segunda-feira, 30 de maio de 2005

Santo Antonio do Bundar


Como quinta foi Corpus Christi , fui de corpo e alma bundar em Santo Antonio do Pinhal, pouco menos de 200 km de São Paulo, quase em Campos do Jordão. Serra da Mantiqueira.
Ficamos em uma pousada aconchegante. Com muito esforço, fomos até uma cachoeira ali perto. Pena que era proibido fazer despachos de macumba.

E eu, que tinha levado galinha preta e velas
A cachoeira não é nenhuma coisa tipo Foz do Iguaçu, mas dá pro gasto.

Diz que não há trutas nessas águas
Em compensação, a pousada em que ficamos (vê só o chalé amarelo. É o nosso)

Bonitinho, né
fica em um pequeno vale e oferece um visual aprazível.

Essa é a construção central da pousada, vista do nosso chalé
A água da piscina devia estar gelada. A cachaça não
Amanhã, trabalho.
Bundar, só semana que vem (segunda é feriado em Osasco, onde trabalho e é - vejam a coincidência - dia de Santo Antonio).

domingo, 29 de maio de 2005

[Informe Publicitário]


Já está disponível o número 9 da revista Engrenagem. Aliás, já está disponível, imagino, desde ontem, sábado. Quem não estava disponível era eu. Estava em Santo Antonio do Pinhal, 200 km da minha casa, onde fui bundar desde quinta-feira.

E tem Edith Piaf, interpretada por Cássia Eller, segundo corrigiu a chefinha
Uma porção de gente escreve sobre o tema "E agora, lembra de mim?".

E tem a letra com a tradução
Eu gostei mais do texto da Lilly Rowan. E você?

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Não chego mais atrasado


Agora sim. Problema resolvido.
Acontece que detesto chegar atrasado a compromissos. Considero falta de respeito deixar alguém a me esperar, passada a hora do encontro.
Mas sabe, a coisa é complicada. São Paulo tem um trânsito caótico. Além disso, os relógios apresentam diferenças importantes. Nem todos coincidem. E por aí vai.
Tudo isso é passado. E graças ao Hidetoshi Katori, da Universidade de Tóquio. Ele e sua turma bolaram um novo relógio que tem uma precisão da ordem de 0,000000000000000001 do segundo. Antes, os relógios mais precisos não conseguiam (vejam só!) medir tempos menores que 0,000000000000001 segundos. Que porcaria. Coisa de camelô.

sábado, 21 de maio de 2005

As virtudes da Psicologia


Houve um tempo em que fui casado com uma psicóloga. Ninguém é perfeito (me refiro à psicóloga, claro)
Ela me ensinava coisas muito interessantes.
Por exemplo: quando você freqüenta um lugar com alguma assiduidade, lugar no qual é constrangido a dar gorjetas (propinas, como se diz em Portugal), digamos, o estacionamento (parque, como se diz... será que não dá pra termos uma língua única, pô) de um restaurante, faça o seguinte:
Dê a gorjeta de modo aleatório. Um dia alta, noutro dia quase nada, depois nada, na próxima visita alta de novo. E por aí adiante. É a melhor forma de manter-se em bom conceito com os agraciados (ou não) por suas gorjetas.
Se você dá sempre gorjeta baixa, claro: imediatamente classificado como sovina, tratado como tal.
Se você dá sempre gorjeta alta, claro: tratado como perdulário, não se dá ao respeito.
Se você dá sempre gorjeta média, claro: trata-se de um medíocre usuário (utente, como se diz... chega!).

Qualquer coisa


A vantagem de ter péssima memória é... qual é mesmo?

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Cante e Dance


Laura, Laura. Que descoberta mais a calhar.
Você que gosta de tangos e boleros (viu, Che Caribe) não perca.

Cante também
Ponha som na caixa e bola pra frente.
Bora cantar e dançar.

e-Deus


Já inventaram várias formas de comunicação com a(s) divindade(s). Há as que passam por rituais ou por intermediários. Há as que são diretas, pela simples oração.
Mas tudo isso vai virar passado. Chegou a web religion.

Delete seus pecados
Passe seu e-mail pra Deus. Entre no Messenger e bata um papo com JCristo. Se quiser, ligue sua web cam e veja João Paulo II face a face.

