sábado, 29 de dezembro de 2012

Morte anunciada

Quem achou que 2.012 terminaria sem boas notícias perdeu. É o meu caso.

Mas há situações em que é excelente perder.

A presidente do Brasil, aquela, que prefere ser referida como presidenta (aliás, quando éramos prisioneiros no Presídio Tiradentes, eu era detento e ela detenta), adiou para 2.016 a obrigatoriedade do tal Acordo Ortográfico.

Ou seja, como na antiga história da notícia da morte do gato, o Acordo Ortográfico subiu no telhado.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Dentro do Império

Ao chegar anteontem no salão da Imigração, no aeroporto de Newark, USA, comecei a viver emoção parecida com a de um grego ou judeu ou egípcio ou ou ou... que chegasse a Roma em época ao redor do início da Era Cristã (ou, como educadamente dizem os judeus, a Era Comum). Milhares de pessoas enfileiradas, à espera da condescendência do burocrata americano encarregado de avaliar a capacidade de cada um daqueles seres humanos para serem admitidos no Sagrado Império.

Ultrapassada a barreira, cá estamos. E o que nos contam surpreende. E surpreende pelo contraste entre a evidência de que este povo americano foi capaz de construir um país que se sobrepôs ao restante do planeta  de modo incontestável e a igual evidência de que se trata de um povo dotado de mentalidade e de comportamentos que deixam a qualquer um - que não habituado às idiossincrasias norte-americanas - de queixo caído.
Sou informado, por exemplo, que uma pacata idosa que resolveu enxugar seu gato no microondas e - óbvio -  explodiu o bichano, venceu a acção judicial para obtenção de indemnização pelo simples facto de que o manual do utente do microondas não estipulava - de modo explícito - que não se podia utilizar o microondas para enxugar gatos.
Já os pacotes de amendoins que se vendem nos mercados, além da óbvia informação que trazem sobre seu conteúdo - AMENDOINS - são obrigados a portar, logo abaixo, a informação adicional: Contém amendoim. Dado o gigantesco número de pessoas portadoras de alergia a amendoim, o que já não deixa de ser curioso, não basta colocar no pacote de amendoins que o conteúdo do pacote é de amendoins. É necessário acrescentar que o pacote contém amendoins.

Há muitos outros casos assim. Mas, para quem é dono do mundo, essas histórias são peanuts.

AVISO: Este post contém amendoim.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Do governo e da corrupção - 1

A corrupção empolga os leitores de jornais. Mas não deveria ser assim. Isso se tudo obedecesse à razão. Ocorre que a emoção, em geral, predomina.
Por que digo isso? Porque se um governante embolsa um montão de dinheiro mas faz a felicidade da nação, bem feito está. É simples: o Maluf, por exemplo, é acusado de ter embolsado centenas de milhões de dólares durante seus governos na cidade e no estado de São Paulo, Brasil. Ora, o orçamento da cidade de São Paulo, para 2.011, era de mais de 35 mil milhões (no Brasil se diz 35 bilhões) de reais. Algo da ordem de 20 mil milhões de dólares. Logo, a taxa - digamos assim - cobrada por Maluf, teria sido coisa em torno de 1 ou 2 ou 3% do orçamento anual da cidade. E olha que ele governou o estado de São Paulo todo e a cidade por vários anos. Se me perguntassem o que eu achava de pagar a alguém para gerir minha vida económico-financeira, durante vários anos, míseros 3% de minha renda de um ano, eu não teria dúvida: se ele fizer uma excelente gestão, negócio fechado!
Portanto, uma avaliação séria das gestões de Maluf à frente da prefeitura e do governo de São Paulo só depende da análise dos benefícios ou malefícios que ele trouxe à colectividade paulista durante seus períodos de mando.
Ah!, mas há o lado moral disso tudo.
Sim, no confessionário talvez Maluf tenha sido orientado no sentido de rezar um certo número de Ave-Marias. Mas, agora, já não mais estamos no terreno da política.

Política não é lugar para moralistas.

Voltaremos ao tema.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Capadócia e eu

Segunda-feira. O céu, cá em Bragança, não sabe se quer deixar brilhar o sol ou se chama a chuva. Hesita.

Quanto a mim, preparo-me para a viagem de fim de ano. A visitar os filhos.

Abro meu gmail e me deparo com essa afirmação:

É impossível viver plenamente a Capadócia sem fazer um voo de balão

E me entupo de dúvidas.
Quero viver plenamente a Capadócia?
Aliás, onde é mesmo que fica a Capadócia? (isso é simples: vou ao Google e pronto. Estou na Turquia, em plena Capadócia).
Mas será que desejo fazer um voo de balão?
E mais: quero viver plenamente? O que será isso?!

De uma coisa tenho certeza (ou quase): de balão, jamais.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Fé e montanhas

Estávamos, a Léa e eu, a almoçar. Diante de nós a paisagem do Parque Natural de Montesinhos. Mas, com a chuva, pouco se via, graças à névoa. De repente, ela falou:
- Sei que, atrás daquela arvorezinha, fica uma montanha.
e eu:
- Isso se alguém de muita fé não a removeu.
Diz a Léa:
- Não! Essa montanha ninguém remove.

Fica, então, estabelecido:

A fé remove algumas montanhas. Não todas.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Portugal literal

Acabo de ver e ouvir no noticiário das 8 na RTP:
Em uma matéria sobre a venda de bacalhau nessa época de festas, o repórter entrevista um consumidor que acaba de comprar bacalhau:
- É para o Natal?
- Não. É pra mim.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mais embustes com dinheiro público

Há dias em que preferia que não eliminassem partes de minha ignorância. É verdade que, dado ser ela infinita, eliminar dela um bocadinho não altera em nada sua magnitude.
Graças ao texto de Alberto Gonçalves na Sábado desta semana, fui apresentado ao conceito de crianças índigo.
É incrível como as superstições já existentes parecem não satisfazer a necessidade que grande parte das pessoas tem de acreditar em bobagens .
Já não bastavam as idiotices das religiões tradicionais, dos três monoteísmos dominantes com suas ramificações, das religiões africanas. Já não bastavam os vários ramos do espiritismo nem as seitas neopentecostais caça-níqueis.
Agora a moda é o ser quântico, a identidade quântica, a imortalidade quântica etc etc.
Para coroar esse  universo de imbecilidades e espertezas surge a criança índigo. E dá-lhe explicação sobre as cores da aura, sobre vidas anteriores e futuras.

