesma ancianidade de criação aos selvagens, que mal se distinguem do macaco, e aos chineses, nem, ainda menos, aos europeus civilizados. […] os Espíritos dos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral.” (grifos no original) (item 32, pág. 253).
Do ponto de vista fisiológico, algumas raças apresentam característicos tipos particulares, que não permitem se lhes assinale uma origem comum. Há diferenças que evidentemente não são simples efeito do clima, pois que os brancos que se reproduzem nos países dos negros não se tornam negros e reciprocamente. […] Sabe-se hoje que a cor do negro provém de um tecido especial subcutâneo peculiar à espécie.” (item 39, pág. 259)
Adão e seus descendentes são apresentados na Gênese como homens sobremaneira inteligentes […] Não se conceberia, portanto, que esse tronco tenha tido, como ramos, numerosos povos tão atrasados, de inteligência tão rudimentar, que ainda em nossos dias rastejam a animalidade [...]” (item 40, pág. 260).


Tentar fugir das evidências de racismo acima explicitadas é enxugar gelo com toalha quente.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Bem e o Mal na Antroposofia


Tento fazer, aqui, um resumo de uma conferência proferida por Rudolf Steiner em 11 de Novembro de 1.904, em Berlim. Valho-me da tradução brasileira de Paula Bennink, publicada pela Editora Antroposófica em 2.012, sob o título “O Maniqueísmo – A genuína missão do Bem e do Mal no contexto evolutivo da humanidade”. Essa publicação traz, além do texto da conferência, uma excelente Introdução da dra. Sonia Setzer.

O maniqueísmo surge no século III, na Pérsia, fundado por Mani (216 – 276). Reunia elementos do zoroastrismo, do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do cristianismo. É, por isso, considerado um sincretismo religioso. Espalhou-se logo por boa parte do mundo conhecido.
No século IV foi considerado uma heresia por Santo Agostinho e pela Igreja Católica (ICAR).
Como em muitos outros casos, foi duramente perseguido pela ICAR e seus seguidores foram completamente eliminados no Ocidente no século VI. A ICAR tentou destruir os escritos maniqueus e no mundo ocidental apenas ficou uma concepção deturpada de seus conceitos.

Um parêntese: outro caso digno de nota em relação a esse tratamento dado pela ICAR a seus opositores é o de Celso. Esse filósofo pagão (século II) produziu uma crítica ao cristianismo sob o título de “O Discurso Verdadeiro”. A ICAR conseguiu sumir com todos os exemplares da obra de Celso. Contudo, Orígenes, em seu afã de defender o cristianismo, escreveu, já em meados do século III, a obra Contra Celso, que até hoje perdura e da qual há tradução em Português. Adotou ele o método de reproduzir quase que página por página a obra de Celso para melhor refutá-la. Com isso, temos hoje acesso a essa obra... Ironias. Fecha parêntese.

Durante o século XX foram encontrados diversos textos maniqueus. Aquando da conferência aqui tratada, Steiner talvez já tivesse conhecimento dos primeiros achados.

“Normalmente, o que se conhece da doutrina maniqueísta é que ela se diferencia do cristianismo ocidental por sua diferente concepção do Mal. […] o maniqueísmo ensina que o Mal é tão eterno quanto o Bem; que não há ressurreição do corpo, e que o Mal, como tal, não terá fim. Portanto, ele não tem começo, e sim a mesma origem do Bem, e nem tampouco terá fim” (pág. 22).

Isso parece a quem vem a conhecer o maniqueísmo dessa maneira algo radicalmente anticristão e totalmente incompreensível. Mas vamos examinar isso de acordo com as tradições que devem provir do próprio Mani e verificar do que se trata efetivamente.

Comecemos pela Lenda do Templo, uma grande lenda cósmica do maniqueísmo:
“Certa vez os espíritos das Trevas queriam atacar o Reino da Luz. Eles chegaram, de fato, até as fronteiras do Reino da Luz e quiseram conquistá-lo. Entretanto, nada conseguiram fazer contra o Reino da luz. Deveriam então – e aqui existe um traço especialmente marcante, para o qual peço sua atenção – ser castigados pelo Reino da Luz. Contudo, no Reino da Luz não havia nenhum Mal, só o Bem. Portanto, os demônios das Trevas só poderiam ser castigados com algo de bom. O que aconteceu então? Aconteceu o seguinte: os espíritos do Reino da Luz tomaram uma parte de seu próprio reino e o misturaram com o reino material das Trevas. Essa mistura de uma parte do Reino da Luz com o Reino das Trevas fez surgir um elemento fermentativo, que transformou o Reino das Trevas num rodopio caótico. Esse fato trouxe um novo elemento: a morte. Assim, esse reino vem-se autoconsumindo continuamente, trazendo em si o germe de sua própria destruição. Conta-se também que a espécie humana surgiu pelo fato de isso ter acontecido. O homem primordial seria justamente aquilo que havia sido enviado pelo Reino da Luz para misturar-se ao Reino das Trevas e superar, por meio da morte, o que não deveria existir no Reino das Trevas – ou seja, superá-lo em si mesmo.” (pág. 23).

