quinta-feira, 31 de agosto de 2006

O conhecimento da ignorância


Hoje de manhã conversei com uma vizinha sobre a reforma que o camarada do apartamento embaixo do meu está fazendo. Disse a ela que estava preocupado porque o fulano está derrubando tudo. Será que ele tem noção da diferença entre elementos estruturais e não estruturais? Será que ele sabe que derrubar uma parede não é o mesmo que arrancar uma coluna? Ou uma viga?
Depois, já com meus botões, lembrei: sou engenheiro. Tá certo que engenheiro eletrônico. E formado em 1967, época em que os circuitos eletrônicos estavam deixando de utilizar válvulas para começar a usar transistores. Coisa medieval, mesmo.
Mas percebi uma vantagem em tudo isso: não entendo nada de estruturas de concreto. Mas sei que não entendo.
E isso faz alguma diferença.
Pensando melhor, notei que – no fundo, no fundo – o que eu quero não é ser culto. Isso é cada vez mais complicado. Dizem que o último camarada que entendeu de tudo foi Leibniz. E ele já morreu há quase 300 anos.
Quero conhecer cada vez mais minha ignorância. Ter noção mais profunda de que não sei tudo que não sei. Aprofundar meus conhecimentos de meu desconhecimento.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Mercadante agora é do aerotrem


E não é que no debate de ontem na TV Band o Mercadante defendeu o aerotrem?!?
Isso não era plataforma política daquele pelintra do partido do Collor, o tal de Levy Fidelix?
Meus deuses, o ridículo é poço sem fundo?

Chute em cachorro morto


Diz o povo que não se deve chutar cachorro morto. Mas vou dar uma bica no Orestes Quércia (aliás, o nome dele devia ter trema, porque se diz "cuércia" e não "kércia". Mas ele não treme. Ao contrário, ele assusta).
Durante o governo Montoro (1.983-1.987), meus filhos estudaram em colégio público. De alta qualidade. Era a Escola Estadual Profª Marina Cerqueira César, na Vila Ipojuca, São Paulo, SP, Brasil.
Quando o Quércia assumiu o governo (março de 87), a coisa degringolou com tal rapidez que a mãe de meus filhos e eu decidimos que iríamos tirar nossa filha mais velha do Marina no início do ano seguinte e colocá-la em colégio particular (Rio Branco). E, de antemão, combinamos que no outro ano passaríamos o segundo filho pro Rio Branco. Pois bem. Não deu tempo. Nossa filha mais velha foi para o Rio Branco no início do ano seguinte. No meio do mesmo ano tivemos de transferir o filho. Assim, no meio do ano letivo. A coisa ficou tão terrivelmente ruim que não teve jeito.
Agora, nesta campanha eleitoral, o Orestezinho fala em fazer isso e aquilo em prol da educação.
Vamos fazer assim: já que você é rico pacas (e ficou rico na vida pública, como já foi demonstrado ad nauseam), devolve primeiro a grana que eu gastei nessa história toda. Aliás, a minha e a de todo mundo que teve de se virar pros filhos não ficarem analfabetos.
E, já que estamos no assunto: tenha dó, Quércia. Você, que já deitou e rolou, aceitar esse papel de coadjuvante do Mercadante. Brincadeira. Conta pra nós. Qual foi o mensalão, nessa história.
Pensei que você fosse mais esperto.
Pobre coitado.

domingo, 27 de agosto de 2006

Ainda a perfeição


No esporte, se a perfeição existe ela se chama Bernardinho.
Pessoalmente, deve ser um chato
Na final da Liga Mundial, hoje, em Moscou, ele chegou a detalhes tais como orientar o jogador Anderson sobre o posicionamento de suas mãos no bloqueio. Disse que as adiantasse um pouco em direção à rede. E, óbvio, deu certo.
Partida maravilhosa

sábado, 26 de agosto de 2006

Assim não dá


Quase todo mundo sabe que um dos mais consistentes argumentos contra a existência de Deus é a existência de moscas.
Se Deus existisse, ele certamente não teria criado um bicho tão desagradável.
Vai daí, o bicho homem, na sua incontida mania de grandeza, resolveu concorrer com o Criador.
Agora – justo em Juazeiro – tem fábrica de mosca.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Planeta Terra no mundo da Lua