Decididamente esta vida nossa de cada dia não parece ser suficiente para a avassaladora maioria das pessoas. É preciso acreditar que viemos de algum outro lugar. E / ou que iremos para uma nova vida no futuro.

Que seja.

Mas se quando os espertos tiram dinheiro dos crédulos eu não os condeno, porque pedem e tudo lhes é dado de bom grado pelos incautos, quando o que se subtrai é dinheiro público a coisa muda de figura.

Não gosto de pagar impostos para sustentar esses espertalhões.

É particularmente o caso, em Portugal, da Fundação Casa Índigo - Fundação para a Formação Consciencial e Cultural de Crianças Índigo, Jovens e Educadores.

Como relata Alberto Gonçalves, "o governo do eng. Sócrates reconheceu oficialmente a relevância da Casa Índigo, cujos cursos permitem aos professores do ensino público acumular créditos para progredir na carreira."

Quando alguém gasta seu rico dinheirinho para dar oferta nas igrejas de toda espécie, nada a opor. Cada um faz de seus recursos o que bem entende, desde que não transgrida as leis. Mas quando metem a mão em meu bolso sem meu consentimento já não aprecio.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Lições da literatura de auto-ajuda

Uma das coisas que gostaria de entender - e são tantas! - é o porquê da literatura de auto-ajuda ser tão apreciada por milhões de pessoas.
Claro. Há explicações simples, tais como:
A grande maioria das pessoas é simplória.
É verdade. Mas uma explicação dessas serve para a literatura de auto-ajuda, para grande parte dos programas de TV, para os gigantescos shows de música pop etc etc.

Eu procuro uma explicação mais específica. Quero entender por que multidões se enternecem com a literatura de auto-ajuda, mesmo quando essa vem por atacado, em livros de várias centenas de páginas.

Uma das maiores - talvez a maior - das minhas dificuldades para decifrar esse enigma seja meu fraquíssimo conhecimento dessa literatura. Conheço muito pouco da literatura de auto-ajuda. Pior: não gostaria de conhecer mais. Mas, feliz ou infelizmente, o Facebook e os powerpoints que me mandam por e-mail me fazem travar contacto com ela.

Então, vamos lá.
Partamos de um exemplo:


O texto começa com a constatação de que pássaros comem formigas, mas depois de mortos são comidos por elas. Nem sei se isso é verdade, mas deve ser. Nunca fiquei a observar um pássaro até o sublime instante de ele saborear algumas formigas. Quanto ao tal fenómeno inverso, é verdade que já vi formigas a devorar baratas. Com um bocadinho de esforço posso imaginá-las a comer um pássaro.
O que interessa aqui é que parece que os textos de auto-ajuda começam sempre por alguma constatação factual dificilmente questionável. É uma forma de ganhar, logo de início, a concordância do leitor.
Se eu começo por dizer algo como: a chuva molha, quem me lê já estará a concordar comigo desde o começo. Um bom começo.
Como consegui a simpatia inicial de meu leitor, vou agora pegá-lo desprevenido:
Tempo e circunstâncias podem mudar a qualquer minuto.
Beleza. Joguei uma segunda frase em cima de um leitor já despido de resistências.
Mas, como estamos atrás de um entendimento da mecânica da auto-ajuda, vamos parar um bocadinho nessa frase.
Quer ela dizer que duas coisas podem mudar a qualquer minuto. Quais são elas? Ora, o tempo e as circunstâncias.
Alto lá! Quer dizer que o tempo pode mudar a qualquer minuto? Eu diria que não só pode como não tem outra alternativa. Afinal, minuto é uma das medidas do decorrer do tempo. O tempo não só pode como, digamos assim, é obrigado a mudar a cada minuto. A menos que se trate, aqui, do tempo climático. O texto que vem lá pra frente indica que não.
Quanto às circunstâncias, seje lá o que seje isso, podem mudar ou não. Depende das circunstâncias.

Mas voltemos ao nosso leitor ávido de ensinamentos simplórios: como já foi agarrado pela primeira frase, bastante factual, ele engole a segunda sem parar pra pensar.

A partir daí o autor do texto, seguro de ter o leitor a seu favor, toma coragem e parte para a conclusão:
Por isso, não desvalorize ou machuque ninguém e nenhuma coisa à sua volta.
Por isso é - aqui - o elo de ligação lógico entre as premissas e a conclusão.
Quer dizer que já que formigas e pássaros se devoram mutuamente eu não devo machucar ninguém? A conclusão lógica não deveria ser exactamente o contrário?
Se formigas e passarinhos, seres tão valorizados em relação a, por exemplo, cigarras e ratos, fazem toda essa maldade uns com os outros, por que diabos eu não devo machucar ninguém?!
Nem desvalorizar?
Quer dizer que porque formigas e pássaros se devoram mutuamente eu nem posso dizer, de alguém:
- Esse sujeito não é lá essas coisas que dizem...

Continuemos.
Você pode ter poder hoje, mas, lembre-se:  o tempo é muito mais poderoso do que qualquer um de nós.

Vou deixar de lado o facto de que o (a) autor(a) do texto distribui vírgulas como quem joga queijo ralado em espaguete. Só quero assinalar que essa mania parece permear todos os textos de auto-ajuda.

Quanto ao conteúdo: agora que você já foi dominado pelo texto, o autor deita e rola. Se ele dissesse algo como o infinito é mais poderoso do que qualquer vassoura, daria no mesmo.

Porra! Qual é o significado de o tempo é muito mais poderoso do que qualquer um de nós ?!?!
Mas o leitor, já inebriado pelas assertivas anteriores, pensa logo: É verdade. Estou a tornar-me velho. E isso é inevitável.
Diga-se, a bem da precisão, que não é inevitável. Pode-se morrer jovem.
Mas o leitor, que ao que tudo indica ainda não partiu desta para melhor, está a ser vencido - mesmo - pelo poderoso tempo. Ou, mais ainda, pelo poderoso texto.

Agora, à guisa de fecho, vem mais um facto:
Saiba que uma árvore faz um milhão de fósforos, mas basta um fósforo para queimar milhões de árvores.

Lindo! É certo que se trata de uma metáfora. Afinal, fósforos - que eu saiba - não nascem em árvores. Mas a essa altura o (a) autor(a) já se pode conceder certas liberdades poéticas. O leitor já está de quatro.

E vamos a mais uma conclusão lógica:
Portanto, seja bom! Faça o bem!

