quarta-feira, 22 de abril de 2009

A ida dos que ficaram


Pois bem. Nào tendo sido possível viajar na sexta, embarcámos no domingo.

Já na sexta, em Guarulhos, o atendente da TAP me dissera que eu teria de pagar uma multa de 100 euros para trocar a data das passagens de sábado para segunda. As passagens de Madrid ao Porto, diga-se. Mas o dito atendente informou que a multa poderia ser paga em Madrid, na segunda-feira. Eu, submisso ao princípio de que problema adiado é problema resolvido, deixei a multa para ser paga em Madrid. Até porque não senti firmeza no atendente, que encarava o monitor do computador dele com olhar de quem vislumbra um ET.

Partimos de São Paulo quase no horário. Sei lá por que ventos, chegámos a Madrid uns 45 minutos depois da hora prevista. Até aí tudo bem. Afinal, teríamos de fazer hora até o embarque para o Porto, às 12:40. E eram, apenas, 7:30.

Feita a alfândega (e eu, que temia a alfândega espanhola por minha mulher, dadas as notícias recentes sobre maus tratos a passageiros brasileiros, tive de ser esperado por ela, liberada que foi, instantaneamente, por um sonolento vigilante espanhol) fomos ao check in da TAP (depois de uns passeios por Barajas, claro, claro).
Como eu já esperava, a atendente disse-me para ir à loja da TAP, pagar a tal multa.

Para minha consternação, um muy amable rapaz informou-me: há a multa (100 euros), mais a diferença de tarifas: por insondáveis desígnios divinos, a passagem no vôo da segunda, no qual embarcaríamos, era sensivelmente mais cara que aquela de que não havíamos desfrutado no sábado, graças ao pecado original da perda do vôo São Paulo – Madrid. Resumo: havia que desembolsar 240 euros. Com o coração a sangrar, entreguei meu cartão de crédito para ser guilhotinado (debitado, para ser moderno).

Como quem vai às batatas, o dito rapaz pergunta ao funcionário a seu lado:
- Houve mesmo o vôo Madrid - Porto de sábado, 9:50?
- Não. Foi cancelado.
O muy amable devolve meu cartão de crédito e explica:
- Como o vôo que o senhor perdeu não houve, não há que cobrar multa nem diferença de tarifas. Pode embarcar.

E lá fomos nós, rumo a um ... –adivinhe! Embraer ERJ 145. Pura engenharia brasileira a serviço de nossas férias.

Eu jamais voara em um Embraer. Posso dizer que gostei. Só achei ridícula a divisão entre classe econômica e classe executiva: todos os assentos são iguais. O que separa as duas classes é uma cortininha. E, para gáudio dos que advogam facilidades para a mobilidade entre as classes, a base de sustentação da cortininha é móvel. A comissária de bordo pode colocá-la mais para a frente (e restringir os lugares disponíveis para os protegidos da sorte) ou pode deslocá-la para trás, diminuindo as desigualdades sociais. Bisbilhotando a classe executiva, constatei que as duas pessoas lá aboletadas, um ancião de ar esnobe e sua presumível esposa, sósia da rainha da Inglaterra, consumiam o mesmo sanduíche horrendo que matava a fome de nós, pobres mortais da fileira 6 em diante. Apenas o faziam em pratos de louca, enquanto nós o atacávamos a partir de bandejinhas de isopor.

Tudo isso parece apontar para o Brasil como o berço de um futuro e promissor socialismo. No bojo do qual todos lembrar-se-ào da Embraer e de seu papel preponderante na edificação da sociedade sem classes a partir da cortina flutuante de seus ERJ 145.

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