quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Celyna de Souza Franco


Ela completaria 95 anos amanhã. E seu nome de solteira era esse.
A mais velha de quatro irmãos, viu a mãe morrer quando ainda tinha 6 anos. Um dos irmãos também se foi ainda criança.
Os três órfãos tiveram a alegria de ver o pai casar-se com a tia.
Daí vieram mais dois irmãos.
Mas Celyna foi mais mãe do que irmã, para os dois.
Falecida a tia, vieram mais dois irmãos do terceiro casamento do pai.
Os quatro últimos continuam firmes.
Os primeiros vivem na memória dos descendentes.
Celyna.
Essa é imortal.

a data da morte está errada, na certidão. O certo é 13/12/1.992

domingo, 27 de janeiro de 2008

O buraco é mais embaixo


Meu amigo Asulado me provoca, aqui, em relação à minha vontade de ir morar em Portugal.
O Asulado é um tremendo gozador mas vou responder seriamente a ele.

Em primeiríssimo lugar, quero ir viver em Portugal porque me sinto pertencente ao País. Sinto-me mais português que brasileiro. Adoro Trás-os-Montes, Bragança, Vinhais, Passos de Lomba. E o restante daquele retângulo encantador, cujo único defeito grave é o de ser cercado de espanhóis por quase toda parte (hehehe).
Fosse tudo uma questão de qualidade de vida, iria viver na Austrália. Lá vão viver dois de nossos filhos (“nossos” aí, significa da Baixinha e meus, o Asulado nada tem a ver com isso, hehehe), lá já temos um neto e – a confiar nas promessas de meu filho – teremos quatro, daqui a pouco tempo. Lá tem-se o terceiro índice de qualidade de vida do mundo.

A questão é: uma coisa é meu desejo de viver em Portugal. Outra, diferente, é meu desejo de sair do Brasil, aglomerado humano que já perdeu as características mínimas necessárias para ser considerado parte da civilização.
A provocação do Asulado originou-se em um episódio apresentado pela SIC TV a respeito do serviço de emergência de saúde e de sua interação com os bombeiros visando ao atendimento de um acidente em Alijó. O vídeo que o Asulado mostra em seu blog está causando enormes polêmicas em Portugal.
No Brasil, o evento nem seria notícia. Para os padrões brasileiros, simplesmente não aconteceu nada. Aqui, Asulado, morre-se como moscas nos corredores dos hospitais.
A propósito, o poeta Ferreira Gullar, na Folha de hoje (aqui, só para assinantes Folha ou UOL),faz várias “Perguntas que não querem calar”. Todas referentes ao Brasil de hoje. Aí vão algumas delas, pro Asulado (e demais portugueses) perceberem o grau de deterioração desta sua ex-colônia:


Sabia que já há condomínios, em bairro da zona sul do Rio, dominados pelo Comando Vermelho? Num desses condomínios, um morador, cuja filha fora cooptada pela gangue de drogados, ameaçou denunciar o que estava ocorrendo, mas desistiu. Sabe por que desistiu? O síndico o aconselhou a não fazê-lo, se quisesse continuar vivo. Na semana seguinte, ele pôs o apartamento à venda e se mandou de lá. O que faria você?

Você soube que, durante as operações policiais na favela do Alemão, um dos chefes do tráfico ordenava a seus comparsas que atirassem nos moradores? E que há moradoras idosas pagas por eles para declarar que quem atirou foi a polícia?

Processos indenizatórios contra o governo demoram de dez a 20 anos para serem julgados. E quando o cara ganha e é autorizado o pagamento, o governo simplesmente não paga, ignora a ordem judicial e a Justiça finge que não vê. Por quê?

Quando há operações policiais nas favelas, os moradores são obrigados a deixar a porta da casa aberta, para que os traficantes possam se esconder. Quem não obedece morre. Já imaginou isso em seu bairro?



E por aí vai. Comigo mesmo, aconteceu o seguinte:
Tínhamos de ir ao Rio de Janeiro visitar parentes. Lá moram minha irmã com meu cunhado, o filho mais velho e o neto mais velho, além de tios, tias, primos e primas etc etc.
Como, na época (ano passado), o caos aéreo estava a pleno vapor, fomos de carro. Quando estávamos perto do Rio, recebo telefonema de minha irmã.
- Olha, venham pela linha amarela. Mas, antes, liguem o rádio na CBN pra saber se está havendo tiroteio.
Isso ela disse com a maior candura. Naturalidade total.
Os cariocas ficam atentos ao rádio pra saber se podem ou não passar em determinadas vias públicas. Vira e mexe, morrem alguns em tiroteios. Coisa mais comum.
E vocês, em Portugal, atiçados pela conversa telefônica de uma atendente do INEM com alguns sonolentos bombeiros.
Ora, ora.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Próxima escala: New York


