terça-feira, 30 de agosto de 2005

domingo, 28 de agosto de 2005

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

LuLLa is gone


Stephen Collins Foster (1.826 – 1.864) compôs muitas músicas, das quais a mais conhecida talvez seja Oh! Susanna. Mas penso que a mais atual, pelo menos em termos de Brasil, é esta, de 1.858.
O estribilho é este:
Lula, Lula, Lula is gone;
With summer birds her bright smiles
To sunny lands have flown.
When day breaketh gladly
My heart waketh sadly,
For Lula, Lula is gone.

A minha má tradução podia ser melhorada e adotada como hino do PT:
Lula, Lula, Lula se foi;
Com os pássaros do verão, seus sorrisos brilhantes
Fluíram para terras ensolaradas.
Quando o dia irrompe alegremente
Meu coração acorda tristemente,
Pois Lula, Lula se foi.

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Entreouvido no trabalho (I)


Quando você convida alguém para entrar na sua intimidade, você o faz em função das qualidades da pessoa.
Mas o que entra são os defeitos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

As duas versões da carta testamento


Em 24 de agosto de 1.954, o presidente Getúlio Vargas suicidou-se. Como para tudo no Brasil, existe mais de uma versão para a carta testamento. Ele teria escrito um bilhete mais de caráter pessoal. A famosa carta testamento teria sido escrita pelo professor Maciel Filho, com intenções nitidamente políticas.
É nessa versão glamorizada que se lê a famosa frase:
"Saio da vida para entrar na História".
Na situação atual, caso alguém produza uma carta-despedida para LuLLa, a frase correspondente a essa poderia ser:
"Saio da História pra cair na vida".

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Poema do abdômen total


Fígado tópico,
dimensões discretamente aumentadas,
bordos rombos.
Ecotextura grosseira
com aumento da ecogenicidade
E atenuação do
feixe sonoro posterior.

Vesícula biliar de paredes finas,
Sem imagens calculosas.

Vias biliares intra e extra hepáticas
sem dilatação.
Colédoco com calibre menor que 0,5 cm.

Pâncreas com média repleção
e conteúdo anecogênico.

Baço com dimensões conservadas.
Ecotextura homogênea,
calibre normal da veia esplênica.

Rins tópicos, dimensões habituais e simétricas,
ecotextura cortical conservada
com relação córtico medular e
complexo ecogênico central
preservados.

Bexiga com média repleção e
conteúdo anecogênico.

O poema acima foi escrito pela Dra. Fernanda Camera, inspirada em meu abdômen. Filhinhos, na minha idade, um ultra-som bem sucedido é poesia pura. Pode crer. A modéstia me impede de reproduzir aqui o que ela escreveu sobre minha próstata. Inesquecível.

domingo, 21 de agosto de 2005

Nossa pequena grande imprensa


Terminou neste instante a entrevista coletiva do ministro Palocci sobre as acusações que lhe foram feitas por seu ex-assessor Buratti (isso parece mais diretoria do Palmeiras).
Ele deu banho. Matou a pau.
Nossa tão valente imprensa mandou para fazer perguntas ao ministro uma porção de garotos e garotas que tremiam visivelmente ao fazer as perguntas. Gaguejavam, a voz fraquejava, deviam todos estar suando frio.
Com raríssimas exceções (talvez duas) todos eram famosos desconhecidos do público. Onde estavam os medalhões da imprensa?

