domingo, 20 de janeiro de 2008
Coluna do Castello
Castelos de colunas
O jornalista Elio Gaspari, em sua coluna dominical publicada pela Folha de S.Paulo (aqui, para assinantes Folha ou UOL), chama a atenção do leitor para a possibilidade de se ler, na Internet, os textos do jornalista Carlos Castello Branco, em particular suas colunas publicadas no Jornal do Brasil entre 1.963 e 1.993, ano de sua morte.
Gaspari lastima que não constem, no site, as colunas dos anos de 1.975 a 1.978. Lastima particularmente por ser desse período a coluna intitulada O Partido dos Trabalhadores, na qual – sempre segundo Gaspari – Castello mostrava que Lula pretendia quebrar a manipulação dos sindicatos pelos partidos da ocasião e que faria isso (e aí ele coloca entre aspas) “com a compreensão e colaboração do governo, ou sem ela”.
Acontece que as colunas estão lá. O leitor acessa as colunas escolhendo, primeiro, o ano. Ao fazer isso, aparece a lista das colunas de janeiro do ano selecionado. O leitor pode, então, escolher o mês.
O descuidado Gaspari, ao passear pelas colunas dos trinta anos durante os quais elas foram publicadas, esbarrou em alguns anos em que não há colunas no mês de janeiro (ou há apenas uma). É o que ocorre no intervalo 1.975 – 1.978. Concluiu que, para esses anos, não foram reproduzidas, no site, as colunas publicadas no período.
Gastasse um pouquinho mais de tempo, tomasse um pouquinho mais de cuidado, encontraria a coluna O Partido dos Trabalhadores, publicada em 03/09/1978.
Gaspari acerta quanto ao teor do texto, no que se refere a Lula. Mas empolga-se com sua memória e resolve colocar entre aspas algo que não consta da matéria.
Digo tudo isso porque me impressiona a leviandade com que se faz jornalismo no Brasil (em outros países também, mas essa é outra história). Ninguém apura nada, os jornalistas, quase sempre (vá lá o quase), não entendem nada dos assuntos sobre os quais escrevem etc etc.
Em geral, a desculpa é aquela: escassez de tempo para pesquisar melhor, apurar melhor etc etc.
Essa explicação, me parece, não socorre os colunistas semanais, como Gaspari.
Mas quem se importa?
Se o leitor já leu Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti, sabe que Gaspari inventava entrevistas com personalidades, ia até elas, lia o que inventara e obtinha o aval para publicação. Mais: inventava frases espetaculosas para colocar na boca de seus “entrevistados”. Por exemplo, a famosa “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” não é de Joãozinho Trinta. É Gaspari puro. (páginas 100/101)
Mais: quando trabalhava na Veja, costumava encerrar discussões com subordinados com frases do tipo “A matéria vai sair assim porque eu sou inteligente e você não” (pág. 105).
Tudo leva a crer que, hoje, jornalista pra lá de consagrado, monta sua coluna semanal sob o pensamento:
A coluna vai sair assim porque eu sou esperto e o leitor não. Ele que se dane.
E não é só o Gaspari que se acomodou na confortável poltrona da glória.
Vários colunistas parecem habitar castelos do interior dos quais enviam suas considerações apressadas para os jornais que lhes sustentam o ócio. Ou as publicam na Internet.
Ontem, por exemplo, o colunista Cláudio Humberto, que já caíra, tempos atrás, no conto da carochinha da ONG dos amigos de Plutão, publicou o conteúdo de um e-mail que circula pela Internet sobre uma fictícia prisão do cardeal de Lisboa, em função de eventos obviamente inventados.
E por aí vai. Poderia citar outros exemplos. Como não sou jornalista, preciso trabalhar para sobreviver. Paro por aqui.
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