Não sei como os tais fósforos levam inevitavelmente ao preceito de que se deva ser bom e fazer o bem.
Mas se a conclusão é boa, vale tudo.

Seria mais curto dizer:

Seja bom e faça o bem. Isso é bom e faz bem.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O devorador de livros

Parece que a expressão devorar livros já teve seus momentos de literalidade.

O profeta Ezequiel que - tudo indica - era louquinho de pedra, protagonizou um desses instantes.
Aliás, o facto de ele precisar de um bom tratamento psiquiátrico não invalida a veracidade de suas palavras, por constarem do livro totalmente inspirado por Deus, a Bíblia.
O relato dele:

Mas tu, ó filho do homem, ouve o que eu te falo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu te dou.
Então vi, e eis que uma mão se estendia para mim, e eis que nela havia um rolo de livro.
E estendeu-o diante de mim, e ele estava escrito por dentro e por fora; e nele estavam escritas lamentações, e suspiros e ais.
Depois me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, e vai, fala à casa de Israel.
Então abri a minha boca, e me deu a comer o rolo.
E disse-me: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o comi, e era na minha boca doce como o mel.

(Ezequiel 2:8-10 e 3:1-3)

Advertência: vá com calma. Talvez nem todo livro tenha esse sabor.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Graças a Deus?





O vídeo acima procura mostrar a pessoas que vivem no bem bom de países desenvolvidos como são ridículas suas queixas quando comparadas à situação de crianças de países como a Somália.

Até aí tudo bem, ainda que não me agradem tais aulas de Felicidade Comparada. Mas isso já é questão de gosto.

O que me irrita nisso tudo é que, ao final, o vídeo ensina que se deve dar graças a Deus por tudo de bom que se tem, haja vista que há os que nada têm do tudo que temos.




Então ficamos assim: Deus é aquele Todo Poderoso que resolveu nos dar um monte de regalias e deixar na mais absoluta merda outros seres humanos tão criados por Ele quanto nós.

Sei que as explicações já estão prontas há milénios, mas não resistem à lógica mais elementar. Os desígnios divinos são insondáveis etc etc.

Quero ver explicar isso a um somali faminto.

sábado, 24 de novembro de 2012

A presepada do Papa

Quando eu era garoto, meu pai costumava lembrar a piada do português morador do Rio de Janeiro. Parado junto à estação das barcas que levavam a Niterói, olhava calmamente as águas da baía de Guanabara quando alguém se aproximou dele, com ar de preocupação:
- Joaquim! corre pra Niterói que tua mulher está a passar muito mal.
Mais que depressa, o português comprou bilhete e embarcou.
Ao longo da travessia, começou a colocar as ideias em ordem:
- Ora pois! Eu não me chamo Joaquim, não moro em Niterói e não sou casado. Que diabos estou a fazer?!

Lembrei-me mais uma vez dessa história a propósito do papa Bento 16. Ele acaba de escrever, em seu livro sobre a infância de Jesus, que no local de nascimento do Cristo não havia animais. O presépio tem de ser alterado, com a retirada da vaca e do burro.

Ora pois, diria o falso Joaquim.  Jesus não nasceu em Belém, nasceu em Nazaré; não houve recenseamento algum na época, muito menos matança de crianças ordenada por Herodes ou por quem quer que seja. Tampouco houve fuga da família de Jesus para o Egipto.

E o gajo está a querer dispensar a vaca e o burro!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Novo desejo

Diante da revelação de hoje (que os portugueses sentir-se-iam desconfortáveis com um presidente homossexual e, em segundo lugar, com um presidente acima dos 75 anos), passei a desejar ser Presidente da República daqui a oito anos, quando então terei 75 anos e me tornarei paneleiro.

Os grandes machos que governaram Portugal até agora conseguiram reduzi-lo ao estado actual.

Ser jovem, ao que me conste, também não chega a ser virtude. Talvez privilégio. Talvez.

Com tanta asneira que já fiz, em política, quem sabe ao tornar-me ancião e viado consiga produzir algo de bom.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Minha segunda bicicleta

Quando me preparava para o exame de admissão ao Ginásio (na época, no Brasil, fazia-se o Curso Primário dos 7 aos 10 anos e depois o Ginásio, dos 11 ao 14) meu pai, absolutamente descrente de minha possibilidade de aprovação, provocou-me com a promessa de uma bicicleta, caso fosse aprovado.
Uma vez aprovado, cobrei dele a promessa. E recebi minha maior companheira de infância e parte da adolescência.
A bicicleta me permitiu uma liberdade com a qual pouco sonhara.
Santos era cidade plana. Possuir uma bicicleta dava a seu proprietário a possibilidade de percorrer praticamente toda a cidade a bordo da magrela.

O tempo passou. Voltei a ter uma bicicleta aos 38 anos. Morava, então, em São Paulo, perto do Parque do Ibirapuera. E ia lá passear sempre que o trabalho me permitia. Mas, por uma série de razões, essa bicicleta dos anos 80 foi paixão fugaz.

Chegado a Portugal comprei uma nova bicicleta. Com marchas, coisa que jamais experimentara. Ocorre que, além de já estar em meus 67 anos, tenho a aorta dilatada. O que não me recomenda esforços excessivos.

Essas duas últimas, portanto, não contam.

Hoje adquiri minha segunda bicicleta, uma ebike Smart.


É cara pra burro, mas minha aorta merece. Você pedala o tempo todo mas - quando necessário - com a ajuda do motor eléctrico.

As ciclovias de Bragança ganharam mais um utente!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cinquenta tons de idiotice

Assisti, no noticiário das 20 horas na RTP1, a uma matéria a respeito do livro As Cinquenta sombras de Grey (ou Cinquenta tons de Cinza, no Brasil).
É bom ir dizendo logo que não gosto de best sellers.
Como costuma afirmar Janer Cristaldo, se um livro agrada a milhões de pessoas, não pode ser bom. Afinal, não existem milhões de pessoas inteligentes no mundo  (vamos deixar de lado os livros que foram feitos para usar no sovaco, como a Bíblia. São os livros-desodorantes).
No caso do 50 tons, trata-se de livro que já vendeu dezenas de milhões de exemplares em dezenas de países.
E, diga-se, é uma porcaria de centenas de páginas.
Qual o mérito de ler um livro desses?
É por essa e por outras que não tenho lá grande simpatia por páginas na Internet (no Facebook, por exemplo) do tipo Eu amo ler.
Depende do que se lê.
Ler, assim, verbo intransitivo, não significa nada para mim. Há muito hipocondríaco que adora ler bula de remédio.
Para ver como é relativa essa paixão pela leitura, basta lembrar da quantidade de livros de auto-ajuda que as pessoas devoram.
Pior: lêem e publicam partes no Facebook e em blogues.
Daí que tanto faz: Eu amo ler ou Eu detesto ler. 
Tudo depende do que se coloca debaixo do nariz.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Corações de pedra, cérebros de... barro

No Diário de Notícias de hoje, o sr. Alfredo Barroso (que não se perca pelo apelido), comentador e fundador do PS, atribui aos executores da política de austeridade corações de pedra.
Como é já praxe nos textos que combatem a austeridade, nenhuma alternativa é proposta.
Mas o que me leva a comentar o artigo desse senhor decorre da minha estupefacção diante da cavalar ignorância do mesmo em relação a assuntos que ele mesmo traz à baila.

