quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Foi bom negócio?

Estava eu no 2º ano do curso primário. Tinha 7 anos. Ia a pé para o grupo: Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo, em Santos.
Surgiu, naqueles tempos, um álbum de figurinhas (em Portugal se diz álbum de cromos [*]). Cada página trazia um dos times de futebol que disputavam o Campeonato Paulista (não havia, ainda, o campeonato brasileiro de clubes). Havia, como em todos os álbuns da época, as figurinhas carimbadas, mais difíceis de aparecerem nas balas [**] nas quais vinham as figurinhas. Sim, elas vinham enroladas em balas. Umas balas horrorosas, mas quem se importava?
Nesse álbum a que me refiro surgiu uma inovação: a figurinha substitutiva. Ela trazia a foto de algum estádio de futebol ou algo assim. Já não me lembro bem. O importante é que ela servia para substituir qualquer figurinha que faltasse em uma página. Não me lembro, também, se uma substitutiva podia ser usada em qualquer página ou se havia uma substitutiva para cada página.
Meu álbum era um tanto rarefeito de figurinhas porque meus recursos, digamos assim, eram pra lá de escassos.

Num belo dia (e põe belo nisso) minha tia Carola, que nos visitava, me deu uma pequena fortuna (de meu ponto de vista, claro) para que eu gastasse como quisesse. Fui ao bar da esquina e comprei tudo em balas de figurinhas. Primeira consequência: meu álbum encheu-se de cores. Segunda: meu bolo de figurinhas repetidas, usadas para trocas na escola, engordou significativamente. Terceira consequência, não necessária mas maravilhosa: consegui uma substitutiva!

O prazer que senti ao me ver possuidor de nada menos que uma substitutiva foi maior do que o prazer de muitos orgasmos que tive ao longo da vida.

Dia seguinte, no caminho para a escola, fui negociando com os colegas que encontrava. Como sempre, cada um consultava o bolo de figurinhas para troca do outro e verificava quais lhe interessavam. As trocas eram realizadas enquanto se caminhava.

Nesse dia eu tinha um trunfo inesperado. Anunciei que era o possuidor de uma substitutiva. Um dos colegas se mostrou mais interessado e ofereceu, sei lá, 20 figurinhas em troca. Pedi, digamos, 60. Fechamos, penso que foi isso, em 40.

Ao chegar em casa, depois das aulas, contei a minha irmã Léa a fantástica troca que fizera. Ela quase cometeu fratricídio.

O estrago já estava feito.

Mas terá sido realmente um estrago? Claro que me faltam dados mais precisos sobre o álbum, coisa e tal.
Mesmo que os tivesse, meus conhecimentos de cálculo de probabilidades não seriam suficientes para calcular quantas figurinhas comuns equivaleriam a uma substitutiva.

Vou morrer com essa dúvida.


Actualização (29/10/2012): Segundo me informa o Bic Laranja, nos comentários, 
[*] em Portugal diz-se caderneta de cromos.
[**] E as balas são rebuçados.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Falta de assunto

No Brasil, o fim da novela Avenida Brasil nesta sexta-feira arrisca deixar o povo sem assunto. Pelo menos é o que afirma a página de humor O Sensacionalista, que se diz Isento de Verdade.

Isso me lembrou alguns episódios de um longínquo passado. Numa época em que eu nem TV tinha em casa, um colega de trabalho insistia em puxar assunto, toda segunda-feira, sobre o programa Fantástico, da rede Globo, que ia (e ainda vai...) ao ar aos domingos à noite.

Na mesma empresa, a Promon Engenharia, trabalhava um engenheiro, o Benjamim Ernani Dias (BED). Super engenheiro, teve papel de destaque no projecto de obras como, por exemplo, a ponte Rio - Niteroi e a casca do reator de Angra (à prova de impacto de aeronaves).
Pois bem. BED, que trabalhava no escritório da Promon no Rio de Janeiro, ficava bastante deslocado no ambiente de trabalho toda segunda-feira. O pessoal em peso, nas horas de cafezinho, discutia os jogos de futebol do domingo. BED, craque em cálculo de estruturas, era analfabeto em futebol.
Um dia tomou a decisão: ia reverter esse desconforto. E fez a coisa à sua maneira. Foi a uma livraria e comprou alguns livros sobre futebol.
Passou um fim de semana a estudar aquele material.
Segunda-feira seguinte, lá estava ele na Promon, pronto a discutir futebol com os colegas. Conversa vai e vem, ele resolveu tirar uma dúvida:
- Gente, eu só não entendo uma coisa: quando o juiz marca uma falta, a barreira que a defesa forma fica posicionada entre o goleiro e a bola ou entre a bola e o cobrador da falta?