“O profundo pensamento aí implícito é que o Reino das Trevas deve ser superado pelo Reino da Luz por meio da brandura, e não pelo castigo; não contrariando o Mal, mas misturando-se a ele, para redimir o Mal como tal.” (pág. 23).

Daí a concepção teosófica do Mal:
[nessa altura Steiner ainda não fundara a Sociedade Antroposófica e era secretário-geral da seção alemã da Sociedade Teosófica]
O Mal não é nada mais do que um Bem no momento errado.

Se as forças condutoras de uma determinada época se imiscuíssem por mais tempo na evolução, “naquele instante elas representariam o Mal no desenvolvimento terreno. Assim, o Mal não é outra coisa senão o Divino, pois em outros tempos a expressão da perfeição e do Divino era aquilo que agora, no presente, é o Mal.” (pág. 25).

É assim que se deve entender a ideia de Mal em Mani.

Também é preciso entender por que Mani se intitulava “filho da viúva”.
O que é que se passou no atual estágio evolutivo da humanidade?
Nos estágios anteriores a maneira como a humanidade adquiria conhecimentos era outra. No estágio atual (a quinta raça-raiz), a condução da alma, que era até então realizada do alto, “se retraiu pouco a pouco, deixando a humanidade seguir seu próprio caminho para tornar-se seu próprio guia.” (pág. 26).
A alma passou a ser chamada “mãe” em todas as linhas esotéricas. O orientador, o “pai”.
O orientador, Osíris, aquele que representa a parte imediatamente divina, é o Pai.
A alma, Ísis, que concebe e recebe o Divino-espiritual é a Mãe.
No atual estágio evolutivo o Pai passa a se retrair. “A alma se torna viúva – precisa tornar-se viúva. A humanidade é deixada por conta própria.” (pág. 26).
Essa alma é chamada de “viúva” por Mani. E ele se considera “filho da viúva”.
Daí as palavras de Mani: “Deveis desfazer-se de tudo o que vos é trazido pela autoridade externa; depois tereis de amadurecer a fim de olhar para a própria alma.” (pág. 27).

Agostinho não concorda com isso: “Eu não aceitaria os ensinamentos de Cristo caso estes não se baseassem na autoridade da Igreja”. (pág. 27)

Como se dá a atuação conjunta de Bem e Mal?
Explica-se pela sintonia entre vida e forma.
Como a vida chega à forma?
Por não se expressar de uma só vez, numa única figura.
“Observem como a vida numa planta – digamos, no lírio – passa de uma forma a outra. A vida do lírio construiu, aperfeiçoou uma forma de lírio.
Quando essa forma está aperfeiçoada, a vida a supera e passa ao germe, para mais tarde renascer em nova forma, como a mesma vida. E assim a vida caminha de forma em forma. A vida em si não possui forma alguma, e não poderia levar uma vida própria de maneira perceptível” (pág. 28).
“A vida, enquanto forma, é sempre revestida pela vida de uma época anterior. Vejamos, por exemplo, a Igreja Católica. A vida que se desenrolou na Igreja Católica desde Agostinho até o século XV era uma vida cristã. A vida, naquele contexto, é o cristianismo. […] A forma – de onde vem a forma? Ela não é outra coisa senão a vida do velho Império Romano. Aquilo que ainda era vida nesse antigo Império Romano petrificou-se em forma. O que antes era república, depois império – tudo o que ali viveu, em suas manifestações exteriores, como Estado Romano – legou sua vida, enrijecida em forma, ao cristianismo posterior até na capital, Roma, que era antigamente a capital do Império Romano Universal. Até os prefeitos romanos tiveram sua continuidade nos presbíteros e bispos. O que antigamente era vida tornou-se mais tarde forma, para um patamar superior da vida.” (pág. 29).

