domingo, 30 de abril de 2006

PLUA


Desde quando a senadora Heloisa Helena criou o PSOL, ando com vontade de criar o PLUA (diz-se pê-lua, se faz favor).
Vamos tentar esclarecer as coisas direitinho: começo, meio e fim, de preferência nessa ordem.
E uma vez que o assunto preferido da classe média brasileira atualmente é corrupção, comecemos por ela.
A história já mostrou que definir como bandeira política o combate à corrupção só traz mais corrupção. Para ficar em alguns poucos exemplos mais notórios: Jânio Quadros elegeu-se presidente da República em 1.960 tendo a vassoura como símbolo de campanha. Revelou-se, ao longo de sua carreira política, um dos políticos mais inescrupulosos e corruptos que já tivemos, ainda que inteligente, espirituoso e simpaticamente folclórico. Pouco tempo depois, os militares assumiram a batuta da nação sob a égide do combate à subversão e à corrupção. Foi uma festa. Shigeaki Ueki, Delfim Neto e tantos outros que o digam. Até a máquina repressora, com seus porões de tortura, era movida a caixa 2. Agora, o PT, com toda sua enfadonha defesa da ética, deu no que deu.
Daí: o PLUA entende que a corrupção é – em primeiríssimo lugar – algo profundamente arraigado na população. Não são os políticos, os corruptos. Somos todos. E antes de se sentir ofendido, faz aí uma declaração retificadora de seu Imposto de Renda, declarando aquela graninha que você faturou informalmente, tirando aquele médico que você abateu de sua renda bruta porque viu no jornal que ele tinha morrido, deixando de colocar aquele sobrinho como dependente etc etc. E quando o guarda te parar na estrada, por excesso de velocidade, diz pra ele autuar, sem perdão. E quando passar a escritura daquele apê que você vendeu, coloca o real valor de venda. Chega, né não?
A corrupção jamais vai acabar. É como temperatura. É preciso mantê-la em níveis aceitáveis. E isso não se faz com vassoura ou canhão ou discurso. Faz-se com controle por meio de informática, números expostos na Internet, coisas assim. Mas nem de longe isso é o grande problema, para frustração dos moralistas.
Bom. Dito o que não é fundamental, vamos ao que é.
Não adianta o Brasil querer ser campeão mundial de futebol americano. Ou baseball.
Nosso negócio é mostrar competitividade em futebol, soccer, aquele esporte que pros americanos é coisa de mulher e que pra nós é coisa de macho. Fica mais barato. E mais possível.
Ou seja. O governo deve fomentar, incentivar, estimular, financiar os nichos em que já demonstramos excelência.
Você já ouviu falar de um candidato a presidente que tenha um grande, criativo, inovador plano de fomento ao turismo? Sabe por quê? Porque o Brasil é um paizinho sem atrativos naturais, quase sem praias, sem possibilidades de ecoturismo etc etc.
O governo entope a CUT, a UNE e o MST de grana (60 milhões nos últimos três anos, mas o governo FHC também derramava grana neles[só pra assinantes Folha ou UOL]). Vai sobrar algum pro turismo? Ora, o turismo.
Isso é só um exemplo.
Ou você pensa que logo de cara vou ter solução pra tudo? Necas.
Mas já deu pra entender um pouquinho? Se não, desiste do PLUA que você é meio devagar. Se sim, fica na sua que o PLUA é pura ficção.

Estupidez revisitada


No Paquistão, cidade de Hyderabad, uma jovem de 18 anos resolveu casar-se com o cidadão que ela amava. Isso foi em 2001.
A garota cometeu um pequeno deslize: casou-se sem o consentimento da família. Papai dela, inconformado, entrou com queixa na polícia alegando adultério.
Resultado: o casal foi preso e mantido em celas separadas durante a bagatela de cinco – eu disse cinco – anos.
Sem julgamento.
Agora, a moça (já com 23 aninhos) reclamou da demora e a Suprema Corte mandou que a questão seja julgada em primeira instância.
O jornal Dawn ainda acrescenta que esse tipo de coisa é comum, naquelas bandas.
Quer mais o quê?

