segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa (1.924 - 2.013)



Poema Dum Funcionário Cansado vai em três blocos para facilitar a leitura. Clique nos textos para ampliá-los. O poema foi copiado de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI.





sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Dor

A dor é totalitária.
Li isso, pela primeira vez, em Vilém Flusser. Mas nem precisaria dessa leitura. Qualquer dor de dente nos leva a essa conclusão.



Há dor para todos os órgãos. Os materiais, os anímicos.
Volta e meia me lembro das dores de meus vinte anos. E me pergunto por que sofria tanto, aquele garoto que tudo tinha ao alcance da mão.
Talvez toda a dor resultasse da dificuldade de esticar as mãos para alcançar o alívio.

E eis que retomo, quase aos setenta, as mesmas dores de meus vinte anos.
Consigo suportá-las melhor. Os cinquenta anos de intervalo não foram em vão.

Mas como dói.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Mulher é melhor

Pena que o Português não seja como o Hebraico.
No Hebraico, omitem-se as vogais e as palavras ligadas semanticamente têm uma mesma raiz, em geral formada por três consoantes.
Ocorre algo assim com mulher e com melhor. Ambas têm a raiz, por acaso de três consoantes (ou fonemas consonantais): m, lh e r.
Além de milhar, molhar e malhar.
De facto, uns 90% dos homens concordarão com o sentido de mulher é melhor.
Se eu pudesse ser concretista, construiria um poema:

.
E você?

Prefere malhar para melhor impressionar a mulher?
Ou acertar no milhar?
Ou no melhor da mulher?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Humor involuntário

Nem sei se é mesmo involuntário.
Hoje, a conversar com minha irmã, que mora no Rio de Janeiro e ainda leva a sério a vida política do país, disse-lhe que iria assistir à leitura do voto de Celso de Mello pois não é todo dia que se pode assistir a um programa de humor tão bom.
O voto dele, com toda a fundamentação que ele conseguiu reunir, resultou - na prática - em absolvição (ou quase) dos maiores expoentes do PT envolvidos na roubalheira.
É disso que se trata.
O resto é juridiquês.
E a luta política no Brasil, naquele estilo Fla x Flu de que o PT tanto gosta, irá prosseguir, agora com a exaltação de Celso de Mello pelos funcionários petistas alocados na imprensa.
Terminada a leitura do douto voto, fui à varanda e fiquei a contemplar o Parque Natural de Montesinho.

E a dar graças aos deuses por ter tido uma decisão acertada na vida - ao menos uma!  A de vir viver aqui e deixar longe de mim essa pasta viscosa que é a política brasileira.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Anotações no rodapé da barbárie - IV

Quando saí do Brasil imaginei que não mais escreveria posts com esse título.
Mas há a internet...
Ontem, domingo, resolvi assistir a um seminário do grupo e-teacher cujo assunto seria O Nome de Deus. Claro, em um pano de fundo do estudo do hebraico bíblico.
O seminário começaria às 16:30 horas, no horário de Brasília. Portanto, para mim, 20:30 horas.
Quando estabeleci a conexão com o sítio do seminário, verifiquei que participariam dezenas de pessoas. A grande maioria composta de habitantes da terra brasileira.
As pessoas recebiam o som da central, tinham microfone para falar, podiam ligar a webcam para aparecer e havia um espaço para chat.
Antes de iniciar a palestra que duraria mais ou menos uma hora, seguida de debates (uns 20 a 30 minutos), a professora Maya Levin solicitou que todos fechassem seus microfones e desligassem suas câmeras. Para não haver microfonia e para que os que utilizam internet de baixa velocidade não fossem prejudicados pela utilização de câmeras. Pediu ainda que os participantes não ficassem a conversar pelo chat durante a palestra.
Tudo muito simples e lógico.
Mas não para brasileiros, pelo que me foi dado observar.
E ressalte-se que não se tratava de nenhuma plebe ignara. Afinal, pessoas que resolvem dedicar quase duas horas de seu domingo a uma discussão sobre questões de hebraico no Velho Testamento não parecem ser propriamente analfabetos ou imbecis.
Analfabetos certamente não os havia na plateia virtual.
Já quanto a imbecis...
O facto é que durante todo o tempo de duração da palestra a professora teve de ficar reiteradamente a pedir que desligassem microfones e que não ficassem a utilizar o chat.
Em resumo: zorra absoluta.
Decididamente, o Brasil passou do primitivismo à barbárie sem o estágio intermediário da civilização.

domingo, 15 de setembro de 2013

Topologia antiga

Aprendi, dia desses, que no mundo do Antigo Testamento referências a situações topográficas tinham carácter diferente do actual.
Para nosso tempo a referência é o Norte.
No mundo do Velho Testamento a referência era o Oriente, o Leste.
Assim, quando a Bíblia se refere a uma cidade à esquerda de outra, isso significa que a tal cidade fica a Norte da outra. O Sul fica à direita e o Oeste atrás.
A raiz hebraica de Oriente (קדם) significa frente. É o que está diante de nós.
Já nos dias de hoje, quando queremos dizer que algo nos orienta, nos dirige, dizemos que é nosso Norte.

Mas a mesma raiz nos leva ao significado de passado.
Há lógica nessa semântica: o passado é o que está diante de nós. É o que podemos ver.
O futuro não nos é apreciável. Está atrás de nós.

sábado, 14 de setembro de 2013

Neymar Junior

Tenho muita curiosidade para saber como se sairá o garoto cá em terras catalães.
De início, parece estar a ser bem orientado. Deixou de lado aqueles penteados exóticos e partiu para um cabelinho sem pintura e cortado do modo comum aos demais mortais (ao menos à grande maioria deles). Imagino que tenham dito a ele que, aqui, era preciso jogar futebol. Depois, quando já tiver mostrado que justifica os milhões de euros nele investidos, poderá pintar o cabelo da cor que preferir e cortá-lo do modo mais absurdo que lhe ocorrer.
Além disso, deixou de cair a cada esbarrão do adversário.
Hoje, no jogo contra o Sevilha, deu um primoroso passe para Messi fazer o segundo golo do Barcelona. Por outro lado, tentou dar outro golo de presente a Messi em momento em que o indicado era ele mesmo fazer o golo.
Mas nada disso é relevante. Quem ganhou o jogo para o Barcelona foi o árbitro. Anulou um golo legítimo do Sevilha e mostrou critérios diferentes na avaliação de faltas para uma e outra equipas.
Resumo: tudo indica que Neymar não será um novo Viola, que veio jogar em Espanha e acabou por desistir de jogar aqui porque não se adaptou aos hábitos culinários da península ibérica. Sentia falta do cardápio arroz - feijão - mistura.