sábado, 20 de agosto de 2005

Vonículo


Foi meio por acaso. Estava folheando um livro, salvo engano era o volume I das Obras Científicas, Políticas e Sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. A certa altura, no início de um discurso, ele diz:
Não espereis, Senhores, de mim frases pomposas, nem rasgos de Eloqüência: a História Literária só requer veracidade e lhaneza; (...)
Não me lembro se foi nesse ponto. O facto é que, no meio do texto, me apareceu palavra estranha. Eu nunca a tinha visto. Verdade que estava um tanto apagada. O exemplar de que disponho, das Obras de José Bonifácio, é velho, carcomido. Certeza, mesmo, só quanto ao começo do vocábulo: voníc. O restante, meio borrado, estava ilegível.
Não sei que impulso me possuiu. Resolvi cuidar daquela palavra. Durante semanas a alimentei. Ela retomou sua força, recuperou-se da aparente anemia. Agora era claro: vonículo. Procurei nos dicionários. Não lhe conhecia o significado. Nada encontrei.
Toda palavra tem sua denotação. Palavra sem significado é continente sem conteúdo. Denotação sem palavra é o indizível.
Qual a denotação de vonículo? Acabei por aceitar que não existia. Observava seus passeios pelos livros de minha biblioteca. Sua solidão era pungente. Nada havia que eu pudesse fazer.
Um dia dei por sua falta. Deixou apenas um curto e enigmático bilhete. Nele mencionava ter conhecido um significado perfeito. Amor à primeira vista.
Nem para esperar que eu o conhecesse. A ingrata.
Continuo sem saber. Nunca saberei, parece.
Vonículo?

terça-feira, 16 de agosto de 2005

A festa dos eus


- Cara, quanta gente! Não podia imaginar uma coisa dessas. Olha só: nem enxergo o fim da mesa, de tão comprida.
- Pois é. E repara como são diferentes, muitos deles. Alguém poderia pensar que deveriam ser todos quase iguais, como gêmeos, mas não. Olha só aquele ali. O quarto, à direita. Todo certinho, todo janota.
- É mesmo. Quem é o cara?
- Quando você tinha dezenove anos, lembra que o Clóvis, teu colega de bancada no laboratório de circuitos eletrônicos, tinha aquela brincadeira de te oferecer um cigarro sempre que ia acender um? Ele sabia que você não fumava. Por isso mesmo, sempre oferecia. E um dia você aceitou, lembra?
- Claro que lembro, porra. Depois disso, fumei mais de trinta anos.
- Então. Esse cara foi a tua opção de não aceitar nunca a oferta do Clóvis. Jamais deu uma tragada. E, a partir de então, radicalizou: nunca ingeriu uma gota de bebida alcoólica, acho até que virou vegetariano.
- Puta cara chato. Deve ser um saco, conversar com ele. Ainda bem que sentou longe. E aquele lá. Quase em frente ao janota. O cara tem idade pra ser meu pai.
- É. Parece. Mas, como todos, tem a tua idade, claro. Aconteceu que, quando você começou tua militância política ele preferiu não entrar nessa. Continuou trabalhando na USP, fez carreira acadêmica. Sabe como é. Quase todo cientista fica com jeitão de velho meio precocemente. Os caras não se cuidam, não ligam pra aparência. Talvez seja isso. Ou, então, isso de puxar muito pelo cérebro envelheça as pessoas. Sei lá. O cara é meio desligadão, pode crer.
- Não sei não. Meu cunhado é matemático e parece mais novo que eu. Esse aí deve ter aprontado algumas, isso sim.
- Por falar em aprontar, repara naquele lá, tomando guaraná. Aquele não bebe porque é pastor.
- Pastor?
- É. Quando você saiu da Igreja Baptista ele preferiu ficar. Teu pai tinha morrido havia pouco tempo, lembra? A Igreja lá de Santos mandou o garoto pro seminário e ele virou pastor. Casou com uma namoradinha que ele tinha lá na Igreja e esquentou cadeira por lá mesmo. Em Santos. Está lá até hoje. Nem sei como ele topou vir a esta reunião.
- É. É um dos poucos que está tomando refrigerante.
- Bom, menos mal. Pelo menos não é como o janota, que só bebe suco natural.
- Verdade. Por falar em namoradinha, quem é o cara que casou com aquela minha noiva, a Sara.
- Ah. Não dá pra ver direito, daqui. Ele está sentado lá longe. Mas é político. Desses, de mensalão. Lembra do teu quase futuro sogro? Lembra que ele era todo enturmado com esses partidos de aluguel? Pois é. O genro entrou na dele. E parece que se deu bem. Tem sempre uns casos, por aí, mas continua casado com a Sara.
- Agora é que me liguei. Estão aqui todos os que ficaram com as mulheres das quais me separei. Não é à toa que tem tanta gente.
- Seu sacana.
- Brincadeirinha, brincadeirinha.
- Pra contrabalançar tua brincadeira, deixa te alertar: tem muitos que não estão aqui porque já morreram.
- Precisava falar nisso? Corta essa.
- Tá vendo aquele lá, barrigudão, bonachão? Aquele foi o que levou a sério o teu sonho de ser jogador de futebol. Ta certo que foi um jogador apenas medíocre. Mas curtiu à beça.
- Pô, cara. Taí. Esse eu invejo.