Afinal, visitado o neto aussie, há que se visitar a neta brasilana (brasileira/americana).
O neto carioca ficou conosco nos primeiros vinte dias de janeiro. Quanto aos outros, se a montanha não vem a Maomé...
Resultado: em março, mais precisamente no dia 8, lá vamos nós. Voltamos no dia 22.
Sei que todo mundo já conhece Nova York. Eu não. Por isso, vou mostrá-la aqui, pela visão de um neófito.
Enquanto isso, a gente fala das coisas da nossa república bananeira.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Notícia podre


Comentei aqui, no domingo, 20, a nota publicada no sábado, 19, na coluna do Cláudio Humberto, sobre a “prisão” do cardeal de Lisboa pelos agentes da ASAE (Autoridade para a Segurança Alimentar e Econômica). Mandei e-mail para a coluna. Eles não deram a menor bola e a notícia continua lá, na coluna do dia 19.
Jornalismo, no Brasil, faz-se assim.
Aliás, não só jornalismo.
Ontem, 22, o Inspector-geral da ASAE, António Nunes, foi ouvido pela comissão de Assuntos Econômicos do Parlamento.
Se você estiver interessado, leia as notas que saíram hoje, na SIC Notícias, no Diário de Notícias, no Público e no Correio da Manhã, por exemplo. Fica clara a razão de ter sido inventada aquela história da prisão do cardeal: os agentes da ASAE andaram exagerando e houve uma revolta contra a atuação “over” da rapaziada.
Na coluna do CH, penso que o cardeal continua em cana.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

domingo, 20 de janeiro de 2008

Coluna do Castello
Castelos de colunas


O jornalista Elio Gaspari, em sua coluna dominical publicada pela Folha de S.Paulo (aqui, para assinantes Folha ou UOL), chama a atenção do leitor para a possibilidade de se ler, na Internet, os textos do jornalista Carlos Castello Branco, em particular suas colunas publicadas no Jornal do Brasil entre 1.963 e 1.993, ano de sua morte.

Gaspari lastima que não constem, no site, as colunas dos anos de 1.975 a 1.978. Lastima particularmente por ser desse período a coluna intitulada O Partido dos Trabalhadores, na qual – sempre segundo Gaspari – Castello mostrava que Lula pretendia quebrar a manipulação dos sindicatos pelos partidos da ocasião e que faria isso (e aí ele coloca entre aspas) “com a compreensão e colaboração do governo, ou sem ela”.

Acontece que as colunas estão lá. O leitor acessa as colunas escolhendo, primeiro, o ano. Ao fazer isso, aparece a lista das colunas de janeiro do ano selecionado. O leitor pode, então, escolher o mês.

O descuidado Gaspari, ao passear pelas colunas dos trinta anos durante os quais elas foram publicadas, esbarrou em alguns anos em que não há colunas no mês de janeiro (ou há apenas uma). É o que ocorre no intervalo 1.975 – 1.978. Concluiu que, para esses anos, não foram reproduzidas, no site, as colunas publicadas no período.
Gastasse um pouquinho mais de tempo, tomasse um pouquinho mais de cuidado, encontraria a coluna O Partido dos Trabalhadores, publicada em 03/09/1978.

Gaspari acerta quanto ao teor do texto, no que se refere a Lula. Mas empolga-se com sua memória e resolve colocar entre aspas algo que não consta da matéria.

Digo tudo isso porque me impressiona a leviandade com que se faz jornalismo no Brasil (em outros países também, mas essa é outra história). Ninguém apura nada, os jornalistas, quase sempre (vá lá o quase), não entendem nada dos assuntos sobre os quais escrevem etc etc.
Em geral, a desculpa é aquela: escassez de tempo para pesquisar melhor, apurar melhor etc etc.
Essa explicação, me parece, não socorre os colunistas semanais, como Gaspari.
Mas quem se importa?

Se o leitor já leu Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti, sabe que Gaspari inventava entrevistas com personalidades, ia até elas, lia o que inventara e obtinha o aval para publicação. Mais: inventava frases espetaculosas para colocar na boca de seus “entrevistados”. Por exemplo, a famosa “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” não é de Joãozinho Trinta. É Gaspari puro. (páginas 100/101)
Mais: quando trabalhava na Veja, costumava encerrar discussões com subordinados com frases do tipo “A matéria vai sair assim porque eu sou inteligente e você não” (pág. 105).