Fazer o quê.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sinceridade é mesmo desejável?

Canso-me de ler, no Facebook e em blogues, louvores à sinceridade. Tanto mulheres quanto homens gostariam de ter por companhia pessoas antes de tudo sinceras.
Mas será a sinceridade realmente virtuosa?
Como quase tudo, depende da dose.
A Baixinha, por exemplo, é fantástica por me dizer, sempre que cabível, que estou com mau hálito.
Isso me conforta muito, pois quando ela nada diz, significa que ou ela necessita de ir com urgência a um otorrino ou eu estou com hálito agradável (ou pelo menos aceitável).
Mas, durante bastante tempo, ela insistia em alertar que meu cabelo precisava de corte. Ora, acho uma das injustiças deste vale de lágrimas o facto de um quase-totalmente-calvo ter de frequentar o barbeiro com grande frequência. Assim penso e de acordo com isso sempre agi. Ou seja: só frequento o barbeiro quando nem mais euzinho mesmo suporto aquelas pontas capilares que só crescem para baixo.
Nesse segundo caso, a sinceridade dela me incomoda. Melhor, me incomodava. De um tempo a esta parte ela miraculosamente parou de fazer comentários sobre o comprimento de meu cabelo. Resultado: estou a transbordar tufos de cabelo nuca abaixo. Amanhã, como volto a Bragança (estou em Matosinhos), farei uma visita a meu barbeiro. Que melhor designado seria se o fosse como promotor de striptease de couro cabeludo. E logo em mim, cujo couro cabeludo já vive despudoradamente com pouquíssima roupagem.
A sinceridade também já me trouxe não poucos dissabores no lidar com amigos e conhecidos (como quase toda gente sabe, há conhecidos que não chegam a ser amigos. E, cuidado!, há amigos que pouco são conhecidos).
Já contei aqui, faz quase 7 anos, a história da psicanalista que me pediu que dissesse a primeira palavra que me ocorresse ao pensar nela. Eu disse. E meu relacionamento com ela acabou. Leiam.
Há aquele filme com Jim Carrey (que eu não suporto), o LiarLiar, em que o indivíduo - justo um advogado! - é impedido de mentir e gera as maiores confusões.
Há, também, vídeos do Gato Fedorento e da turma da Porta dos Fundos sobre os inconvenientes da sinceridade absoluta.
Uma mentira pode ser de utilidade indispensável. Diria que na maioria dos casos.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Às vezes é salutar estar atrasado

Portugal tem uma esquerda raquítica. Ainda bem, digo eu.
No Brasil, a esquerda, ao menos aquela agrupada no Partido dos Trabalhadores (PT), conseguiu chegar ao poder. E vai destruir o país. O trabalho de desmanche já começou há dez anos.
Os últimos tempos viram, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar a acção penal 470, conhecida como mensalão. Por variadas razões, entre as quais inclui-se o clamor da opinião pública, a quase totalidade dos réus foi condenada a penas não comuns em casos que envolvam gente graúda.
Mas o jogo não estava ganho. Havia uma prorrogação. E nela os defensores dos notáveis do PT conseguiram já quase reverter todo o julgamento e lançar para as calendas o final desse imbroglio.

Nada disso é novidade. Essa turma já conseguiu façanhas de igual talante. A morte de Celso Daniel, militante do PT e prefeito de Santo André, na Grande São Paulo, teve sua investigação encerrada com a conclusão de ter sido resultado de um sequestro comum. Isso depois de sete (no mínimo) testemunhas (de algum modo) do crime terem sido assassinadas:
  • Dionísio Aquino Severo - Seqüestrador de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso. Uma facção rival à dele o matou três meses após o crime.
  • Sergio - ‘Orelha’ - Escondeu Dionísio em casa após o seqüestro. Fuzilado em novembro de 2002.
  • Otávio Mercier - Investigador da Polícia Civil. Telefonou para Dionisio na véspera da morte de Daniel. Morto a tiros em sua casa.
  • Antonio Palácio de Oliveira - O garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime pouco antes do seqüestro. Em fevereiro de 2003.
  • Paulo Henrique Brito - Testemunhou a morte do garçom. Levou um tiro, 20 dias depois.
  • Iran Moraes Redua - O agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito jogado na estrada e que chamou a polícia em Juquitiba, morreu com dois tiros em novembro de 2004.
  • Carlos Delmonte Printes - Legista que atestou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel, foi encontrado morto em seu escritório em São Paulo, em 12 de outubro de 2005.

(dados da Wikipedia)

Há muito que essa gente consegue tudo que quer. A democracia, no Brasil, passou a ser feudo do PT.

Em Portugal, nosso atraso político tem suas vantagens. Aqui, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda ainda são apenas grupos folclóricos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A maldição da Virgem

O casal viveu séculos em perfeita união. O único senão foi que todos os filhos e filhas nasceram à semelhança do pai. E o pai era feio. Muito feio.
A mãe, bonita, envelheceu sem perder a formosura.
Os filhos casaram-se com mulheres bonitas, que os admiravam pelas qualidades intelectuais ou, quem sabe, até mesmo pelas qualidades sexuais. Mais provavelmente, as qualidades económico-financeiras terão sido as determinantes.
Já as filhas, ah! as filhas. Desassistidas de formosura, arrastaram pela vida suas fealdades, inconformadas com os sucessivos fracassos amorosos.
Pior: nas poucas vezes em que conseguiram procriar, produziram varões razoáveis e raparigas quase tão pavorosas quanto elas mesmas.
Consta, no folclore, que pesou em tudo a indefectível crença na virgindade de Maria.
Será?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Memória e imortalidade

