domingo, 10 de maio de 2009
Loas à incompetência
Estou há um mês a aguardar que a NET resolva o problema de intermitência do sinal do Virtua e do NET Fone.
Os técnicos vêm, dizem que – desta vez – tudo está resolvido e... o problema persiste.
Isso é apenas a ponta de imenso iceberg.
Somos todos incompetentes, inclusive – senão principalmente – eu.
Aliás, esse é, quase, o título de um livro de administração lá da década de 70 do século passado. Mas, agora, a situação é menos conceitual e mais prática.
Eu, na minha profissão, exercida já pra lá de 15 anos, me considero incompetente. Mas, ao menos, tento não dar grandes vexames.
O mesmo não é possível afirmar a respeito dos técnicos da NET (e de outras operadoras, claro, claro). Nem a respeito de – por exemplo – médicos.
Vamos a um caso concreto:
Faz uns 15 anos, um ortopedista descobriu que eu tinha gota. Cheguei à clínica, em que ele trabalhava, com o pé submetido a intensa dor. Dedão do pé. Eu achava que a dor era resultado de algum choque no jogo de futebol. Naquele tempo eu ainda jogava futebol.
Não. Era gota.
Se você não sabe eu explico: gota é o resultado do acúmulo de excesso de ácido úrico nas juntas. Os cristaizinhos ficam ali e – de repente – resolvem inflamar a região. A dor é tamanha que o contato de lençóis é doloroso.
Pois bem. O tal médico (não vou citar nomes. Seria injusto acusar alguns quando tantos são incompetentes) receitou-me um tratamento tão complicado quanto inútil: deixar o pé mergulhado em solução de permanganato de não sei o quê durante não sei quanto tempo. A coisa toda implicava manter o pé mergulhado naquele líquido roxo, dentro de um balde, depois enxugar o pé em toalha que ficava obviamente toda roxa etc etc.
O resultado era rigorosamente nulo.
Fora a sujeira, eu ficava sem poder sair de casa durante alguns dias. Isso atrapalhava a vida toda, como se pode depreender.
Até que um colega de trabalho me deu a dica da injeção de Voltaren. Ele, aliás, disse mais: mandava o farmacêutico misturar Voltaren com não sei o que e ficava bom imediatamente.
Eu preferi me restringir ao Voltaren. Meia hora depois da picada na bunda eu estava pronto para outra crise.
E a vida ganhou nova dinâmica.
Como quase todo mundo sabe, Voltaren não é flor que se cheire. É preciso não abusar.
Vai daí, na primeira crise de gota que surgiu, procurei uma médica que me receitou Zyloric.
Tomei e ... piorei.
Quando li a bula (que não havia lido até então porque, afinal, o remédio tinha sido receitado por uma médica), percebi que a dita cuja bula trazia – destacada em letras vermelhas – a advertência: não tome este remédio durante crise de gota.
Beleza.
Conversando com um cunhado que também padecia de gota, fui advertido:
Verifique se seu remédio de pressão não retém ácido úrico.
Não deu outra. Li a bula e verifiquei que o remédio que tomava, para equilibrar a pressão, retinha ácido úrico no organismo (Tenoretic).
Falei sobre isso ao médico que freqüentava à época. Era, diga-se um medalhão. Cobrava os tubos.
Displicentemente, o dito cujo concordou em trocar o remédio de pressão por outro (Atenol). Se eu não tivesse dito nada, tudo ficaria como estava. Claro que nunca mais voltei ao consultório do imbecil.
Mais adiante, o dr. Mistrorigo (esse é dos bons) ensinou-me a controlar a crise com doses cavalares (de hora em hora) de colchicina. A coisa funciona assim: quando você percebe o início da crise, começa a tomar colchicina (comprimidos) de hora em hora. Depois de uns cinco ou seis comprimidos você começa a sentir enjôo e é acometido de intensa diarréia. Aí você interrompe a ingestão de colchicina.
A crise de gota vai embora. Mas o processo é um tanto desagradável...
Por recomendação de vários médicos, passei a tomar colchicina diariamente.
Um belo dia, a dúvida me assaltou (aliás, em São Paulo, a melhor coisa é ser assaltado por dúvidas. Os outros tipos de assaltos são muito piores):
Diabos. A colchicina impede as crises de gota. Mas o ácido úrico continua a ser produzido por meu organismo em excesso.
Resolvi – por minha conta – passar a tomar Zyloric. Com isso, baixei a níveis normais o ácido úrico em meu organismo.
Quando fui a um urologista, ano passado, fazer o exame de próstata, ouvi dele – que se disse também vítima de gota – a recomendação de que continuasse com o Zyloric mas interrompesse a Colchicina.
Foi a maior besteira. Mergulhei em crise forte de gota.
Descobri, a duras penas, que é preciso manter os dois remédios.
Hoje, passados 15 anos da primeira crise, consigo administrar a gota. Não tenho crises, reduzi a Colchicina e o Zyloric às doses mínimas que garantem a sanidade.
Apesar de um bando de médicos incompetentes que me fizeram sofrer um bocado.
Viva a incompetência geral.
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3 comentários:
é foooda meu amigo! nao sei como esses bostas conseguem concluir um curso de medicina!
é uma gota serena!!
Já há bastante tempo só tomo Zyloric (princípio ativo: alopurinol). Nunca mais tive crise de gota. Já lá se vão alguns anos.
Faço uso constante de Colchicina 0,5 mg/dia (divido um comprimido de 1mg, pq fica mais barato q comprar o de 0,5 e garanto a dose certa em dois dias, já que o comprimido pode não ter sido dividido exatamente ao meio). Isto já fazem 19 anos de uso constante e ininterrupto. Há uns 5 anos faço uso combinado com Alopurinol para promover a eliminação do ácido úrico que a Colchicina não me atendia. Entretanto, mesmo não sofrendo nenhum tipo de anomalia metabólica oriunda do uso contínuo da Colchicina, hj fico muito preocupado, dado que temos novas informações sobre este procedimento. Aconselho a todos a procurar um reumatologista e informar sobre o uso prolongado para que este possa investigar com exames algumas possíveis patologias decorrentes desta ministração, tais como fibrose hepática, Síndrome do cólon irritado, neutropenia, anemia e outras complicações. Vamos ficar atentos. É nossa saúde, é nossa vida.
Valther
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