Tudo leva a crer que, hoje, jornalista pra lá de consagrado, monta sua coluna semanal sob o pensamento:
A coluna vai sair assim porque eu sou esperto e o leitor não. Ele que se dane.

E não é só o Gaspari que se acomodou na confortável poltrona da glória.
Vários colunistas parecem habitar castelos do interior dos quais enviam suas considerações apressadas para os jornais que lhes sustentam o ócio. Ou as publicam na Internet.
Ontem, por exemplo, o colunista Cláudio Humberto, que já caíra, tempos atrás, no conto da carochinha da ONG dos amigos de Plutão, publicou o conteúdo de um e-mail que circula pela Internet sobre uma fictícia prisão do cardeal de Lisboa, em função de eventos obviamente inventados.



E por aí vai. Poderia citar outros exemplos. Como não sou jornalista, preciso trabalhar para sobreviver. Paro por aqui.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Da série O Brasil acabou - IX


O caderno Cotidiano2, da Folha de S.Paulo de hoje (os jornais ainda chegarão a transformar cada página em caderno) traz matéria assinada por Carlos Iavelberg, de Madrid (aqui, para assinantes Folha ou UOL) sobre o assassinato de uma jovem brasileira em Pamplona, norte da Espanha.
No final da matéria, ele fala da preocupação dos espanhóis com o grande número de assassinatos de mulheres por seus companheiros. E fornece alguns números referentes a 2.007:

Mulheres mortas por seus parceiros - 74

42% (31 casos) desses assassinatos tiveram como vítimas mulheres imigrantes.
Apenas 10% da população espanhola são estrangeiros.

5,4% (4 casos) dos crimes tiveram como vítimas mulheres brasileiras.
Apenas 2% dos imigrantes são brasileiros.

Precisa dizer alguma coisa?

Viagem à Austrália
15 - Watsons Bay

Clique para ampliar
Nossa filha, quando morava em Sydney, morava em Bondi. Pra se ir até lá, o melhor é pegar uma barca no Circular Quay até Watsons Bay. De lá, toma-se ônibus até Bondi. O trajeto de barca demora quase 15 minutos. Não fomos até Bondi. Tiramos umas fotos em Watsons Bay e retornamos de barca, uns quarenta minutos depois.
Segundo nossa filha, o pessoal de São Paulo e Rio prefere morar para os lados de Watsons Bay. Já os gaúchos vão quase sempre pros lados de Manly. Penso que deve ser o boca-a-boca.
Vejam alguma coisa da bela Watsons Bay:



Nesta foto, a Baixinha e eu estávamos bem no centro. Claro, alguma alma caridosa ofereceu-se pra fotografar o casal. Bem no estilo stalinista, eliminei o casal da foto. Hehehe

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Blogs de humor


Todo dia dou uma passadinha no blog do Tutty Vasques, pseudônimo do jornalista/humorista Alfredo Ribeiro de Barros. Ele esculhamba o noticiário de um jeito bem engraçado.

Depois, outras duas visitas inevitáveis:

O blog do Reinaldo Pitbull Aze(ve)do e o blog do Paulo É Rico Amorim, aquele que não tem um apartamento em New York, tem dois.

São blogs pra rir ou pra chorar, depende de seu estado de espírito. Pro primeiro, tudo - absolutamente tudo - que é feito pelo governo Lulla é horrível. Pro segundo, tudo - absolutamente tudo - que é feito pelo governo Lulla é maravilhoso.

A leitura desses dois últimos blogs, assim um imediatamente após o outro, parece que ajuda a evitar o mal de Alzheimer.

Experimenta só.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Viagem à Austrália
14 - Passeando pelo centro de Sydney


Um museu militar:


Uma biblioteca:


Um conservatório musical:

Veja só, mana. O pessoal gosta de música!

Casa do Governo (entrada):


Muita beleza e paz:


Viagem à Austrália
13 - Passeando pelo centro de Sydney


No centro de Sydney convivem edifícios gigantescos e muito verde:



Antes de mais nada, eu queria ver o prédio onde fica o escritório da empresa em que meu filho trabalha. Afinal, ele pretende ir viver em Sydney daqui a um tempinho.
O edifício fica na King Street, primeira paralela à rua do nosso hotel, a Market Street:


Dele sai uma ligação ao prédio fronteiriço:


Prédio, aliás, enorme:


Na Martin Place, há lojas de grife:


Construções estranhas:


E – sim - a inevitável foto diante dessa fonte:

o cidadão que invade o primeiro plano é um legítimo aussie
Diante do Hospital de Sydney há esse cavalo (?), do qual, diz a lenda, deve-se esfregar o focinho para ter sorte. Não sem antes depositar alguma moeda no cofrinho do Hospital, claro, claro:

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

De qual Isabel gostas mais?


