quinta-feira, 27 de abril de 2006

Cabelos brancos


E hoje cortei o cabelo. Bem rentinho, que é do jeito que ela gosta (eu acho um porre). E o comentário dela foi que não tinha reparado quantos cabelos brancos eu já mostrava ao mundo.
E me veio Cortázar, em Rayuela (Jogo da Amarelinha). Em algum lugar (com que diabos algum dos filhos sumiu com meu volume de Rayuela) Horacio Oliveira, o protagonista, fala de pessoas que apertam o tubo de pasta de dentes de baixo pra cima, organizadamente. E deixam o tubo, após uso, todo certinho, apertadinho do jeito racional. Os que apertam o tubo meio no meio, de qualquer jeito, são os outros. Os dele, Horacio.
E me vi ajeitando o tubo de pasta de dentes, agora há pouco, pra que ficasse perfeitinho.
E vi o que é a velhice. Além do que já disse Roberto Campos – a velhice é uma merda – há outras características da velhice (aliás, ainda não cheguei na merda).
Nela, você não consegue apertar o tubo impunemente. Sem referência. Há Horacio Oliveira, há o resto do mundo. Você já conviveu com ambos. Principalmente com o resto do mundo. E aperta o tubo. E não consegue não pensar.
E sabe (não sei como mas sabe) que tanto faz.
Talvez ficar velho seja chegar a Tanto Faz.
Capital: Ironia.

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