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Cabelos brancos


E hoje cortei o cabelo. Bem rentinho, que é do jeito que ela gosta (eu acho um porre). E o comentário dela foi que não tinha reparado quantos cabelos brancos eu já mostrava ao mundo.
E me veio Cortázar, em Rayuela (Jogo da Amarelinha). Em algum lugar (com que diabos algum dos filhos sumiu com meu volume de Rayuela) Horacio Oliveira, o protagonista, fala de pessoas que apertam o tubo de pasta de dentes de baixo pra cima, organizadamente. E deixam o tubo, após uso, todo certinho, apertadinho do jeito racional. Os que apertam o tubo meio no meio, de qualquer jeito, são os outros. Os dele, Horacio.
E me vi ajeitando o tubo de pasta de dentes, agora há pouco, pra que ficasse perfeitinho.
E vi o que é a velhice. Além do que já disse Roberto Campos – a velhice é uma merda – há outras características da velhice (aliás, ainda não cheguei na merda).
Nela, você não consegue apertar o tubo impunemente. Sem referência. Há Horacio Oliveira, há o resto do mundo. Você já conviveu com ambos. Principalmente com o resto do mundo. E aperta o tubo. E não consegue não pensar.
E sabe (não sei como mas sabe) que tanto faz.
Talvez ficar velho seja chegar a Tanto Faz.
Capital: Ironia.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Sonhos & Delírios


Imprensa


Adoraria acordar de manhã, pegar o jornal e dar de cara com a manchete:

HOJE NÃO HÁ NOTÍCIA

DIGNA DE MANCHETE


* * *


Televisão


Gostaria que a TV seguisse um caminho de algum modo inverso ao do cinema. Agora que já temos a TV digital, seria ótimo se chegasse a TV muda. Os telejornais, por exemplo, seriam muito mais divertidos.

* * *


Livros


Cada vez mais os livros são editados tendo em vista um consumo rápido. Daqui pra diante, quero meus livros com queijo: cheese-books.

* * *

sábado, 22 de abril de 2006

Profecia


No ano da graça de 1.974 eu trabalhava em uma empresa de engenharia, a Promon, em São Paulo.
Tinha um colega de trabalho, o Rudolf Schmidt, conhecido por Xis, que era membro de uma denominação evangélica muito afeita a estudos apocalípticos. Como um dos meus esportes favoritos sempre foi o de provocar discussões (pra lá de inúteis) com adeptos de seitas religiosas, eu vivia cutucando o Xis a respeito das teorias escatológicas dele.
Vai daí, apostamos um dia: o mundo vai acabar – no máximo – daqui a vinte anos.
Claro, ele, depois de estudar a Bíblia de trás pra diante, de cabeça pra baixo e tudo mais, chegara a essa conclusão. Ou melhor, alguns gurus dele, na tal seita da qual fazia parte, haviam concluído isso.
Ficamos assim: ele dizia que o mundo acabaria – o mais tardar – em 1.994. Eu apostei contra.
Tempo passou. Ele mudou de empresa. Depois, fui eu a abandonar a nave mãe.
Certo dia de 1.995, em meio a várias caipirinhas, lembrei-me do Xis e de nossa aposta.
Perdera contato com ele.
Dia seguinte, comecei a procurá-lo. Liga pra um , liga pra outro, descobri o telefone da casa dele.
- Alô.
- É da casa do Xis?
- Sim.
- Ele está? Sou um velho amigo.
- Faz tempo que o senhor não fala com ele, não é?
- Sim, muito tempo.
- Pois é. Ele faleceu ano passado.

Fiquei mudo. Desculpei-me sei lá como. Desliguei.
E não é que ele ganhou a aposta?
Ou eu, sei lá.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Os cem mais


Dá uma olhada na lista dos melhores livros de todos os tempos.
Há dois em português:
Saramago, com Ensaio sobre a Cegueira
E
Guimarães Rosa, com Grande Sertão: Veredas

Atualização (em 20/04/2.006): O Eubozeno, do excelente nese-nese, de Bragança, Portugal, alerta que há outro livro de língua portuguesa na lista: O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa (como Bernardo Soares). Havia me escapado. Outra observação do Antonio Eubozeno: a lista não deveria ser de 100, número redondo. Deveria ser de 107. Na verdade, se novamente não me escapa algo, a lista tem 98 livros.

sábado, 15 de abril de 2006

Maurício Matos Peixoto

O maior mérito do Maurício foi o de ter conquistado...