O conto acima é - propositadamente - um esboço. Trata-se do que poderia ser chamado conto Do it yourself (Faça você mesmo), no estilo daqueles manuais de carpintaria doméstica. Minha sugestão é de que você aproveite uma tarde de sábado ou uma daquelas noites em que todo mundo já foi dormir, sente-se em uma poltrona confortável, talvez com um cálice de cognac ao lado, e desenvolva A Festa dos Eus toda sua, da sua vida. Nem é preciso escrever. Apenas imagine. Faz bem e não custa nada.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

A profissão de bola quadrada


Uma das conseqüências desagradáveis da atual crise política brasileira (Que crise?!?, diria LuLLa) é o que se pode chamar de décima primeira praga do Egito. Um enxame de cientistas político(a)s assola o debate. Agora há pouco mesmo, o Blog do Noblat postou um comentário da cientista política Lucia Hippolito intitulado “Ninguém precisa perder o sono”. Nele, a cientista política esclarece:
(...) Mas o artigo seguinte [da Constituição Federal], o 81, afirma com todas as letras que, se a vacância dos cargos de presidente e vice-presidente ocorrer nos dois últimos anos do mandato, serão convocadas eleições dentro de 30 dias.
Estas eleições serão indiretas. O presidente e o vice-presidente serão eleitos pelo Congresso Nacional e completarão o mandato.
Assim, na hipótese remota de Lula e José Alencar serem afastados como resultado de um processo de impeachment, o máximo que pode acontecer é o país ter Severino Cavalcanti como presidente da República por 30 dias.

O tal Artigo 81 da Constituição Federal reza:
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei
§ 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

Essa expressãozinha “na forma da lei” é que fez a cientista política enfiar o pé na jaca. Essa lei ainda não existe. Daí, percamos novamente o sono.
Eu só queria saber quem inventou essa história de cientista político. Só consigo entender essa expressão em duas situações: quando um cientista é eleito pra algum cargo no Executivo ou no Legislativo e quando um político se forma em algum ramo da ciência.
Fora disso, é bola quadrada.

Regra de três simples


O então secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Sílvio Pereira, recebeu de um empresário um Land Rover. O tal empresário alegou que presenteou Sílvio graças à amizade que os une.

O presidente de honra do Partido dos Trabalhadores e presidente da República, LuLLa, recebeu do diretor presidente do Sebrae (entidade de apoio às micro e pequenas empresas), indicado para o cargo por ele, o pagamento de dívida que tinha com o Partido. O tal diretor presidente alegou que presenteou LuLLa graças à amizade que os une.



(Sílvio Pereira pediu desligamento do Partido e sumiu.
LuLLa se diz indignado e traído.)


Em tempo:
Que eu saiba, nenhum filho de Sílvio Pereira (se é que ele tem algum) ganhou empresa de presente.

sábado, 13 de agosto de 2005

Ainda LuLLa


Elementar, ele mentir.