Não sei o fim dessa história, mas adivinho que a reacção dos colegas o fez desistir das discussões sobre futebol.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Devagar com o andor

A situação portuguesa é crítica. Sim.
Mas atenção!  O clima, nas matérias dos jornais, é de fim de mundo. O Público de hoje fala nos juros da dívida terem chegado à estratosfera.
Por exemplo:
Se, antes de entrar no euro, Portugal conseguiu sempre manter o nível de despesas com juros abaixo dos 3% do PIB, em 2011 esse valor subiu para 4% e deverá atingir os 4,2% e os 4,3% em 2013.  (pag. 4)

O gráfico abaixo, constante da mesmíssima matéria (pag. 4), indica outra situação:

(clique na figura para ampliá-la)

Visto com cuidado, o bicho não parece ter tantas cabeças assim. Se ainda sei ler um gráfico, os juros da dívida, antes da entrada de Portugal no euro (2.002),  chegaram a 8% do PIB. O patamar a que chegaremos em 2.013 só foi alcançado em 1.996. E no sentido descendente! Antes de 96 Portugal conviveu largos anos (mais de uma década!)  com juros da dívida, em percentuais do PIB, muito maiores.

Já há gente, aqui ou acolá, a ter saudades de Salazar. Paciência. Sempre há muitos que preferem ser tutelados a usufruírem de liberdade.

Liberdade exige que se pense. Que se escolha. Coisa mais cansativa e desagradável.

Que venha o Salvador!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Agora as castanhas. Depois o Natal

Passadas as vindimas, vem aí a colheita das castanhas. Os castanheiros já estão carregados de ouriços.

(clique nas figuras para ampliá-las)

E os ouriços começam a abrir.


Mal posso esperar para saborear uma mousse de castanhas!


Em seguida virão as festas natalinas, com toda a comilança que acarretam.
Em particular, o bolo rei.


Comece a pensar em reservar abóboras para fazer essas tiras coloridas que enfeitam o bolo.


E, assim, vamos:
De festa em festa supera-se a crise.
Ou, se preferir, de crise em crise esperam-se as festas.

domingo, 14 de outubro de 2012

Vindimas em Passos de Lomba

Ontem, 13 de Outubro de 2.012, saímos de Bragança quase às 13 horas para ir presenciar as vindimas em Passos.
Quando lá chegámos, o primo Alípio - que estava em casa por ainda recuperar-se de operação ao joelho - nos indicou o lugar onde minhas primas e muitas outras pessoas amigas e/ou parentes vindimavam.
Lá fomos. Já haviam colhido as uvas e voltado à casa da prima Zelinda. Pude, apenas, fotografar as uvas colhidas no terreno vizinho e ainda não transportadas dali.

(Clique nas fotos para ampliá-las)

Cada saco plástico desses pesa pra mais de 50 quilos.



Voltámos à casa da Zelinda e já logo chegou a carrinha com os sacos de uvas colhidas.



As uvas são, então, levadas em baldes ao lagar e deitadas à máquina que as mói e as despeja no lagar.


Enquanto isso, começa a colheita das uvas à volta da casa do Alípio e da Zelinda.



E lá vai a Zelinda levar um balde ao lagar (e o fotógrafo a atrapalhar...).


Com a felicidade estampada no rosto, Antenor esmaga as uvas. Cumpre a dupla tradição de preparar o vinho e de ajudar os vizinhos.


E as uvas continuam a chegar.


Mais um vem ajudar a pisar as uvas. A máquina as esmaga, mas não o suficiente.
Isso ficará a fermentar, aí, por uns 7 ou 8 dias. Depois o vinho será separado do bagaço. Este passará pela destilação para gerar a bagaceira.


O primo Arnaldo leva logo dois baldes.


E prossegue a colheita.



