sábado, 30 de junho de 2012

Que língua é essa?

Estava, agora à tarde, a fazer umas comprinhas no Lidl, cá em Bragança. Não havia lá muita gente.
De repente, percebo uma senhora, junto ao marido, a procurar algo ou alguém nos corredores do mercado. Lá ao final de um dos corredores apareceu o que procurava: o filho - uns 13 anos - a empurrar o carrinho de compras da família. O menino apressou-se a alcançar a companhia dos pais. Mas antes que chegasse junto a eles, perguntou-lhes:

- Onde é que estáveis?

Não aplaudi. Mas me deu gana.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sou biodegradável

Antes que me torne indesejável, anuncio: sou biodegradável.

Reforcei minha convicção agora, em meio a uma gripe daquelas. E, hoje, vou me degradar mais um bocadinho, a ponto de torcer pela selecção portuguesa contra os vizinhos espanhóis.

Aliás, a julgar pelos silêncios que tenho ouvido ao longo dos jogos dos portugueses na Euro 2012, talvez só eu esteja a preocupar-me com os destinos da selecção cá nesta terra abençoada por deus e bonita por natureza (esta sim, senhor Jorge Ben).

E já que falei em Jorge Ben, lembro-me de meu amigo Paulo Feofiloff. Começámos juntos no Instituto de Matemática e Estatística da USP. Pouco depois de ter saído da prisão, eu o convidei para ir à minha casa. Não sei se para almoçar ou jantar. Mas foi algo assim. Corria o ano de 1.973. Jorge Ben (que ainda não era Jorge Benjor), lançara seu LP de dez anos de carreira. Estava tudo lá, em um balanço inovador.

Eu, empolgado, fui mostrando a Paulo todas as faixas do disco. Ele as ouviu em silêncio.
Ao final, lá de dentro de sua formação musical erudita, típica de um oriundo da Rússia, com a honestidade intelectual que sempre foi a sua:

- Como é que você consegue gostar disso!?



Paulo, meu amigo. O pior é que continuo a gostar.

Outro grande amigo meu, o Luís, meu hermanito,  (aliás, nosso, pois também amigo de Paulo. Trocámos vasta correspondência durante o tempo em que eu estava no Brasil, Paulo em Waterloo, no Canadá, e Luís em Amesterdão.)  lembrou-me, dia desses, de um episódio de 1.970.

Levei à casa em que Luís vivia sozinho (seus pais haviam falecido havia pouco tempo), um militante do POC, o Gilberto, que tinha sido meu colega na Faculdade de Filosofia da USP. Minha intenção era que alguém, como Gilberto, tão sofisticado como era - e é - meu hermanito, pudesse convencê-lo a participar connosco da luta que entendíamos ser a única atitude possível diante da situação política brasileira.

Quando chegámos, Luís nos pediu que esperássemos um bocadinho e foi desligar a vitrola, que tocava Brahms. Gilberto comentou comigo:
- Não é saudável ouvir Brahms pela manhã.
Continuo sem saber se os médicos aconselham Brahms logo após o pequeno almoço, mas sinto saudade do Gilberto, com o qual nunca mais tive oportunidade de conviver.

Do Luís, felizmente, desfruto a companhia até hoje, apesar de, agora, existir um oceano entre nós. E, diga-se, o danado continua a ouvir Brahms de manhã. Foi, dia desses, assistir ao ensaio da OSESP na Sala São Paulo. Teve de engolir dois concertos de Brahms pela manhã. Depois não diga que não avisei...

De Brahms a Jorge, continuo a degradar-me.

E, se depender de mim, os defensores da Lusitânia, incluído aí o mestre Pepe, digno representante de Maceió, esmagam hoje os magos espanhóis.

Saravá!

PS:  Esmagar não esmagaram. Mas venderam caro a derrota. (22:50 h)

domingo, 10 de junho de 2012

Mais ignorância

Não sei como isso é possível:  minha ignorância a respeito de catolicismo é total. E, no entanto, não pára de crescer.
Um primo, mistura de cardecista* com pesquisador de ETs, me envia um powerpoint com um retrato de Nossa Senhora (como sou ateu, melhor seria dizer Vossa Senhora...). O retrato foi feito pelo pintor Vicente D'Ávila, da cidade de São Paulo, em 1.984, orientado por Chico Xavier, a quem o espírito Emmanuel ditou a imagem a ser pintada.