Quem traiu LuLLa


Estão todos exigindo que LuLLa diga quem o traiu. É justo. Afinal, se ele se confessa traído, queremos saber de onde vem tal traição.
Um pouco de atenção aos factos revela o traidor.
Enquanto todos éramos informados das lambanças de Dirceu, Delúbio e Valério, LuLLa nada disse.
Ele se diz traído agora, dia seguinte ao do depoimento de Duda Mendonça.
Todos os outros, mesmo Bob Jeff, o preservaram.
Duda não.
O traidor é ele.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Avanços da ciência


A ciência já descobriu como utilizar células de cérebro de porco para implantar em cérebros humanos.
Logo, logo, conseguirá sintetizar o Espírito de Porco em laboratório.
Por enquanto, isso só se encontra ao natural, digamos assim.

Dúvidas medonhas


Se o indivíduo quer receber o que lhe devem e lhe dizem que só se for no exterior, basta abrir uma conta corrente em um banco lá fora.
Duda Medonho, diante do problema, abriu logo uma empresa.
Mais: quando pediram a Duda que franqueasse os extratos bancários da empresa que ele abriu no exterior, ele teve a cara de pau de dizer que precisava consultar os outros sócios, do exterior, pra saber se ele podia liberar os extratos. Meu deus, será que pra ele usar o dinheiro lá depositado ele também precisa da autorização dos sócios do exterior?
Isso ele disse mais de uma vez. Ninguém, nem do governo, nem da oposição, perguntou quem seriam esses sócios.
E tome elogio pela autenticidade das declarações.
Aí tem.

Dú(vi)da Mendonça


De repente, Duda é O Verdadeiro, prestou imenso serviço ao País etc etc.
Vem cá. O cara é artista. Fez o País engolir Lulla. Faz, hoje, o País engoli-lo. Confessa, na CPI, que faz qualquer coisa pra receber o que lhe devem. Abre conta no exterior (aliás, conta não. Abriu logo uma empresa. Publicitário baiano, todos sabem, é megalomaníaco), vende a mãe e por aí vai. Importa é receber. E tome elogio dos parlamentares.
Os próprios petistas estão estarrecidos.
Não sei porque. Não penso ter ouvido nenhuma novidade nos depoimentos de hoje.
Aí tem.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Canonização Já!


São Cristiano Paz

Se Zezinho estivesse vivo, fosse deputado e membro de alguma dessas CPI, perguntaria a esses crápulas-depoentes:
- De que inocência V. Sa. é culpado?


Proponho a V. Excia., nobre presidente desta CPI, que seja alterado o tratamento reservado ao depoente. Ao invés de Vossa Senhoria, usemos Vossa Santidade.

Ele nem sabia


Já está quase confirmado: Lulla não teve nenhuma participação no assalto ao Banco Central do Ceará.
Mais do que isso: ele - como sempre - não sabia de nada.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Réquiem para um amigo


Foi hoje, hoje de manhã, que soube. Tu fizeste o último gesto.
Não consigo imaginar o que te levou a isso.
Eras jovem, saudável, bonito. Tinhas uma família da qual te orgulhavas.
O sucesso nos negócios te rodeava. Não eras rico, mas estavas a caminho disso.
De repente, sábado à noite, no escritório de tua casa, um tiro na cabeça.
Fim.
Tenho a convicção que o fizeste por coragem.
Não sei porque o fizeste. Mas sei que o fizeste corajosamente.
Um beijo em tua alma.
Até.