Diz ele: O seu ideário [o dos fanáticos neoliberais que estão no poder] está resumido na fórmula“D- L- P”, que significa: I) Desregulação ( da economia); II) Liberalização ( do comércio e indústria); III) Privatização ( das empresas do Estado). Há quem já não se lembre dos primeiros “laboratórios” do neoliberalismo: o Chile de Pinochet e dos Chicago Boys; o Brasil da ditadura militar e de Delfim Neto; a Argentina da junta militar e de Domingo Caballo.

Dizer que um governo como, por exemplo, o de Ernesto Geisel foi dado a privatizações é ignorar estupidamente o facto de que foi um governo cuja maior diversão foi a criação de empresas estatais.

Quanto a relacionar Delfim Netto aos neoliberais vem a ser asneira do mesmo calibre. É verdade que, quando foi embaixador do Brasil na França, Delfim  chegou a receber a alcunha de embaixador 10%.  Isso talvez o situe entre os neoliberais. O estado em que os socialistas deixaram Portugal parece indicar que  são simpáticos a   percentuais bem mais elevados.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

História do Brasil segundo Emir Sader

Nosso doutor em Lênin começa a contar essa história a partir de 1930. Até então, segundo ele, “a direita brasileira dispunha a seu bel prazer do Estado”. Tal como agora, diria eu, faz o PT.

A primeira maldadezinha vem logo no primeiro parágrafo. “Washington Luiz, carioca adotado pela elite paulista, como FHC – que afirmava que 'Questão social é questão de polícia' . Ou seja, como FHC (Fernando Henrique Cardoso) também é carioca que fez sua carreira política em São Paulo, tal qual Washington Luiz, tornou-se co-autor da famosa frase do presidente que ganhou mas não levou.

Como se verá adiante, o golpe de 1.964 instaurou uma ditadura. Já quanto ao Estado Novo, Emir passa batido: “Com o surgimento da primeira grande corrente de caráter popular, a direita passou a ficar acuada. A democratização econômica e social foi seguida da democratização politica, com o processo eleitoral consagrando as candidaturas com apoio popular.”

Mais de uma década de ditadura getulista transforma-se em “democratização econômica e social (…) seguida da democratização política.” Então, poder-se-ia dizer do golpe de 64 que foi um período – sei lá – de algumas vitórias no futebol seguido de abertura política, com anistia.

Sobre o período subsequente, o autor parece afirmar que as eleições de Dutra, Getúlio e Juscelino foram vitórias “populares”. Não deixa de ser verdade, já que a maior fatia dos votos conferia ao vitorioso a chancela do tal “povo”. Mas também é verdade que na eleição de Dutra havia um adversário do Partido Comunista que ficou em terceiro lugar. É de supor-se que o candidato do PC não representava a “direita”. Também na eleição de JK tivemos o eleito com 35,68% dos votos, contra 64,32% dos representantes da “direita”. A menos que o doutor Emir resolva estabelecer vínculo entre os demais candidatos e as “forças populares”: o general Juarez Távora (30,27% dados ao candidato da UDN, símbolo máximo da tal “direita”), o populista Adhemar de Barros (25,77% dados ao criador da tradição do “rouba mas faz”) e, last but not least, Plínio Salgado (8,28% dados ao candidato integralista, versão tupiniquim do fascismo).

Curioso, o que vem a seguir: Emir afirma que a “direita” só poderia ganhar caso conseguisse que prosperasse sua tese de que o voto de um médico ou de um engenheiro valesse dez vezes o voto de um cidadão qualquer. A tese, é óbvio, não resultou e – no entanto – a “direita” ganhou... Janio foi eleito.


O texto de Emir é mesmo um primor:

cada parágrafo desmente o anterior.

A direita, muito eclética, utiliza-se da ditadura militar, em seguida se vale de um “híbrido de ditadura e democracia” e instrumentaliza seus avatares Sarney (que Emir docemente constrangido evita citar por ser, agora, unha e carne com Lula), Collor e FHC.

Segundo nosso atilado analista, FHC levou o país a uma situação tão terrível que, a partir daí, o “povo” acordou de sua letargia e passou a eleger os baluartes de tudo que é bom e gostoso.

Sem outra saída, a “direita” passa de sua velha estratégia golpista, calcada nos militares, para uma estratégia que se baseia na tal de mídia e... em quem?, em quem?: no Judiciário.

O Judiciário passa a ser, empurrado pela mídia, instrumento das intenções golpistas da “direita” e – crime dos crimes! - condena os herois do PT à cadeia.

Como dizem meus conterrâneos: Valha-me deus! Esse Emir não conhece limites?
Vai passear na terra do ridículo até quando? 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Uma rua que faz jus ao nome

(clique nas fotos para ampliá-las)

A rua Amália Rodrigues, em Bragança,



estende-se da av. da Dinastia de Bragança, da qual é travessa,


até a rotunda dos touros, oficialmente Rotunda do Lavrador Transmontano.


São uns 100 metros que dignificam a grande fadista.









segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O fujão indignado

Quase chegado aos 70 anos, poucas coisas me tiram do sério.
Uma delas liga-se a um artigo de Emir Sader, que li hoje em seu blogue, no qual pergunta aos ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) onde é que estavam durante a ditadura.


Tudo isso por estar em campanha aberta de desmoralização do STF por este ter condenado à prisão alguns líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) responsáveis pelo chamado mensalão.

Ora, onde estavam esses senhores durante a ditadura deveria ter sido preocupação dos mesmos líderes do mesmo PT quando Lula e/ou Dilma os indicaram para o cargo de ministro do STF (dos 11 ministros, 8 são indicações deles).

