sábado, 7 de maio de 2005

As bananas azuis


Meu interesse pelo assunto vem de longe. Quando criança, minha refeição preferida era banana-com-aveia. Mas era coisa de profissional, nada dessas papinhas ridículas que fazem pras crianças, misturando uma banana triturada a uma colher de aveia, não.
Pegava um prato fundo, amassava nele cinco ou seis bananas nanicas. Depois vinha a questão do como adoçar a coisa. Às vezes, muitas vezes, era com açúcar mesmo. Em outras fases foi mel. Mais tarde, leite condensado. Tive a época do açúcar mascavo, da qual me redimi com alguma rapidez. Mas o ponto alto do preparo era o despejar de quase uma caixa de Aveia Ferla (nada de Quacker) em cima do mingau. Mexer bem, fundamental. Até obter massa homogênea e consistente. Dependendo do humor, punha Toddy ou não. O que gerou duas categorias: a banana-com-aveia clara e a banana-com-aveia escura.
Na família, todos concordam que só sobrevivi graças à banana-com-aveia. Cheguei até a planejar abrir uma franquia de banana-com-aveia. O nome seria n’aveia. Desisti. Não por culpa da banana-com-aveia. Foi por falta de espírito empreendedor, mesmo.
Portanto, nada mais natural que o tema das bananas azuis tenha me seduzido com facilidade. Primeira referência que tive sobre isso foi na fase em que me dediquei a ler os clássicos. Foi depois que saí do presídio. Não tinha o menor apetite para os assuntos do dia a dia da política, da economia, mesmo das artes e espetáculos. Fechei-me em Homero, Aristófanes, Horacio, coisas assim. Mas foi em Heródoto que achei a ponta do fio da meada. Na edição da Pléiade (ou você acha que eu lia os caras em grego) esbarrei em menção a povos da região dos Bálcãs nos quais a elite mantinha sua ascendência sobre a plebe graças aos extraordinários predicados das bananas azuis, cultivadas em estufas resguardadas da curiosidade geral.
Algum tempo depois, quando me interessei pela Cabala, descobri que a tradição das bananas azuis atravessou a Idade Média graças a abnegados cultores dos mistérios cabalísticos. Desconfio que Shimon Bar Iojai (Rashbi), em seu Sefer HaZohar, insinua qualquer coisa sobre os poderes fantásticos das bananas azuis. Parece mesmo que há relação entre elas e a expressão sangue azul, dedicada à nobreza.
A Renascença não conseguiu romper os mistérios que sempre cercaram o tema. Mas há poucas divergências entre os historiadores: Descartes certamente provou do fruto. O mesmo não se pode dizer do provinciano Kant. Ele não ia sair do seu pequeno mundo rotineiro para correr atrás de bananas. Ainda que azuis.
No mundo moderno, quase não há referências ao enigma. O que não significa que ele tenha deixado de existir. Ao contrário. Há raros documentos que parecem indicar que Hitler perseguia os judeus na esperança de captar-lhes os segredos milenares das bananas azuis.
De facto, o holocausto tornou mais difícil seguir as pegadas dos fiéis guardiães dessa tradição.
Nos dias atuais, o mistério não faz senão aumentar. Mas não. Michael Jackson nada tem a ver com isso.
Se alguém tiver alguma dica, por favor, deixe nos comentários.

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