“A vida de uma época anterior sempre se torna a forma de uma época posterior. Na consonância entre vida e forma surgiu ao mesmo tempo o outro problema: o do Bem e do Mal – pelo fato de o Bem de uma época anterior ter-se associado ao Bem de uma nova época. Basicamente, isso nada mais é do que a consonância entre o progresso e sua própria inibição. É também a possibilidade da manifestação material, a possibilidade de vir à existência exterior. Esta é nossa presença humana no âmbito da Terra sólido-mineral: a vida interior e a vida retardatária de tempos passados petrificada numa forma inibitória. Esta é também a doutrina do maniqueísmo sobre o Mal.” (pág. 30).

No final da conferência, Steiner aborda a criação de uma forma para a vida do próximo estágio evolutivo da humanidade (a sexta raça-raiz), ainda valendo-se das ideias de Mani.

Mas como penso ter ficado clara a conceituação do Bem e do Mal no âmbito da Antroposofia, fiquemos por aqui, que este texto já está longo demais.

terça-feira, 15 de julho de 2014

O Bem e o Mal em Kardec

O Bem e o Mal são objeto do capítulo III da obra A Gênese, de Kardec. Utilizo a tradução, para o Português, de Guillon Ribeiro, editada pela Federação Espírita Brasileira (FEB). É uma tradução feita a partir da 5ª edição francesa e a paginação que menciono é a da 52ª edição da FEB. Por aí percebe-se que as traduções dos livros básicos do Espiritismo vendem-se, no Brasil, tanto quanto pão quente.
A Gênese é obra de 1868 e o capítulo III ocupa as páginas 83 a 99.

Se Deus é todo sabedoria, bondade e justiça, o mal não pode ter nele sua origem.
Se o mal fosse atribuição de algum ser especial, ou ele seria igual a Deus ou lhe seria inferior.
Se fosse igual, ambos estariam em incessante luta, hipótese que se deve descartar, haja vista a “unidade de vistas que se revela na estrutura do Universo.” (pág.83).
Se fosse inferior, seria a Deus subordinado, Teria sido por Ele criado. Por seu intermédio, Deus teria criado o mal.
Assim, continuamos com o problema: o mal existe. Deve, portanto, ter uma causa.

Kardec passa a investigar o mal para chegar a sua causa.
Há males de duas categorias: os que o homem pode evitar e os que lhe independem da vontade (aí incluídos os flagelos naturais).
Quanto aos flagelos naturais: o homem pode, com sua inteligência, atenuar-lhes os efeitos.
Os males que independem de sua vontade, portanto, são “um estimulante para o exercício da sua inteligência”. (pág. 85).
“A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso”. (pág. 85). (em itálico, no original).
Essa é a segunda categoria dos males. A menos numerosa.
A principal é a dos males que “o homem cria pelos seus vícios”. (pág. 85).
Aqui Kardec introduz a contraposição entre instinto de conservação e senso moral.
O Espírito, em suas primeiras fases de existência corpórea, privilegia o primeiro.
Com a evolução o Espírito acentua o valor do senso moral e reduz a importância do instinto de conservação.
“O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento” (pág. 88).

Neste ponto é que, julgo eu, o Espiritismo chega a quase tangenciar a visão da Antroposofia, neste tema. Voltaremos a isso quando resumirmos a visão antroposófica da questão do Bem e do Mal.

Kardec conclui essa análise: “No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio”.

A partir daí, Kardec trata de dois temas. O instinto e a inteligência e, por fim, Destruição dos seres vivos uns pelos outros.
“O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles” (pág. 89) (em itálico no original).
“A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. É incontestavelmente um atributo exclusivo da alma”. (pág. 89 e 90) (em itálico no original, a menos da última frase).
Como o próprio Kardec adverte adiante: “Todas essas maneiras de considerar o instinto são forçosamente hipotéticas e nenhuma apresenta caráter seguro de autenticidade, para ser tida como solução definitiva” (pág. 94). Por isso, não vejo motivo para resumir as ideias a respeito do instinto.
Kardec menciona também as paixões, comparando-as – mas também as distinguindo – do instinto.
E conclui: “O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se.” (pág. 95).
Quanto à destruição dos seres vivos uns pelos outros, “é, dentre as leis da Natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com a bondade de Deus.” (pág. 95).
Isso porque os homens “não compreendem que um bem real possa decorrer de um mal aparente” (pág. 96).
Para justificar que uns animais comam outros (incluindo o homem), diz Kardec:
“A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal, do mesmo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo.” (pág. 96) (em itálico no original).