Onde estavam esses senhores eu não sei, nem me interessa. O que sei é onde estava Emir Sader.
Ele militava, assim como eu, no clandestino Partido Operário Comunista (POC) e, ao primeiro indício de que corria o risco de ser preso, fugiu para Paris. Lá ficou até quando lhe apeteceu. Enquanto isso, ficámos nós a conviver com a bancarrota da visionária esquerda revolucionária, até sermos presos. Que eu saiba, ele nunca passou uma noite em prisão. Tortura, nem pensar.

A indignação dele sabe a mea culpa.

sábado, 10 de novembro de 2012

Fascistas elegem prefeito do PT em São Paulo

Outro dia, a filósofa Marilena Chauí gastou saliva para provar que a classe média paulistana é fascista (ou protofascista. O proto-   costuma ser usado para amenizar o xingamento...).
É verdade que não teve a menor preocupação em definir o que entendia por classe média. Antigamente, os marxistas delimitavam classes sociais pela maneira como se inseriam no modo de produção.
Pelo que entendi da palestra da doutora, classe média, para ela, é o grupo social das pessoas que ocupam duas ou mais vagas com um único veículo ao frequentarem um estacionamento.
Com definição ou sem definição, a dita celebridade provou que a tal classe média paulistana é fascista (para ser exato, disse que costuma dizer que a cidade de São Paulo é protofascista. Mas se deteve particularmente na caracterização dessa ideologia na classe média).

Daí resulta explicado por que a população paulistana elegeu, ao longo dos últimos anos, tantas porcarias. Diga-se que, para ela, as porcarias são como os tomates dos quais é feita a massa de tomates industrializada: são seleccionadas. Serra, Kassab e Pitta são porcaria. Já Maluf é engenheiro, logo não porcaria. Marta e Erundina, nem pensar. Mas essas últimas pérolas já constam de outra palestra da verborreica professora.

Tudo isso foi pacientemente ministrado a uma plateia de estudantes à véspera das eleições para prefeito, agora em 2.012, em um momento em que o candidato do PT estava lá atrás na preferência do distinto público (3º lugar). Previa-se um(a) segundo(a)  turno(volta) entre Celso Russomanno e José Serra.
O primeiro é daqueles que (desconfio) se acha - ele mesmo - uma porcaria. O segundo, claro, é porcaria - para o PT - por questão de princípio.

Aliás, um breve mas necessário parêntesis: discordo dos que pensam que o PT não tem princípios. O problema do PT é não ter fim.

Mas voltemos à filósofa  Chauí. Taxar a tal classe média paulistana de fascista tinha o objetivo de explicar por que o candidato/poste do ex-presidente em exercício Lula não conseguia crescer na preferência popular.

Pois bem: no final o poste foi eleito. Ou toda  - e apenas - a classe média votou em Serra ou os fascistas ajudaram a eleger o prefeito do PT.
Ou pode ser que a classe média tenha aprendido a estacionar direitinho.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dízimo do desejo

Fui criado em igreja na qual o hábito de dar o dízimo era estimulado nos fieis. Mas dízimo, no caso, era a décima parte dos rendimentos mensais do crente.

Agora há pouco, liguei a TV e descobri que a ZON colocou novos canais à minha disposição, entre eles o canal da Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago. Aliás, agora se trata da World Church of God's Power, ok? Notem que não coloquei aspas no apóstolo. Os fieis de denominações mais tradicionais, particularmente os católicos, costumam protestar contra os títulos que se atribuem os Edires Macedos, Valdemiros Santiagos, R. R. Soares, casais tipo Sonia e Estevam Hernandes  etc etc. Ora, ora: o tal Saulo, que transformou-se em Paulo, resolveu - por conta própria - tornar-se apóstolo e a coisa pegou. E olha que ele nem conheceu Jesus pessoalmente, a não ser em suas alucinações. Depois de apóstolo virou santo e, mais recentemente, nome de metrópole... Por que cargas d'água o carismático Valdemiro Santiago não pode dizer-se apóstolo? Ao menos não é feio como era Paulo, que era baixinho, de pernas arqueadas etc e tal. Mas volto ao dízimo.

O pastor (bispo?) que falava a um público de mais de 6.000 fieis quando sintonizei o canal, explicava como deveria ser preenchido o envelope no qual deveria ser depositado o dízimo. Era preciso preencher nome completo etc e tal. Mas o mais importante: o dízimo deveria ser 10% do rendimento mensal que o fiel gostaria de receber. E dava exemplo:
- Digamos que você queira receber R$ 5.000,00 no mês. Deve, então, dar R$ 500,00 de dízimo.

Trata-se de mais um avanço na exploração do desejo.

sábado, 3 de novembro de 2012

Sinais

São sinais ainda ténues, é verdade, mas anunciam a aproximação de melhores dias para Portugal.
Taxa de desemprego começa a cair. Já um banco português volta aos mercados, sem aval governamental.

Se é facilmente compreensível a angústia e revolta de muitos diante das medidas de austeridade, é preciso também reconhecer:
1. não há alternativa visível à austeridade a não ser na fantasia de uma esquerda jejuna do poder ou no saudosismo sem memória de viúvas de Salazar;
2. não leva a nada apontar exorbitâncias dos membros de governo ou de seus protegidos. Tais posturas dos detentores actuais do poder são moralmente condenáveis mas - caso eliminadas - isso não tiraria Portugal da crise. Apenas minoraria - quem sabe! - a amargura dos que entendem que um mundo em que todos fossem anjos seria um paraíso.

Podem reclamar à vontade. Isso é salutar.

Mas deixem o actual governo executar seu programa. Qualquer desvio de rota, agora, cheira a suicídio.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Reserva

Estávamos, até hoje, a receber a visita de um casal amigo. Cada dia procurávamos fazer um programa diferente e interessante para que eles conhecessem um bocadinho de nossa região.
Fomos à Feira da Castanha, em Vinhais, fomos a Passos, claro, a Mirandela, a Zamora.
Ontem resolvemos levá-los a Chaves, no distrito de Vila Real, para que conhecessem as termas de lá.
O almoço, pensei, seria no Leonel, restaurante junto ao aeródromo de Chaves, em que o pernil é uma das especialidades.
Acontece que o Leonel é restaurante muito concorrido. Se você chega poucos minutos depois da abertura para o almoço, já não encontra lugar disponível.
Previdente, resolvi telefonar para reservar quatro lugares. Expliquei à senhora que atendeu ao telefone que éramos dois casais, que iríamos de Bragança e - por isso - chegaríamos um tanto mais tarde, lá pelas 14 horas. Ela perguntou o que queríamos almoçar. Como não sabia qual seria a escolha do casal de amigos nossos, mas sabia que o pernil de lá é muito bom, decidi por todos nós: queríamos pernil.
A doce senhora explicou que nos guardaria dois pernis pois era prato que acabava logo.
Dei meu nome e comecei a sonhar com o pernil.

