quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Linguagem e Eleições

Os marqueteiros do PT são eficazes. Demonstraram isso nesta eleição. Por exemplo, exploraram bem o deslize de Aécio ao chamar Dilma de "leviana", que em algumas regiões do Nordeste, ao que parece, significa "prostituta". Um candidato à Presidência da República, no Brasil, precisa inteirar-se até dos regionalismos linguísticos para não cair em esparrelas desse tipo.
Por outro lado, deixaram escapar oportunidades. Ou por não percebê-las ou por não achar conveniente utilizá-las.
Em todos os debates, Aécio bateu na tecla de que Dilma, como candidata, não apresentara um programa de governo. Ele sim.
Bem que Dilma poderia então dizer, com aquele seu típico ar de enfado:
- Candidato... meus parabéns por você ser um garoto de programa.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ainda as eleições brasileiras

Apenas esse gráfico serve para mostrar que não existiu, nessa eleição, nenhuma divisão Norte - Sul ou qualquer outra desse tipo. Imaginem, então, se esse gráfico fosse subdividido por municípios. Mais ainda por zonas eleitorais etc. Ficaria todo pintadinho de vermelho e azul alternadamente.



Melhor ainda seria que lessem Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Entenderiam como os portugueses, ao contrário dos espanhóis, souberam desenhar esse colosso nas Américas. Deram-lhe unidade e personalidade. Criaram uma nação a partir dos três grupos étnicos que a compuseram. Índios, portugueses e negros se amalgamaram e propiciaram a assimilação de imigrantes de várias partes do mundo que vieram desfrutar esse país continente.
Dividi-lo não faz o menor sentido. Não respeita sua História.
É preciso aprimorá-lo.
Está difícil? Ninguém disse que seria fácil.

sábado, 25 de outubro de 2014

O primeiro piano de Cesar Camargo Mariano

Terminei de ler as Memórias desse músico notável. São quase quinhentas páginas de uma leitura muito agradável. Penso apenas que o livro deveria chamar-se Memórias Musicais, pois é evidente a intenção de Cesar de falar quase tão só de suas vivências ligadas à música.

O que se segue não substitui a leitura do livro. Cesar Camargo Mariano escreve quase tão bem quanto toca.



Ao completar 13 anos, ganhou seu primeiro piano. O pai instalou o dito cujo em casa de modo a que fosse uma surpresa para o aniversariante.

Ao ver o piano e ser informado de que era seu presente de aniversário, ele – que jamais encostara em qualquer piano – sentou-se à frente do seu e começou a tocar. No dizer dele:

“Eu estava tocando firme, com a sonoridade e a definição bem perto das que eu tenho hoje em dia. Não me lembro de que música era... talvez estivesse compondo... não sei... só sei que eu não conseguia parar de tocar...”

Seu pai caiu ao chão, abatido por um infarto que o manteria no hospital por 48 dias.


O pai dele, que era kardecista, entendeu aquilo como sendo a demonstração de que Cesar era a reencarnação de algum músico.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Contra factos, inventam-se argumentos

Quando do julgamento da Ação penal 470 ("mensalão"), os petistas e seus repetidores na imprensa, por não poderem negar os factos, passaram a travar uma discussão jurídica a respeito da tal "teoria do domínio do fato".(que, cá em Portugal, pode ser confundida com a defesa de uma predominância da moda  ). Isso por ter sido essa teoria um dos elementos justificadores da condenação de alguns medalhões petistas.
Agora que a delação premiada começa a revelar as multimilionárias falcatruas petistas (e de aliados) na Petrobrás, não há outra saída senão a de tentar desmoralizar o instrumento da delação premiada (ainda que Dilma o tenha elogiado no último debate com Aécio na Band).
Quanto aos factos revelados... são apenas factos.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Bolsa família e outras bolsas


Não conheço o município de Maricá, no estado brasileiro do Rio de Janeiro.
Se mal ouvi falar dele, agora ouvi falar mal dele.
Dele não. De sua elite. Elite política. E um bocadinho econômica, também.

Lá vem mais um petista falar mal da elite, dirá um eventual leitor, apressado.
Só que neste caso a tal elite é toda do Partido dos Trabalhadores (PT).

Acontece que minha mulher foi ao Brasil visitar familiares. Ficou na cidade do Rio de Janeiro.
Como em tempos idos viveu em Niterói, foi passar um fim de semana em casa de amigas que moram em Maricá.
Amigas de vida simples, muito simples. E de olhos e ouvidos muito atentos.
Contaram histórias apimentadas sobre a tal elite política de Maricá.
Tão apimentadas que resolvi conferir antes de passar adiante.
Pelo que pude verificar por meio da Internet, tudo que disseram é verdadeiro. Até alguma coisa é já pública. Eu é que não sabia de nada.

O prefeito de Maricá é o senhor Washington Luiz Cardoso Siqueira. Mas podem chamar de Washington Quaquá. É, digamos, seu nome de guerra.
Reeleito em 2012, foi condenado a ficar oito anos inelegível, pelo Tribunal Regional Eleitoral. E condenado duas vezes. Uma por ter aumentado em até 100% o salário dos servidores municipais 55 dias antes das eleições (a lei não permite isso dentro dos 90 dias anteriores à eleição). Outra vez por ter enviado mais de onze mil telegramas a eleitores convidando-os ao lançamento de um programa “Renda Melhor”., não constante do orçamento. Não se apoquentou com tamanho castigo. E continua a incorrer em delitos semelhantes a esses. Já chegaremos lá.