O que? Querias Deus? Aí não. Ninguém pode ver Sua face. Quando muito, leia Seu blog.
É a e-Bíblia.

quinta-feira, 19 de maio de 2005

A merda nossa de cada dia


Um monte de gente se escandalizou, só porque o Branco Leone confessou que come merda, ou melhor, chinchulines.
Se você é desses, dá uma lida nesse texto que copiei desta simpática página sobre as abelhas e seu incansável trabalho de fabrico do mel:

“...perguntei para uma abelhinha como se fabrica o mel, e ela me disse: - A fábrica é no meu estômago! Acredita? O néctar que retiro das flores, engulo e lá dentro, passa por diversas transformações químicas enquanto vôo de volta à colméia. À porta de nossas casas esperam-me as minhas irmãzinhas mais novas a quem eu lanço o mel pronto, do meu estômago. Elas o recebem e engolem também e vão para dentro depositá-lo nos alvéolos dos favos, onde permanece até amadurecer.”


Pois é. Adoro mel e chinchulines.

terça-feira, 17 de maio de 2005

Manda bala


O José Pimentel Teixeira, do Ma-Schamba, de Moçambique, adora terçar lanças por Dulcinéia. Eu acho ótimo. Cá, no Brasil, ninguém mais briga por nada.
Locupletamo-nos todos.

O Google e o Bazar


Fico aflito com as pesquisas que trazem o pessoal até meu blog. Quase sempre, o que o cidadão procura não tem nada a ver com o que eu escrevo. Imagino a enorme frustração do indivíduo ao chegar a meu Bazar. Hoje, por exemplo. Um esforçado colegial (ou terá sido um renomado pesquisador acadêmico? Um autor de samba-enredo? Um ?) colocou no Google a seguinte interrogação:
qual é o coletivo de médicos?
Veio parar aqui. É justo, isso? Só porque eu já falei em coletivo (dos presos, no Presídio Tiradentes) e já falei de médicos.
Então resolvi colaborar. Afinal, qual é o coletivo de médicos?
Primeiro, depende. Se o médico tem seu consultório já montado, clientela estabelecida, coisa e tal, nada de coletivo. Ele anda é de carro próprio mesmo. Mas se é daqueles médicos em começo de carreira, trabalhando em cinco hospitais ao mesmo tempo, aí então, haja coletivo. É metrô, ônibus, o scambau. Só não anda de bonde porque não existe mais (escrevo em São Paulo, lembra?).
Alguém poderia conjecturar: o coletivo de médico é hospital. Errado. Hospital tem um monte de médicos, é verdade. Mas também tem fisioterapeutas, enfermeiros etc – os tais paramédicos – funcionários administrativos, esparadrapo e por aí vai.
Pronto. O coletivo de médicos pode ser estraga-prazeres.
Não, isso não é coletivo. Isso é definição.
Sei lá. Acho que vou pesquisar no Google.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Pode?


Já não chega a turma pegar no pé o tempo inteiro com piada de português?
Agora, Portugal resolveu virar, também, país da piada pronta.
Olha só o que descobri neste post do O Traque:
O piloto português na Fórmula 1, o Tiago Monteiro, na realidade é:

Confira na Wikipedia

Tiago Vagaroso da Costa Monteiro

domingo, 15 de maio de 2005

P-CHUVA


Mal começo.
A dissidência do PT que resolveu montar novo partido político pra nos livrar de todo o mal, amém, começa por enviar spam pros possíveis eleitores.

Rindo de quem, dona Heloísa
Sem comentários.

[Informe Publicitário]


A IMPORTÂNCIA DO " P "

E O MELHOR DO CORPO HUMANO


engrenagem # 8


Revista Engrenagem



Bom, sempre tem aquela piadinha que só tem graça pra americano: a professora pede pro garoto recitar o alfabeto. O guri vai em frente: A, B, C ...... M, N, O, Q, R, S .....
E a professora:
- E onde está o P?
(que, em inglês, é “pi” e significa também xixi)
E o garoto, envergonhado:
- Escorreu pela calça, professora.
Gracinha de piada, né não?
Mas evidencia a importância do “P”, pô.
Agora. Falando sério. Quer dizer, mais ou menos. Estou no número 8 da Revista Engrenagem, junto com uma turma pra lá de maluca. Mas malucos que escrevem coisas deliciosas.

sábado, 14 de maio de 2005

Ainda vai dar Porto


Pouco antes de Benfica x Sporting eu conversava pelo Messenger com o Asulado. Reclamei que só tenho aqui um canal português, a RTPi, que insiste em só transmitir ao vivo jogos secundários do campeonato português. Hoje, por exemplo, enquanto todo mundo em Portugal está de olho no jogo de Lisboa, a RTPi transmite Rio Ave x Porto.
Já estava conformado em assistir aos jogos do campeonato espanhol quando – quase sem querer – descobri que o BandSports iria transmitir Benfica x Sporting.
Beleza. Só assim pude ver o Luizão levar na conversa o Ricardo e jogar o Sporting pra fora da disputa.
Mas não se entusiasmem, benfiquistas.
Ainda vai dar Porto.