Hoje conseguiram me surpreender. O que não é pouca coisa por tratar-se – no meu caso – de cidadão a viver sua sétima década.
E não pensem que minha surpresa decorre de Plutão ter sido expulso do seleto clube dos planetas do sistema solar.
A ciência vive a mudar de opinião. A Terra já foi plana, passou a quase esférica e não duvidem que volte a ser tida como plana. Já há até best seller sobre isso.
Meu espanto vem da China.
Eu, que imaginava fazendeiros chineses como sisudos plantadores de arroz.
Pois fiquem sabendo que os velórios, no interior da China, são extremamente convidativos. Tudo porque... leiam o que publicou a Folha de S.Paulo, hoje:

Polícia prende strippers
em funeral de fazendeiro chinês


Uma tradição no leste da China, a homenagem com strip-tease em funerais, ganhou novas regras depois de cinco pessoas terem sido presas por organizar uma performance considerada "obscena" pela polícia chinesa, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. As prisões ocorreram na semana passada, no funeral de um fazendeiro em Donghai, na Província de Jiangsu.
Segundo a agência de notícias, o desnudamento serve a propósitos nobres. "O strip-tease é uma prática comum nos funerais das áreas rurais de Donghai para atrair as pessoas", conta. "Os moradores acreditam que quanto mais cheio fica o funeral, mais honrado é o morto."
Autoridades locais emitiram novas ordens sobre "conduta em funerais". Agora, os planos para as pompas fúnebres devem ser comunicados às autoridades municipais até 12 horas após a morte do futuro homenageado. Também foi colocado em operação um número de telefone para receber denúncias de "delitos fúnebres".


Não sei o que as agências de turismo estão esperando.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Aritmética da Impunidade


Belo dia descobre-se que o cidadão passou a mão no dinheiro público. Mensaleiro, sanguessuga etc.
Esse dinheiro, como bem disse certa vez o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga (não confundir com Armando Flagra, que é coisa da Polícia Federal), é o meu, o seu, o nosso dinheiro.
Deveria, portanto, ser devolvido aos cidadãos todos, partindo-se da hipótese simplificadora de que todos contribuíram igualmente.
Então vamos lá. O sujeito passou a mão em, digamos, um milhão de reais. Somos 200 milhões de habitantes. Logo, caberia a cada um de nós, 0,005 reais.
Como quase todo mundo sabe, nossa moeda só admite centavos de real. Portanto, a parte que caberia a cada um de nós seria zero.
Além do mais, se o indivíduo roubou 100 milhões, cada um de nós deveria receber cem vezes o que receberia caso o dito cujo tivesse roubado um milhãozinho só. Ou seja, cem vezes zero, que como quase todo mundo sabe, é zero.

Pesca e peixe


Há, no Brasil, em números redondos, 200 milhões de habitantes. O programa Bolsa Família sustenta mais de 11 milhões de famílias. Em torno de 50 milhões de pessoas.
Resumo:

No Brasil,
para cada três pessoas que tentam pescar,
há uma ganhando o peixe.
Distribuir instrumentos de pesca,
nem pensar.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

O desespero da classe média


Deu paúra. A turma resolveu se mobilizar. Vez ou outra, isso ocorre. Desde quando esse Brazilsão foi pro brejo. Faz tempo. Mas agora o pessoal achou que deve fazer alguma coisa. Marcha com Deus, família, o que mais?
Desisti de tudo isso faz algum tempo. Décadas, talvez. Mas o povo vai nascendo, as coisas têm de se repetir. A garotada não viveu o que passou. Tem de viver tudo de novo.
Vamos lá. Gritem. Gretchen. Reclamem. Digam que não estão gostando.
Tudo vai continuar como está.
Falta é educação, mas educação daquele jeito que a pedagogia atual condena: decorar tabuada, aprender a recitar os afluentes do Amazonas, margem esquerda, margem direita.
Estudar Português. Saber geografia. Aprender outra língua. Espanhol, inglês, francês. História. Do Brasil e Universal.
Tem que botar a bunda na carteira e estudar.
E-s-t-u-d-a-r.
Fora isso, conversa fiada.
O PCC, o CV, já dominam tudo. Ou quase. Setores da sociedade vivem sob outro governo. O tráfico é comandado por setores ditos nobres. Só não cito nomes, aqui, pra não ser processado, pra não morrer. Mas é gente importante. Não tem bacuri nisso.
Vamos lá. Vamos reeleger o Lulla. Alguém duvida? Migalhas em forma de bolsa família e pronto. Tudo resolvido.
Quem tem grana, está realizando 2% ao mês, no mercado financeiro. Na Europa, é 2% ao ano, e olhe lá.
Isso é o que interessa.
De quem é o Banco Santos? Do pobre Edemar Cid Ferreira? Ou de algum senador importantérrimo? Daqueles que nascem em um Estado do Nordeste mas se elegem em outro lugar?
E o Pitta? Terá algum parentesco com o Maluf?
E se fossem irmãos?
Pense nisso. Afinal, você não sabe o que os ascendentes do Maluf andaram fazendo por aí.
A primavera vem aí.
Feliz primavera.