Sílvio Caldas e José Judice compuseram uma deliciosa música - Nos braços de Isabel – que harmoniza dois aspectos quase antagônicos da vida:

Ontem Isabel me libertou
Da escravidão e da dor
Hoje Isabel é a minha
Libertação no amor

Salve a princesa Isabel
Que quebrou minhas algemas
Salve a Isabel
Que resolve os meus problemas.


(interpretação de Paulinho Moska)



O social/político e o individual/hedonista.

Uma Isabel liberta da opressão.
A outra Isabel sacia o desejo.

Uma elimina a dor.
A outra acrescenta prazer.

A primeira resgata.
A segunda enaltece.

Quanto a mim, perdoem-me os monogâmicos, fico com as duas.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Viagem à Austrália
12- Darling Harbour, Sydney


Como dá pra ver no mapa abaixo, Darling Harbour tem um formato de ferradura ou de letra U, como queira, cujas pontas são ligadas pela Pyrmont Bridge.
Foi o primeiro lugar de Sydney em que passeamos. Estávamos hospedados na Market Street, que emenda na Pyrmont Bridge. Foi só caminhar um pouquinho.


A ponte tem uma parte central giratória, orgulho da engenharia australiana, como se pode constatar pela placa em homenagem à Engenharia Nacional.



A visão de Sydney que se tem a partir da Pyrmont Bridge é digna de registro:


Caminhando-se por Darling Harbour vêem-se outros ângulos de Sydney:


Por toda a volta da ferradura há restaurantes e bares. Mas há, também, diversão para as crianças, como esta escada d'água:

sábado, 12 de janeiro de 2008

Viagem à Austrália
11- Sydney, cidade esfuziante


Nossa filha mora em Gold Coast porque apaixonou-se por um aussie de lá. Mas prefere Sydney. E é fácil perceber porque ela tem tal predileção.
Gold Coast é cidade preferencialmente pra velhos, como eu. Pequena, pacata, linda.
Sydney é grande, agitada, dinâmica. Coisa pra jovens.
Deslumbrante.
Comecemos por seus símbolos mais conhecidos.
A Opera House:



A Sydney Tower:



Harbour Bridge, na qual é comemorada a entrada de ano, com show de fogos.


O restante, nos próximos posts.

Viagem à Austrália
10- Nosso pic-nic


Nas vésperas de voar para Sydney, resolvemos fazer também nosso pic-nic. Ou seja, entrar no clima de Gold Coast.Colocamos nossos tira-gostos em uma sacola, meu whisky e o cognac da Baixinha e lá fomos nós. Em Burleigh Heads, perto do Resort Aussie, onde estávamos hospedados.

a Baixinha está feliz porque o cognac é XO
Com direito a vira-lata (dei a ele um camarão. Vejam que na primeira foto o camarão está no começo do bico. Na segunda, já está quase dentro da boca, se é que se pode dizer assim):

pegou o camarão
o camarão caminha para seu inexorável destino
Por supuesto, logo aparece alma caridosa pra tirar foto do casal:


Finalmente, um brinde a Gold Coast. Um brinde ao Ano Novo que estava pra chegar. Um brinde aos aussies, que sabem viver a vida.
Daqui em diante, Sydney!

Viva!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Era uma vez XXXV -
Comentários sobre o Primeiro Relato do Prata


O Prata, pelo menos neste primeiro texto, escreve para iniciados. Como este blog é lido por gente de todo tipo, inclusive fora do Brasil, é preciso contextualizar uma porção de coisas que ele relata.

Por exemplo, o Nilmario Miranda com que ele conversou para entrar no POC e com quem ficou preso é membro, hoje, do governo Lula.

Éder Sader foi um líder da assim chamada “esquerda revolucionária” brasileira, falecido já há uns 20 anos.

O Nicolau, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, e a Taís, Ângela Maria Mendes de Almeida, foram os líderes do POC depois do rompimento com a Polop. A coisa é meio complicada mas, em resumo, é o seguinte: existia a Polop até 1.969. Aí a Polop resolveu se chamar POC, quando juntou-se à dissidência gaúcha do Partidão (Partido Comunista Brasileiro). Já em finais de 1.970, o POC rachou. Uma parte, liderada por Taís e Nicolau, ficou POC, mantendo a turma gaúcha do seu lado. O restante voltou a denominar-se Polop. Segundo relata o Prata, o Eder e o Nilmario teriam ficado na Polop (que, na verdade, era ORM, Organização Revolucionária Marxista. Polop era a sigla do jornal, Política Operária. Mas não vamos complicar mais do que já está, certo?)

