sexta-feira, 12 de julho de 2013

SEI ERRAR SOZINHO

Houve tempo em que os taxistas e algumas outras pessoas grudavam adesivo nos vidros ou no painel dos automóveis com essa afirmação.
Quanto a mim, só não o faço porque não tenho o hábito de colar adesivos em lugar algum do carro.

Comecei por ser educado em uma igreja batista. Fizeram de tudo para que eu aderisse às teses da denominação. Durante um tempo conseguiram.
O lema bíblico recomendava: “Ensina o menino no caminho em que deve andar e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22:6)
Traduzido em miúdos, isso significa: se você é católico, faça de seu filho um católico pelo resto da vida; caso seja você muçulmano, faça de seu filho um muçulmano até a morte; etc etc.
Tradução um bocadinho mais livre, mas penso que mais esclarecedora: faça de seus filhos pessoas sem imaginação, sem criatividade. Que eles sejam sua reprodução fiel.

Se eu fosse reescrever os provérbios, diria: ensina teu filho a andar. Ele mesmo escolherá os caminhos quando tiver discernimento para isso.

Aos trancos e barrancos escapei dessa armadilha. Mas outra me esperava: o marxismo.

O destino quis que essa adesão se desse em um momento pelo qual passava o país em que eu vivia – o Brasil - em que ser marxista era anátema. Isso, em mim, reforçou a inclinação teórica e lançou-me a uma prática alucinante que terminou por brindar-me com a rica experiência de uma prisão, em companhia de boa parte da Esquerda da época.

Curado dessa segunda vivência religiosa, passei a conviver, logo a seguir, com os esquerdolóides da universidade. Os da USP, em particular.
Não chego a afirmar que tenha sido minha terceira desilusão porque de desilusão não se tratou. Mas perceber a fragilidade intelectual – para não falar de má fé – das vestais da Universidade de São Paulo, várias delas ainda hoje atuantes e horripilantes, me tirou o tesão em relação à carreira acadêmica. É certo que há aí um bocadinho de “uvas verdes”. Eu queria continuar na USP. A universidade é que – na prática – me empurrou para fora dela ao só permitir que eu lá ficasse apenas na condição de um quase clandestino.

E lá fui eu, ganhar a vida no tal mundo real.

Trabalhei em empresas privadas durante quase vinte anos.
Algumas das empresas em que trabalhei eram (e as que ainda existem são) empresas idôneas.
Mas tive minhas experiências, digamos, heterodoxas.

Na época do governo Sarney (1.985 – 1.990), conheci Brasília, seus ministérios, seus ministros, seus lobistas, seus senadores, seus deputados, seu subterrâneo político.
Aprendi como funciona o mundo político quando não há câmeras de TV ligadas.

Por concurso, entrei na Receita Federal.
Depois de quase vinte anos de trabalho na iniciativa privada, fui viver outros quase vinte no coração do governo.
Em função de minhas atribuições de Auditor-Fiscal, aprendi como funciona o universo do funcionalismo público – ao menos o da Receita Federal – mas aprendi, também, a enxergar a realidade do empresário no Brasil.

Conheço, portanto, alguma coisa a respeito dos agrupamentos cristãos e continuo profundamente interessado nos assuntos religiosos; algum bocado da Esquerda; um tantinho dos militares que abraçaram a tortura e a repressão, alguns dos quais se vangloriam de seus feitos até hoje. Não me é estranha a luta de egos de que é feita uma universidade no Brasil. Sei qualquer coisinha relativa aos núcleos do poder no Brasil. Sei como funcionam nos bastidores os que realmente fazem o mundo girar.
Tenho noções práticas a respeito do empresariado do País.
Não me é estranho o universo do serviço público, com suas mazelas e grandezas, que as há. E muitas.

Digo tudo isso não para vangloriar-me de coisa alguma.
Faço questão de ser um aposentado sem objetivos, a não ser o de apreciar o mundo enquanto os fados mo permitirem.

Digo isso que aí vai para informar aos meus amigos, aos meus inimigos (se é que os há) e aos que me lêem por acaso, que dispenso conselhos a essa altura de meus quase setenta anos.


Grudo no vidro transparente que me separa do mundo e através do qual eu o contemplo com imensa ternura: SEI ERRAR SOZINHO.

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