Vem certamente daí – dessa concepção dos animais como seres dotados de Espírito – a atual moda de um cuidado às vezes excessivo com cães, gatos etc.

Por isso, “ensina Deus aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita a ideia da vida espiritual” (pág. 96).

Finalmente, caso as explicações dadas não bastem:
“Deus há de ser infinitamente justo e sábio. Procuremos, portanto, em tudo, a sua justiça e a sua sabedoria e curvemo-nos diante do que ultrapasse o nosso entendimento.” (pág. 97).

No próximo texto, tentarei resumir as ideias expostas por Rudolf Steiner em uma conferência sobre o Bem e o Mal.

A comparação fica a cargo do leitor.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Por que eu queria a Holanda campeã


É simples. A razão é estética.
Explico.
Poucas coisas me causaram tanta emoção intelectual quanto o ter tomado conhecimento, lá no distante ano de 1.965, das quatro equações de Maxwell, fundamento do Eletromagnetismo.
São quatro equações de simetria perfeita e das quais podem ser deduzidos todos os fenômenos desse ramo da Física.

Pois bem. Permitam-me a heresia de comparar tal quadro com um outro que me aparecia nesta Copa.
A Holanda disputou três finais de Copa:
1974 – com a Alemanha
1978 – com a Argentina
2010 – com a Espanha

Perdeu todas.

Nesta Copa de 2014 tinha ela a oportunidade de redimir-se das três derrotas, ao enfrentar seus algozes do passado em ordem anticronológica.

E começou o trabalho ao derrotar a Espanha, na fase de grupos, por incríveis 5 a 1.
Poderia hoje derrotar a Argentina e capacitar-se, assim, para derrotar a Alemanha no domingo próximo.
Tornar-se-ia campeã mundial e teria devolvido os resultados adversos na ordem inversa em que eles ocorreram no passado.

A Argentina encarregou-se de destruir essa construção de beleza evidente.


Ainda bem que as equações de Maxwell continuam a nos encantar.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil 1 x 7 Alemanha

Quando eu era criança, o futebol de rua ou de praia, em Santos, era assim: três vira, seis acaba. Ou: seis vira, doze acaba. Dependia do tempo disponível para a brincadeira.
Hoje pensei que era um cinco vira, dez acaba.
Pra mim, esse jogo ainda não acabou.

sábado, 5 de julho de 2014

COPA - Quartos de final e meias-finais

Ainda é possível uma final sul-americana.
Mas me parece mais provável uma final europeia.
Se a Holanda passar por Costa Rica, pode acontecer.
Isso contraria a tradição: nunca houve uma final puramente europeia em Copas realizadas nas Américas. Mas corresponde, em minha opinião, à qualidade atual das seleções desse Mundial.
O facto de a seleção brasileira ter perdido Neymar pode até ser benéfico para ela. Até então a "estratégia" da equipa brasileira era "joga a bola pro moleque". E é difícil uma seleção ser campeã apoiada apenas em um jogador, ainda mais ainda bastante imaturo. Sem Neymar, a seleção brasileira pode crescer em termos de conjunto.
Já a seleção argentina, caso não possa mais contar com Di Maria, me parece que sai a perder. Considero que - nessa seleção - Di Maria é mais importante que Messi. Mas não é o único. Não se espera dele que seja o salvador da pátria. Por paradoxal que seja, por isso mesmo pode ser uma perda muito significativa.
A Alemanha levou para esta Copa uma máquina quase impecável de jogar futebol. A Holanda não é tão perfeita mas pode ser mais brilhante.
Surpresa - mesmo - seria ver Costa Rica na final. Quanto às demais seleções ainda na disputa, tudo é perfeitamente plausível.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

