segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Era uma vez XXXIII -
O dia em que fui pra lá de politicamente incorreto


Estávamos lá, sem o que fazer, no xadrez 12 do Pavilhão 2. O Vô (aquele, pra quem óbvio era isso é coisa já vista), seu companheiro de Partidão cujo nome esqueci, Ismael (o que não tinha ódio de classe, mas inveja de classe. Enfim, um precursor dos atuais sindicalistas do PT), Toninho, Melo e Jonas (os três, companheiros meus do POC).
Lembrei-me de uma história verídica que o irmão de um médico me contara tempos antes. E resolvi repassá-la aos companheiros de cela.
Uma jovem empregada doméstica marcou um exame ginecológico no Hospital das Clínicas. Era o primeiro exame desses em sua vida.
No dia marcado, nervosíssima, ela tomou um rigoroso banho e – não satisfeita – encheu as partes íntimas de talco.
Lá foi ela.
Colocada naquela clássica e ridícula posição ginecológica, ficou a aguardar o médico. Este, depois do primeiro olhar, saiu do quarto, chamou colegas que por ali passavam e explicou:
- Venham ver. Já vi isto de todas as formas possíveis. À milanesa, é a primeira vez.
Quem me dera jamais ter contado essa história. O Jonas caiu matando.
Pra ele, era inadmissível rir de uma situação dessas. Uma pobre moça, inexperiente, sujeita ao ridículo.
E – nós – a rir da infeliz.
Passamos horas a discutir a coisa toda (aliás, na cadeia, o melhor de tudo é conseguir discussões intermináveis. Faz o tempo passar).
Em vão tentei argumentar que a situação realmente desagradável pela qual passara a moça não invalidava a graça do comentário do médico.
Jonas ficou irredutível.
Desde aquele dia, penso que Jonas era o dono da razão.
Mas continuo a achar graça na história.
Devo ser um total pervertido.

Sem comentários: