quarta-feira, 28 de maio de 2008

Na cabeça


Os políticos, pelo menos no Brasil, são – cada vez mais – meliantes à procura da imunidade parlamentar. Parece ser bem melhor ser julgado pelo Supremo do que em primeira instância, por um juizinho qualquer. O trâmite é tão demorado que vale a pena, ops!, vale a não-pena.
Vai daí, lembrei-me de uma figura ímpar, que conheci em meados de 1.988. O obeso Moisés Lipnik.


Ele era filho de banqueiro de Miami. Parece que logo que alcançou a maioridade, o pai lhe deu uma grana e disse, a la Drummond:
- Vai Moisés. Vai ser gauche na vida.
E Moisés aportou no Brasil da ditadura militar, do general Golbery.
Contava ele que começou a – digamos – carreira intermediando um grupo de empresários japoneses que pretendiam estabelecer negócios no Brasil.
Vendeu a eles a idéia de que poderia obter entrevista com o general Golbery. Conseguiu marcar a audiência e lá foi ele, levando os japoneses a tiracolo.
Uma vez diante do general os japoneses expuseram suas pretensões e foram ouvidos com respeito, mas com distanciamento.
Ao saírem, Lipnik avisou aos japoneses que precisava retornar para entregar o cheque ao general. Cheque dos japoneses, claro. Voltou à sala do general, os japoneses olhando à distância, e entregou a Golbery um cartão de visita.
Manobrou, junto a assessores do general, para que os propósitos dos japoneses se realizassem.
Tudo deu certo. Ele, que dissera ter entregue o cheque ao general, ganhou seu primeiro milhão de dólares.
Não sei se esta história é fantasiosa ou não. Eu a ouvi do próprio Lipnik.
A questão é que, quando eu o conheci, ele já era podre de rico, casado com uma ex-miss Miami (meus amigos brincavam de adivinhar quanto ele teria pago por isso) e candidato a senador por Rondônia (ou terá sido Roraima?). Tanto faz. Ele nunca estivera em nenhum desses lugares.
Lipnik era virtuose do telefone. Isso no tempo do telefone de fio. Aboletava-se em uma cadeira do escritório em que eu trabalhava, agarrava o fone do telefone e começava a falar, sem parar. Segurava o fone com – digamos – a mão direita. Ao longo do diálogo, trocava de mão deslizando o fone ao longo de sua enorme barriga. Como dizem os locutores esportivos, o fone descrevia uma parábola e encaminhava-se à outra orelha do Lipnik. Isso não interrompia, de modo algum, a conversação. Ao contrário, parecia dar-lhe ritmo.
Vou já adiantando que Lipnik elegeu-se deputado federal (por Rondônia ou por Roraima?), nem sei por quantas vezes. Com isso, conseguiu empurrar com a barriga (e que barriga!) várias ações contra ele. Morreu ileso.
Mas, nessa época, no longínquo 1.988, ou 1.989, Lipnik era candidato a senador. Nada mais, nada menos. Seus cabos eleitorais esfalfavam-se, em Rondônia (ou terá sido Roraima?), para desenvolver sua campanha. Quase foi eleito.
Belo dia, estávamos no escritório, quando liga um desses cabos eleitorais. A dúvida: estamos confeccionando bonés para sua campanha. Vamos escrever o quê, nos bonés.
Lipnik não chegou a pensar 20 segundos:
- Lipnik na cabeça!

sábado, 24 de maio de 2008

International Red Flag Country


Tudo começou em fevereiro deste ano, quando nos preparávamos para ir visitar minha filha mais velha em New York. Temos primos em Bragança, Portugal, cuja filha estuda ballet. Eles já haviam comentado conosco a respeito da dificuldade de encontrar o equipamento necessário para os treinos da filha. Como parece haver de um tudo em New York, pedi a eles que me dissessem o que comprar. Meu primo, talvez para ser gentil e não responder que não era preciso comprar nada, pediu-me que, se possível, comprasse uma tal de Resistaband GM-503, da AllAboutDance.


Já em Manhattan, começamos a visitar – entre outras lojas – as especializadas em equipamentos para ballet. E nada. Uns nem sabiam do que se tratava. Outros diziam saber e indicavam outra loja onde certamente haveria o que procurávamos. Como as tais faixas acompanham um livro de exercícios, procuramos em livrarias, lojas de revistas etc etc.
Nada.
Em nosso último dia em New York, ao visitar uma enorme loja de equipamentos para ballet, consegui o endereço dos escritórios da Gaynor Minden na cidade. Não havia garantia de que, lá, eles vendessem os próprios produtos. Nem houve mais tempo de ir até lá.
Voltei ao Brasil injuriado. Ir a New York e não conseguir comprar uma única faixinha GM-503 para minha prima. Isso não se faz.
Resolvi encomendar pela Internet. Claro que não se tratava de atitude racional. Encomendar pela Internet eles mesmos poderiam encomendar, lá de Bragança. Mas não combinei com ninguém de ser sempre racional.
Feito o pedido, esperei que chegassem a minha casa, em São Paulo, as já famosas Resistabands.
O que recebi, ao invés de, foi um e-mail com um título igual ao deste post. Não sei bem como traduzir essa expressão. Mas “red flag”, no caso, tem cara de “lista negra”. Olha só o conteúdo do e-mail, seguido de uma tradução meia-boca mas que serve pra quem não entende patavina de inglês:

Thank you for your order. Unfortunately, we do not ship to Brazil at this time. We used to, but encountered numerous delivery problems. We are currently researching ways to guarantee the safe delivery of our packages to your country, while at the same time keeping shipping rates as low as possible. We hope to resume shipping to Brazil in the future. In the meantime, we have cancelled your order, and you have not been charged at any time.
Thank you.
AllAboutDance

Gratos por seu pedido.Infelizmente, não estamos fazendo remessas para o Brasil atualmente. Antes fazíamos, mas tivemos muitos problemas de entrega. Estamos buscando meios de garantir a entrega segura de nossos pacotes em seu país, tentando ao mesmo tempo manter taxas de envio tão baratas quanto possível. Esperamos voltar a fazer remessas para o Brasil no futuro. Nesse meio tempo, cancelamos seu pedido e você não foi cobrado por nada.
Gratos,
AllAboutDance


E quando eu digo que o Brasil acabou, tem gente que acha exagero.
Refiz o pedido, agora pedindo para fazerem a entrega em Bragança, Portugal.
As GM-503 já devem estar chegando lá, com a graça dos deuses.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Marcha para Jesus: apologia de crime


Vamos lá: muita gente fica cheia de dedos para afirmar que o pai e a madrasta da menina Isabella foram os seus assassinos. Mesmo depois da versão de uma terceira pessoa ter se transformado em piada. O argumento é sempre aquele: o cidadão só é culpado depois de sentença transitada em julgado. Beleza.
Agora, vem cá: o tal apóstolo Hernandes e sua bispa não foram já julgados, condenados e até já estão cumprindo pena? Então, pelos mesmos pesos e mesmas medidas, são culpados de crime. Se preferirem: são, sim, criminosos.
Vamos, então, ao artigo 287 do Código Penal:
Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.


O pessoal que participou da tal Marcha para Jesus fez exatamente isso: enaltecimento de um criminoso. Publicamente.
O fato de tratar-se de um milhão e meio de pessoas não as torna menos incursas no artigo 287. Como na piada do mexicano:
- Un loco no! Miles de locos!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tempo ganho


Hoje, ao passear pelo Orkut, descobri que minha sobrinha, Juliana Dantas, tem um blog.
Nunca imaginei ter uma sobrinha que lesse Proust.
Não percam tempo. Basta clicar na imagem.

