quarta-feira, 23 de julho de 2014

O governo brasileiro e seu amor às ditaduras

A Guiné Equatorial vai, enfim, ser aceita na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Portugal foi o único dos membros da CPLP que ofereceu alguma resistência a isso. Acabou por concordar para não isolar-se demasiado.

Deixo logo claro que não estou aqui a criticar a decisão do governo brasileiro - que me parece estúpida - de apoiar essa admissão, por ser o governo de predominância petista. Não estou a fazer campanha eleitoral. Nunca tive simpatia pelos tucanos e Eduardo Campos já deu mesmo mostras de ser um novo Collor.

Dito isso, acrescento que tenho consciência de que diplomacia se faz, no mais das vezes, guiada pela busca da satisfação dos interesses geopolíticos ou econômicos do país.

Mas, como jamais diria um matemático, tudo tem limite.

A Guiné Equatorial tem como língua efetiva o Espanhol. Sua segunda língua oficial, desconhecida da quase totalidade de sua população é o Francês. O Português passa a ser sua terceira língua, que jamais será falada por seus habitantes enquanto as coisas continuarem como são naquele país.

E como são as coisas na Guiné Equatorial?

O ditador Obiang impera há 35 anos. É um dos ditadores mais ricos do mundo. Canibalizou toda a oposição.
Seu filho, vice-presidente por decreto do pai, está acima das leis do país. Se ele vir uma mulher que considere bonita, manda buscá-la para usufruir dela.
É colecionador de preciosidades caríssimas e tem residências espalhadas pelo mundo, inclusivamente em São Paulo.
O país é o terceiro país da África subsaariana em produção de petróleo, atrás de Angola e Nigéria.
A renda per capita do pequeno país, graças a isso, é enorme. Mas beneficia apenas a família do ditador. O restante dos habitantes vive uma miséria escandalosa.
Obiang procura canais que lhe deem alguma respeitabilidade internacional e que lhe facilitem a lavagem de dinheiro.

Acaba de encontrar.

Sei que quase ninguém no Brasil vai dar importância a tudo isso. Afinal, uma das poucas coisas inteligentes que me lembro de ter ouvido da boca de FHC foi que o brasileiro costuma ser caipira. Ou seja, voltado para seu pequeno mundinho circundante.

Não importa. Deixo aqui meus parabéns aos governantes brasileiros. Tantos anos de luta por uma sociedade melhor nos levaram ao ponto de prestigiar um carniceiro hediondo apenas por algumas gotas de petróleo.

Bom proveito!

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