Eis as rainhas da festa.


Agora começa a limpeza geral. Comecemos pela máquina de moer as uvas.



Os sacos de uvas, já lavados, são postos a secar.


Os baldes não escapam à lavagem.


Por fim, Zelinda prepara o lanche.


Eu, que nada fiz senão fotografar, não mereceria o lanche. Portei-me como um legítimo militante do Bloco de Esquerda (BE): os outros a trabalhar e eu a fazer a análise da conjuntura.

Mas já decidi: como não posso carregar sacos e baldes de uva (minha aorta dilatada não o permite), nas próximas vindimas irei pisar as uvas. Com isso, espero ser promovido do BE ao PCP (Partido Comunista Português), especialista em bater os pés.

sábado, 13 de outubro de 2012

Comentário da Maray

A Maray, do blog Che Caribe, fez o comentário abaixo sobre meu post A Carta de Genoíno. Resolvi publicá-lo como post, pois acho o testemunho dela muito valioso. Ao final, comento o comentário dela:

Vou discordar, Alberto. Bronca não é ferramenta de otário. Bronca é discordar e como já dizia aquele: a unanimidade é burra...
Genoíno, que eu também conheci muito bem, chegando a trabalhar com ele e fazer inúmeras campanhas é um sujeito sério. Messiânico, talvez, vaidoso por vezes. Porque além daquela vaidade feminina dos adornos, existe a vaidade política, daqueles que adoram aparecer nos jornais, nas entrevistas. Fernando Henrique é outro. Mas Genoíno é um cara sério. Com ele aprendi, mais do que com qualquer outra pessoa, a respeitar idéias diferentes. Eu nunca fui a favor de luta armada, não engolia o centralismo democrático, adorava o livre arbítrio ( ainda adoro), era, enfim, uma militante pouco intelectualizada, sem paciência pra ler todos os Lenin e Marx que deveria, uma ovelha cinzenta, já que nem negra jamais fui. Mas ia com ele, muitas vezes servindo de motorista, nas reuniões de bairros distantes, pelo interior e via como ele tratava e falava com as pessoas. E aprendia.
O Genoíno era capaz de discutir política com Curió e Erasmo Dias, tentando trazer as coisas pro nível do humano e do direito. O Genoíno é um cara assim.
Mas é também o cara que acha que questões financeiras são questões menores, o cara que diz só gostar da "grande política", esquecendo-se que não existe grande política sem as pequenas ações.
Naquela época, em que eu militava ele dizia que os fins jamais justificam os meios. Acho que ele não pensa mais assim. Mas ele é um cara sério. A ser respeitado como ser político. Que errou e pagou pelo seu erro de "acomchambrar" ( para usar a gíria da época) com os corruptos, com os que usam de meios espúrios pra chegar e manter o poder. E quem fecha os olhos pra essas coisas, saí chamuscado e muito. A avestruz que enterra a cabeça na areia, nem por isso deixa de ser atropelada pelo caminhão.
Ele está ressentido, como se estivessem chamando-o de ladrão no nível pessoal, coisa que ele nunca foi. É talvez o político de destaque mais "pobre" que conheço.
Mas, na minha opinião, bem modesta, é verdade, não existe nível pessoal e nível político. O homem é uma coisa só.
O Genoíno é um cara sério, que errou feio, mas continua pra mim sendo um cara sério.
Tem a minha eterna gratidão, de companheira, de aprendiz, de amiga.
E este julgamento acredito ser didático. Espero que as coisas melhorem daqui pra frente.
Desde que as pessoas entendam que política é como a vida: a gente erra, a gente faz cagada, mas a gente tem que ter ética sempre.
Acho o Genoíno um cara ético que se afastou de caminhos que ele mesmo me ensinou a trilhar.
Porque, como já disse várias vezes, apesar de tudo, ele é um cara sério.

PS: desculpe o longo comentário, mas vc tb é meu amigo e saberá entender esta minha necessidade.