domingo, 7 de agosto de 2005

Quem é LuLLa


A Folha de S.Paulo, em sua edição de hoje, caderno mais!, traz quatro artigos sob o tema Quem é Lula.
É interessante compará-los.
Paul Singer rememora, com indisfarçável nostalgia, antigos debates programáticos realizados dentro do PT. Entende que, para atravessar a atual crise, nada como recolocar os debates em primeiro plano:
O que estou constatando é que, há poucos anos, o PT foi capaz de organizar debates sobre temas controversos num clima de respeito e compreensão, absolutamente incomuns na esquerda, em outros tempos. O momento presente parece exigir que algo nessa direção seja novamente tentado, com uma urgência muito maior, dada a gravidade da crise.
Com todo o respeito que Paul Singer merece, é incrível – mas bota incrível nisso – que ele entenda que se trata de discutir temas controversos, apenas aumentando o grau de urgência dessa discussão. Como, no início de seu artigo, ele lembra com saudade de suas discussões com outros intelectuais do PT na casa de Antonio Cândido, debates “que sempre culminavam com um chá e bolo servido pela professora Gilda”, é de se perguntar se – para os atuais debates – bastaria chamar de novo a professora Gilda ou se se deixa a cargo do Delúbio a contratação de um bufê.
Renato Mezan contribui com inspirado artigo sob o título Pior que um crime, um erro, título que ele logo de saída explica:
Questionado por Napoleão acerca da conveniência de mandar assassinar o duque de Enghien, seu ministro Talleyrand teria retrucado: “De forma alguma, majestade! É pior que um crime – é um erro!”.
O artigo de Mezan tem o mérito de arrancar a discussão sobre Lulla da esfera da ética e reposicioná-la como questão de virtu, no sentido de Maquiavel, que ele prefere traduzir por competência. Pena, a meu ver, que ele entenda que a virtu acompanhou Lulla em todo seu processo de ascensão política para só abandoná-lo já no exercício da presidência.
Reinaldo Gonçalves, em A aposta desperdiçada, volta mais atrás na busca das origens da degringolada petista:
Ao longo da história do PT, ficou cada vez mais evidente que o partido era dominado pelo grupo liderado por Lula. O crescimento do PT, sob a hegemonia desse grupo, já trazia os elementos que provocariam sua senilidade acelerada.
Como se vê, ele entende que foi o grupo Articulação, comandado por Lula, que representou a maçã podre responsável pelo apodrecimento de toda a cesta.
O melhor artigo, sempre na minha opinião, claro, é o de César Benjamin. Mas insiste no mesmo diagnóstico de Gonçalves:
Os malfeitos que têm vindo à luz não começaram agora nem decorrem de um equívoco individual. Representam apenas a transferência, para a esfera do governo federal, de práticas iniciadas, com certeza, nos primeiros anos da década de 1990, talvez antes, e nunca descontinuadas. As impressões digitais do mesmo grupo aparecem na gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na organização das finanças da campanha presidencial de 1994, na gestão de algumas prefeituras, como a de Santo André, na busca de controle de fundos de pensão, para citar apenas as situações mais notórias.
Sobre tudo isso, há anos, correm histórias escabrosas, pois um esquema tão amplo e longevo nunca permanece completamente invisível. Ao aceitar conviver com isso, ao mesmo tempo mantendo a bandeira da ética para consumo externo, o PT ficou exposto à ação corrosiva da hipocrisia, que o destruiu.

Pois é, quem provocou a infecção generalizada do PT parece que está claro.
Mas o que os quatro artigos não explicam é:

De onde vem essa baixa resistência imunológica que tornou o PT sensível ao processo de degeneração provocado pelo grupo lulista?

É na formação do PT, lá na sua origem, que se deve buscá-la. O PT foi, como já acentuei no post anterior, fruto do casamento de uma esquerda derrotada, destituída de programa, moralista, incapaz e obreirista com um movimento sindical esperto, sequioso de ascensão social e de poder, liderado por um lapardão bafejado por uma conjuntura favorável a seus planos.

sábado, 6 de agosto de 2005

O companheiro LuLLa


Salvo engano, comecei a usar duplo ele (LL) no nome de Lula (em alusão a Collor, que sublinhava o duplo ele colorindo-o de verde e amarelo), neste post de 3 de outubro de 2.004. Usei, depois, neste outro, de 27/11/2.004. Hoje, a Veja faz o mesmo. A diferença é que, naquela época, eu tinha uma audiência de pouco mais de duzentas pessoas por semana (hoje, pouco mais de trezentas). Já a Veja, circula semanalmente com tiragem um pouquinho maior (mais de um milhão de exemplares). Portanto, é a partir de agora que Lula passa a ser LuLLa.