Não contente em ser prefeito de Maricá, ele é também o presidente estadual do PT no Rio de Janeiro.

Mais: sua esposa, Rosângela Zeidan, que no Facebook aparece como casada e na ficha de deputados estaduais eleitos agora em 2014 apresenta-se como divorciada, teve votação expressiva que lhe garantiu uma folgada eleição para a Assembléia Estadual do Rio de Janeiro. Já veremos como isso se tornou assim tão fácil.

Por fim, uma eminência parda para coroar toda a história: Lurian Lula da Silva. Ela mesma. A filha do impoluto ex-presidente em exercício.

Deixemos em segundo plano as questões picantes, que falam de relações extra-conjugais, de resto segredos de polichinelo na cidade.




A questão que me parece central, aqui, é a criação do cartão cidadão e da – como é mesmo? - moeda eletrônica social Mumbuca. Ao par com o Real (um mumbuca = um real), essa moeda recebeu esse nome em homenagem ao bairro Mumbuca, situado na margem norte do Lago de Maricá, de onde é Quaquá. Por coincidência o bairro em que vivem as minhas fontes.

O citado cartão dá a seu possuidor o direito de consumir noventa reais por mês (segundo o sítio da Prefeitura na Internet, seriam R$ 85,00. Tanto faz) e para exercer tal direito o feliz possuidor do cartão dispõe de uma vasta rede de lojas espalhadas por toda a cidade.

Só não consegui saber, no sítio da Prefeitura nem em qualquer lugar da Internet, como se faz para tornar-se beneficiário do tal cartão.

Acontece que uma das amigas de minha mulher é a feliz possuidora de um desses cartões. E explicou: basta você se apresentar à Prefeitura e exibir seu título de eleitor para provar que você vota no município. Agora na época anterior às eleições do dia 5 de Outubro o cidadão além de receber seu cartão era sutilmente informado de que o benefício seria extinto caso a primeira dama não fosse eleita.
Essa mesma amiga comentou que não votou na esposa de Quaquá por já ter a certeza de que ela teria uma enorme votação. Caso tivesse alguma dúvida quanto a isso, votaria nela.
A entrega dos cartões é sempre feita com muito estardalhaço, em cerimônias públicas.

Por fim: qual a relação de Lurian com tudo isso?
Ela não só reside em Maricá como é também amicíssima da neodeputada Zeidan, a primeira dama.
São tão amigas que Zeidan foi viver na mansão de Lurian.

Elite é isso.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Vacilações de alguém de dupla nacionalidade


Sou brasileiro e português. Vivo em Portugal há pouco mais de três anos. Vivi mais de sessenta no Brasil.
Vivo hoje um dilema. Se tento abrir os olhos dos portugueses aos perigos que o Brasil apresenta - e aos que, infelizmente, os brasileiros aqui residentes podem nos submeter - estou a dar tiro no pé.
Antes me incomodava a admiração que os portugueses devotavam ao Brasil. A seus sítios, a seus artistas etc e tal. 
Até que amigo meu, português de nascença, mas que conhece bem o Brasil, alertou-me:
-Não é bem assim. Os portugueses são gentis. Tratam bem os brasileiros mas têm noventa e nove pezinhos atrás, tal qual a centopeia, em relação a eles.
Fiquei um bocadinho mais sossegado. Mas me dei conta da hostilidade invisível que me rodeia.
No Brasil, alardeia-se que português é sinônimo de burro.
Em Portugal, preza-se muito o Brasil, afagam-se os brasileiros. mas no íntimo todo português sabe que lida com material radioativo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Por que votar em Aécio Neves na segunda volta das eleições brasileiras


Digo logo que entendo ser difícil a vitória de Aécio.
Talvez seja minha vocação de pender para os mais fracos. Talvez um certo masoquismo Quem sabe.

Mas gostaria que ele ganhasse essas eleições no Brasil.
Já lá não vivo, mas de lá dependo. Então há que pensar na sobrevivência.
Por falar em sobrevivência, gostaria que ele ganhasse também para ver esses milhares e milhares de petistas que enfrentaram esses últimos doze anos encastelados em sinecuras, umas mais rentáveis, outras mais humildes, mas todas dadivosas, a preparar seus currículos e a buscar colocação no mercado.
Vamos lá, amigos!
Lembrar como é dura a vida no mundo capitalista.

Caso Aécio perca, paciência. Continuaremos a sustentar essa malta.

Além do mais, seria satisfatório voltar a ver o PT em sua versão antiga, udenista, de defensor de nossos valores morais e de nossas instituições.

Caso tal despropósito ocorra, a derrota do PT, pensarei seriamente em votar em deputados petistas nas próximas eleições. Eles serão nossa garantia de uma oposição acirrada e impiedosa. A acusar os desmandos do Poder Executivo.

Como seria bom, ter uma oposição assim combativa.


E menos bocas a sustentar.