Hoje, ele completa 85 anos.
Quero que ele receba – mais que meu abraço – meu sentimento de admiração. Pela inteligência ímpar, pela simplicidade sem par.


...minha irmã, que é simplesmente o máximo.

Floripa, outra vez, Floripa


Aqui estamos, desde ontem. Viemos visitar minha irmã, aproveitando o santo feriado santo.
Me dá um certo remorso. Talvez, por ser ateu, devesse eu trabalhar na sexta santa.
Por outro lado (sempre há um outro lado, quando isso nos convém), há o preceito constitucional contra a discriminação religiosa. Portanto, não posso trabalhar só porque sou ateu, enquanto os que acreditam em coisas tais como a eucaristia, a multiplicação de pães e peixes e a ressurreição de Lázaro ficam de papo pro ar.
Enfim, gozemos as delícias da Páscoa.
Desejo a todos continuação de boa vida.
Amém.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Caldeirada em São Paulo


Um grupo de amigos portugueses reuniu-se, dia 5, para uma caldeirada regada a vinho e fado. Essa reunião já é hábito de mais de vinte anos.
Os fadistas: Mario Rui, guitarra. Bonfim, violão. E a voz de Conceição de Freitas.
Alguns dos participantes do grupo também cantaram.
Fui convidado por meu (quase) primo Artur que, aliás, forneceu a caldeirada (maravilhosa).
Como não pedi autorização dos participantes para publicar as fotos, aqui vão apenas as que fiz dos músicos.
Mario Rui
Conceição de Freitas
Bonfim

sábado, 8 de abril de 2006

Assim não dá


Estão querendo acabar com convicções profundas.
Mais: acabar com expressões consagradas.

Por sugestão do Ordisi, fui ler o Jerusalem Post. Acho que o meu caro Ordisi já deu a ideia por pura sacanagem. É muito chato, o JP. A não ser por um artigo sobre o sucesso do teatro alternativo em Tel Aviv, mesmo assim graças ao maestro louco que ilustra o texto.

Fyodor Makarov

Em compensação, o Israel Insider está cheio de matérias interessantes.

Mas alto lá!

Depois de anos e anos de malhação do Judas, vêm me contar que Judas e Jesus estavam combinados?
Mais ainda: Jesus não pode mais ensinar o caminho das pedras. Ele andou sobre uma camada fina de gelo.

Durma-se, com todo esse barulho.

Perdoem a falta de escolha, os dias eram assim


A letra de Vitor Martins para a música de Ivan Lins brotou em mim logo que percebi, no Site Meter, que havia alguém, na Noruega, mais precisamente na cidade de Saksvik, região de Sor-Trondelag, sentadinho(a) na Norwegian University of Science and Technology, a ler meu blog durante o dia 7 de abril quase inteirinho. Foram 11 acessos ao longo de 13 horas.
Lembrei-me da década de 70. Era preciso assinar – a peso de ouro – o Le Monde e recebê-lo com uma semana de atraso, pelo correio.
Meus deuses. Como os tempos mudaram. E ainda há quem me diga: precisas colocar tudo isso em livro.
Livro?
Como deveria proceder eu, pra que alguém em Saksvik lesse meu livro?


(guardo um certo pudor de mencionar – aqui – os acessos a meu blog, suas características. Sinto-me, de algum modo, a invadir a privacidade do leitor. Mas, neste caso, a tentação foi irresistível. Perdoe-me o leitor norueguês).

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Notícia sem hora nem vez


Segundo o Ghanaian Chronicle, tem um cara lá em Ghana (É. Ghana. Qual o problema?) que parece ser o Roberto Jefferson deles.
O cara era presidente de um partido político (o NPP – New Patriotic Party) e denunciou corrupção no governo.
Tomou um chega pra lá do governo e passou um tempo na moita.
O moço se chama Harona Esseku.
Diria o companheiro Nãossei Nada da Silva:
Esseku não conheço. Mas aquele, o cantor de ópera, me complicou a vida.

Entreouvido no bar


- O técnico do Corinthians é metrossexual. Você também?
- Que nada, cara. No máximo uns 15 centímetros.

***

- O Corinthians ganhou do Universidad Catolica, lá no Chile, com dois jogadores a menos.
- Pois é. Se tirar mais uns dois ou três cabeças de bagre, esse time fica imbatível.