sexta-feira, 13 de maio de 2005

O último gesto de Celina


Minha mãe jamais admitiu que tivesse câncer. Eu era a favor de abrir o jogo com ela. Minhas duas irmãs, contra. Em pouco tempo, percebi que tinham razão. Afinal, Celina, que de boba não tinha nada, já tivera mil oportunidades para perceber do que se tratava, todo aquele sofrimento. Se não se dera conta era porque não queria. Ponto.
Por não saber, vivia a fazer planos para depois que ficasse boa. E assim atravessamos o ano da graça de 1.992. No início de dezembro, ela me confidenciou:
- Se não ficar boa até o Natal, quero ir embora. Estou cansada.
Sábado, 12 de dezembro, chamei minha irmã que mora no Rio.
- Vem que ela está no fim.
Ao longo do sábado ela foi definhando. Lá pelo meio da tarde já não conseguia falar. Eu, inconformado, peguei uma pequena prancheta, papéis, lápis e fiz várias tentativas de dialogar com ela por escrito.
Consegui alguma coisa, mas depressa isso também se tornou impossível.
Começo da noite, os três irmãos estávamos abraçados, em pé, junto à cama.
Celina ergueu com dificuldade a mão direita, juntou o polegar ao mindinho, e mostrou três dedos retos, irmanados. E sorriu.
Dormiu e nunca mais acordou.

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Per capita


Foram uns dez meses de relacionamento. Trezentos dias. Vamos exagerar: teriam sido trezentas, como dizer, vá lá, trepadas, mesmo.
Quinze milhões divididos por trezentos costuma dar (ops!) cinqüenta mil reais. Ou se preferirem, algo do tipo quinze mil euros.
Caro, né.

Santos 6 X O Bolivar


Parecia as peladas que a molecada jogava na praia do Boqueirão, em Santos, nos idos tempos. Como ninguém tinha relógio, o critério de duração do jogo era:
Três vira, seis acaba.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Ordinais


Primeiro foi a paixão. Segundo, o amor.
Só bem mais tarde surgiu o terceiro, já que no quarto reinava a indiferença.
A relação tornou-se um quinto dos infernos.
Lá pelo sexto ano, ficou claro para todos:
Aquilo estava longe de ser o sétimo céu.
Para eles, há muito já não era a oitava maravilha.

Cardinais


Um dia, dois amigos se desentenderam por causa de três vinténs. Trocaram quatro ou cinco sopapos, meia dúzia de palavrões e ficaram sete ou oito meses sem se falar. Depois de nove meses, tempo adequado para curar as mágoas e permitir a gestação do perdão, fizeram as pazes.
Hoje, a amizade deles é dez.

domingo, 8 de maio de 2005

Era uma vez - XXIV
Bilhetes a Celina (4)


Já, já, vai ser dia das mães. Então, transcrevo aqui mais um bilhetinho enviado a minha mãe de dentro do Presídio Tiradentes. Como em outros bilhetes, ela é que anotou a data: 2/6/72.
Só retirei, do final, as menções ao pessoal da família. O resto, vai do jeito que foi escrito (ortografia mantida):


