quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Todo mundo é muito honesto
mas meu capote sumiu


É engraçado como, ao longo dos últimos anos, cada vez mais pessoas foram se dizendo contrárias à ditadura militar que o Brasil amargou de 1.964 a 1.984. Fica a dúvida: se todo mundo era contra, por que a ditadura durou 20 anos? Até a Rede Globo adota pose de libertária. Fernando Henrique, alguém já afirmou, teria sido torturado em masmorras horrendas, olhos vendados, coisas assim. No PT, então, todo mundo foi preso, torturado, amargou exílios escabrosos e sabe-se mais o que.
Calma, gente, muita calma. Vejamos, por exemplo, o revolucionário José Dirceu.
Antes, pequena digressão para a criação do cenário no qual se movimentou nosso herói.
A ditadura militar, pelo menos do ponto de vista da intensidade repressiva, divide-se claramente em duas fases: antes e depois de 13 de dezembro de 1.968, data do Ato Institucional nº 5 (AI 5).
Até o final de 1.968, a gente pensava que havia repressão. Depois do AI 5, fomos descobrindo, aos poucos, que antes éramos felizes e não sabíamos. Aí é que se viu o que era – mesmo – repressão. Antes do AI 5 havia assembléias estudantis em lugares abertos, os líderes circulavam livremente, jornalecos eram editados e distribuídos amplamente nas escolas, fábricas etc e tal.
Tanto era assim que, em meados de 68, a UNE organizou um congresso que era pra ser clandestino. Mas todo mundo sabia do Congresso. A estudantada foi toda pra pacata cidade de Ibiúna. Ficaram escondidos lá, discutindo teses, estratégias e táticas. Só não se preocuparam com o facto de alguns terem sido encarregados de ir até o centro do bucólico lugarejo comprar toneladas de pão pra moçada. Resultado: todo mundo em cana.
No meio da garotada, estava o presidente da UEE (União Estadual de Estudantes, de São Paulo), o Zé Dirceu. Sua militância – até então – resumia-se a discursos em praça pública, nas manifestações estudantis e demais tarefas de um líder estudantil. Se, como diz a Wikipédia, ele já militava no grupo do Marighella (que viria a ser a ALN), não sei. Como já disse, é incrível como, agora, todo mundo militou nisso e naquilo. Tenha militado ou não, em meados de 68 você podia militar até no exército do capeta que não acontecia nada.
Quando, já em setembro de 69, houve o seqüestro do embaixador americano e o Zé Dirceu apareceu na lista de presos a serem trocados pelo embaixador, me lembro que era corrente na esquerda a surpresa por terem colocado uns estudantes na lista. O movimento estudantil, nessa época, era visto com extremo desdém pelo pessoal que já aderira à luta armada. Quem defendia a inclusão dos garotões (Dirceu, Palmeira) na lista, argumentava que era bom incluí-los por serem conhecidos de um público mais amplo, coisa e tal.
Assim, nosso herói foi levado pela correnteza e aportou na ilha de Cuba.
Deve ter treinado muito por lá. Parece que sim.
Mas, como dizia Didi, meia armador das seleções brasileiras de 58 e 62, treino é treino, jogo é jogo.
A jogar mesmo, o Zé só começou depois da anistia. Aí, ficou mais fácil que tirar picolé de criança.
Vai daí, continuo sem entender as referências hagiográficas que costumam ser feitas a nosso Stalin caipira.
Mas tem tanta coisa que eu não entendo. Essa é só mais uma.

Sem comentários: