sábado, 20 de agosto de 2005

Vonículo


Foi meio por acaso. Estava folheando um livro, salvo engano era o volume I das Obras Científicas, Políticas e Sociais de José Bonifácio de Andrada e Silva. A certa altura, no início de um discurso, ele diz:
Não espereis, Senhores, de mim frases pomposas, nem rasgos de Eloqüência: a História Literária só requer veracidade e lhaneza; (...)
Não me lembro se foi nesse ponto. O facto é que, no meio do texto, me apareceu palavra estranha. Eu nunca a tinha visto. Verdade que estava um tanto apagada. O exemplar de que disponho, das Obras de José Bonifácio, é velho, carcomido. Certeza, mesmo, só quanto ao começo do vocábulo: voníc. O restante, meio borrado, estava ilegível.
Não sei que impulso me possuiu. Resolvi cuidar daquela palavra. Durante semanas a alimentei. Ela retomou sua força, recuperou-se da aparente anemia. Agora era claro: vonículo. Procurei nos dicionários. Não lhe conhecia o significado. Nada encontrei.
Toda palavra tem sua denotação. Palavra sem significado é continente sem conteúdo. Denotação sem palavra é o indizível.
Qual a denotação de vonículo? Acabei por aceitar que não existia. Observava seus passeios pelos livros de minha biblioteca. Sua solidão era pungente. Nada havia que eu pudesse fazer.
Um dia dei por sua falta. Deixou apenas um curto e enigmático bilhete. Nele mencionava ter conhecido um significado perfeito. Amor à primeira vista.
Nem para esperar que eu o conhecesse. A ingrata.
Continuo sem saber. Nunca saberei, parece.
Vonículo?

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