Oi, manhê!
Estou escrevendo de manhãzinha. São 7 e pouco. Dormi muito cedo (umas sete da noite) e acordei de madrugada, sem sono. Ontem estava lendo sobre Platão. Esta madrugada comecei a ler sobre Aristóteles e já me sinto diferente de ontem. É gostoso sentir-se como os pensadores que se estuda. Dormi platônico e acordei aristotélico. Mas em tudo isso predomina a idéia grega de “justiça”. Ela não significa, para os gregos da Antigüidade, o mesmo que modernamente. Para êles, era uma noção de equilíbrio: o justo é não ultrapassar os limites eternamente fixados. Na moral aristotélica, isso significa a valorização do meio-têrmo. Algo como: “a virtude está no meio”. A coragem, por exemplo, é virtude porque é o meio-têrmo entre a covardia e a temeridade. E daí pra frente.
Tudo isso me lembra uma frase de um companheiro de cela: “Quem acende uma vela a Deus e outra ao Diabo, acaba ficando no escuro”. Frase que, como se vê, nada tem de aristotélica...
Com tudo isso, aprendo coisas curiosas. Platão era a favor da dissolução completa da família. Os filhos deviam ser retirados dos pais ao nascer, tomando-se cuidado para que não se conhecessem (os filhos aos pais e vice-versa). Além do mais, as mulheres deviam ser desfrutadas em comum pelos homens do grupo. As crianças deveriam ser educadas pelo Estado. Se os donos da moral de nossa Terra ficam sabendo disso, o pobre Platão vai passar por maus momentos... A ignorância em nossa Terra é tão grande que seria cômica, não fôsse trágica. Mas como diz um escritor argentino, ao dizer quase o mesmo de sua Pátria: “isso é algo que se deve reconhecer com todo carinho”...
Ah! Aristóteles recomenda que as crianças sejam concebidas no inverno, e justifica falando em ventos que sopram não sei como... Eu nasci com a fôrça do calor, como diria o humorista luso...
Quanto ao cotidiano: tudo bom, esperando com inesperada calma a liberdade. O estudo da Filosofia é um ótimo sedativo. Roupas sujas, vasilhas e quejandos serão devolvidos sábado, como de hábito (bonito, né!)
Quanto ao mais não há nada a dizer. Como diz Eurípides: “o sofrimento em demasia torna-se ridículo”. E eu não quero ser ridicularizado.
(...)
Na senhora, um beijão grandão.
Té manhã! Tchau!
Beto

sábado, 7 de maio de 2005

As bananas azuis


Meu interesse pelo assunto vem de longe. Quando criança, minha refeição preferida era banana-com-aveia. Mas era coisa de profissional, nada dessas papinhas ridículas que fazem pras crianças, misturando uma banana triturada a uma colher de aveia, não.
Pegava um prato fundo, amassava nele cinco ou seis bananas nanicas. Depois vinha a questão do como adoçar a coisa. Às vezes, muitas vezes, era com açúcar mesmo. Em outras fases foi mel. Mais tarde, leite condensado. Tive a época do açúcar mascavo, da qual me redimi com alguma rapidez. Mas o ponto alto do preparo era o despejar de quase uma caixa de Aveia Ferla (nada de Quacker) em cima do mingau. Mexer bem, fundamental. Até obter massa homogênea e consistente. Dependendo do humor, punha Toddy ou não. O que gerou duas categorias: a banana-com-aveia clara e a banana-com-aveia escura.
Na família, todos concordam que só sobrevivi graças à banana-com-aveia. Cheguei até a planejar abrir uma franquia de banana-com-aveia. O nome seria n’aveia. Desisti. Não por culpa da banana-com-aveia. Foi por falta de espírito empreendedor, mesmo.
Portanto, nada mais natural que o tema das bananas azuis tenha me seduzido com facilidade. Primeira referência que tive sobre isso foi na fase em que me dediquei a ler os clássicos. Foi depois que saí do presídio. Não tinha o menor apetite para os assuntos do dia a dia da política, da economia, mesmo das artes e espetáculos. Fechei-me em Homero, Aristófanes, Horacio, coisas assim. Mas foi em Heródoto que achei a ponta do fio da meada. Na edição da Pléiade (ou você acha que eu lia os caras em grego) esbarrei em menção a povos da região dos Bálcãs nos quais a elite mantinha sua ascendência sobre a plebe graças aos extraordinários predicados das bananas azuis, cultivadas em estufas resguardadas da curiosidade geral.
Algum tempo depois, quando me interessei pela Cabala, descobri que a tradição das bananas azuis atravessou a Idade Média graças a abnegados cultores dos mistérios cabalísticos. Desconfio que Shimon Bar Iojai (Rashbi), em seu Sefer HaZohar, insinua qualquer coisa sobre os poderes fantásticos das bananas azuis. Parece mesmo que há relação entre elas e a expressão sangue azul, dedicada à nobreza.
A Renascença não conseguiu romper os mistérios que sempre cercaram o tema. Mas há poucas divergências entre os historiadores: Descartes certamente provou do fruto. O mesmo não se pode dizer do provinciano Kant. Ele não ia sair do seu pequeno mundo rotineiro para correr atrás de bananas. Ainda que azuis.
No mundo moderno, quase não há referências ao enigma. O que não significa que ele tenha deixado de existir. Ao contrário. Há raros documentos que parecem indicar que Hitler perseguia os judeus na esperança de captar-lhes os segredos milenares das bananas azuis.
De facto, o holocausto tornou mais difícil seguir as pegadas dos fiéis guardiães dessa tradição.
Nos dias atuais, o mistério não faz senão aumentar. Mas não. Michael Jackson nada tem a ver com isso.
Se alguém tiver alguma dica, por favor, deixe nos comentários.

