sábado, 22 de abril de 2006

Profecia


No ano da graça de 1.974 eu trabalhava em uma empresa de engenharia, a Promon, em São Paulo.
Tinha um colega de trabalho, o Rudolf Schmidt, conhecido por Xis, que era membro de uma denominação evangélica muito afeita a estudos apocalípticos. Como um dos meus esportes favoritos sempre foi o de provocar discussões (pra lá de inúteis) com adeptos de seitas religiosas, eu vivia cutucando o Xis a respeito das teorias escatológicas dele.
Vai daí, apostamos um dia: o mundo vai acabar – no máximo – daqui a vinte anos.
Claro, ele, depois de estudar a Bíblia de trás pra diante, de cabeça pra baixo e tudo mais, chegara a essa conclusão. Ou melhor, alguns gurus dele, na tal seita da qual fazia parte, haviam concluído isso.
Ficamos assim: ele dizia que o mundo acabaria – o mais tardar – em 1.994. Eu apostei contra.
Tempo passou. Ele mudou de empresa. Depois, fui eu a abandonar a nave mãe.
Certo dia de 1.995, em meio a várias caipirinhas, lembrei-me do Xis e de nossa aposta.
Perdera contato com ele.
Dia seguinte, comecei a procurá-lo. Liga pra um , liga pra outro, descobri o telefone da casa dele.
- Alô.
- É da casa do Xis?
- Sim.
- Ele está? Sou um velho amigo.
- Faz tempo que o senhor não fala com ele, não é?
- Sim, muito tempo.
- Pois é. Ele faleceu ano passado.

Fiquei mudo. Desculpei-me sei lá como. Desliguei.
E não é que ele ganhou a aposta?
Ou eu, sei lá.

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