P.S.: Este post faz parte de uma blogagem coletiva, organizada pela Laura.

domingo, 20 de agosto de 2006

Di Tullio


Em 1.961, vim de Santos para São Paulo para fazer o restante do Científico (que era como se chamava o período de três anos que se seguia ao Ginásio, de quatro anos) mas – principalmente – para fazer cursinho pra engenharia, no curso Di Tullio.
O professor Mauro de Oliveira César, que além de dar aulas no Di Tullio também era professor da Faculdade de Engenharia de São Carlos, junto com minha irmã, me arrumara bolsa integral. Isso, mesmo sendo eu ainda aluno do segundo científico. Penso que fui eu que inventei essa história de treineiro. Essa garotada que presta vestibular ainda no final do segundo colegial, só pra treinar. Naquele tempo não era possível fazer o vestibular sem concluir o colegial. Mas fui fazer cursinho porque sentia que o colegial não estava me dando formação adequada. O Colégio Canadá, de Santos, já não era o mesmo de tempos passados.
Na década de 60, o cursinho por excelência era o Anglo Latino. Das 360 vagas na Escola Politécnica, quase 300 eram ocupadas por alunos formados lá. Mas o Curso Di Tullio tinha um papel qualitativo importante nessa história de vestibular para engenharia.
O professor Di Tullio era um italiano baixinho, de nariz batatudo, um pouco corcunda. Por ser de esquerda numa Itália dominada pelo fascismo na Segunda Guerra, fugiu. Parece ter sido um raríssimo caso de alguém que fugiu PARA a Sibéria. Em geral, as pessoas fugiam DA Sibéria.
Não sei como, nem por quais motivações, Di Tullio acabou por migrar para o Brasil como vendedor de vinhos, apesar de ser um matemático de alto nível.
Aqui, nesta terra de burocratas, tentou validar seus títulos acadêmicos para poder lecionar na USP. Exigiram dele que prestasse exames de Geografia e de História do Brasil.
Mandou tudo às favas e começou a dar aulas preparatórias para o vestibular de Engenharia para um pequeno grupo de umas dez pessoas. Ele ministrava todas as matérias menos Química, que era ensinada por uma professora também italiana, cujo nome agora me escapa.
O estupendo êxito de seus parcos alunos no vestibular da POLI (o ITA nunca foi o seu forte) levou-o a montar o cursinho, trazendo para ajudá-lo alguns de seus primeiros alunos.
Ele reservou para si as aulas de Álgebra. E foi nesses termos que conheci essa figura inigualável.
Comecei por entender para que servia aquela espécie de estribo na parte inferior do quadro negro. Certo, servia para colocar giz e apagador. Mas a função primordial era amparar o professor Di Tullio nos dias em que havia tomado um pouco mais de vinho ao almoço, seguido de algum cognac.
Ele detestava ministrar as matérias do programa do vestibular.
Logo de cara avisava: daria aulas extras, sem custo algum, ao final do horário normal de aulas, para quem se interessasse. Para ensinar tópicos da Matemática que eram do interesse dele.
Formou-se um pequeno grupo, do qual – óbvio – eu fazia parte, para assistir às aulas realmente inspiradas do extraordinário mestre.
Lembro-me, só pra dar uma palhinha, de um início de uma série de aulas sobre Teoria das Grandezas. Di Tullio começava por afirmar que Grandeza era conceito primitivo, não admitia definição.
Criticava, em seu português carregado de sotaque:
- Já vi livros que definem grandeza: grandessa é tudo aquilo suscetível de aumentar e diminuir. Ba. Conheço cossas suscetíveis de aumentar e de diminuir e que no som grandessa.
E mostrava o rosto iluminado por uma risada irônica, infantilmente malandra (ou malandramente infantil, sei lá)
Di Tullio tinha um apartamento no Embaré, em Santos. Passava lá suas férias.
Como minha mãe ainda morava lá, eu também ia pra Santos nas férias. Uma vez levei comigo meu amigo (até hoje) Brandão, pra passarmos lá alguns dias.
Um dia, lá pelas nove da manhã, fomos tomar café da manhã em um bar no Embaré. Entramos e pedimos dois Toddys. Não percebemos que o professor Di Tullio estava sentado ali ao lado, a tomar seu cognac matinal.
Ouvimos, depois de pedirmos nossos chocolates:
- Má quê. Quem toma chocolate é viado! Tem de tomar cognac!
- Mas professor, cognac às nove da manhã?
Di Tullio era fantástico até quando manifestava seus preconceitos.
Aprendemos, então, a rotina do mestre. Tomava um cognac logo cedo, entrava no mar e nadava até a Ponta da Praia, junto ao ancoradouro dos Práticos (alguns quilômetros). Lá já havia um taxista conhecido que o recolhia todo molhado e o levava de volta ao Embaré.
Do alto de nossa juventude, tentamos acompanhá-lo nessa empreitada. Desistimos no meio do caminho.
Quando saiu o resultado de nosso vestibular na POLI, corri ao cursinho pra saber se havia passado. Encontrei o professor Di Tullio, com seu sorriso maroto, sentado em frente a uma lista de aprovados.
Nem perguntei nada. Olhei-o interrogativamente.
E ele:
- Má quê papelão!
Pensei logo: bombei.
Ele prosseguiu:
- Tinha de ficar em 24º lugar?!?