Maray: em nenhum momento eu afirmei que Genoíno não é um sujeito sério, seja lá o que seja isso. Apenas quis dizer que o facto de ele ter sido condenado não o autoriza a achincalhar o STF e a produzir uma enxurrada de mentiras para justificar a proclamação de sua inocência. Ele perdeu o jogo. Paciência. Se é um homem sério, deveria aceitar a derrota com dignidade. E não dizer que foi condenado graças à teoria do domínio funcional do fato, que "nessas paragens de teorias mal-digeridas se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida". Ora, não sou nem bacharel em direito mas assisti ao julgamento. Não creio que Genoíno tenha nível intelectual para chamar os juízes do STF de levianos e ignorantes. Aliás, ele convenientemente se esquece que o próprio ministro Dias Tofolli, ex advogado do Partido que ele, Genoíno, presidia, o condenou.

Continua Genoíno: "Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT". Ora, ora. Ele, "na circunstância de presidente do PT" assinou contratos de empréstimo comprovadamente fraudulentos e suas prorrogações. Que provas seriam necessárias além dessas (mesmo assim, diga-se, há várias outras)? Curioso: José Dirceu não queria ser condenado por nunca ter assinado nada. O Genoíno também não queria ser condenado apesar de ter assinado tudo...

Quanto ao património modesto que ele diz possuir, trata-se de um problema de administração familiar. O facto é que, durante uns 20 anos ele, como deputado federal brasileiro, usufruiu de um dos maiores rendimentos pagos a políticos em todo o mundo. Se ele destinou boa parte dessa grana para benemerência, louvado seja. Mas ninguém tem culpa disso. Além da questão de que ele foi condenado por corrupção activa...

De resto, tudo que ele diz sobre a "campanha de ódio contra o meu partido" é a lengalenga petista de sempre. Previsível mas nem por isso menos lastimável.

Em suma, Maray: Genoíno praticou alguns actos capitulados no Código Penal brasileiro e foi condenado por isso. Condenado tendo todo o direito de defesa e em decisão fortemente fundamentada. Em processo do qual participaram dez juízes, oito dos quais indicados por Lula ou Dilma.

Penso que ele teria duas atitudes possíveis: acatar a decisão calado ou deixar o país. Afinal, o bom cabrito não berra mas pode empreender fuga ao sentir-se perseguido.

Quanto a seu testemunho, penso que ele contribui - e muito - para formar-se um quadro da personalidade inteira do homem Genoíno, com seus méritos e com suas culpas.

Obrigado por isso.

A carta de Genoíno

Conheci José Genoíno nos idos de 1.970. Eu tinha vida dupla: era professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) e, paralelamente, presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da USP, isso em função de ser aluno do curso de Filosofia, ou, para ser mais exato, por ser militante do Partido Operário Comunista (POC).

Genoíno era, em parceria com Honestino (posteriormente, ao que consta, assassinado pela ditadura), dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE). A dupla corporificava, na presidência da UNE, a coligação PCdoB – AP (Partido Comunista do Brasil e Ação Popular).

Quanto a Honestino, eu o vi poucas vezes. Com Genuíno interagi um bocadinho mais. Ele me parecia um indivíduo de baixíssimo nível intelectual e de visão política nada acima do populismo mais rasteiro.

Pouco mais adiante, ele seguiu para a guerrilha do Araguaia, da qual resultou sua prisão.

Quanto a mim, fui também parar na prisão, mesmo sem ter ido a guerrilha alguma...

Anos mais tarde, Genoíno, já no Partido dos Trabalhadores (PT), candidatou-se a deputado. Foi eleito. E me deixou bastante impressionado pelo que me pareceu ser uma evolução política enorme.
Passei a votar nele nas várias eleições seguintes.
Aliás, durante muitos anos fui adepto daquela teoria que afirma que o poder é um violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita. Eu costumava votar nos partidos mais à direita, no espectro político brasileiro, para os cargos executivos. E votava no pessoal mais à esquerda para os cargos legislativos. Meu raciocínio era o de que os primeiros – na maioria das vezes – sabiam governar. E os segundos era úteis no papel de críticos dos primeiros. Foi durante esse período que votei várias vezes em Genoíno.
Mais tarde passei a anular todos os votos, sistematicamente.

Genoíno, agora, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e pode ainda acumular a condenação por formação de quadrilha.

Diante desse quadro, apresentou à nação uma Carta Aberta ao Brasil.

Tudo indica que voltará à prisão, 40 anos após ser preso pela primeira vez.