Ao longo de alguns últimos anos, consegui reunir informações ancestrais do ramo paterno de minha família.
Soube, por exemplo, que minha avó Amélia teve três irmãs. O pai delas, meu bisavô, chamava-se Leonardo.
Outro dia, em almoço na casa de parentes que vivem em Vinhais, soube que as quatro - minha avó e as três tias avós - tiveram um irmão, o Zé Pigarreiro.
Nasceu assim, para mim, um tio avô. Enquanto eu viver, o Zé Pigarreiro viverá comigo. Penso até em dar-lhe um rosto, imaginar suas feições.
Minha memória empurrará o Zé Pigarreiro rumo à eternidade.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O caiçara saloio

O Houaiss dá o sentido (apenas o 16º...) de praiano, natural ou habitante de localidade litorânea, ao substantivo caiçara, de dois gêneros. Como substantivo apenas masculino, caiçara vem a ser homem ordinário, malandro, vagabundo.
Quanto a saloio, o Priberam diz ser que ou quem trabalha ou vive no campo. Mas se esse é o segundo sentido da palavra, os terceiro e quarto sentidos são: que ou quem é grosseiro, revela falta de educação (...) e que ou quem age de forma desonesta.
Começa por ser curioso que, no Brasil, associe-se praiano a malandro. E, em Portugal, agricultor, camponês, a desonesto.
Talvez porque os dicionários sejam feitos por pessoas que nem do campo nem da praia são. Ou não?
Aliás, no Brasil o termo agricultor vem sendo substituído por ruralista. Proprietário rural. Esse indivíduo, o ruralista, é associado a Satanás. Embora seja responsável pelo pouco de desenvolvimento que apresenta a economia pátria. Talvez quando conseguirem acabar com os ruralistas, os militantes da Esquerda consigam substituí-los com vantagem na produção de riquezas.
Mas vamos voltar à vaca fria.
Hoje saí de Bragança, a cidade (talvez) mais saloia de Portugal, em direcção ao Porto. Mais especificamente, Matosinhos. Cidade praiana.
Troquei o skyline da Serra de Sanabria pelo horizonte do Oceano Atlântico.
Troquei o desonesto pelo vagabundo. O saloio pelo praiano.
A julgar pelos santos que conheço, prefiro ser malandro e ordinário.

Comecei minha permanência junto ao mar a saborear muito malandramente umas magníficas costeletinhas de porco preto no Ribs.

domingo, 8 de setembro de 2013

Nova jabuticaba

Se Charles de Gaulle disse ou não disse que o Brasil não era um país sério não sei.
O facto é que não é.

Diz-se que a jabuticaba é algo que só dá no Brasil. Também não sei.

Mas vejo que surgiu uma nova jabuticaba: o traficante evangélico.
Evangélico e altamente preconceituoso contra as demais seitas. Em particular, as seitas de origem africana.

A matéria que se pode ler aqui, fala de traficantes que expulsam de favelas do Rio de Janeiro mães e pais de santo (ou filhos, sei lá). Porque os evangélicos entendem que essas crenças não são dignas de respeito.

Já o tráfico de drogas...

sábado, 7 de setembro de 2013

Jogos de classificação para o Mundial 2014 no Brasil

Selecção da Irlanda do Norte 2 X 1 Selecção de Portugal





Cristiano Ronaldo 3 X 0 Selecção da Irlanda do Norte


Resultado Líquido: Selecção de Portugal 4 X 2 Selecção da Irlanda do Norte

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Os índices da velhice

Fui hoje ao oftalmo.
Além de me receitar novos óculos, deu-me a notícia de que tenho cataratas.
Muito educado, pediu desculpas pela má notícia.
E eu, que considerara a notícia boa por não precisar operar já. Afinal, as minhas não são tão abundantes como as de Niagara, que visitei na passagem de ano. Esclareceu-me o facultativo que tenho cá um índice de 9 em 10 (referia-se à quantidade de linhas de letras que eu consegui ler em uma dezena). Só quando alcançar o índice de 5 em 10 é que haverá chegado o momento da cirurgia.

E assim, minha velhice está cada vez mais atrelada a índices. Este das cataratas vem juntar-se aos milímetros de diâmetro da aorta ascendente. Até o ano passado estava estável em 46 mm. Quando chegar a 50 mm terei chegado ao fim de minha visita a este vale de lágrimas. Vale, diga-se, em que derramei poucas lágrimas e no qual deliciei-me e delicio-me a valer.
Isso para não mencionar os mais prosaicos: índice de glicemia, índices de tensão arterial, índice de ácido úrico etc etc etc.
Estou fadado a transformar-me em uma tabela do Excel.

***

Duas coisas me deram alegria no dia de hoje.
A primeira, bem mais desimportante que a segunda, foi ter conseguido utilizar o substantivo facultativo para referir-me a um médico. Desde criança ouço os comentaristas esportivos referirem-se a médicos de clubes de futebol dessa maneira. Eu desde sempre os invejava. Agora, na velhice, mais. Afinal, a algo que se torna a cada dia mais necessário é muito agradável que se o possa chamar de facultativo.
A segunda: meu filho, como escrevi há pouco, chega hoje a seu sexto quadrado perfeito. E tem sido durante esses 36 anos uma de minhas três mais gratas alegrias.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Alternativas de Esquerda

Portugal está a tentar emergir de grave crise. Apesar das bobagens que o actual governo insiste em cometer, alguns sinais de êxito aparecem no horizonte.
Mas os sectores de esquerda cá neste pequeno retângulo ibérico, depois de muito criticarem a política adoptada, parece que enjoaram disso e resolveram tratar de outros temas que consideram mais candentes.

O Bloco de Esquerda (BE) tratou de levantar a discussão do piropo. Para os brasileiros, diga-se que piropo é o galanteio, aquelas considerações nem sempre muito polidas dirigidas nomeadamente a mulheres, em lugares públicos.
Claro que o piropo pode ser também homossexual. Mas quem tiver a paciência de assistir ao vídeo com a palestra de uma militante sobre o assunto (aqui) constatará que o BE prefere vê-lo como expressão da supremacia do masculino sobre o feminino. Como forma reveladora de domínio. Pois. Se a luta de classes já tornou-se um bocadinho antiquada, que surjam novos conflitos sociais. Afinal, a Revolução tem de resultar de conflitos sociais. Ou não seria dialéctica. Então, denunciemos a supremacia masculina, a opressão racial, a homofobia e tudo o mais que se prestar a combustível da Luta.