Chegámos ao Leonel exactamente às 14 horas. Havia gente a transbordar da porta de entrada.
Confiante em minha reserva, entrei e me dirigi ao indivíduo que aparentava ser o organizador de tudo.
- Boa tarde. Tenho uma reserva...
- Ah! os dois pernis, não? Estão guardadinhos! Mas terão de aguardar uma horita.
E me forneceu um papelucho com uma anotação incompreensível.
- Mas fiz reserva! protestei.
E ele, impassível:
- A reserva é da comida. Não da mesa.

Volto lá, talvez, na próxima encarnação.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Foi bom negócio?

Estava eu no 2º ano do curso primário. Tinha 7 anos. Ia a pé para o grupo: Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo, em Santos.
Surgiu, naqueles tempos, um álbum de figurinhas (em Portugal se diz álbum de cromos [*]). Cada página trazia um dos times de futebol que disputavam o Campeonato Paulista (não havia, ainda, o campeonato brasileiro de clubes). Havia, como em todos os álbuns da época, as figurinhas carimbadas, mais difíceis de aparecerem nas balas [**] nas quais vinham as figurinhas. Sim, elas vinham enroladas em balas. Umas balas horrorosas, mas quem se importava?
Nesse álbum a que me refiro surgiu uma inovação: a figurinha substitutiva. Ela trazia a foto de algum estádio de futebol ou algo assim. Já não me lembro bem. O importante é que ela servia para substituir qualquer figurinha que faltasse em uma página. Não me lembro, também, se uma substitutiva podia ser usada em qualquer página ou se havia uma substitutiva para cada página.
Meu álbum era um tanto rarefeito de figurinhas porque meus recursos, digamos assim, eram pra lá de escassos.

Num belo dia (e põe belo nisso) minha tia Carola, que nos visitava, me deu uma pequena fortuna (de meu ponto de vista, claro) para que eu gastasse como quisesse. Fui ao bar da esquina e comprei tudo em balas de figurinhas. Primeira consequência: meu álbum encheu-se de cores. Segunda: meu bolo de figurinhas repetidas, usadas para trocas na escola, engordou significativamente. Terceira consequência, não necessária mas maravilhosa: consegui uma substitutiva!

O prazer que senti ao me ver possuidor de nada menos que uma substitutiva foi maior do que o prazer de muitos orgasmos que tive ao longo da vida.

Dia seguinte, no caminho para a escola, fui negociando com os colegas que encontrava. Como sempre, cada um consultava o bolo de figurinhas para troca do outro e verificava quais lhe interessavam. As trocas eram realizadas enquanto se caminhava.

Nesse dia eu tinha um trunfo inesperado. Anunciei que era o possuidor de uma substitutiva. Um dos colegas se mostrou mais interessado e ofereceu, sei lá, 20 figurinhas em troca. Pedi, digamos, 60. Fechamos, penso que foi isso, em 40.

Ao chegar em casa, depois das aulas, contei a minha irmã Léa a fantástica troca que fizera. Ela quase cometeu fratricídio.

O estrago já estava feito.

Mas terá sido realmente um estrago? Claro que me faltam dados mais precisos sobre o álbum, coisa e tal.
Mesmo que os tivesse, meus conhecimentos de cálculo de probabilidades não seriam suficientes para calcular quantas figurinhas comuns equivaleriam a uma substitutiva.

Vou morrer com essa dúvida.


Actualização (29/10/2012): Segundo me informa o Bic Laranja, nos comentários, 
[*] em Portugal diz-se caderneta de cromos.
[**] E as balas são rebuçados.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Falta de assunto

No Brasil, o fim da novela Avenida Brasil nesta sexta-feira arrisca deixar o povo sem assunto. Pelo menos é o que afirma a página de humor O Sensacionalista, que se diz Isento de Verdade.

Isso me lembrou alguns episódios de um longínquo passado. Numa época em que eu nem TV tinha em casa, um colega de trabalho insistia em puxar assunto, toda segunda-feira, sobre o programa Fantástico, da rede Globo, que ia (e ainda vai...) ao ar aos domingos à noite.

Na mesma empresa, a Promon Engenharia, trabalhava um engenheiro, o Benjamim Ernani Dias (BED). Super engenheiro, teve papel de destaque no projecto de obras como, por exemplo, a ponte Rio - Niteroi e a casca do reator de Angra (à prova de impacto de aeronaves).
Pois bem. BED, que trabalhava no escritório da Promon no Rio de Janeiro, ficava bastante deslocado no ambiente de trabalho toda segunda-feira. O pessoal em peso, nas horas de cafezinho, discutia os jogos de futebol do domingo. BED, craque em cálculo de estruturas, era analfabeto em futebol.
Um dia tomou a decisão: ia reverter esse desconforto. E fez a coisa à sua maneira. Foi a uma livraria e comprou alguns livros sobre futebol.
Passou um fim de semana a estudar aquele material.
Segunda-feira seguinte, lá estava ele na Promon, pronto a discutir futebol com os colegas. Conversa vai e vem, ele resolveu tirar uma dúvida:
- Gente, eu só não entendo uma coisa: quando o juiz marca uma falta, a barreira que a defesa forma fica posicionada entre o goleiro e a bola ou entre a bola e o cobrador da falta?

Não sei o fim dessa história, mas adivinho que a reacção dos colegas o fez desistir das discussões sobre futebol.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Devagar com o andor

A situação portuguesa é crítica. Sim.
Mas atenção!  O clima, nas matérias dos jornais, é de fim de mundo. O Público de hoje fala nos juros da dívida terem chegado à estratosfera.
Por exemplo:
Se, antes de entrar no euro, Portugal conseguiu sempre manter o nível de despesas com juros abaixo dos 3% do PIB, em 2011 esse valor subiu para 4% e deverá atingir os 4,2% e os 4,3% em 2013.  (pag. 4)

O gráfico abaixo, constante da mesmíssima matéria (pag. 4), indica outra situação:

(clique na figura para ampliá-la)

Visto com cuidado, o bicho não parece ter tantas cabeças assim. Se ainda sei ler um gráfico, os juros da dívida, antes da entrada de Portugal no euro (2.002),  chegaram a 8% do PIB. O patamar a que chegaremos em 2.013 só foi alcançado em 1.996. E no sentido descendente! Antes de 96 Portugal conviveu largos anos (mais de uma década!)  com juros da dívida, em percentuais do PIB, muito maiores.