Ideias luminosas no Bazar


Nossa filha costuma nos telefonar da Austrália aos sábados à noite. Lá, é manhã de domingo. Ela acorda, toma seu café e depois nos telefona. Fico sempre intrigado com essa história de ela já estar vivendo um domingo que só vou vivenciar daqui a muitas horas.
Ocorreu-me a ideia de pedir que ela me conte meu futuro. Ela, que já está lá, no futuro, pode certamente me antecipar qualquer coisa de interessante.
Sábado que vem faço a ela esse pedido.
Quem sabe. Quem sabe.

sábado, 19 de agosto de 2006

Achados e Perdidos


Li ontem, no Correio da Manhã, matéria sobre os objetos que acabam por ficar nos Correios por não se encontrar o destinatário, nem ser possível devolvê-los ao remetente.
Muitos desses objetos são curiosos. Mas, para mim, mais atraentes são as características dos destinatários não localizados. Há o "senhor Zé da mercearia em frente à linha de comboio" e há – delícia das delícias – a "menina que passa às quatro da tarde em frente ao café".
Contrário ao que pensa o senhor Pedro Villalva, chefe da Secção de Refugo Postal: "Há muitos malucos", entendo que malucos somos nós, aqueles cuja localização depende de nome de logradouro, número, complemento e código de endereçamento postal.
Experimente enviar para mim qualquer coisa, indicando a aldeia de Passos como destino. Basta dizer para entregar na casa de Alípio e Zelinda. Eles logo perceberão que se trata de correspondência para "os primos brasileiros" e guardarão para mim, para quando chegue lá.
O Asulado quis me dar de presente os cachecóis do Porto e do Olhanense. Enviou-os ao Brasil, detalhando meu endereço. Jamais os recebi. Se os enviasse a Passos de Lomba, Vinhais, eu hoje estaria com eles.
A primeira vez em que me aventurei a percorrer Portugal de carro, em 1.999, fui até Vinhais. Sabia que lá morava uma quase-prima, a Lídia. Ainda de Lisboa, telefonei a meu tio Paulo, aqui de São Paulo, para pedir o endereço da Lídia.
- Pergunte pela Lidia dos Correios.
- Mas tio, e o nome da rua, o número da casa?!
- Não precisa. Apenas pergunte pela Lídia dos Correios.
Meu tio Paulo é militar reformado. Logo pensei: a caserna não lhe fez bem aos miolos.
Ao entrar em Vinhais, chegamos a uma pracinha, o Largo do Arrabalde. Parei o carro. Avistamos um bar. Resolvemos tomar café e perguntar.
Café quentinho, atendente atencioso, criei coragem:
- Por acaso, o senhor conhece a senhora Lídia, dos Correios?
- Pois claro. Mora aqui ao lado. Vamos lá. Deve lá estar o Manoel, o marido.
E foi nesse dia nosso primeiro almoço em casa de Lídia e Manoel.
Como se não bastasse, Lídia me contou que eu tinha duas primas carnais em Passos.
Que eu não perdera porque sequer as havia achado.
E que contribuíram para que minha vida ganhasse novos significados.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Tautologia utópica


Se o crime é organizado,
viva a desordem.