Já o Partido Comunista Português (PCP), que não se envergonha de ostentar em seu sítio na Internet a dupla foice-martelo, ou seja, não tem mesmo a mais irrisória noção de ridículo (e aqui é difícil não ser redundante), o PCP, eu dizia, decidiu implicar com uma nomeação feita pelo ministro da Defesa em fins de 2.012.
O PCP questiona o Governo por considerar ilegal a nomeação de um civil para o cargo de vogal no órgão IASFA.

(clique na imagem para ampliar o texto)

Veja a parte do decreto-lei que normatiza o assunto:

(clique na imagem para ampliar o texto)

O item 2 do Artigo 7º diz que "o vogal pode ser designado de entre contra-almirantes e majores-generais dos ramos das Forças Armadas."
Como salienta o ministro da Defesa, se pode ser também pode não ser.
Mais: o item seguinte (item 3 do Artigo 7º) estabelece: "Nos casos previstos no número anterior (...)". Ora, então o próprio decreto-lei reconhece a possibilidade de haver outros casos.

É verdade que a nomeação e o questionamento dela por parte do PCP ocorreram no final do ano passado. Eu é que só soube agora do imbróglio.
Fico a perguntar-me quantos pelos em ovo o PCP já terá denunciado neste ano da graça de 2.013.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Aula de culinária

É a primeira vez que derramo neste blogue meus conhecimentos de culinária. E seria capaz de jurar que será a última.
Não entendo patavina do assunto.
É verdade que cheguei a cozinhar no presídio Tiradentes. Mas confesso que não foram momentos de glória, apesar de - assim como meus companheiros de cela - caprichar sempre no feijão, despejando nele tudo que houvesse de aromático disponível no xadrez. De noz moscada ralada a generosos pedaços de paio (aquele, do porco).
Mas o que me traz ao tema é algo muitíssimo mais sofisticado. Da esfera da nouvelle cuisine. E bota nouvelle nisso.

Tudo começou por volta de 2.005. Eu morava no Brasil e era o feliz possuidor de um cartão de crédito Amex. Volta e meia recebia convites para eventos aos quais eu teria acesso facilitado pelo cartão.
E um incerto dia, não sei se belo ou não, recebi o convite para um jantar para duas pessoas em um novo espaço gastronômico chamado From The Galley. Pra simplificar, vou passar a me referir ao dito cujo pela banal designação de restaurante, com a devida concordância tácita (assim espero) de seu proprietário, o simpático Ton (Neriton Vasconcelos).
O restaurante recebe para o jantar apenas. Possui uma mesa apenas (para 20 lugares). Participam do evento clientes que tenham feito reserva antecipada apenas (com a informação do número do cartão de crédito).
Há um menu de 8 etapas, outro de 5 etapas (Ton prefere o termo courses).
Tais menus são renovados a cada mês.

Talvez por ter ido jantar lá em 2.005, recebo até hoje e-mails mensais com o detalhamento do novo cardápio.
Vale a pena dar uma espiadela no menu deste novo mês de Setembro do ano da graça de 2.013.

Tudo começa com PIPOCA BAFO DO DRAGÃO NO NITROGÊNIO LÍQUIDO. Não arrisco palpite sobre o que seja isso. Mas encontrei um vídeo que mostra o pessoal a comer a dita pipoca lá no From The Galley.



Na sequência, temos KING CRAB ENVOLTO EM PEPINO COM OVAS DE SALMÃO SOBRE ASPARGOS E AIOLI . Aqui a compreensão já ficou mais ao alcance de leigos. Trata-se de caranguejo, devidamente desencapado. Como o crustáceo foi privado de sua indumentária natural, fornecem-lhe fatias de pepino para cobrir suas vergonhas. As ovas de salmão sobre aspargos e aïoli me parecem uma simulação do habitat do bicho. Mas não garanto.
Depois disso, seremos brindados com SALMÃO NO VAPOR COM ESPUMA DE DILL . Em menu assim tão pós-moderno não faltaria uma espuma. Informo aos tão ignorantes quanto eu na matéria (mais ignorantes, impossível) que não há cardápio nouvelle cuisine que se preze sem uma espuminha. Só não confundam dill (tempero) com DIU (dispositivo intra uterino). 
A seguir, SORBET DE COCO . Finalmente, algo autoexplicativo.
Próxima: KOBE BEEF FEITO NO SOUS VIDE COM MOLHO DE TRUFA E COUVE DE BRUXELAS . Essa dá pra desvendar via Google.
Adiante: DUO DE GELATINA CREMOSA . Está tão fácil que já me ocorre notar a ausência de um termo tão indispensável quanto espuma, em um menu desses: redução. Espero que o Ton corrija essa falta grave no cardápio de Outubro. Redução, meus caros, é o nome caprichado para engrossar um caldo, um molho, algo assim. Em geral faz-se a redução no fogo. Pode ser, também, por evaporação.
Por último, vamos coroar nosso estudo com um termo também frequentador assíduo desse universo da alta gastronomia. Encerra-se o menu com TORTA DE LIMÃO DESCONSTRUÍDA . Desconstruir, neste contexto, significa esbagaçar tudo, despedaçar. No caso, a torta de limão. Faz-se a torta.(em Portugal, tarte). Por qualquer motivo, apodera-se do cozinheiro um furor incontido. E ele desconstrói a tal torta. Arrependido, coloca pedaços dela em uma taça, enfeita com natas ou lá o que lhe apeteça e serve.