Já há gente, aqui ou acolá, a ter saudades de Salazar. Paciência. Sempre há muitos que preferem ser tutelados a usufruírem de liberdade.

Liberdade exige que se pense. Que se escolha. Coisa mais cansativa e desagradável.

Que venha o Salvador!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Agora as castanhas. Depois o Natal

Passadas as vindimas, vem aí a colheita das castanhas. Os castanheiros já estão carregados de ouriços.

(clique nas figuras para ampliá-las)

E os ouriços começam a abrir.


Mal posso esperar para saborear uma mousse de castanhas!


Em seguida virão as festas natalinas, com toda a comilança que acarretam.
Em particular, o bolo rei.


Comece a pensar em reservar abóboras para fazer essas tiras coloridas que enfeitam o bolo.


E, assim, vamos:
De festa em festa supera-se a crise.
Ou, se preferir, de crise em crise esperam-se as festas.

domingo, 14 de outubro de 2012

Vindimas em Passos de Lomba

Ontem, 13 de Outubro de 2.012, saímos de Bragança quase às 13 horas para ir presenciar as vindimas em Passos.
Quando lá chegámos, o primo Alípio - que estava em casa por ainda recuperar-se de operação ao joelho - nos indicou o lugar onde minhas primas e muitas outras pessoas amigas e/ou parentes vindimavam.
Lá fomos. Já haviam colhido as uvas e voltado à casa da prima Zelinda. Pude, apenas, fotografar as uvas colhidas no terreno vizinho e ainda não transportadas dali.

(Clique nas fotos para ampliá-las)

Cada saco plástico desses pesa pra mais de 50 quilos.



Voltámos à casa da Zelinda e já logo chegou a carrinha com os sacos de uvas colhidas.



As uvas são, então, levadas em baldes ao lagar e deitadas à máquina que as mói e as despeja no lagar.


Enquanto isso, começa a colheita das uvas à volta da casa do Alípio e da Zelinda.



E lá vai a Zelinda levar um balde ao lagar (e o fotógrafo a atrapalhar...).


Com a felicidade estampada no rosto, Antenor esmaga as uvas. Cumpre a dupla tradição de preparar o vinho e de ajudar os vizinhos.


E as uvas continuam a chegar.


Mais um vem ajudar a pisar as uvas. A máquina as esmaga, mas não o suficiente.
Isso ficará a fermentar, aí, por uns 7 ou 8 dias. Depois o vinho será separado do bagaço. Este passará pela destilação para gerar a bagaceira.


O primo Arnaldo leva logo dois baldes.


E prossegue a colheita.



Eis as rainhas da festa.


Agora começa a limpeza geral. Comecemos pela máquina de moer as uvas.



Os sacos de uvas, já lavados, são postos a secar.


Os baldes não escapam à lavagem.


Por fim, Zelinda prepara o lanche.


Eu, que nada fiz senão fotografar, não mereceria o lanche. Portei-me como um legítimo militante do Bloco de Esquerda (BE): os outros a trabalhar e eu a fazer a análise da conjuntura.

Mas já decidi: como não posso carregar sacos e baldes de uva (minha aorta dilatada não o permite), nas próximas vindimas irei pisar as uvas. Com isso, espero ser promovido do BE ao PCP (Partido Comunista Português), especialista em bater os pés.

sábado, 13 de outubro de 2012

Comentário da Maray

A Maray, do blog Che Caribe, fez o comentário abaixo sobre meu post A Carta de Genoíno. Resolvi publicá-lo como post, pois acho o testemunho dela muito valioso. Ao final, comento o comentário dela:

Vou discordar, Alberto. Bronca não é ferramenta de otário. Bronca é discordar e como já dizia aquele: a unanimidade é burra...
Genoíno, que eu também conheci muito bem, chegando a trabalhar com ele e fazer inúmeras campanhas é um sujeito sério. Messiânico, talvez, vaidoso por vezes. Porque além daquela vaidade feminina dos adornos, existe a vaidade política, daqueles que adoram aparecer nos jornais, nas entrevistas. Fernando Henrique é outro. Mas Genoíno é um cara sério. Com ele aprendi, mais do que com qualquer outra pessoa, a respeitar idéias diferentes. Eu nunca fui a favor de luta armada, não engolia o centralismo democrático, adorava o livre arbítrio ( ainda adoro), era, enfim, uma militante pouco intelectualizada, sem paciência pra ler todos os Lenin e Marx que deveria, uma ovelha cinzenta, já que nem negra jamais fui. Mas ia com ele, muitas vezes servindo de motorista, nas reuniões de bairros distantes, pelo interior e via como ele tratava e falava com as pessoas. E aprendia.
O Genoíno era capaz de discutir política com Curió e Erasmo Dias, tentando trazer as coisas pro nível do humano e do direito. O Genoíno é um cara assim.
Mas é também o cara que acha que questões financeiras são questões menores, o cara que diz só gostar da "grande política", esquecendo-se que não existe grande política sem as pequenas ações.
Naquela época, em que eu militava ele dizia que os fins jamais justificam os meios. Acho que ele não pensa mais assim. Mas ele é um cara sério. A ser respeitado como ser político. Que errou e pagou pelo seu erro de "acomchambrar" ( para usar a gíria da época) com os corruptos, com os que usam de meios espúrios pra chegar e manter o poder. E quem fecha os olhos pra essas coisas, saí chamuscado e muito. A avestruz que enterra a cabeça na areia, nem por isso deixa de ser atropelada pelo caminhão.
Ele está ressentido, como se estivessem chamando-o de ladrão no nível pessoal, coisa que ele nunca foi. É talvez o político de destaque mais "pobre" que conheço.
Mas, na minha opinião, bem modesta, é verdade, não existe nível pessoal e nível político. O homem é uma coisa só.
O Genoíno é um cara sério, que errou feio, mas continua pra mim sendo um cara sério.
Tem a minha eterna gratidão, de companheira, de aprendiz, de amiga.
E este julgamento acredito ser didático. Espero que as coisas melhorem daqui pra frente.
Desde que as pessoas entendam que política é como a vida: a gente erra, a gente faz cagada, mas a gente tem que ter ética sempre.
Acho o Genoíno um cara ético que se afastou de caminhos que ele mesmo me ensinou a trilhar.
Porque, como já disse várias vezes, apesar de tudo, ele é um cara sério.

