sexta-feira, 6 de maio de 2005
Desamores & Filosofia
(ou seja, conversa fiada)
A Laura foi cobiçada pelo Drummond. A Helô Pinheiro pelo Tom. Eu mesmo namorei uma menina que tinha sido assediada pelo Sérgio Ricardo. Aquele mesmo, que quebrou o violão no palco da Record, num festival de música popular. Ato que propiciou a manchete fantástica de um jornal sensacionalista de São Paulo: Violada em pleno auditório.
São desencontros, desamores. Como tantos pela vida, como dizia Vinicius. Vinicius, o mesmo que – segundo meu ortopedista confidenciou – participou de um cruzeiro Brasil – Europa junto com Neruda. Bebiam tanto que, passado o meio-dia, ficavam imprestáveis. Em uma escala, Neruda desembarcou, carregado em maca, acometido de uma crise de gota.
Por falar em imprestáveis após o meio-dia, há uma história de Passos que não consigo não compartilhar:
Uma irmã de meu pai, Carolina, veio para o Brasil ainda jovem. Anos mais tarde visitou Passos, sua terra natal. Lá encontrou seu meio irmão Zindo (do qual conheço os filhos, que continuam lá). Era quase o “dono” da aldeia. Ele é que chamava o padre para rezar missa e tomava todas as providências que a pacata vida social do local exigia. Sua rotina de vida era simples: durante a manhã, aboletava-se na varanda de sua casa, munido de uma peça de presunto, de uma faca afiada e de um garrafão de vinho. Tudo artesanal, claro, claro.
Ao meio-dia, estava como Vinicius e Neruda no cruzeiro a que aludi acima. Imprestável.
Minha tia Carola (que adotou esse nome ao invés de Carolina, que achava horrível, vejam só), para provocá-lo, perguntou-lhe um dia (antes do meio-dia):
- Zindo, como podes viver dessa maneira e ao mesmo tempo trazeres cá padre a rezar missa e coisa e tal? Como concilias tudo isso?
E tio Zindo sem se apertar, enunciando o que considero assertiva importante da filosofia pós-socrática:
- Veja, lá em cima está Deus.
-Aqui embaixo, é tudo a mesma merda.
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