capa da revista Veja que saiu hoje
Será? Antes já não havia sinais suficientes para que se percebesse algo de podre? A história de Lulla não ensinava nada?
Se você quiser conhecer a biografia de Lulla, pode ler um resumo aqui.
Mas vou fazer alguns comentários à margem das hagiografias existentes. Claro. São comentários totalmente subjetivos, os meus. Aliás, já estou um pouco cheio de tanta objetividade.
Lulla nasceu em família paupérrima. Desceu pro sul maravilha aos sete anos. Sua família foi morar no Itapema. Lá perto da minha terra, Santos. Naquele tempo o Itapema ainda não tinha recebido o imponente nome de Vicente de Carvalho.
Depois, quando ele já ia lá pelos dez, onze anos, a família veio para São Paulo. Lulla fez vários bicos antes de se formar torneiro mecânico e conseguir emprego mais sólido.
Até aí, tudo bem. Nada de muito diferente de milhões de outros nordestinos que desabaram no sudeste pra escapar da miséria nordestina.
Começou sua carreira sindical no auge da repressão política. Mas sua atuação tornou-se mais visível já no chamado período da abertura, em 1.978. Foi nessa época que ele liderou as primeiras greves dos tempos pós AI 5 no ABC paulista.
Ora, a auto-intitulada esquerda revolucionária fora totalmente aniquilada durante os anos de 1.969 a 1.975 (mais ou menos). Os sobreviventes ficaram na muda até a anistia de 1.979. Aí retornou o pessoal que estava no exílio, o pessoal que por aqui ficara ganhou algum alento.
É preciso dizer que a tal esquerda revolucionária (ER) era formada quase que totalmente por pessoas da classe média, em sua maioria com maior ou menor passagem pelo ambiente universitário. Muitos jamais tinham visto um operário em carne e osso. Os pouquíssimos operários que militaram na ER eram disputados a tapa pelas organizações clandestinas. Nós do POC, por exemplo, dispúnhamos de dois operários. Era mais ou menos 1% do total de militantes. Pouco mais, pouco menos, o percentual era o mesmo nas outras organizações.
Vai daí que, quando o pessoal começou a ouvir falar do Lulla, a correria foi grande. Todo mundo queria ficar perto dessa figura fantástica: um operário com pretensões políticas. Beleza.
A intelectualidade do país correu a grudar no novo herói. E ele, claro, achou interessante. Aquele monte de gente finérrima paquerando um tosco operário. Aliás, tudo isso é mais velho que andar pra frente. Marx já havia falado muito sobre esse obreirismo, fenômeno que leva a pequena burguesia a endeusar tudo que vem do proletariado. Marx se refere, até mesmo, a um item caro a nosso atual presidente: ele comenta a bobagem que é o pessoal de classe média adotar bagaceiras de má qualidade, desprezando os cognacs. Diz ele o óbvio: operário bebe pinga porque não tem grana pra beber cognac. Se tivesse, a conversa seria outra.
Mas nossos intelectuais se embebedaram de hábitos proletários, para brincar de operário.
Mais adiante, Lulla começou a receber a adesão de alguns empresários. Melhor. Afinal, intelectual conversa, conversa, mas não passa disso. Empresário não. Empresário empresta casa pra gente morar, por exemplo.
E lá foi Lulla morar na casa cedida carinhosamente pelo Roberto Teixeira não sei por quantos anos (mas foram muitos).
Resumo: Lulla surgiu no exato momento em que duas coisas confluíam: os militares saindo fora e deixando rolar a anistia, de um lado. De outro, uma esquerda sedenta de algo novo, de preferência com cheiro de fábrica.
Deu no que deu.
O resto está aparecendo aos poucos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Todo mundo é muito honesto
mas meu capote sumiu