Praga de Ordisi


Meu amigo Ordisi e eu havíamos combinado um chopp pra hoje. Quando me lembrei da decisão da Libertadores, também hoje, não tive dúvida: telefonei pro Ordisi pra adiar o chopp. Afinal, meu criador é sãopaulino. Fazer o quê.
O Ordisi entendeu, mas ficou falando em Internacional pra cá, Internacional pra lá. Não deu outra. Só pode ser praga rogada por ele.

Como bom perdedor, aí vão algumas fotos do Beira Rio, a foto do gol dado de presente ao Internacional pelo – logo quem! – Rogério Ceni e a comemoração do Saci, símbolo do colorado.
Beira Rio em seu estado normal
Beira Rio tomado pela fumaça dos sinalizadores acionados pelos torcedores
Não adianta levantar o braço, Rogério. O presente já foi entregue
Tá bom, tá bom. O Inter mereceu

Só um comentário ressentido, pra não deixar tão barato: a certa altura, a TV mostrou um santinho colocado atrás de um dos gols do Beira Rio. Disse o narrador que se trata de tradição do clube, a de colocar aquela estatueta atrás do gol. Mas não é o Internacional o clube que nasceu socialista (daí o nome, daí a cor)?
Será que isso é o tal de sincretismo levado aos campos de futebol gaúchos?

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Dúvidas insuportáveis


Se é verdade o que o Datafolha apurou - 47% do eleitorado, no Brasil, se diz de direita - por que diabos os motoristas insistem em dirigir sempre na pista mais à esquerda, qualquer que seja a velocidade desenvolvida?

Palpites


Pois é. Lembro quando Jorge Veiga fez uma letra de samba que rimava palmito com palpite. Foi criticado: pô, Jorge, palmito não rima com palpite.
E ele não se apertou:
Não rima no fim, mas rima no início.
Hoje acordei a fim de dar palpites.
Li um conto maravilhoso do Marcio e dei palpite (tira a última frase, Marcio).
Aliás, sempre fui meio assim, de palpites. Já critiquei poemas do Bandeira, do Drummond, do Vinicius.
Como dizem os baianos, sou abusadinho.
Aí, quando vem uma crise de bom senso:
Cara, que vexame! Esses nomes são consagrados. Você tem coragem (petulância é melhor, né não?) de criticar o que eles escrevem? E quando, já já, o Marcio virar escritor famoso? Onde tu vai enfiar a cara?
Eu, que (quase) sempre usei barba, resolvi – belo dia – raspar só o bigode. Logo depois de perpetrado o corte, chega em casa um amigo, poeta, e se espanta.
Me justifico:
- Por que não posso cortar só o bigode? O Soljenytsin é assim!
- O problema é que você não é judeu, muito menos intelectual.
Deixei crescer novamente o bigode.
Agora, parar de dar palpites. Nunca.

sábado, 12 de agosto de 2006

Era uma vez - XXXII
Chegada ao DOI-CODI


Depois de nos deixar no banheiro da casa durante alguns minutos, com um meganha a nos apontar uma metralhadora, minha mulher e eu ali, em pé, dentro do box, como quem premeditasse um banho e tivesse esquecido de despir-se, os homens da OBAN nos levaram para uma perua D20 (ou algo assim. Até hoje nada entendo de automóveis, imagina naquela época. Segundo a Maray, era C14).
Indicaram que nos sentássemos em um banco no meio da cabine. Não me lembro se nos algemaram. O tempo todo minha mulher e eu ficamos juntos.
Ao chegar à Delegacia de Polícia da rua Tutóia (São Paulo) pudemos constatar o que já sabíamos: ela havia sido transformada em fortaleza do DOI-CODI. A Delegacia ficara sendo apenas uma fachada para a estrutura repressiva meio clandestina que o Exército montara ali. A D20 entrou em um pátio e ali fomos convidados a descer e levados até uma sala de espera.
Até aí, descontadas as armas que nos apontaram, o tratamento que nos dispensaram foi quase gentil. Mais tarde aprendemos: as equipes de busca, que eram as que iam atrás dos terroristas e subversivos, eram formadas por profissionais menos boçais. Afinal, eles arriscavam a vida. Já as equipes internas, de tortura, reuniam a escória da humanidade.
Sentados naquela sala, minha mulher e eu, banco de madeira, comecei a imaginar saídas daquela situação. Afinal, eu tinha uma vida oficial. Era professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP. Parecia-me que seria relativamente fácil convencer aqueles senhores um tanto agressivos que minha mulher e eu nada tínhamos a ver com o que eles imaginavam.
Queria sair, voltar pra casa.
Começava um intenso aprendizado.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Parabéns, Bruna