Thiaguinho não. Thiago de Mello.


O Wilton, do blog Quitanda do Chaves, reproduz, em um post, os Estatutos do Homem, de Thiago de Mello.
Lá por volta de 1.965 ou 66, montei uma peça teatral com texto que era uma colcha de retalhos de tudo que eu andava a ler na época, imitando os espetáculos tipo Opinião, Liberdade, Liberdade etc etc. Tinha Vinicius, Drummond, Bandeira, o diabo. E tinha Thiago de Mello. E seus Estatutos do Homem. Eram, aliás, o ponto apoteótico da coisa toda. Foram muitos ensaios e uma apresentação um tanto canhestra para um público errado, no auditório do Colégio Baptista Brasileiro, em São Paulo.
Depois do fim de tudo, minha mãe me contou que conhecia o tal de Thiago de Mello. Fiquei surpreso. Ela explicou:
Nos idos de 1.935, recém casada com meu pai, fora morar em Manaus, Amazonas, tudo porque meu pai não queria ser um pastor baptista qualquer, queria ser missionário em lugares inóspitos.
Pois bem. Na Igreja Baptista de Manaus minha mãe conheceu a mãe de Thiago de Mello, na época um garoto. Mais: ganhou dele uma pequena pintura, escolhida entre seus primeiros esboços de arte.
- Pois é, disse minha mãe, era um quadro do Thiaguinho.
E eu, já aflito:
- Mãe. E onde anda esse quadro.
- Ah, filho. Acabei jogando fora em alguma mudança.

sexta-feira, 6 de maio de 2005

Desamores & Filosofia
(ou seja, conversa fiada)


A Laura foi cobiçada pelo Drummond. A Helô Pinheiro pelo Tom. Eu mesmo namorei uma menina que tinha sido assediada pelo Sérgio Ricardo. Aquele mesmo, que quebrou o violão no palco da Record, num festival de música popular. Ato que propiciou a manchete fantástica de um jornal sensacionalista de São Paulo: Violada em pleno auditório.
São desencontros, desamores. Como tantos pela vida, como dizia Vinicius. Vinicius, o mesmo que – segundo meu ortopedista confidenciou – participou de um cruzeiro Brasil – Europa junto com Neruda. Bebiam tanto que, passado o meio-dia, ficavam imprestáveis. Em uma escala, Neruda desembarcou, carregado em maca, acometido de uma crise de gota.
Por falar em imprestáveis após o meio-dia, há uma história de Passos que não consigo não compartilhar:
Uma irmã de meu pai, Carolina, veio para o Brasil ainda jovem. Anos mais tarde visitou Passos, sua terra natal. Lá encontrou seu meio irmão Zindo (do qual conheço os filhos, que continuam lá). Era quase o “dono” da aldeia. Ele é que chamava o padre para rezar missa e tomava todas as providências que a pacata vida social do local exigia. Sua rotina de vida era simples: durante a manhã, aboletava-se na varanda de sua casa, munido de uma peça de presunto, de uma faca afiada e de um garrafão de vinho. Tudo artesanal, claro, claro.
Ao meio-dia, estava como Vinicius e Neruda no cruzeiro a que aludi acima. Imprestável.
Minha tia Carola (que adotou esse nome ao invés de Carolina, que achava horrível, vejam só), para provocá-lo, perguntou-lhe um dia (antes do meio-dia):
- Zindo, como podes viver dessa maneira e ao mesmo tempo trazeres cá padre a rezar missa e coisa e tal? Como concilias tudo isso?
E tio Zindo sem se apertar, enunciando o que considero assertiva importante da filosofia pós-socrática:
- Veja, lá em cima está Deus.
-Aqui embaixo, é tudo a mesma merda.

domingo, 1 de maio de 2005

NOJO


Hoje acordei disposto a viver um dia ameno. Domingo, 1º de maio, dia cinzento em São Paulo, um pouquinho de frio.
Peguei o jornal, a Folha de S.Paulo, comecei pela coluna do José Simão e pelos quadrinhos geniais do Angeli, do Laerte etc etc.
Não deu pra escapar. Primeira página: ex-militares que combateram a guerrilha do Araguaia querem indenização. E contam, sem pudor algum, como torturavam e matavam os guerrilheiros. Não coloco link nenhum. Não acho que valha a pena ler isso.
O Brasil está cada vez mais assim: uns caras sub-humanos empunham seus certificados de reservistas e querem ganhar dinheiro por terem sido excelentes em sua vilania.
Se olhar mais uma vez essa foto, vomito.