terça-feira, 2 de julho de 2013

Ce pays ne finit jamais?

Em um belo texto de fins de 2004, Janer Cristaldo comenta que a concepção de espaço de uma pessoa depende das dimensões do país que habita.
E exemplifica:
“Para um francês, por exemplo, cujo território tem no máximo mil quilômetros entre as extremidades mais longínquas, Estocolmo fica dans le bout du monde. Para um panamenho em Paris, até Amsterdã está longe. Já para um brasileiro, ir de Lisboa a Oslo é como não ter ainda saído do próprio território.“

E fala de uma viagem de retorno da Europa ao Brasil pelo Eugenio C. Ao passarem pelo Rio de Janeiro, depois de terem abordado a costa brasileira no nordeste do país, uma companheira francesa de viagem lhe perguntou: Ce pays ne finit jamais?

Não, não acaba.

Na Rússia, início do século XX, os bolcheviques e mencheviques lutavam pelo poder. Prevaleceram os primeiros, liderados por Lenine. Deu no que deu.

No Brasil, o partido no poder, o PT, tem várias facções internas. Mas, resumidamente podemos dizer que há – ainda! - bolcheviques mas a maioria, no entanto, é bolsovique.

Quando Lula assumiu a Presidência em 2.003, eu já trabalhava na Receita Federal havia uns 10 anos. A expectativa dos petistas era a de tomar posse do butim. Lembro-me de um funcionário petista que aproximou-se de mim e perguntou:
-  Quem você acha que devemos colocar como delegado desta Delegacia?
Fiquei perplexo (naquele tempo eu ainda ficava perplexo, ainda que raras vezes).

Lula, que de bobo nada tem, fez um raciocínio simples: o governo, todos os ministérios, tudo enfim, é centro de custo. Dá despesa. A Receita Federal é onde entra a grana. Portanto, todo cuidado com ela é pouco. E deixou-a aos cuidados do mesmo grupo que nela imperara durante o reinado de FHC. Sob a batuta de Palocci, petista, chegado a uma bacanal vez ou outra, mas ajuizado.

Resultou.

Moral da história? Os bolsoviques jamais deixarão morrer a galinha dos ovos de ouro.

Enquanto a turma dos intelectuais de gabinete trata de construir justificativas para a espoliação que prossegue, os práticos bolsoviques cuidam para que a fonte não seque.

E se ensopam de privilégios.

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