Lula viveu uma infância difícil mas
muito instrutiva.
Com os conhecimentos adquiridos na
adversidade, logo percebeu que ser operário era muito ruim.
Enfronhou-se no sindicato.
Seu primeiro grande feito foi o de ter
se tornado líder sem ser taxado de pelego. Isso deve ter exigido
muita habilidade. Em um ambiente de total peleguismo, ele foi dos
primeiros a afastar-se desse padrão. E talvez o único que, em
seguida, não exagerou na dose e foi cair direto na clandestinidade.
Ele soube dosar a coragem.
Além de ter demonstrado senso de
oportunidade, contou com o momento histórico certo. Era a hora de
alguém ocupar o lugar que ele ocupou.
Mais adiante, percebeu que a
intelectualidade tupiniquim salivava por um operário que se
dispusesse a travar uma luta contra a ditadura militar e – glória
das glórias – talvez até batalhar pelo socialismo. E – desta
vez com mais facilidade – venceu mais uma etapa em sua ascensão:
enfiou grande parte da intelligentsia brasileira no bolso.
Com companheiros sindicais e com a
maioria dos intelectuais, estava pronto o quadro para a criação de
um partido político que lhe servisse de base para sua pretensão de
mais altos voos.
Nessa fase, foram muitas as derrotas.
Mas a cada uma delas ele aprendia mais lições.
Depois que, com a capacidade
burocrática de José Dirceu, conseguiu adequar sua máquina
partidária às necessidades eleitorais, chegou a seu primeiro grande
objetivo: a Presidência da República.
Instalado no Palácio do Planalto,
passou a enfrentar os desafios de governo. Pela primeira vez deixava
de ser pedra e passava a ser vidraça.
Foi então que demonstrou invulgar
capacidade de adaptação. Aquilo que chamamos de inteligência.
Dou um exemplo de algo que vivi de
perto: em 2003 eu já trabalhava na Receita Federal havia dez anos.
Presenciei colegas petistas a babar na ânsia de botar as mãos no
butim.
Lula frustrou tais expectativas. No
Ministério da Fazenda colocou Palocci e um receituário ortodoxo. Na
Receita Federal só tirou o Secretário, Everardo Maciel, para
disfarçar a continuidade. Manteve toda a equipe da administração
da era Fernando Henrique.
Os camaradas ficaram a ver navios. Tudo
continuou como estava. Afinal, é por meio da Receita que entram
recursos no Tesouro. O restante é centro de custos.
E Lula sabia que líder sindical e
intelectual são excelentes pra bater bumbo, mas muito ruins pra
empurrar carro alegórico. Só muito lentamente o PT começou a
desfrutar das delícias do Poder.
A partir daí, Lula passou a fazer
qualquer coisa que lhe apeteça.
Elegeu a neófita Dilma para nada mais
nada menos que Presidente da República.
Elegeu outro desconhecido para a
Prefeitura de São Paulo.
Manda e desmanda no país.
Sei que é pouco cabível fazer
comparações entre personagens pertencentes a momentos históricos
diferentes. Mas não me impeço de afirmar que Lula já é – a essa
altura – mais importante que Getúlio Vargas na História do
Brasil.
O que – a meu ver – diz imenso a
respeito do país em que nasci.
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