E ela escreve como poucos

sábado, 17 de maio de 2008

Um poema de meu pai


No revirar velhos papéis guardados por minha tia, encontrei um poema escrito por meu pai. Está datilografado na arcaica Smith Corona dele, um dos poucos objetos que sobreviveram à minha prisão e dorme aqui em meu escritório. Talvez alguma de minhas irmãs tenha cópia desse poema. Eu o li hoje pela primeira vez. Lembro de minha mãe referir-se várias vezes a ele, mas nunca o havia saboreado.
Meu pai, nascido em Passos de Lomba, aldeia trasmontana, cedo partiu rumo ao Brasil. Teria, então, algo em torno dos 15 anos. Jamais retornou a sua terra natal. Nunca mais viu a mãe.
O poema, intitulado Mãe Querida, parece guardar em seu título uma ambigüidade. A mãe é a mãe biológica, mãe Amélia da Conceição, mas é – também – a mãe terra, a aldeia original. Não sei se a dubiedade foi proposital. Mas é evidente.


MÃE QUERIDA
[mantive a grafia original]

Alberto Augusto


É pequenina, um brinco de criança:
Tão linda jamais vi
Em serranias altas sobrepostas
A aldeia em que eu nasci

Ali há vida, há luz, prados extensos;
Riquíssimos jardins;
Campinas verdes, plurimatizadas;
Ribeiros em festins.

Um céu de anil puríssimo de estrêlas
Constantes no brilhar;
E a refletir-se em fontes cristalinas
Um pálido luar.

Vetusto casario guarnecendo
Vielas que só têm
Vestígios de mourama de outros tempos,
E curvas em vai-vem.

Há pardais, rouxinóis, há andorinhas:
Orquestra sem igual!
Bem parece viverem todo o dia
Em festa nupcial!

Os campos e os pomares enfeitados;
Grilada a cricrilar;
As searas imensas, brancacentas,
Ao vento a baloiçar.

Tal é a minha aldeia – se me lembro...
É linda para mim!...
Há muito... muito... que a deixei, chorando;
Chorando sem ter fim.

Deixei-a, sim; por lá ficou, saudosa;
E fui-me longe, além...
Também deixei a minha mãe sòzinha,
Da vida tôda o bem.

E nunca mais, oh não, tal voz ouvi
Ternuras a dizer...
Aquela face triste e desmaiada,
Não mais pude rever.

Lamento e me arrependo muitas vêzes
De um grande crime assim!
Padeço em cada hora, em cada instante,
A dor que não tem fim.

A minha mãe velhinha é todo o anseio
Meu, todo o ideal...
É todo o bem que anseio nesta vida;
Sim, ela é meu fanal.

Morando nesta terra linda e boa,
Feliz podia ser;
Mas minha alma, saudosa de outra alma,
Fugiu... quí-la rever...

Alçou em vôo de águia legendária.
Librando-se no ar,
Foi visitar a aldeia pequenina.
De lá não quis voltar!

Eu quero ir também, e não te esqueças,
Oh Deus do meu clamor.
Não te olvides de mim, que em ti confio
- Espero em teu amor.

Permite, ó Deus, consente eu veja ainda,
Mamãe querida, ali,
Por quem tanto chorei, tantas saudades
Eu sinto por aqui.

Não me deixes, Senhor, viver penando
Em tal separação;
Pois minha vida assim é um tormento
Que corta o coração.

Prossigo embalado na lembrança
- E o dia há-de chegar –
De ver-te a face imersa num sorrir
Mais doce que o luar!

Queres findar, bem sei, tua carreira;
Anseias o partir,
Mas para ver-me ainda, e abraçar-me,
Mais vida hás-de fruir.

E a aldeia pequenina e alcandorada,
Feliz há-de sentir
A ventura sem fim de duas almas
Unidas a sorrir.

Hei-de ver-te, e beijar-te muito, muito,
Dormir nos braços teus!
Hei-de sentir o teu amor profundo!
Cingir-te aos braços meus.

Não te eleves da terra, mas espera
Um beijo dêste amor.
Então demandarás o Paraíso.
Concede êste favor.