É incrível, mas eu não me lembrava da saída (muito menos da tal “expulsão”) do Prata do POC. Agora, com o relato dele, lembro-me vagamente disso. De fato, ele já tinha saído quando fomos todos presos. O que mostra como é seletiva a memória.

O “caso Regis”: havia no POC um militante Regis, que não conheci. Mas parece que era conhecido de um montão de pessoas. Era importante na organização. Foi preso e deu com a língua nos dentes. Falou o nome de todo mundo etc e tal. Até hoje não sei quem era o tal Regis. Provavelmente o Prata saiba. Foi graças às inconfidências do tal Regis que Taís e Nicolau (Ângela e Merlino) resolveram sair do país. Regis foi defendido na Auditoria Militar pelo mesmo advogado que depois me defendeu, José Carlos Dias. Parece que Dias e o tal Regis haviam sido colegas de faculdade de Direito. Nunca vou esquecer que Regis (ou Dias?) teve a idéia de terminar sua defesa de maneira bastante engenhosa, citando o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”. Era a forma ardilosa de garantir aos militares que não voltaria a militar e – ao mesmo tempo – garantir à esquerda que continuava a acreditar nos valores até então defendidos. Beleza.

Aliás, vem do “caso Regis” a queda do POC. Quando ele foi preso a coisa ficou complicada. Uma série de nomes ficou sendo do conhecimento da repressão. Nicolau e Taís resolveram ir para Paris. Emir Sader (irmão de Eder que ficara no POC) também se mandou.

Mais adiante, já com a organização em frangalhos, foi preso o Jonas (que ficaria preso comigo um bom tempo, na mesma cela, e de quem já falei aqui). Jonas conhecia o endereço da família do Nicolau, em Santos. Sabia que o dito cujo estava na França. Resolveu fornecer o endereço pra aliviar o “pau”. Não haveria maiores conseqüências em a repressão ir até a casa da mãe dele. Só que ele voltara sem que o Jonas soubesse. Daí foi preso. O resto das conexões não sei. Sei apenas o que fiz. E vou contar aqui, logo, logo. O resultado prático é que todo mundo foi preso. Como conta o Prata, ele foi preso graças a outras conexões, com o tal de PRT (haja sigla!). Quanto a mim, pelo menos, jamais falei, ou mesmo pensei, ter sido o Prata que fez todo o POC ser preso. Aliás, meu texto sobre o Prata, aqui nesta série Era uma vez, é até bastante elogioso. Eu acho.

Quanto ao que o Prata diz, de ser excluído das conversas do pessoal do POC, só se foram outras pessoas do POC. Nós, da cela 12, Toninho, Melo, Jonas e eu, jamais tivemos qualquer discriminação em relação a ele. Aliás, no texto sobre ele, comento minhas conversas com ele em banhos de sol.

Quanto ao documentário do qual participou a filha do Prata, como parte da direção e como personagem, há uma série de coisas estranhas:

Diz-se, no documentário, que ela nasceu em 1.969. Ora, o Prata afirma, adiante, que ela tinha 9 meses quando ele e a Eleonora foram presos. Eles foram presos em julho de 1.971. Conclui-se que a filha do Prata não sabe muito bem quando nasceu. Ou estarei sendo muito duro nessa conclusão?

O documentário, aliás, parece ser um belo exemplo do jornalismo atual: tudo errado. Prata não foi preso em 1.970. Foi preso um ano depois. Graças a tudo isso, não sei porque o Prata ainda se preocupa quanto ao fato do documentário dizer que ele foi preso antes da Eleonora. Pô. Se eles erram tudo, por que diabos iriam acertar na ordem das prisões?!

A filha do Prata diz, ainda, que o Paulo Vanucchi lembra dela chegando na OBAN. Já eu, lembro do Paulo Vanucchi de pijama de seda, andando pela ala do Presídio Tiradentes, à espera do papai que teria o privilégio de visitá-lo na cela. Coisas da ALN. Guerrilheiros de pijama de seda. Quero deixar claro que nada tenho contra pijamas de seda. Já quanto a guerrilheiros, acho que combinam mais com floresta, menos com gabinetes em Brasília.

O Prata diz que viu, aqui em meu blog, “histórias mal contadas”. Tudo bem, Prata, talvez você tenha razão: devo escrever mal pra burro. Mas sempre deixei claro que falava de minhas memórias, com todas as falhas e lacunas que decorrem disso. Mas pediria a você que fosse mais específico. Dissesse exatamente onde estão as coisas “mal contadas”. Deve haver muitas, mas a coisa colocada assim, de forma genérica, esculhamba com tudo. Devagar com o andor. O santo é de barro.