O que mais me surpreendeu, no resultado da empreitada, foi que Maria, lá do Oriente Médio do início da era cristã, saiu um bocadinho parecida com a Xuxa.


Já outro dia, em conversa com amiga brasileira que vive cá em Bragança, também cardecista*, ouvi do orgulho dela em reconhecer a fisionomia de Nossa Senhora de Fátima nas imagens que se vendem por aí.
- Mas todas as Nossas Senhoras não são iguais?
- Não!
- Mas não são todas elas aparições distintas da mesma Maria?
- São. Mas cada Nossa Senhora tem uma fisionomia diferente!

Muito estranho. Mas, pensando bem, para uma religião monoteísta que possui três deuses, essa variedade de fisionomias da Mãe de Deus não chega a ser o principal mistério.

(*) cardecista: discípulo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, Allan Kardec para os íntimos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Corpus Christi

Não entendo patavina de catolicismo. Mas, salvo engano, se entendi o significado de Eucaristia, hoje é o dia em que os católicos comemoram o facto de serem canibais e vampiros ao mesmo tempo.
Mundo estranho, este.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

domingo, 3 de junho de 2012

Oba! Ma?

Logo depois de sua eleição a presidente dos EUA eu o chamei, aqui, de pastel de vento.

É verdade que eu, em política, sou vários zeros à esquerda. Não fosse e não teria me enfiado nas besteiras em que me meti, não teria curtido um bom tempo de sol quadrado etc etc. Mas, vez ou outra, dou uma dentro.

Hoje, a julgar pelo que leio na imprensa e, principalmente, nas pesquisas para a eleição americana, Obama já deixou de ser aquela maravilha de 2.008.

Em matéria de EUA não sou nem republicano nem democrata. Sou apenas avô de uma americaninha sensacional.

sábado, 2 de junho de 2012

E mir? Sader!

Recebo diariamente os e-mails de Carta Capital. Há lá, sempre, link para o Blog do Emir.
Apesar de guardar alguma lembrança agradável da rápida convivência com ele, lá no início dos anos 70, não costumo ler o que escreve.
Até que, dia desses, um post dele chamou minha atenção: De ex a anti-esquerdistas.

Começa por referir-se a um artigo de Isaac Deustcher. Vai daí, o restante do texto fica naquele limbo: será a opinião de Deustcher ou a opinião de Emir? Penso que é a de ambos.

Trata-se de análise das diferentes formas que assume a passagem de um esquerdista a “furibundo anti-esquerdista”.

Uma dessas “passagens” começa por condenar o stalinismo para terminar “condenando a Lenin e, finalmente, a Marx e ao marxismo “.

Há os tipos padrão, os que foram de esquerda, militantes mesmo, de repente 'se arrependem', largam tudo, renegam, denunciam seu passado e seus companheiros, os ídolos em que acreditaram cegamente, para se entregar de armas, bagagens e, frequentemente, emprego, para a direita.”

Depois de citar alguns outros tipos, segundo ele – ou Deustcher – abjetos, termina:
Há ainda escritores, intelectuais, músicos, decadentes, em triste fim de carreira, que abandonam posturas rebeldes que tiveram no passado para submeter-se aos donos do poder e dos meios de comunicação em troca de espaços para escrever, prêmios, elogios, que confirmam sua perda de dignidade no fim da carreira.

Enfim: os que abandonam a esquerda ou são do tipo que denuncia companheiros, ou “ganham espaços na mídia de direita – desde direção de revistas a colunas em jornais, convites para a televisão – como prêmio pela sua adesão” ou submetem-se aos donos do poder.


Emir, não sei por que, não mencionou os que viajaram para Paris em 1.971 ao menor sinal de perigo, nem os que – ao retornar com a anistia – aceitaram convite da joia da coroa da Imprensa Golpista para comentarem política internacional na Globo News. Talvez por não terem deixado de ser esquerdistas...


De qualquer modo, fico feliz em ter saído de um país em que a discussão política ainda se dá nesses termos.


E não consigo entender como pessoas que respeito intelectualmente ainda levam a sério o pensamento de um Emir Sader.