sábado, 19 de agosto de 2006
Achados e Perdidos
Li ontem, no Correio da Manhã, matéria sobre os objetos que acabam por ficar nos Correios por não se encontrar o destinatário, nem ser possível devolvê-los ao remetente.
Muitos desses objetos são curiosos. Mas, para mim, mais atraentes são as características dos destinatários não localizados. Há o "senhor Zé da mercearia em frente à linha de comboio" e há – delícia das delícias – a "menina que passa às quatro da tarde em frente ao café".
Contrário ao que pensa o senhor Pedro Villalva, chefe da Secção de Refugo Postal: "Há muitos malucos", entendo que malucos somos nós, aqueles cuja localização depende de nome de logradouro, número, complemento e código de endereçamento postal.
Experimente enviar para mim qualquer coisa, indicando a aldeia de Passos como destino. Basta dizer para entregar na casa de Alípio e Zelinda. Eles logo perceberão que se trata de correspondência para "os primos brasileiros" e guardarão para mim, para quando chegue lá.
O Asulado quis me dar de presente os cachecóis do Porto e do Olhanense. Enviou-os ao Brasil, detalhando meu endereço. Jamais os recebi. Se os enviasse a Passos de Lomba, Vinhais, eu hoje estaria com eles.
A primeira vez em que me aventurei a percorrer Portugal de carro, em 1.999, fui até Vinhais. Sabia que lá morava uma quase-prima, a Lídia. Ainda de Lisboa, telefonei a meu tio Paulo, aqui de São Paulo, para pedir o endereço da Lídia.
- Pergunte pela Lidia dos Correios.
- Mas tio, e o nome da rua, o número da casa?!
- Não precisa. Apenas pergunte pela Lídia dos Correios.
Meu tio Paulo é militar reformado. Logo pensei: a caserna não lhe fez bem aos miolos.
Ao entrar em Vinhais, chegamos a uma pracinha, o Largo do Arrabalde. Parei o carro. Avistamos um bar. Resolvemos tomar café e perguntar.
Café quentinho, atendente atencioso, criei coragem:
- Por acaso, o senhor conhece a senhora Lídia, dos Correios?
- Pois claro. Mora aqui ao lado. Vamos lá. Deve lá estar o Manoel, o marido.
E foi nesse dia nosso primeiro almoço em casa de Lídia e Manoel.
Como se não bastasse, Lídia me contou que eu tinha duas primas carnais em Passos.
Que eu não perdera porque sequer as havia achado.
E que contribuíram para que minha vida ganhasse novos significados.
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