Quanto ao João Batista Mares Guia, não o conheci mais gordo.
Será que o Ricardo a que ele se refere no link acima é o Prata? Conta aí, Prata: você freqüentava a quitanda do Romeu?

Quanto ao meu “depoimento”, citado pelo Prata (sim, Alberto Augusto Júnior sou eu), sei lá. O fato é que não fui convidado a integrar a Direção Nacional do POC pelo Prata e pelo Laurindo. Ao contrário, só os conheci depois. Como é que isso foi parar no depoimento não sei. Sei que fui convidado a integrar a Direção Nacional pelo Nicolau e pela Taís. E seria muito mais fácil declarar isso, certo? Considerando que os caras que tomavam os depoimentos eram uns energúmenos, tudo é possível.

A casa da Av. Chibarás me foi passada pelo Nicolau. Jamais partilhamos a mesma residência. Eles (Taís e Nicolau) saíram e eu entrei. Sim, nós dois – Nicolau e eu – nascemos e vivemos nossa adolescência em Santos. Mas soube disso mais tarde, não me lembro mais quando. Nunca o vi em Santos.

Sua afirmação, Prata, de que “se os arquivos de interrogatórios fossem abertos algumas considerações veiculadas em seu Blog seriam modificadas com certeza“ pode ser verdadeira ou falsa. De qualquer forma, carece de especificação. Diga porquê. Não faça afirmações (quase acusações) genéricas.

Sua longa militância na esquerda, Prata, ao contrário da minha, que foi relativamente curta, pode trazer contribuições importantes para a compreensão de tudo que vivemos naquele período.

Daí eu considerar muito bom a gente prosseguir essa conversa.

Aguardo seu próximo texto.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Era uma vez XXXIV -
Relatos de Ricardo Prata Soares - 1


Explicação (por Santos Passos):

No final de 2007, dia seguinte ao Natal, eu viajava de Gold Coast para Sydney, na Austrália, quando me chegou um e-mail do antigo companheiro do POC, Ricardo Prata Soares, o Hugo, sobre quem já escrevi aqui.
Ele acabara de descobrir meu blog e começara a ler os textos da série Era uma vez.
Não concordara com algumas coisas que lera. Trocamos alguns e-mails. Sugeri publicar essa troca de e-mails. Ele argumentou que eram textos escritos às pressas, sem cuidado. Propus, então, que ele escrevesse calmamente sobre o que bem entendesse daquele período e eu publicaria. Topou. Assumi com ele o compromisso de publicar tudo do jeito que ele me mandar. Só me reservo o direito de tecer comentários. Comentários que ele poderá, de sua parte, comentar também.
Enfim, vamos fazer tudo com a maior limpidez possível. Afinal, este não é um blog de esquerda. Nem de direita. É simplesmente um blog pobre porém decente. Hehehe.
Ah: fiz uma ou outra correção no texto do Prata. Detalhes de digitação. Estão todas assinaladas em negrito e itálico simultâneos.