Bom apetite! (בְּתֵאָבוֹן - lê-se bete'avon )

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Homem que discursava - II

Sabia mencionar vários corónimos, alguns limnónimos, poucos eremónimos, muitos potamónimos e quase todos os talassónimos.
Apenas jamais vira como são feitas as alheiras.
Mesmo sem essa vivência, costumava classificá-las em execráveis alheiras de direita e virtuosas e democráticas alheiras de esquerda.
Ou o contrário, tanto faz.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Comemorar quadrados

Próximo dia 6, sexta-feira, meu filho completa 36 anos.
Perguntei-lhe hoje a quantas andavam os preparativos para a comemoração.
Respondeu-me que mal lembrava de que completaria mais um ano.
Fiz minha advertência: não vais completar mais um ano. Vais chegar a teu sexto quadrado perfeito.
E isso vale bem mais do que um simples birthday.
Primeiro, porque os quadrados perfeitos são poucos. Até os 100 anos apenas dez deles nos aguardam. Mas não muitos chegam ao nono.
Segundo: os quadrados perfeitos seguem o tempo psicológico que é - a rigor - o único que conhecemos por experiência direta. A uma criança de 9 anos, falar que ela terá uma nova data significativa ao completar 16 anos deve soar como sinônimo de infinidade. No entanto, terão passado apenas 7 anos de um a outro.
Já meu filho reencontrará um quadrado perfeito só daqui a 13 anos. Não me arrisco a apostar qual dessas distâncias temporais é psicologicamente maior.
Talvez sejam iguais e resida aí o encanto dos quadrados perfeitos em nossa cronologia.

E também talvez fosse mais adequado comemorarmos apenas os birthday squared (se me permitem a expressão, que talvez até já exista).

Afinal, nossa importância não é assim tão significativa, para comemorarmos a continuidade de nossa respiração a cada 365 dias.

domingo, 1 de setembro de 2013

O Homem que discursava

Antigo amigo meu costumava dizer, quando ouvia alguma coisa que considerava besteira:
- Melhor ouvir isso que ser surdo.
É o que me ocorre pensar quando leio opiniões de certas pessoas.
Algumas são "de direita". Outras "de esquerda".
Em comum, que eu saiba, têm o histórico de viverem grande parte de suas vidas, até aqui, em gabinetes, salas de aula, ambientes assim. Tudo sempre bem longe de qualquer coisa que cheire a produção de bens, que se pareça com a prestação de serviços essenciais.
Vivem em um mundo de metáforas.
Alimentam-se de ilusões e vomitam citações. Tanto faz se eruditas ou banais. Pensam entre aspas.

sábado, 31 de agosto de 2013

A feia piedosa

Ser feia não é defeito. Apenas sina.
Beleza não é fundamental, como teimou Vinicius.
Mas se juntarmos à feiura um gosto por textos de auto-ajuda, nem é preciso mau hálito.

O diabo é que alguém assim, ao obter - sabe deus como - alguns diplomas e títulos, pode começar a alimentar a falsa ideia de que a bem-aventurança deve ser distribuída democraticamente.
E é então que começa o sofrimento.

A busca do príncipe encantado passa a equiparar-se à procura da fonte da eterna juventude.
Mas como sucedem-se os sapos e nenhum deles nem sequer se deixa beijar, o remédio é glorificar a Virgem, com a qual aumenta pouco a pouco a identificação.

E, valha-me deus, nem um maldito Panthera aparece.

sábado, 24 de agosto de 2013

Meus amigos do Facebook

Tenho pouco mais de uma centena de amigos no Facebook.
Desses, uns quase cem não escrevem nada, não dão palpites em nada. Nem sei se aparecem para ler alguma coisa. E se o fazem, apenas clicam em “like”.
Uma meia dúzia corresponde a minhas expectativas: dá opiniões e comenta as minhas.
Umas boas duas dúzias são formadas por pessoas que têm convicções – políticas e/ou religiosas – bastante arraigadas. Com essas é impossível dialogar.
Tenho amigos absolutamente contrários ao PT (Partido dos Trabalhadores, Brasil). Para esses o Brasil é vítima dessa corja. Tirá-la do poder é a prioridade.
Outros são adeptos do PT. Para eles, José Dirceu é um bom sujeito, Lula tirou o Brasil da miséria (ou a miséria do Brasil, algo assim).
O socialismo, para uns, é um regime libertário, democrático. Parece-me que sonham acordados.
Ou, talvez, não tenham acordado. E, a julgar pela idade provecta de alguns, jamais acordarão.
Outros publicam frases ou conjunto de frases de teor acaciano. E aceitam que essas boçalidades tenham sido escritas por, exemplo, Fernando Pessoa.
Isso indica que jamais leram Pessoa. Mas, advertidos do erro, apenas afirmam que não se preocupam com isso.
Minha vontade é a de escrever uma imbecilidade qualquer e atribuir a autoria à pessoa que publicou uma idiotice como sendo da lavra de Fernando Pessoa. Mas não o faço porque corro o risco de ver a bobagem elogiada por muitos.
Vários são crédulos. Ou crentes, se preferir.
Não creem em Pai Natal nem Saci Pererê. Mas veneram a Virgem Maria e uma cambada quase infinita de santos.
Alguns, protestantes, não dão essa importância toda a Maria. Mas acreditam que o judeu, aquele, o tal de Jesus, ressuscitou.
Ora, nada tenho a conversar com essa gente. Dialogar não é o forte dela.
Por essas e por algumas outras, encerrei minha participação no Facebook.

Amigos, para mim, são outra coisa.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Senhor dos Aflitos

A festa de Passos de Lomba foi neste último domingo, dia 11 de agosto.
Missa na Capela de Nosso Senhor dos Aflitos, procissão à volta da capela, que o sol não estava para brincadeiras. Depois, o de sempre: leitão, cabrito etc etc.
A pinguinha (vinho) e, por que não, um bagaço.

O interior da capela só fotografei após a missa. Quando cheguei a missa já começara...

(clique nas fotos para ampliá-las)

Como lá dentro não cabia toda a gente, ficaram muitos à sombra das árvores, a assistir à missa pelos auto-falantes.






Enfim, terminada a missa, saiu a procissão.




(não sei por que esse telefone da banda tem algum dígito a menos...)