Minha neta completou hoje seis anos. É típica mulher do século 21. Nasceu no ano em que – na minha infância – juravam que o mundo iria acabar. Como os pais foram viver nos USA, está a falar com sotaque. Hoje, quando telefonei para cumprimentá-la, teve nítida dificuldade para conversar em português.
Tenho saudade dela. Tenho – mais ainda – saudade de minha filha. Pergunto-me se essa globalização vai permitir que nos toquemos de vez em quando. Minha mulher tem uma filha que foi viver na Austrália. Meu filho premedita mandar-se para Londres. Barcelona, quem sabe.
Quando eu estiver em Bragança, Portugal, estarei mais próximo de tudo isso.
Como o mundo ficou pequeno, de repente. Ou imenso. Depende de como se olhe a questão.
E a gente precisa evoluir rápido. Pra não perder o pé e afundar.

domingo, 6 de agosto de 2006

Vocação


Na casa de meus pais havia um quadrinho pendurado em alguma parede que chamava minha atenção, em primeiro lugar, por ser tridimensional. Havia nele um cilindro a imitar um tronco de árvore. Nesse tronco, restava fixado um machado. Tudo, claro, em dimensões reduzidas.
O mais notável era a frase escrita no quadro:

Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o fere.


Hoje, estava eu a saborear uma cachaça Boazinha e me dei conta de que a dita cuja é envelhecida em tonéis de sândalo.
Pensei que a frase do quadrinho poderia ser ligeiramente modificada:

Sê como o sândalo, que perfuma a cachaça que bebes.


Não. Decididamente não. Não tenho vocação para autor de livros de auto-ajuda.

Pathos


Nos posts de junho de 2.004, que agora estão neste blog, minha perplexidade diante da mulher que tornei impossível, igual assombro perante o Oceano Pacífico, que minha infância julgava diferente, o espanto – meu e de meu amigo Carlos Alberto – face à doce crueldade de nossas mães no trato com as galinhas do almoço dominical, a indignação frente ao hábito de valorizar-se o cedo despertar, a inelutável tristeza de uma despedida e a insubordinação face às complicações da vida moderna.
Etc.

sábado, 5 de agosto de 2006

Correr, corroer


Hoje é sexta. Amanhã é sábado. E assim por diante. Não se pode fazer nada contra esse correr do tempo.
Pode-se eleger uma Constituinte, pode-se nomear o irmão Raul como sucessor, pode-se bombardear o Iraque à vontade, pode-se destruir o Líbano com mil justificativas, pode-se ouvir Elvis, que não morreu, pode-se jogar porrinha no bar da esquina, pode-se torcer pelo Corinthians, pode-se ler Heródoto, pode-se jogar fora o lixo do dia, pode-se jogar fora o dia, um lixo, pode-se mergulhar na piscina, pode-se fazer um monte de sinais esdrúxulos, pode-se vender ambulâncias superfaturadas, pode-se ser candidato-presidente ou presidente-candidato sem saber de nada sabendo de tudo, pode-se morrer em paz.
Só não se pode fazer qualquer coisa contra o correr do tempo.
Não se pode fazer nada contra esse correr do tempo.
O correr do tempo é inexorável. Nada detém o tempo. A correr. A corroer.
Tempocorredor. Tempocorroedor.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Romantismo em Coimbra


Acabo de colocar neste blog todos os posts de maio de 2.004 de meu antigo blog no fatídico Mblog (que está de volta. Cuidado!).
Há posts interessantes. Em particular, um me emociona muito. Este.