Minha avó Amélia não pôde esperar. Meu pai também se foi muito cedo.
De alguma forma, a ida dos três filhos de Alberto agora em setembro à aldeia em que ele nasceu será um reencontro dele com a mãe terra.
Por nosso intermédio.
Para minha alegria.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Lógicas não usuais


Estudei Lógica, durante alguns anos, sob orientação do professor Newton da Costa. Já falei um pouco dele, aqui.
Ele é um dos lógicos mais importantes do mundo. No Brasil, claro, não chega a ser tão reconhecido quanto Ronaldo, o Fenômeno, ou Hebe Camargo ou Ana Maria Braga etc etc. Cada país tem os ídolos que merece.
O professor Newton ficou conhecido internacionalmente por ter desenvolvido a teoria das lógicas paraconsistentes. São lógicas que admitem a contradição. Numa lógica convencional, se aparece uma contradição tudo desaba. É como um terremoto de nível 10 na escala Richter. Ele bolou uma lógica que permite a contradição sem que o mundo venha abaixo. Coisa de gênio.
Uma das minhas alegrias na vida é a de ter conhecido e convivido com o professor Newton. Esquisitão, exigia que os alunos o tratassem por senhor. Mas, ao contrário de muito professor titular, que entende ser depreciativo dar aulas para a graduação, Newton da Costa dava aula pra qualquer nível. Não se importava com essa história de majestade do cargo. Ao contrário de muito orientador de tese, propunha-se a ir à casa do orientando, à noite, pra discutir o trabalho.
É verdade que, na primeira vez que foi à minha casa, ao conversar comigo e com minha esposa, nós que havíamos acabado de sair da cadeia, perguntou:
- Como é que vocês podem ser marxistas? Isso é coisa de estúpidos!
Assim, na lata.
Algum tempo depois, ao voltar de viagem à Polônia socialista, à qual havia ido a convite para dar conferências, disse-nos, na mesma casa, sentado na mesma cadeira:
- O socialismo é maravilhoso!
Esse é o extraordinário professor Newton da Costa. Ou melhor, um pedacinho dele. Porque ele, em sua totalidade, é indescritível.
Tudo isso me vem à memória a propósito de uma tia minha, portuguesa que vive no Brasil há muitos anos.
Ela vai completar 80 anos semana que vem.
Já há algum tempo, começou a mostrar sinais de demência. Fomos com ela a uma médica geriatra. Orientados pela médica, colocamos para cuidar dela uma cuidadora. Minha tia sempre viveu sozinha. Vive em um apartamento de cômodo único. Ela adora o cantinho dela. Suportou a cuidadora durante uns três meses. Depois, expulsou-a de casa.
Como tínhamos de colocar outra cuidadora lá e sabíamos que ela não a aceitaria, meu primo e eu fomos até lá no domingo passado para tirar os trincos que ela tinha na porta de entrada. Caso contrário, ela não deixaria nenhuma cuidadora entrar.
Pedimos que uma amiga dela a levasse para dar um passeio enquanto arrancávamos os trincos.
Feito o trabalho, fomos embora e avisamos a amiga que já podia levá-la de volta.
Fiquei curiosíssimo sobre qual seria a reação dela ao voltar.
Soube, dia seguinte, ao falar ao telefone com a amiga de minha tia.
Ela entrou no apartamento, percebeu a remoção dos trincos e explicou à amiga, utilizando a lógica toda especial que a doença lhe proporciona:
- Meus sobrinhos estiveram aqui e consertaram a fechadura.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Einstein chuta o pau da barraca


A Folha de S.Paulo divulga, hoje (aqui, para assinantes Folha ou UOL), carta que Einstein escreveu a um amigo filósofo em 1.954, ano anterior a sua morte, na qual ele manifesta sua opinião sobre as religiões (aqui, parcialmente, traduzida para o inglês):

"A palavra Deus é para mim nada mais do que expressão e produto da fraqueza humana".

De quebra, ainda diz que não considera os judeus um povo escolhido. A religião judaica, “como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições mais infantis”.

Quanto à Bíblia: “uma coleção de lendas honráveis [ver nota], ainda que primitivas”.

A carta já era conhecida. A matéria da Folha se deve ao fato de que a carta, agora, vai a leilão. O surpreendente nela é que, segundo os historiadores, Einstein jamais havia manifestado muito claramente sua opinião sobre as religiões. A matéria da Folha acrescenta que a frase de Einstein mais citada sobre o assunto, até essa carta, era:

“A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega”.