Ainda antes do fim da missa já alguns procuravam alimento que não fosse o espiritual.


sábado, 10 de agosto de 2013

Exame de ADN para Panthera


Quando comecei o terceiro ano (terá sido mesmo o terceiro? Talvez o segundo... Sei lá) do curso na época chamado, no Brasil, de ginasial (enfim, eu tinha uns 12 ou 13 anos) levei pra casa no primeiro dia de aulas a lista de materiais necessários: livros, cadernos etc etc. Para Geografia, o livro era o de Haroldo de Azevedo. Minha mãe providenciou as compras e lá veio no meio delas o livro de Geografia, em edição recente. Ao fuçar as coisas de minhas irmãs, descobri o mesmo livro mas em edição um bocadinho mais antiga (apenas uns 10 anos mais antiga... desculpem lá, minhas manas)
Comecei a comparar os dois exemplares. Em ambos havia um capítulo que hoje pareceria brincadeira: Provas da Redondeza da Terra.
No livro de minhas irmãs estampava-se uma foto do horizonte no mar. Em cima dela fora traçada uma linha reta para mostrar que o horizonte que parecia reto na verdade não o era. Com a reta traçada sobre a foto ficava claro que a linha do horizonte era curva.
Tentei reproduzir isso nas fotos abaixo, tiradas de meu apartamento em Matosinhos (Porto). Percebam que quase consegui provar que a Terra é plana...



Na edição comprada para mim, mais recente, a foto já era tirada de um balão meteorológico ou coisa que o valha. Percebia-se claramente a "redondeza" da Terra, sem necessidade de traço algum sobreposto à foto.
Imagino que nas edições seguintes o capítulo todo deve ter sido eliminado. Afinal, já não era necessário provar que a Terra era redonda.

Há, contudo, alguns temas que - por variadas razões - não só continuam a exigir provas que mostrem sua falsidade, como pior: são considerados verdadeiros por milhões de pessoas.
Um deles é a virgindade de Maria.
Curioso: há outros mitos que são cultivados por largas porções da Humanidade. Mas dentro de certos limites. Por exemplo: o Pai Natal (ou Papai Noel, como se diz no Brasil). As crianças acreditam em Pai Natal até certa idade. Há um momento em que os pais cumprem a dolorosa missão de desenganar os petizes.
- Vejam, crianças. Pai Natal não existe.
Já a virgindade de Maria, assim como outros mitos que vieram do paganismo e foram incorporados pelo cristianismo, tem gente - e bota gente nisso - que acredita nessa história pelo resto da existência.
Pense em uma vizinha (ou um vizinho) sua (seu). Imagine que você diga a ela (ele) que a vizinha do 47 está grávida mas não transou com ninguém. Você acha que ela (ele) vai acreditar?
Duvide-o-dó!
Mas uma pá de gente acredita que Maria pariu Jesus sem ter transado com ninguenzinho.
Mas existem fortes indícios (não provas indiscutíveis, é verdade) de que Maria teve um caso com o soldado romano Panthera. Ou foi estuprada por ele.
Se isso é mesmo a expressão da verdade não se sabe. Ao menos no atual estado das pesquisas. E talvez nunca se tenha uma prova cabal.
Mas quanto a mim pelo menos, não aceito que - naquela época, em que não havia inseminação artificial nem nada disso - uma mulher ficasse grávida sem ter conhecido homem (no sentido que é comum na Bíblia)..

Mas... fazer o quê. A Igreja - a Santa Igreja - já matou muita gente que afirmava a redondeza da Terra ou outras heresias do gênero.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A esquerda e sua ignorância


Foi em 1.968.
No cursinho pré-vestibular em que eu dava aulas de Matemática, um amigo meu lecionava História.
Era jornalista e homem de esquerda.
Belo dia, anunciou o nascimento de seu primeiro filho.
Desejei tudo de bom a seu rebento.
Nos dias subsequentes notei um certo mal estar dele em relação a mim.
Esperei mais um bocadinho.
O desencontro persistia.
Questionei.
Ele abriu o jogo:
- Você chamou meu filho de rebento. Fiquei chateado.
E toca a explicar a ele que essa palavra não era pejorativa.
Nunca soube se ele, de facto, desculpou-me. Já nem espero que tenha entendido.
Depois disso ele doutorou-se e publicou vários livros.

A situação parece não se ter alterado muito.
A esquerda brasileira carece de quadros alfabetizados.

sábado, 3 de agosto de 2013

Austeridade ou o quê?

Gosto muito da maneira de minha prima Zelinda cumprimentar-me sempre que me encontra:
 - Estás bem ou o quê?
 Discute-se muito, em Portugal, a respeito da tal austeridade.
 Aviso logo aos habitantes de gabinetes que não percam seu tempo a ler o que vai abaixo. Não vou citar autores nem desenvolver teses sobre o tema.
 Prefiro falar de alguns detalhes que me atraem a atenção quando o assunto é esse: austeridade.
 Já me parece um bocadinho esdrúxulo colocar tal palavra no centro de uma discussão sobre como recuperar a economia debilitada de vários países.
 É um tanto quanto aquele índice de felicidade que criaram no Butão (Gross National Happiness (GNH) ).
 Austeridade é parente de felicidade e não apenas uma rima pobre. O que é austero para uns não o é para outros.
 Ou seja, austeridade - assim como felicidade - além de difícil definição é de impossível medição.
 Ora veja.
 Vai a qualquer cidade espanhola. Entre o meio-dia e as cinco da tarde verás todo o comércio fechado, com a eventual excepção dos restaurantes.
 Isso nada tem a ver com capitalismo ou com socialismo. É tradição.
 Coaduna-se esse hábito com austeridade?
 Estou em Bragança, Portugal. Vou à farmácia buscar meu desodorante (ou desodorizante, tanto faz) favorito. Encomendei-o há dois ou três dias.
 Informam-me:
 - Está esgotado!
 Pergunto:
 - Já não o fabricam mais?
 - Não. Não é isso. O estoque acabou.
 - Ah! E quando posso vir buscá-lo?
 - Só em Setembro. O laboratório fecha para férias todo o mês de Agosto.
 Em Portugal, com a inevitável excepção do turismo, quase nada existe em Agosto.
 Coaduna-se esse hábito com austeridade?
.
Não fiquei de dar respostas.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Falsa Ilusão


Agora com calma: "ilusão", segundo os dicionários, é um engano dos sentidos ou do pensamento. Ora: se "ilusão" é um engano, uma "falsa ilusão" é um falso engano. Ou seja, um acerto.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Antes do Amanhecer

Before Sunrise é o primeiro filme de uma trilogia. Rodado em 1.995, tornou-se um clássico cult.
Como não sou espectador assíduo de filmes, só agora assisti ao dito cujo.
Para quem tem Zon (em Portugal), o filme consta do vídeo clube.
Gostei bastante do filme. Mas penso que não se trata de filme. Está mais para teatro. Um casal de jovens dialoga o tempo inteiro. Isso me parece mais próprio para palco.
Acontece que o texto é muito bom. E as imagens são lindas.
Quem quiser saber mais sobre o filme, basta buscar na Internet.