ESPIRITISMO - 02

Enquanto a Copa não termina, fiquemos em prolegômenos.
Discutir o Espiritismo, o Cristianismo e outros que tais – no meu caso, por ser ateu, materialista – é difícil. Existe, por parte da maioria das pessoas, um rancor em relação à descrença.
Vejam, por exemplo, o que diz Kardec sobre o materialismo:
“Ao combater o materialismo atacamos, não os indivíduos, mas a doutrina que, se é inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, passa a ser uma praga social quando se generaliza.”
Ou seja, desde que eu, sendo ateu e materialista, fique quietinho em meu canto, tudo bem. Mas se abro a boca para emitir minhas opiniões, passo a agente de uma “praga social”.
Menos mal. Se os espiritistas não atacam os indivíduos, há várias religiões que o fazem ou fizeram sempre que têm ou tiveram poder para tanto.
“A convicção de que tudo está acabado para o homem depois da morte […] leva-o […] à máxima: cada qual por si durante a vida, dado que nada existe para além dela.”
Kardec devia mesmo sentir uma quase irresistível propensão ao que ele chama de vício:
“É preciso mesmo uma grande virtude para se ser travado no declive do vício e do crime não tendo como travão mais que a força de vontade.”
Eu devo mesmo ser um retardado: aos quase 70 anos ainda não matei ninguém.
De facto, para Kardec o ateísmo e o vício são praticamente a mesma coisa:
“Os que não acreditam em Deus nem na própria alma, que desprezam a oração e estão mergulhados no vício […; quanto a eles] não há mais nada a fazer para os tirarmos do atoleiro.”
Aliás, parece que nem é preciso ser ateu. Basta ter alguma dúvida sobre a tal vida futura:
“A dúvida, no que toca a vida futura, conduz naturalmente ao sacrifício de tudo pelo bem-estar presente, daí a importância excessiva dada aos bens materiais.
A importância dada aos bens materiais excita a cupidez, a inveja, o ciúme do que tem pouco do que tem muito. […]; daí os ódios, as querelas, os processos, as guerras e todos os males provocados pelo egoísmo.”
Pra resumir: aquele que duvida da vida futura vai desembocar no suicídio ou na loucura.
Só mais uma pérola:
“O materialista, que faz depender todas as faculdades morais e intelectuais do organismo, reduz o homem ao estado de máquina, sem livre arbítrio, por consequência sem responsabilidade pelo mal e sem mérito pelo bem que faz”.

Não à toa, desde que comecei a escrever sobre assuntos religiosos aqui, tenho recebido muitos comentários agressivos e grosseiros. Mas já sou calejado e não me surpreendo com isso nem me assusto.
Apenas lastimo.

Mas ocorreu-me fazer uma outra abordagem ao tema Espiritismo.
Ao invés de discuti-lo de um ponto de vista materialista, coisa que farei depois, vou começar por compará-lo a outra concepção que também reconhece a existência do mundo espiritual.
Trata-se da Antroposofia, de Rudolf Steiner.
Quando tomei conhecimento dela e li os primeiros livros de Steiner, já lá se vão quase quarenta anos, fiquei bastante impressionado. Lembro-me de ter comentado com o prof. Valdemar Setzer, ao devolver um livro de Steiner que ele me emprestara:
- Quando eu decidir ser místico, a mística que vou escolher será essa.

De facto, não sou de esconder minhas escolhas e preferências. Considero a Antroposofia muito mais complexa que o Kardecismo. Mas vou, aqui, comparar posições de uma e do outro e que os leitores tirem suas conclusões.
Para mim – e vou utilizar uma imagem comparativa tirada da literatura brasileira – o Espiritismo está para a Antroposofia como Paulo Coelho está para Guimarães Rosa.
Essa comparação pode ser vista do ângulo da qualidade mas também da quantidade: não conheço os números, mas certamente Coelho vende muito mais que Rosa.


terça-feira, 1 de julho de 2014

COPA – Alemanha x Argélia


O melhor jogo da Copa

Esse estilo de torneio cria situações assim. A Argélia, com o futebol que apresentou até agora e principalmente hoje, não deveria ser eliminada. Mas a regra é essa.

A Alemanha é – de longe – a melhor seleção dessa Copa. Isso não quer dizer que vá ser a campeã. Mas deveria. É uma máquina de jogar futebol. Um programa de computador bem “debugado”, quase sem erros.

A Argélia, ao invés de fechar-se atrás para tentar levar a decisão para os penáltis, preferiu adotar uma estratégia de enfrentamento e ajudou a produzir um dos melhores primeiros tempos a que já assisti.

Jogo de excelência.

Uma final Alemanha versus Holanda seria justa.
Mas em Copas a Justiça não costuma prevalecer.
Uma final assim penso que deveria ser ganha pela Holanda.
A Alemanha é melhor? É.
Mas em 1978 a Holanda era muito superior e perdeu a final para a Alemanha.
Teria chegado a hora da compensação.

Além disso, a Alemanha tem uma equipa quase perfeita. A Holanda não é tão impecável mas tem um ou outro jogador que pode desequilibrar.

Tudo isso é muito interessante, mas uma final europeia, em plena América do Sul, parece impossível.


Veremos.