PRIMEIRO RELATO por Ricardo Prata Soares

CONTANDO HISTÓRIA DO POC

Eu havia saído do POC por divergências e assinei um documento de rompimento. Entrei no POC após longas conversas com Nilmário Miranda em Belo Horizonte. Gostava de um texto sobre “as contradições” de Eder Sader e minha formalização de ingresso foi na presença dele. Quando fui enviado para São Paulo, passei por diversos endereços e contatos. Somente na prisão soube que Eder e Nilmário haviam rompido com o grupo que ficou no POC.
Discordava de Merlino e Ângela. Fui contra a viagem deles que não era oficial, e chamei aquilo de licença para ir a Paris. Rompi com o tipo de centralismo imposto e afirmei que a organização estava frágil e que precisamos sobreviver para contar a história. Propus desaparecer na “massa cinzenta” conforme conselho de Lenine para estes períodos. Depois me expulsaram e nunca soube o que argumentaram.
Passaram-se meses e construí minha vida semi-clandestina sem ajuda do POC.
Minha relação política de proximidade eram os amigos do PRT, dissidentes da AP onde militei longos anos. Alias, minha prisão decorreu da queda deles. O contexto é que minha mãe faleceu no interior de Minas e fui ao enterro. Na volta fui preso logo depois que cheguei em casa. Tinha impressão que ela estava vigiada, mas não tinha como fugir. Era um sobradinho com uma única entrada e eu tinha trazido minha irmã menor, órfã, comigo.
Cheguei à OBAN e vi diversos militantes do POC, não sabia que eles também estavam presos. No primeiro dia me pouparam e disseram que estavam respeitando meu luto. Depois me disseram que tinham um documento de minha expulsão e usaram isto para me persuadir a falar. Queriam Ângela e Merlino. Sei que sai do pau-de-arara para dar lugar ao Merlino. Não sei calcular quantas horas se passaram entre minha queda e a dele. Mas, não vejo nenhuma possibilidade de ter entregado o endereço deles e me parece que isto aconteceu antes da minha queda. Por azar eu sabia o nome completo de Ângela e nunca o dei. E ela era a mais procurada e não Merlino. Eu soube da queda no caso Regis, por amigos do PRT, com quem mantive contatos. Eu avaliava a possibilidade de sair do país com o apoio deles.
Achei normal estar excluído de conversas nas celas, mesmo porque havia minha saída da organização, que foi homologada como expulsão e não sei se em que termos pejorativos. Estranhava que os militantes do POC saiam tão rapidamente da OBAN e depois do DOPS. Depois vi, com o fechamento do Tiradentes, todos serem transferidos para o Hipódromo e de lá soltos. Eu fui deslocado para o Carandiru junto com os militantes da Molipo, Ala Vermelha, ALN, PRT e outras. Creio que dentre os que foram para lá somente Nilmário e eu não tínhamos participado em ações armadas. Fiquei nove meses no Carandiru, o tempo todo numa cela com Altino Dantas do PRT. Já havia sido condenado em Minas um ano antes. Acreditava que ficava preso devido ao meu passado antes do POC e não entendia porque todos saíram e eu ficava. Saí em liberdade condicional e obrigado a viver em Minas Gerais.
Levei trinta anos para saber que era suspeito de ser responsável pela queda do POC. Um ex-aluno me enviou uma reportagem da revista Teoria & Debate veiculado na Fundação Perseu Abramo, do PT. Segui a pesquisa dele e encontrei seu Blog. Mas, vamos por parte, primeiro o PT. Trata-se de uma matéria assinada sobre um documentário que minha filha tinha participado na direção e como personagem. Reproduzo aqui uma passagem que interessa ao assunto:
“Maria de Oliveira Soares nasceu em 1969, filha de Eleonora Menicucci de Oliveira e Ricardo Prata Soares, ambos então militantes da Polop (Política Operária).
Vindos de Minas, os pais de Maria viviam em São Paulo na clandestinidade, quando, em 1970, Ricardo foi preso. Eleonora foi presa no dia seguinte com a filha de um ano e meio, quando se dirigia à casa de um tio, para que este a levasse a Minas para viver com a avó.” Texto da jornalista.
“Eu só me lembro de flashes. Mas, pelo que a minha mãe conta, eu fui com ela para a Oban (Operação Bandeirantes, órgão dos diversos serviços de segurança, precursora do DOI-Codi). Além dela, o Paulo Vannuchi, que estava preso lá, me contou que viu de sua cela eu chegar no colo da minha mãe." Citação de minha filha.
Maria tinha nove meses de vida e foi presa junto com Eleonora, minha esposa, na casa de um tio meu para esperar o meu retorno do enterro. Não sei quem registrou que eu fui preso antes. Maria nunca me consultou para a produção do documentário e nem Eleonora. A única dica está no terceiro parágrafo recortado: Paulo Vannuchi.
No mesmo período, buscando a fonte do meu ex-aluno, encontrei o blog do ex-companheiro do POC, o Guerra. E aí vi mais histórias mal contadas. Desta vez com data recente. Incontinente escrevi ao Guerra e iniciei meu processo de defesa. Ao mesmo tempo fui atrás da história oficial em publicação pela Presidência da República, Secretaria Especial de Direitos Humanos, com apresentação do Paulo Vannuchi.
Agora entendo porque sempre tive tanta dificuldade com o PT, mesmo sendo profissional de pesquisas eleitorais. E eu, ingênuo, atribuía tudo aos meus debates teóricos em 1974, no mestrado de Ciência Política, com João Batista Mares Guia depois eleito deputado pelo PT. E a história provou que eu tinha toda razão em combater o Mares Guia e não ter nenhuma simpatia com o PT. Mas, a questão da história oficial das esquerdas brasileiras fica para outro relato, este é um problema coletivo e afeta a história de todas as organizações de esquerda do período anterior à década de 80.
Fui condenado duas vezes pelo POC, dentre uns nove processos que tive desde 1964. Recorri ao Superior Tribunal Militar duas vezes, perdi e ganhei parcialmente o que me permitiu sair do Carandiru em liberdade vigiada. Como no pacote de páginas e páginas de depoimentos do POC não havia coisas suficientes para me condenar. O Ministério Público com aprovação do Procurador Geral da República, da época é claro, recorreu a outros depoimentos para me acusar. Estou anexando a acusação deles. Mas, posso destacar e o Passos pode ler tudo no anexo, o seguinte:
“Assim o depoimento judicial de Alberto Augusto Junior, verbis:
“Que esta célula estudantil funcionou até outubro de 1970; que em novembro daquele ano interrogado foi convidado por Ricardo Prata Soares, Laurindo Martins Junqueira Filho para participar da direção administrativa do POC, quando então o interrrogado foi residir na Av. Chibarás, 260, onde residiu até a data de sua prisão ocorrida em 28 de julho de 1971; que a direção citada mantinha contatos com regional do RS através de Wladimir Neto Ungaretti e com referência a regional de SP estes contatos eram feitos por membros da citada direção: que posteriormente Ricardo Prata Soares foi substituído por Ana Mércia Marques da Silva e Ricardo desligou-se da “organização”.
(vide: fls. 3.375-v – 129 vol.)
Vou deixar de incluir o outro argumento do Procurador Geral da República contra mim que se baseia no depoimento-interrogatório de Ana Mércia. O Passos pode lê-lo no documento em anexo.
Meu caro Guerra, se os arquivos de interrogatórios fossem abertos algumas considerações veiculadas em seu Blog seriam modificadas com certeza. A única maneira que tive foi obter legalmente dados do processo no STM para ler as razões de ser condenado duas vezes pelo POC num mesmo artigo da Lei de Segurança Nacional. Espero que no futuro os famosos arquivos possam ser abertos. Assim, outros poderão entender porque eu assisti do Carandiru a liberação de todos os militantes do POC. Como eu tinha me desligado, certamente não serei eu quem vai começar a história da queda do POC.
Quanto à história da prisão e morte de Luiz Eduardo da Rocha Merlino, o Nicolau, lhe passo os dados da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, do livro digitalizado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos “Direito à Memória.e à Verdade” que considero muito bem relatados. Estão disponíveis pela internet no site da Presidência da República. E você vai me encontrar lá. Anexei, também, algumas folhas do meu fichário da ABIN, para você saber mais sobre a versão policial sobre minha pessoa. Só não posso aceitar que a história das organizações de esquerda que combateu a ditadura militar possa ser contada a partir de interrogatórios policiais, revelações sobre tortura e conversas de presos políticos enquanto trancafiados.
Li quase tudo do seu Blog, antes de escrever. Eu não sabia que você era amigo do Nicolau, ambos de Santos, e que partilhavam a mesma residência.