É engraçado como, ao longo dos últimos anos, cada vez mais pessoas foram se dizendo contrárias à ditadura militar que o Brasil amargou de 1.964 a 1.984. Fica a dúvida: se todo mundo era contra, por que a ditadura durou 20 anos? Até a Rede Globo adota pose de libertária. Fernando Henrique, alguém já afirmou, teria sido torturado em masmorras horrendas, olhos vendados, coisas assim. No PT, então, todo mundo foi preso, torturado, amargou exílios escabrosos e sabe-se mais o que.
Calma, gente, muita calma. Vejamos, por exemplo, o revolucionário José Dirceu.
Antes, pequena digressão para a criação do cenário no qual se movimentou nosso herói.
A ditadura militar, pelo menos do ponto de vista da intensidade repressiva, divide-se claramente em duas fases: antes e depois de 13 de dezembro de 1.968, data do Ato Institucional nº 5 (AI 5).
Até o final de 1.968, a gente pensava que havia repressão. Depois do AI 5, fomos descobrindo, aos poucos, que antes éramos felizes e não sabíamos. Aí é que se viu o que era – mesmo – repressão. Antes do AI 5 havia assembléias estudantis em lugares abertos, os líderes circulavam livremente, jornalecos eram editados e distribuídos amplamente nas escolas, fábricas etc e tal.
Tanto era assim que, em meados de 68, a UNE organizou um congresso que era pra ser clandestino. Mas todo mundo sabia do Congresso. A estudantada foi toda pra pacata cidade de Ibiúna. Ficaram escondidos lá, discutindo teses, estratégias e táticas. Só não se preocuparam com o facto de alguns terem sido encarregados de ir até o centro do bucólico lugarejo comprar toneladas de pão pra moçada. Resultado: todo mundo em cana.
No meio da garotada, estava o presidente da UEE (União Estadual de Estudantes, de São Paulo), o Zé Dirceu. Sua militância – até então – resumia-se a discursos em praça pública, nas manifestações estudantis e demais tarefas de um líder estudantil. Se, como diz a Wikipédia, ele já militava no grupo do Marighella (que viria a ser a ALN), não sei. Como já disse, é incrível como, agora, todo mundo militou nisso e naquilo. Tenha militado ou não, em meados de 68 você podia militar até no exército do capeta que não acontecia nada.
Quando, já em setembro de 69, houve o seqüestro do embaixador americano e o Zé Dirceu apareceu na lista de presos a serem trocados pelo embaixador, me lembro que era corrente na esquerda a surpresa por terem colocado uns estudantes na lista. O movimento estudantil, nessa época, era visto com extremo desdém pelo pessoal que já aderira à luta armada. Quem defendia a inclusão dos garotões (Dirceu, Palmeira) na lista, argumentava que era bom incluí-los por serem conhecidos de um público mais amplo, coisa e tal.
Assim, nosso herói foi levado pela correnteza e aportou na ilha de Cuba.
Deve ter treinado muito por lá. Parece que sim.
Mas, como dizia Didi, meia armador das seleções brasileiras de 58 e 62, treino é treino, jogo é jogo.
A jogar mesmo, o Zé só começou depois da anistia. Aí, ficou mais fácil que tirar picolé de criança.
Vai daí, continuo sem entender as referências hagiográficas que costumam ser feitas a nosso Stalin caipira.
Mas tem tanta coisa que eu não entendo. Essa é só mais uma.

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Mais um post escatológico


Neste momento, fez-se um pequeno intervalo no depoimento do ex-ministro (e atual deputado) José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Que ele se defenda, vá lá. Mas o que ele está a fazer é transformar nossos ouvidos em penico.


Ele dirigiu o PT durante anos. Não tem a mais remota ideia dos procedimentos heterodoxos de arrecadação de recursos por parte do partido.
Ele era tido como "primeiro ministro" informal do governo Lula. Não sabe de nada do que ocorria sob suas (inexistentes) barbas.
Mais desinformado que ele, pelo que se vê, só o presidente Lula.
Afinal, alguém tem noção de alguma coisa, nesse (des)governo?