quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sobre corrupção - 2


Como vimos na primeira lição, a corrupção não é pra qualquer um. É pra quem tem talento.
Mas o povão se esforça pra se mostrar digno dela.
Você conhece alguém que passe escritura de imóvel pelo valor real da transação?
Eu conheci um: meu pai.
Ele cometeu esse deslize e pagou caro por isso. Os fiscais passaram lá em casa e descobriram alguns pelos em ovo para multá-lo (década de 50, século passado).
Quem mandou querer ser diferente, não é mesmo?
Outro dia, em entrevista a Marília Gabriela, Eduardo Giannetti lembrou episódio vivido por ele: alunos seus participaram de passeata exigindo ética na política. Dias depois, durante prova, tentaram colar adoidado.
Pois é.

Como costumava dizer minha mãe:
- Todo mundo é muito honesto mas meu capote sumiu.

Nossos políticos são corruptos? Claro.
Mas continuarão a ser eleitos porque o pessoal prefere votar em corrupto. O eleitor raciocina: quem sabe esse cara me descola alguma boquinha.
Aliás, esse raciocínio já é tão generalizado que gente honesta (ou cagona) nem se candidata.

Com isso, podemos unir estas novas reflexões às da primeira lição:

Todo mundo procura ser corrupto. Se só consegue praticar as pequenas corrupções do cotidiano, paciência. Fica nisso. Omite alguns rendimentos na declaração de imposto de renda. Se é um mísero assalariado e essa omissão não é possível, trata de inflar as despesas médicas, incluir dependentes inexistentes ou não permitidos etc etc.

Chateado por não poder praticar corrupções de vulto, vota em camaradas que façam isso por ele.

Em resumo, concluímos que todo mundo comete seus pecadilhos. Os talentosos partem pra pecados capitais. Os demais ou se contentam em admirar os bem sucedidos ou desabafam fazendo a apologia da virtude.

Qualquer hora destas, terceira aula.

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