domingo, 12 de julho de 2009

Pasmem, senhores leitores!


Um amigo de um amigo, com o qual cheguei a jogar alguma sinuca, há tempos, ficou marcado por uma carta que resolveu enviar, se não me engano, ao Estadão.
Melhor, ficou marcado por uma expressão que usou na tal carta.
O sujeito era – e suponho que ainda seja – de muito bom humor. Engraçado, mesmo.
Mas mergulhou de cabeça no espírito do leitor-que-escreve-pra-jornais e perpetrou esse “pasmem, senhores leitores!” do título do post.
Pra quê.
Toda vez, nas conversas com amigos, quando alguém queria salientar qualquer coisa, lá vinha o “pasmem, senhores leitores!”.
Lembro dele sempre que leio os painéis dos leitores dos jornais.
Invariavelmente, o leitor-que-escreve-pra-jornais é um indignado. Vocifera contra tudo e contra todos.
Pra ele, o mundo não passa da semana que vem. A ruína moral chegou a seu limite.

Atualmente, a bola da vez, no Brasil, é o Sarney.
Tá certo que o homem exagerou. Privatizou o Maranhão, privatizou o Senado Federal, arrumou empreguinhos e empregões para um monte de apaniguados.
Quando foi presidente da República, eu passava boa parte de meu tempo em Brasília, em gabinetes de políticos, em repartições públicas, em escritórios de lobistas etc etc.
Apesar de, naquela época, a bandalheira correr soltíssima, o que mais me incomodava era a cafonice da turma. O Sarney, por exemplo, não recebia em audiência nenhum indivíduo que estivesse enfiado em um terno marrom.
A nata da brasilidade é de uma superstição irritante. A ignorância geral é assustadora. O brega é a marca registada de nossos homens públicos, com seus cabelos indecorosa e horrorosamente pintados.
Pra voltar a Sarney, ele é daqueles que em Nova Iorque circula de limusine branca.

Perto de tudo isso, o leitor-que-escreve-pra-jornais se preocupa com superfaturamento, falta de licitação, desvio de verba, bobagens assim.

A não ser, vez ou outra, um texto do Nelson Motta, ninguém reclama da cafonália geral.

Acho que vou escrever um protesto e mandar pra tudo quanto é jornal.
Ainda mais agora, que fizeram transbordar minha paciência com panegíricos ao tal Michael Jackson, com detalhes intermináveis do casamento do Pato, do casamento do Robinho, do primeiro aniversário do filho do Kaká etc etc etc.

E, claro, não deixarei de usar o Pasmem, senhores leitores!.

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