PS: desculpe o longo comentário, mas vc tb é meu amigo e saberá entender esta minha necessidade.



Maray: em nenhum momento eu afirmei que Genoíno não é um sujeito sério, seja lá o que seja isso. Apenas quis dizer que o facto de ele ter sido condenado não o autoriza a achincalhar o STF e a produzir uma enxurrada de mentiras para justificar a proclamação de sua inocência. Ele perdeu o jogo. Paciência. Se é um homem sério, deveria aceitar a derrota com dignidade. E não dizer que foi condenado graças à teoria do domínio funcional do fato, que "nessas paragens de teorias mal-digeridas se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida". Ora, não sou nem bacharel em direito mas assisti ao julgamento. Não creio que Genoíno tenha nível intelectual para chamar os juízes do STF de levianos e ignorantes. Aliás, ele convenientemente se esquece que o próprio ministro Dias Tofolli, ex advogado do Partido que ele, Genoíno, presidia, o condenou.

Continua Genoíno: "Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT". Ora, ora. Ele, "na circunstância de presidente do PT" assinou contratos de empréstimo comprovadamente fraudulentos e suas prorrogações. Que provas seriam necessárias além dessas (mesmo assim, diga-se, há várias outras)? Curioso: José Dirceu não queria ser condenado por nunca ter assinado nada. O Genoíno também não queria ser condenado apesar de ter assinado tudo...

Quanto ao património modesto que ele diz possuir, trata-se de um problema de administração familiar. O facto é que, durante uns 20 anos ele, como deputado federal brasileiro, usufruiu de um dos maiores rendimentos pagos a políticos em todo o mundo. Se ele destinou boa parte dessa grana para benemerência, louvado seja. Mas ninguém tem culpa disso. Além da questão de que ele foi condenado por corrupção activa...

De resto, tudo que ele diz sobre a "campanha de ódio contra o meu partido" é a lengalenga petista de sempre. Previsível mas nem por isso menos lastimável.

Em suma, Maray: Genoíno praticou alguns actos capitulados no Código Penal brasileiro e foi condenado por isso. Condenado tendo todo o direito de defesa e em decisão fortemente fundamentada. Em processo do qual participaram dez juízes, oito dos quais indicados por Lula ou Dilma.

Penso que ele teria duas atitudes possíveis: acatar a decisão calado ou deixar o país. Afinal, o bom cabrito não berra mas pode empreender fuga ao sentir-se perseguido.

Quanto a seu testemunho, penso que ele contribui - e muito - para formar-se um quadro da personalidade inteira do homem Genoíno, com seus méritos e com suas culpas.

Obrigado por isso.

A carta de Genoíno

Conheci José Genoíno nos idos de 1.970. Eu tinha vida dupla: era professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) e, paralelamente, presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da USP, isso em função de ser aluno do curso de Filosofia, ou, para ser mais exato, por ser militante do Partido Operário Comunista (POC).

Genoíno era, em parceria com Honestino (posteriormente, ao que consta, assassinado pela ditadura), dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE). A dupla corporificava, na presidência da UNE, a coligação PCdoB – AP (Partido Comunista do Brasil e Ação Popular).

Quanto a Honestino, eu o vi poucas vezes. Com Genuíno interagi um bocadinho mais. Ele me parecia um indivíduo de baixíssimo nível intelectual e de visão política nada acima do populismo mais rasteiro.

Pouco mais adiante, ele seguiu para a guerrilha do Araguaia, da qual resultou sua prisão.

Quanto a mim, fui também parar na prisão, mesmo sem ter ido a guerrilha alguma...

Anos mais tarde, Genoíno, já no Partido dos Trabalhadores (PT), candidatou-se a deputado. Foi eleito. E me deixou bastante impressionado pelo que me pareceu ser uma evolução política enorme.
Passei a votar nele nas várias eleições seguintes.
Aliás, durante muitos anos fui adepto daquela teoria que afirma que o poder é um violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita. Eu costumava votar nos partidos mais à direita, no espectro político brasileiro, para os cargos executivos. E votava no pessoal mais à esquerda para os cargos legislativos. Meu raciocínio era o de que os primeiros – na maioria das vezes – sabiam governar. E os segundos era úteis no papel de críticos dos primeiros. Foi durante esse período que votei várias vezes em Genoíno.
Mais tarde passei a anular todos os votos, sistematicamente.

Genoíno, agora, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e pode ainda acumular a condenação por formação de quadrilha.

Diante desse quadro, apresentou à nação uma Carta Aberta ao Brasil.

Tudo indica que voltará à prisão, 40 anos após ser preso pela primeira vez.

(Quase) todo mundo sabe que marxistas não dão a mínima bola para a democracia burguesa. Apenas jogam o jogo dela como tática para avançar rumo ao poder.

Jogar implica perder ou ganhar.

Genoíno, desta vez, perdeu. Sua carta parece indicar que não é bom perdedor.
Devia aprender com o povo, que ele tanto parece venerar:

Bronca é ferramenta de otário.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

De tomates, feira e aviões

Aí estão os tomates que nos deu a prima Zelinda, de Passos. Cada um pode avaliar o tamanho deles como lhe aprouver. São como amoras? Ou do tamanho de abóboras?

Vamos, então, compará-los. Aos mais conservadores, aí vai uma comparação com uma rolha de garrafa de vinho.

Para os que se equilibram em algum ponto intermédio, que tal a comparação com uma xícara de café?

Já para os mais moderninhos, cá estão os tomates comparados a um telemóvel.

O que interessa é que esses tomates são deliciosos, qualquer que seja seu tamanho.

Hoje fomos à feira de Bragança. Ela acontece nos dias 3, 12 e 21 de cada mês, desde que tais dias não caiam em fim de semana, caso em que a feira passa para a segunda-feira seguinte.

Já toda a gente começa a acumular lenha para o inverno que vem por aí.

Mas as flores continuam a enfeitar o mundo.

Mas há de tudo na feira: os animais...

...os utensílios agrícolas...
...as oliveiras...

...os fumados...

...os presuntos...

...e a marca dos aviões no céu, muito acima da feira: