sexta-feira, 13 de maio de 2005
O último gesto de Celina
Minha mãe jamais admitiu que tivesse câncer. Eu era a favor de abrir o jogo com ela. Minhas duas irmãs, contra. Em pouco tempo, percebi que tinham razão. Afinal, Celina, que de boba não tinha nada, já tivera mil oportunidades para perceber do que se tratava, todo aquele sofrimento. Se não se dera conta era porque não queria. Ponto.
Por não saber, vivia a fazer planos para depois que ficasse boa. E assim atravessamos o ano da graça de 1.992. No início de dezembro, ela me confidenciou:
- Se não ficar boa até o Natal, quero ir embora. Estou cansada.
Sábado, 12 de dezembro, chamei minha irmã que mora no Rio.
- Vem que ela está no fim.
Ao longo do sábado ela foi definhando. Lá pelo meio da tarde já não conseguia falar. Eu, inconformado, peguei uma pequena prancheta, papéis, lápis e fiz várias tentativas de dialogar com ela por escrito.
Consegui alguma coisa, mas depressa isso também se tornou impossível.
Começo da noite, os três irmãos estávamos abraçados, em pé, junto à cama.
Celina ergueu com dificuldade a mão direita, juntou o polegar ao mindinho, e mostrou três dedos retos, irmanados. E sorriu.
Dormiu e nunca mais acordou.
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