sábado, 6 de agosto de 2005

O companheiro LuLLa


Salvo engano, comecei a usar duplo ele (LL) no nome de Lula (em alusão a Collor, que sublinhava o duplo ele colorindo-o de verde e amarelo), neste post de 3 de outubro de 2.004. Usei, depois, neste outro, de 27/11/2.004. Hoje, a Veja faz o mesmo. A diferença é que, naquela época, eu tinha uma audiência de pouco mais de duzentas pessoas por semana (hoje, pouco mais de trezentas). Já a Veja, circula semanalmente com tiragem um pouquinho maior (mais de um milhão de exemplares). Portanto, é a partir de agora que Lula passa a ser LuLLa.

capa da revista Veja que saiu hoje
Será? Antes já não havia sinais suficientes para que se percebesse algo de podre? A história de Lulla não ensinava nada?
Se você quiser conhecer a biografia de Lulla, pode ler um resumo aqui.
Mas vou fazer alguns comentários à margem das hagiografias existentes. Claro. São comentários totalmente subjetivos, os meus. Aliás, já estou um pouco cheio de tanta objetividade.
Lulla nasceu em família paupérrima. Desceu pro sul maravilha aos sete anos. Sua família foi morar no Itapema. Lá perto da minha terra, Santos. Naquele tempo o Itapema ainda não tinha recebido o imponente nome de Vicente de Carvalho.
Depois, quando ele já ia lá pelos dez, onze anos, a família veio para São Paulo. Lulla fez vários bicos antes de se formar torneiro mecânico e conseguir emprego mais sólido.
Até aí, tudo bem. Nada de muito diferente de milhões de outros nordestinos que desabaram no sudeste pra escapar da miséria nordestina.
Começou sua carreira sindical no auge da repressão política. Mas sua atuação tornou-se mais visível já no chamado período da abertura, em 1.978. Foi nessa época que ele liderou as primeiras greves dos tempos pós AI 5 no ABC paulista.
Ora, a auto-intitulada esquerda revolucionária fora totalmente aniquilada durante os anos de 1.969 a 1.975 (mais ou menos). Os sobreviventes ficaram na muda até a anistia de 1.979. Aí retornou o pessoal que estava no exílio, o pessoal que por aqui ficara ganhou algum alento.
É preciso dizer que a tal esquerda revolucionária (ER) era formada quase que totalmente por pessoas da classe média, em sua maioria com maior ou menor passagem pelo ambiente universitário. Muitos jamais tinham visto um operário em carne e osso. Os pouquíssimos operários que militaram na ER eram disputados a tapa pelas organizações clandestinas. Nós do POC, por exemplo, dispúnhamos de dois operários. Era mais ou menos 1% do total de militantes. Pouco mais, pouco menos, o percentual era o mesmo nas outras organizações.
Vai daí que, quando o pessoal começou a ouvir falar do Lulla, a correria foi grande. Todo mundo queria ficar perto dessa figura fantástica: um operário com pretensões políticas. Beleza.
A intelectualidade do país correu a grudar no novo herói. E ele, claro, achou interessante. Aquele monte de gente finérrima paquerando um tosco operário. Aliás, tudo isso é mais velho que andar pra frente. Marx já havia falado muito sobre esse obreirismo, fenômeno que leva a pequena burguesia a endeusar tudo que vem do proletariado. Marx se refere, até mesmo, a um item caro a nosso atual presidente: ele comenta a bobagem que é o pessoal de classe média adotar bagaceiras de má qualidade, desprezando os cognacs. Diz ele o óbvio: operário bebe pinga porque não tem grana pra beber cognac. Se tivesse, a conversa seria outra.
Mas nossos intelectuais se embebedaram de hábitos proletários, para brincar de operário.
Mais adiante, Lulla começou a receber a adesão de alguns empresários. Melhor. Afinal, intelectual conversa, conversa, mas não passa disso. Empresário não. Empresário empresta casa pra gente morar, por exemplo.
E lá foi Lulla morar na casa cedida carinhosamente pelo Roberto Teixeira não sei por quantos anos (mas foram muitos).
Resumo: Lulla surgiu no exato momento em que duas coisas confluíam: os militares saindo fora e deixando rolar a anistia, de um lado. De outro, uma esquerda sedenta de algo novo, de preferência com cheiro de fábrica.
Deu no que deu.
O resto está aparecendo aos poucos.

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