Ricardo Prata Soares, janeiro de 2008.


É claro que tenho alguns comentários a tecer sobre o primeiro texto do Prata. Mas vou deixar para amanhã ou depois por duas razões: uma muito simples, tenho de trabalhar e o tempo hoje está curto. Outra razão é que penso ser melhor os leitores lerem só o texto dele. Não quero que meus comentários interfiram já.

Por fim: fico profundamente grato ao Prata por dispor-se a esse diálogo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Viagem à Austrália
9- Restaurante Four Winds


O melhor restaurante de Gold Coast, dos que conheci, é o Celsius, no centrinho de Burleigh Heads.
Mas há um restaurante em Surfers Paradise cuja comida não é lá essas coisas mas que tem um atrativo especial: fica no alto de um edifício (o prédio do Hotel Crown Plaza) e é giratório. Almoça-se girando lentamente e tendo, portanto, uma visão de 360 graus de Surfers Paradise. Além de comer tirei, claro, algumas fotos. Elas não são de muito boa qualidade porque os vidros do restaurante são escuros para que o sol não torre os clientes. Ficam então, nas fotos, reflexos do flash etc e tal. Mas dá pra ter uma idéia.
Abaixo, o interior do restaurante. Gira-se no sentido horário.



Ao fundo o edifício mais alto de Gold Coast. Lá no topo há um bar. Não chegamos a visitá-lo. Pudera, qualquer dose que se beba lá logo deixa o indivíduo alto (essa foi horrível. Perdão).


As fotos a seguir mostram Surfers Paradise no sentido horário. Começando pela praia:


Depois, moradias entre a praia e a Gold Coast Highway:


E a própria, claro:


Depois da Highway continuam as moradias e começam a aparecer os canais, braços de rio que tornam Gold Coast mais linda e a vida de seus habitantes mais divertida.





Só fotografei uns 180 graus. Afinal, precisava comer. O restaurante ia fechar logo.