Claro que no mundo atual, politicamente correto, no qual jogam-se filhas pela janela ou escravizam-nas por anos em porões mas não se pode chamar ninguém de ceguinho, a frase dele teria de ser adaptada:

A ciência sem religião é portadora de deficiência motora, a religião sem a ciência é portadora de deficiência visual.

Claro, também, que os indefectíveis defensores das religiões dirão que, já próximo da morte, Einstein estaria gagá, ops!, seria portador de deficiência cognitiva.

Quanto a mim, sempre achei o gênio meio piradão. Talvez essa carta manifeste um de seus parcos momentos de lucidez.

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Nota: A palavra honrável não é registrada nem pelo Houaiss nem pelo Aulete. Existe honorável. Na tradução da carta para o inglês consta honourable, que o Merriam-Webster unabridged tampouco registra mas que o Cambridge on line dá como variante inglesa de honorable. Honorable poderia ser traduzido por admirável.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A versão animal do
Estupra mas não mata


A Folha de S.Paulo publica, hoje (aqui, para assinantes Folha ou UOL),matéria sobre uma foca macho flagrada tentando copular com um pingüim. O cinegrafista filmou a tentativa (afinal frustrada) durante 45 minutos. O pingüim tentava escapar mas como a foca pesa até 120 quilos (dez vezes o peso de um pingüim) ele não conseguia.
Terrível, não é mesmo?
Acontece que na ilha Marion, onde a tentativa de estupro foi filmada, parece que o mais comum é que as focas comam os pingüins – literalmente.
O ex-governador de São Paulo, o inefável Paulo Maluf, ficou célebre – entre outras façanhas – por ter sugerido a estupradores em geral:
- Estupra mas não mata.
Seu conselho polêmico foi finalmente seguido pela tal foca.
Ou terá sido incapacidade da foca em discernir entre os vários sentidos do verbo comer.
Sabe-se lá.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A incrível Lei Rouanet


Já comentei, há algum tempo, a utilização da tal Lei Rouanet por parte de artistas consagrados.
Não sei se todo mundo sabe: a Lei Rouanet, trocada em miúdos, permite que você apresente a uma empresa um projeto cultural qualquer para que a dita empresa arque com os custos. O pequeno detalhe, nessa história, é que a empresa paga o empreendimento com grana do imposto que ela deveria recolher ao erário.
Resumo: o distinto público, o contribuinte, paga a brincadeira.
Que artistas desconhecidos se valham da tal lei, ainda é discutível. Eu, por exemplo, sou contra. Mas admito que haja argumentos para defender esse subsídio.
Agora: o fim da picada é ver artistas famosos, já podres de ricos, usando a Lei Rouanet para encher mais seus cofres.
Falando português claro: é uma pouca vergonha.
Todo esse meu azedume vem de ter lido, hoje de manhã, na Folha de S.Paulo, matéria sobre o lançamento do songbook do cantor Djavan. São três volumes com as partituras de todas as músicas do cantor/compositor. Assinante Folha ou UOL lê aqui.
Muito bacana, muito interessante. Só que esse trabalho foi bancado pela Lei Rouanet. E tem mais: não satisfeita por mamar nas tetas do contribuinte, a turma que preparou o songbook ainda tascou-lhe um precinho camarada: cada um dos três volumes custa R$ 130,00.
E o compositor ainda teve a cara de pau de declarar:
"Nem sabia que custava isso. Pedi para que fizessem o preço mais acessível possível."
Como diria a Hebe Camargo: Não é uma Gracinha?!