Resolvi falar dele por causa de uma historinha que o rapaz conta à moça:

Diz ele que passeava de automóvel, certa vez, com um amigo ateu.
Durante o percurso avistaram um mendigo um pouco adiante. O ateu tirou da carteira uma nota de cem dólares e pediu ao amigo que parasse junto ao mendigo.
Segurando a nota com o braço estendido para fora do carro, o rapaz perguntou ao mendigo:
- Você acredita em Deus?
O indivíduo olhou para a nota de cem dólares e não vacilou:
- Sim, acredito.
E o rapaz, recolhendo o braço com a nota:
- Resposta errada.
E partiram.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Seguro morreu de medo

Antigamente dizia-se que o seguro morreu de velho.
Não parece ser o caso no Portugal de hoje.

O Bloco de Esquerda (BE) convidou o Partido Comunista (PCP) e o Partido Deixa-Que-Eu-Seguro (também conhecido como Partido Socialista (PS) ) a prepararem o programa de um governo de esquerda.
Resultado: não foi possível nem sequer fazer uma primeira reunião. O PS recusou-se a conversar. Parece que também o PCP fugiu da ideia. Afinal, a esquerda é, antes de tudo, As Esquerdas. Caciques os há sempre aos magotes. Índios são mais raros. Fora o pequeno detalhe de que "programa de governo de esquerda" é círculo quadrado. (Quase) toda gente sabe que o poder é como o violino: toma~se com a esquerda e toca-se com a direita.

O inefável Cavaco clamou, então, ao PS que se acertasse com os partidos que compõem o actual governo (PSD e CDS) para a formação de um governo de "salvação nacional".
Seguro acaba de informar à nação que o entendimento para tanto não foi possível.
Pelo que se viu até aqui, António José Seguro não se sente seguro nem à esquerda nem à direita.

Tudo indica que só lhe voltará a coragem de governar quando lhe derem o governo inteirinho.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

SEI ERRAR SOZINHO

Houve tempo em que os taxistas e algumas outras pessoas grudavam adesivo nos vidros ou no painel dos automóveis com essa afirmação.
Quanto a mim, só não o faço porque não tenho o hábito de colar adesivos em lugar algum do carro.

Comecei por ser educado em uma igreja batista. Fizeram de tudo para que eu aderisse às teses da denominação. Durante um tempo conseguiram.
O lema bíblico recomendava: “Ensina o menino no caminho em que deve andar e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22:6)
Traduzido em miúdos, isso significa: se você é católico, faça de seu filho um católico pelo resto da vida; caso seja você muçulmano, faça de seu filho um muçulmano até a morte; etc etc.
Tradução um bocadinho mais livre, mas penso que mais esclarecedora: faça de seus filhos pessoas sem imaginação, sem criatividade. Que eles sejam sua reprodução fiel.

Se eu fosse reescrever os provérbios, diria: ensina teu filho a andar. Ele mesmo escolherá os caminhos quando tiver discernimento para isso.

Aos trancos e barrancos escapei dessa armadilha. Mas outra me esperava: o marxismo.

O destino quis que essa adesão se desse em um momento pelo qual passava o país em que eu vivia – o Brasil - em que ser marxista era anátema. Isso, em mim, reforçou a inclinação teórica e lançou-me a uma prática alucinante que terminou por brindar-me com a rica experiência de uma prisão, em companhia de boa parte da Esquerda da época.

Curado dessa segunda vivência religiosa, passei a conviver, logo a seguir, com os esquerdolóides da universidade. Os da USP, em particular.
Não chego a afirmar que tenha sido minha terceira desilusão porque de desilusão não se tratou. Mas perceber a fragilidade intelectual – para não falar de má fé – das vestais da Universidade de São Paulo, várias delas ainda hoje atuantes e horripilantes, me tirou o tesão em relação à carreira acadêmica. É certo que há aí um bocadinho de “uvas verdes”. Eu queria continuar na USP. A universidade é que – na prática – me empurrou para fora dela ao só permitir que eu lá ficasse apenas na condição de um quase clandestino.

E lá fui eu, ganhar a vida no tal mundo real.

Trabalhei em empresas privadas durante quase vinte anos.
Algumas das empresas em que trabalhei eram (e as que ainda existem são) empresas idôneas.
Mas tive minhas experiências, digamos, heterodoxas.

Na época do governo Sarney (1.985 – 1.990), conheci Brasília, seus ministérios, seus ministros, seus lobistas, seus senadores, seus deputados, seu subterrâneo político.
Aprendi como funciona o mundo político quando não há câmeras de TV ligadas.

Por concurso, entrei na Receita Federal.
Depois de quase vinte anos de trabalho na iniciativa privada, fui viver outros quase vinte no coração do governo.
Em função de minhas atribuições de Auditor-Fiscal, aprendi como funciona o universo do funcionalismo público – ao menos o da Receita Federal – mas aprendi, também, a enxergar a realidade do empresário no Brasil.

Conheço, portanto, alguma coisa a respeito dos agrupamentos cristãos e continuo profundamente interessado nos assuntos religiosos; algum bocado da Esquerda; um tantinho dos militares que abraçaram a tortura e a repressão, alguns dos quais se vangloriam de seus feitos até hoje. Não me é estranha a luta de egos de que é feita uma universidade no Brasil. Sei qualquer coisinha relativa aos núcleos do poder no Brasil. Sei como funcionam nos bastidores os que realmente fazem o mundo girar.
Tenho noções práticas a respeito do empresariado do País.
Não me é estranho o universo do serviço público, com suas mazelas e grandezas, que as há. E muitas.

Digo tudo isso não para vangloriar-me de coisa alguma.
Faço questão de ser um aposentado sem objetivos, a não ser o de apreciar o mundo enquanto os fados mo permitirem.

Digo isso que aí vai para informar aos meus amigos, aos meus inimigos (se é que os há) e aos que me lêem por acaso, que dispenso conselhos a essa altura de meus quase setenta anos.


