domingo, 27 de julho de 2014

Elogio de Lula


Lula viveu uma infância difícil mas muito instrutiva.
Com os conhecimentos adquiridos na adversidade, logo percebeu que ser operário era muito ruim.
Enfronhou-se no sindicato.
Seu primeiro grande feito foi o de ter se tornado líder sem ser taxado de pelego. Isso deve ter exigido muita habilidade. Em um ambiente de total peleguismo, ele foi dos primeiros a afastar-se desse padrão. E talvez o único que, em seguida, não exagerou na dose e foi cair direto na clandestinidade. Ele soube dosar a coragem.
Além de ter demonstrado senso de oportunidade, contou com o momento histórico certo. Era a hora de alguém ocupar o lugar que ele ocupou.

Mais adiante, percebeu que a intelectualidade tupiniquim salivava por um operário que se dispusesse a travar uma luta contra a ditadura militar e – glória das glórias – talvez até batalhar pelo socialismo. E – desta vez com mais facilidade – venceu mais uma etapa em sua ascensão: enfiou grande parte da intelligentsia brasileira no bolso.

Com companheiros sindicais e com a maioria dos intelectuais, estava pronto o quadro para a criação de um partido político que lhe servisse de base para sua pretensão de mais altos voos.

Nessa fase, foram muitas as derrotas. Mas a cada uma delas ele aprendia mais lições.

Depois que, com a capacidade burocrática de José Dirceu, conseguiu adequar sua máquina partidária às necessidades eleitorais, chegou a seu primeiro grande objetivo: a Presidência da República.

Instalado no Palácio do Planalto, passou a enfrentar os desafios de governo. Pela primeira vez deixava de ser pedra e passava a ser vidraça.

Foi então que demonstrou invulgar capacidade de adaptação. Aquilo que chamamos de inteligência.

Dou um exemplo de algo que vivi de perto: em 2003 eu já trabalhava na Receita Federal havia dez anos. Presenciei colegas petistas a babar na ânsia de botar as mãos no butim.
Lula frustrou tais expectativas. No Ministério da Fazenda colocou Palocci e um receituário ortodoxo. Na Receita Federal só tirou o Secretário, Everardo Maciel, para disfarçar a continuidade. Manteve toda a equipe da administração da era Fernando Henrique.
Os camaradas ficaram a ver navios. Tudo continuou como estava. Afinal, é por meio da Receita que entram recursos no Tesouro. O restante é centro de custos.
E Lula sabia que líder sindical e intelectual são excelentes pra bater bumbo, mas muito ruins pra empurrar carro alegórico. Só muito lentamente o PT começou a desfrutar das delícias do Poder.

A partir daí, Lula passou a fazer qualquer coisa que lhe apeteça.
Elegeu a neófita Dilma para nada mais nada menos que Presidente da República.
Elegeu outro desconhecido para a Prefeitura de São Paulo.
Manda e desmanda no país.

Sei que é pouco cabível fazer comparações entre personagens pertencentes a momentos históricos diferentes. Mas não me impeço de afirmar que Lula já é – a essa altura – mais importante que Getúlio Vargas na História do Brasil.


O que – a meu ver – diz imenso a respeito do país em que nasci.

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