(Quase) todo mundo sabe que marxistas não dão a mínima bola para a democracia burguesa. Apenas jogam o jogo dela como tática para avançar rumo ao poder.

Jogar implica perder ou ganhar.

Genoíno, desta vez, perdeu. Sua carta parece indicar que não é bom perdedor.
Devia aprender com o povo, que ele tanto parece venerar:

Bronca é ferramenta de otário.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

De tomates, feira e aviões

Aí estão os tomates que nos deu a prima Zelinda, de Passos. Cada um pode avaliar o tamanho deles como lhe aprouver. São como amoras? Ou do tamanho de abóboras?

Vamos, então, compará-los. Aos mais conservadores, aí vai uma comparação com uma rolha de garrafa de vinho.

Para os que se equilibram em algum ponto intermédio, que tal a comparação com uma xícara de café?

Já para os mais moderninhos, cá estão os tomates comparados a um telemóvel.

O que interessa é que esses tomates são deliciosos, qualquer que seja seu tamanho.

Hoje fomos à feira de Bragança. Ela acontece nos dias 3, 12 e 21 de cada mês, desde que tais dias não caiam em fim de semana, caso em que a feira passa para a segunda-feira seguinte.

Já toda a gente começa a acumular lenha para o inverno que vem por aí.

Mas as flores continuam a enfeitar o mundo.

Mas há de tudo na feira: os animais...

...os utensílios agrícolas...
...as oliveiras...

...os fumados...

...os presuntos...

...e a marca dos aviões no céu, muito acima da feira:



domingo, 7 de outubro de 2012

As eleições brasileiras

Hoje, no Brasil, escolhem-se os prefeitos de cidades e os membros das Câmaras municipais, os tais vereadores. No regime presidencialista que vige no Brasil, a Câmara municipal é apenas poder legislativo, distinto do poder executivo, encabeçado pelo Prefeito.
Parece que vamos assistir a algumas decisões um tanto grotescas. Em Curitiba, por exemplo, cidade tida como modelo para todo o Brasil, surge como favorito o tal de Ratinho Júnior, filho do famigerado apresentador de TV conhecido como Ratinho. Se é verdade que a voz do povo é a voz de Deus, tudo indica que Deus é um tanto fraquinho em política. Contudo, essa não será a primeira decisão ridícula ocorrida em Curitiba. Talvez movidos pela velha anedota que afirma ser ritiba uma palavra tupi-guarani que significa do mundo, os fundadores do clube de futebol de lá optaram por dar ao clube o nome de Coritiba...
No Rio de Janeiro o pessoal já determinou que a solução é reeleger o actual prefeito Eduardo Paes. O mesmo ocorre em Porto Alegre: parece que o actual prefeito já está virtualmente eleito (José Fortunati).
Essa decisão antecipada não é a que acontece em São Paulo. Lá, três candidatos estão tecnicamente empatados em primeiro: José Serra, Celso Russomanno e Fernando Haddad. Quanto a Serra, já falei algo neste post.
Celso Russomanno é algo na linha do Ratinho Junior, que parece que vai ganhar em Curitiba. Só que é mais parecido com o Ratinho Senior, o original.
Já Fernando Haddad é vendido, nesta eleição, como sabonete com perfume de PT antigo, mas - de facto - cheira a Lula (que o impôs como candidato a um reticente PT paulistano).

À margem das eleições, continua no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento da Acção Penal 470, mensalão para os íntimos. À margem das eleições mas com forte influência sobre elas, como parece indicar uma certa queda eleitoral do PT. A Veja (revista semanal de maior vendagem no Brasil) desta semana traz, na capa, a foto do juiz do STF, Joaquim Benedito Barbosa, relator do processo (foto de quando ele tinha 14 anos). A Folha de SPaulo (jornal de maior circulação no Brasil) publica, hoje, entrevista de Mônica Bergamo com ele, o herói ou anti-herói do momento, no Brasil.
Ao final da entrevista, Barbosa afirma não acreditar em mudanças bruscas: Tudo é paulatino.
Permito-me discordar de Sua Excelência. De facto, há paus escandinavos, ingleses, alemães, americanos etc etc. Ele que escolha o que melhor lhe apetecer.
Quanto a mim, voto nulo.