Grudo no vidro transparente que me separa do mundo e através do qual eu o contemplo com imensa ternura: SEI ERRAR SOZINHO.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Salvação Nacional

O Presidente da República, Cavaco Silva, fez agora há pouco uma comunicação aos portugueses. Falou a respeito dos inconvenientes de eleições legislativas já e propôs um governo de salvação nacional que reúna os três partidos que assinaram o memorando de entendimento com a troika. Além disso, acenou com eleições antecipadas para logo depois do final do primeiro período de ajustamento. Ou seja, Junho de 2.014.
Ficámos todos à espera das reações dos partidos com representação na Assembleia da República.
Os primeiros a manifestarem opinião foram o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. Ambos lamentaram a não convocação de eleições para já. Só não nos presentearam com a explicação do que esperavam de tais eleições como solução para os problemas do País.
Mas claro! Tais partidos não têm compromisso algum com a governabilidade. São o lado jocoso da política portuguesa.
O PSD falou que vai pronunciar-se logo logo. Ou seja, em linguagem não tão castiça mas mais compreensível, tiraram - por hora - o cu da seringa.
Não me consta que o CDS tenha dito qualquer coisa. Mas deve ter seguido o não dizer do PSD.
Quanto ao PS, cujo líder quer a todo custo assumir maiores responsabilidades, preferencial e unicamente com a assunção ao cargo de primeiro-ministro, disse que não. Não aceita a proposta do Presidente. Mas está aberto ao diálogo.

Quanto a mim, mesmo sem ter assento na Assembleia da República, penso que com este calor a salvação nacional tem algo a ver com algo de fora do País.
Trata-se, se me permitem a opinião, do pêssego paraguaio. Suculento e dulcíssimo.


Nota: Parece (não garanto) que o pêssego paraguaio é da Espanha.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)


A Fénix Renascida foi publicada em Lisboa, por Matias Pereira da Silva, em cinco volumes, entre 1716 e 1728. Anos mais tarde, em 1746, houve nova edição. [...] viria a converter-se numa espécie de vulgata da poesia barroca. [...] o antologiador comete também erros de atribuição e apresenta como anónimos poemas cuja autoria está identificada. (trechos da Nota explicativa de Cidália Dinis)

(clique no poema para ampliá-lo)

Para os que apreciam a Lógica e o estudo das Linguagens Formais: esta definição é do tipo recursiva, pois emprega nela mesma o termo a definir. E ainda mais: de modo deliciosamente contraditório.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Plane(j)amento familiar

Hoje à tarde, em Bragança, reuniram-se em amplo espaço algumas dezenas de cegonhas.
Suponho que participassem de algum congresso de planeamento familiar.


(clique nas imagens para ampliá-las)






Ce pays ne finit jamais?

Em um belo texto de fins de 2004, Janer Cristaldo comenta que a concepção de espaço de uma pessoa depende das dimensões do país que habita.
E exemplifica:
“Para um francês, por exemplo, cujo território tem no máximo mil quilômetros entre as extremidades mais longínquas, Estocolmo fica dans le bout du monde. Para um panamenho em Paris, até Amsterdã está longe. Já para um brasileiro, ir de Lisboa a Oslo é como não ter ainda saído do próprio território.“

E fala de uma viagem de retorno da Europa ao Brasil pelo Eugenio C. Ao passarem pelo Rio de Janeiro, depois de terem abordado a costa brasileira no nordeste do país, uma companheira francesa de viagem lhe perguntou: Ce pays ne finit jamais?

Não, não acaba.

Na Rússia, início do século XX, os bolcheviques e mencheviques lutavam pelo poder. Prevaleceram os primeiros, liderados por Lenine. Deu no que deu.

No Brasil, o partido no poder, o PT, tem várias facções internas. Mas, resumidamente podemos dizer que há – ainda! - bolcheviques mas a maioria, no entanto, é bolsovique.

Quando Lula assumiu a Presidência em 2.003, eu já trabalhava na Receita Federal havia uns 10 anos. A expectativa dos petistas era a de tomar posse do butim. Lembro-me de um funcionário petista que aproximou-se de mim e perguntou:
-  Quem você acha que devemos colocar como delegado desta Delegacia?
Fiquei perplexo (naquele tempo eu ainda ficava perplexo, ainda que raras vezes).

Lula, que de bobo nada tem, fez um raciocínio simples: o governo, todos os ministérios, tudo enfim, é centro de custo. Dá despesa. A Receita Federal é onde entra a grana. Portanto, todo cuidado com ela é pouco. E deixou-a aos cuidados do mesmo grupo que nela imperara durante o reinado de FHC. Sob a batuta de Palocci, petista, chegado a uma bacanal vez ou outra, mas ajuizado.

Resultou.

Moral da história? Os bolsoviques jamais deixarão morrer a galinha dos ovos de ouro.

Enquanto a turma dos intelectuais de gabinete trata de construir justificativas para a espoliação que prossegue, os práticos bolsoviques cuidam para que a fonte não seque.

E se ensopam de privilégios.

Ainda o Papa Francisco

Começou a faxina no Vaticano.

Será que este Papa consegue vencer a Vatimáfia?

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Alguém sabe o desenrolar disso?

A segunda-feira escorria sob um calor de mais de 30ºC, cá em Bragança. No conforto do escritório, eu lia uma pequena biografia de Libero Badaró escrita por Augusto Goeta e publicada em 1.944 em São Paulo. Quem ma deu foi o amigo Claudio Giordano, nos idos de 1.982.
Lá pelo meio do livro surge entre as folhas um recorte de artigo da revista Time, de Outubro, 22, 1.979.
Como a letra é miúda, não sei se será legível.


(clique na imagem para ampliá-la)


Trata-se de comentário sobre um livro que havia acabado de ser lançado: O mito do canibal, escrito pelo antropólogo William Arens.
Arens, segundo esse artigo, "acredita que o canibalismo pode nunca ter existido em lugar algum como um costume regular."
"A origem do mito, pensa ele, é a tendência de todo grupo para acusar seus vizinhos de canibalismo."

Será que vou ter de descrer de mais alguma coisa?
Eu, que achava os canibais tão vero(s)símeis!
Terá havido avanço no conhecimento desse tema nesses últimos mais de 30 anos?