quinta-feira, 15 de julho de 2004

A Montanha


Lá pelos meus doze anos, acompanhei meu pai, uma noite, em visita a um tipo notável. Era o pastor Tecê Bagby. Filho dos primeiros missionários americanos batistas no Brasil (Anne e William Bagby), nascera aqui e - apesar de ter sido educado nos Estados Unidos - fazia questão absoluta de ser considerado brasileiro. Só pra dar uma idéia, o nome da figura era Taylor Carey Bagby (sendo esse último pronunciado com "é" na sílaba tônica). Ele inventou o nome Tecê (iniciais dos seus prenomes) e exigia que o chamassem Tecê Bagbi (o "a" pronunciado como "a" e a tônica no "i").
Em seu apartamento em São Vicente (pra quem não sabe, cidade grudada em Santos), conversou com meu pai e me ignorou durante bom tempo. Eu o observava. Sua figura de patriarca era realçada pela poltrona um tanto solene em que se instalara. Lá pelas tantas, quando a prosa com meu pai esmoreceu, voltou-se para mim.
- Quantos anos tens?
Eu, já antevendo o papo de sempre: "e em que série da escola estás? puxa, como é adiantado, o menino! etc etc etc.", fiz a minha parte:
- Doze anos.
E ele sentenciou o que jamais esqueci:
- Filho, é nessa idade que se começa a escalar a montanha da estupidez. Lá pelos dezoito anos, chega-se ao topo. A maioria fica por lá. Faça um esforço para descer.
Desde então, tenho feito o diabo pra voltar à planície.
Mas. É tão bom o clima aqui no alto.

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