***

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Errata


Às vezes, as correções dos erros são mais terríveis - ou engraçadas, ou tristes - que os próprios erros.

Lembro da apostila de Geometria no Espaço em que estudei para o vestibular. Era de autoria do prof. Castrucci. Naquele tempo não havia Word. As coisas eram bem mais complicadas no mundo da edição de livros. Uma vez impresso o texto todo, mesmo após incansáveis revisões, descobriam-se erros. O que era possível: fazer uma folha a ser inserida no final, contendo as correções dos últimos erros detectados.
Foi o que fez o decano professor. E meu exemplar trazia - no alto da última página - o título: ERRETA. Não é de chorar?

Mas pra alegrar este post, aí vai um item da seção Erramos, da Folha de S.Paulo, de 23 de março deste ano (só para assinantes da Folha ou do UOL):

A espécie de tartaruga tigre-d'água-americano possui manchas vermelhas na cabeça, e não uma orelha vermelha, como informou erroneamente o texto "Tartarugas são retiradas da República" (Cotidiano, pág. C8, 9/3). Tartarugas não têm orelhas.
(grifos meus)

terça-feira, 4 de abril de 2006

Nozes a quem não tem dentes?


Vai daí que eu estava a ler o The Sydney Morning Herald, jornal australiano (por que? não posso?) e esbarrei com este artigo.
Se você prefere, eu resumo pra você:
Um economista neozelandês - ou, mais fácil, kiwi – que trabalha como jornalista no Dominion Post de Wellington, Nova Zelândia, ganhou uma bolada de 42,5 milhões de dólares (como o jornal é australiano, penso que são dólares australianos, o que nos leva a pouco mais de 30 milhões de dólares americanos ou 25 milhões de euros).
Como o sortudo ganhou tudo isso?
O filho dele é daqueles geniozinhos da informática e desenvolveu um software, o Kiwi (que, diga-se, eu não conheço). E o diabo do Kiwi (o software, não o neozelandês), foi vendido para a Fairfax pela bagatela de 670 milhões de dólares (novamente, australianos, penso eu). Como o papai do moço tinha 6,7% do negócio, recebeu o que recebeu.
Até aí, mais uma história de sorte.
Acontece que o Gareth (esse é o nome do papai, de 52 anos) sentou pra conversar com a Jo (que vem a ser a mamãe do garotão gênio) e chegaram à conclusão de que era muita areia pro caminhãozinho deles.
Disse o Gareth:
- Eu simplesmente não consigo pensar em quê fazer com isso.
E continuou:
- Eu trabalho porque gosto. Desde que você viva dentro do limite de suas posses, não interessa quanto é o seu salário.
Resumo: vão doar o dinheirão todo pra instituições de caridade.
O único problema deles, agora, é escolher quais.
Pode?

sábado, 1 de abril de 2006

Preces têm preço


Parece que o excelente Diário Ateísta ainda não se ocupou do assunto. Quando o fizer, certamente o fará a sério. Quanto a mim, não posso deixar de brincar com o assunto.
Está na Folha de S.Paulo de hoje (só pra assinantes da Folha ou do UOL).
Mas pode ser lido também no New York Times de ontem (em inglês).
Americanos (e quem mais faria um troço desses?!) fizeram uma pesquisa ao longo de quase uma década com mais de 1.800 pessoas em recuperação de cirurgias cardíacas para verificar o efeito de orações de terceiros na recuperação dos pacientes.
Chegaram à conclusão de que as orações não fazem efeito nenhum.
Pior: os pacientes que sabiam que havia gente orando por eles, esses tiveram mais complicações pós-operatórias, talvez (como sugerem os pesquisadores) graças à expectativa neles criada pelas tais orações.
Sendo assim, e como tenho muitos parentes doidinhos pra fazer oração em favor dos outros, sugiro o seguinte:
Quando eu tiver de operar o coração, desde que eu sobreviva, podem orar por mim à vontade. Pra mim, o máximo que poderia acontecer seria ter mais complicações pós-operatórias. Mas como não tenho nenhuma expectativa em relação ao efeito de tais orações, acho que nem isso vai acontecer.
Agora, pra vocês que estiverem orando, deve fazer um bem danado, né não?

Atualização (2/04/2.006): Pronto, o Diário Ateísta já escreveu sobre o assunto. Aqui.