sábado, 10 de maio de 2008

Foi uma terceira pessoa


Pois é. Não foi Pero Vaz e Caminha que pediu ao Rei de Portugal emprego para um parente. Foi uma outra pessoa. Ela se intrometeu na carta sobre a descoberta do Brasil e acrescentou trechos apócrifos.
Nem pensem que Pedro I proclamou a Independência. Ele apenas teve um pequeno desarranjo intestinal às margens do Ipiranga. Algum gaiato aproveitou-se do imprevisto e gritou o Independência ou Morte.
Já Deodoro da Fonseca, esse, todo mundo sabe que era monarquista. Foi empurrado para a História. Mas quem proclamou a República foi o cavalo.
Por falar em cavalo, a Revolução de 30 teve como ponto alto o tal cavalo que os gaúchos amarraram no obelisco, no Rio. Ou não.
Getúlio não se matou. Foi uma terceira pessoa, ou quarta, ou quinta, sabe-se lá, que entrou no quarto e atirou nele. Até mesmo a Carta Testamento, que tantas lágrimas suscitou ao longo dos anos, não se sabe bem por qual terceira pessoa foi escrita.
E o País continuou sempre dominado por terceiras pessoas.
No caso de JK, a terceira pessoa era uma amante. Ou várias. Menos mal.
O golpe de 1° abril de 1.964 foi patrocinado por terceiros. No caso, os EUA.
Mas nem precisava. A esquerda brasileira não precisa de inimigos. Bastam-lhe os amigos.
E os governos militares? Meu deus! Quanta estupidez! Claro, toda de terceiras pessoas. Afinal, Castelo Branco, Costa e Silva, os Três Patetas, Médici, Geisel, Figueiredo, todos (ou quase todos, sei lá) foram primeiros alunos de suas turmas no Exército. Imaginem os últimos.
Daí fomos parar nas mãos dos Marimbondos de Fogo. Que loteou (os marimbondos, são, no caso, singular) o governo entre terceiras pessoas. Todas foram muito bem remuneradas e o mundo continuou girando em sua órbita.
E veio Collor. E PC Farias. Mas tudo o que amealharam foi obra de terceira pessoa. Tanto é que foram absolvidos. PC Farias foi assassinado, é verdade. Mas nem tudo são flores neste país terceirizado.
Itamar Franco foi o menos ruim. Tá certo. Era – e é – muito caipira. Parece ter sido o primeiro presidente da República que nunca tinha viajado a São Paulo. Pode?! Mas assumiu seus ridículos sem intermediários. Só valeu-se de terceiras pessoas pra implantar o Plano Real. Afinal, o negócio dele era outro, nada real.
Fernando Henrique eu me recuso a comentar. Já tinha escrito um monte de asneiras e governou produzindo mais asneiras. O que de bom foi produzido em seus governos foi obra de terceiros. Sempre a terceira pessoa.
Lula tem uma vantagem: ele troca de terceira pessoa a toda hora. Primeiro era o Zé, depois o Palocci, depois a Dilma, depois quem?
Depois ele, claro. Prontinho pro terceiro mandato.
Vai daí, não entendo a incredulidade da imprensa em relação à versão dos Nardoni sobre o assassinato de Isabella. Se sempre há uma terceira pessoa em tudo que acontece de relevante neste país, por que não haveria uma terceira pessoa na cena do crime?
Aliás, um detalhe: a versão me parece não ser obra nem do pai nem da madrasta de Isabella. Tenho a forte impressão de que a versão é obra de terceira pessoa.
Como sempre, em tudo.

domingo, 4 de maio de 2008

Responda rápido:


Quem é pior:

o austríaco Josef Fritzl, que manteve a filha em cativeiro por longos 24 anos e a obrigou a ter sete filhos dele;

ou

a elite do Nordeste brasileiro (os Sarney, os Gomes et caterva), que mantém o povo inteiro em cativeiro há uns 500 anos e o obriga a ter filhos sem qualquer planejamento, para que a miséria não corra risco de acabar.

Hein? Hein?

sábado, 3 de maio de 2008

Portugal e Brasil


Lisboa e São Paulo.
Certamente, depois dessa Marcha da Maconha, Lisboa sucumbirá diante do Mal.
Ainda bem que São Paulo é terra de flores perfumadas e de pássaros gorjeantes.
Suas sábias autoridades não permitirão que Marcha tão malevolamente solerte perturbe a paz aqui reinante.