Toda gente sabe que a Rede Globo de comunicação é um dos satanases da esquerda brasileira.
Aliás, o inferno da Sinistra é bastante povoado. Mas fiquemos na Rede Globo.
Durante anos eu nem tinha TV em casa.
Chegava ao trabalho na segunda-feira e - invariavelmente - ouvia de colegas:
- Viste o Fantástico de ontem?
E lá ia eu a reafirmar que não tinha TV em casa. Mas era inútil. A cena se repetia a cada semana.
Mas meu contacto com a TV Globo surgiu mesmo foi no Presídio Tiradentes. Quando lá cheguei, ao Pavilhão 2, cela 12, havia um aparelho de TV que circulava pelas celas do pavilhão 2. Um dia em cada cela.
Eu não entendia a excitação de alguns companheiros quando se aproximava o dia de o aparelho mágico vir para nossa cela.
- Vamos poder ver o Jornal Nacional!
E eu perguntava:
- Que diabo de Jornal Nacional é esse?
E todos se espantavam. Eu não sabia o que era o Jornal Nacional!
Alguns membros da esquerda, hoje em dia, se tivessem vivido alguns tempinhos no Tiradentes, talvez não mantivessem o ardor revolucionário que hoje ostentam.
Teriam conhecido um bocadinho mais de perto a turminha que hoje dirige o país.
E talvez não tivessem tanto sentimento de culpa...
Feliz 2.014 para todos!
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Meritória e inútil
Acho oportuno, nesse final do décimo terceiro ano (ou, como preferem alguns, décimo quarto) do século XXI, trazer uma palavra de moderação aos brasileiros deslumbrados pelos resultados da Ação Penal 470, para os íntimos mensalão.
A prisão de alguns figurões dos mundos político e financeiro em terras tupiniquins não nos deve fazer esquecer que não há virgens na zona.
E que a corrupção é componente do caráter nacional tão antiga quanto as caravelas de Cabral.
A propósito, cito abaixo uma descrição desse caldo moral em toda a Colônia na segunda metade do século XVII:
A pronunciada queda dos réditos de Pernambuco, que tanto alarmava a coroa, era em grande parte motivada pela desbragada corrupção que lavrava nos altos escalões administrativos da Colônia. Governadores, magistrados, oficiais das câmaras e outros funcionários se apropriavam regular e impunemente das rendas da coroa. As devassas ordenadas pelas autoridades de Lisboa invariavelmente davam em nada. Isso, por exemplo, o que aconteceu com a missão atribuída pela coroa em 1667 ao desembargador João de Góis e Araújo. Em Pernambuco, na Bahia e no Rio o magistrado tentou em vão reunir provas contra os peculatórios
(in Décio Freitas, Palmares - A Guerra dos Escravos, 2ª edição, 1978, Edições Graal. página 92)
Portanto, José Dirceu e seu partido apenas seguiram a tradição.
A denodada luta de muitos pela moralização do exercício da função pública é tão meritória quanto inútil.
A melhoria do nível de lhaneza no trato da coisa pública virá mais da evolução dos sistemas informáticos na administração do que de perorações moralistas.
A prisão de alguns figurões dos mundos político e financeiro em terras tupiniquins não nos deve fazer esquecer que não há virgens na zona.
E que a corrupção é componente do caráter nacional tão antiga quanto as caravelas de Cabral.
A propósito, cito abaixo uma descrição desse caldo moral em toda a Colônia na segunda metade do século XVII:
A pronunciada queda dos réditos de Pernambuco, que tanto alarmava a coroa, era em grande parte motivada pela desbragada corrupção que lavrava nos altos escalões administrativos da Colônia. Governadores, magistrados, oficiais das câmaras e outros funcionários se apropriavam regular e impunemente das rendas da coroa. As devassas ordenadas pelas autoridades de Lisboa invariavelmente davam em nada. Isso, por exemplo, o que aconteceu com a missão atribuída pela coroa em 1667 ao desembargador João de Góis e Araújo. Em Pernambuco, na Bahia e no Rio o magistrado tentou em vão reunir provas contra os peculatórios
(in Décio Freitas, Palmares - A Guerra dos Escravos, 2ª edição, 1978, Edições Graal. página 92)
Portanto, José Dirceu e seu partido apenas seguiram a tradição.
A denodada luta de muitos pela moralização do exercício da função pública é tão meritória quanto inútil.
A melhoria do nível de lhaneza no trato da coisa pública virá mais da evolução dos sistemas informáticos na administração do que de perorações moralistas.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Sonhos diferentes
Jang Song Thaek a ser retirado de reunião do Politburo
O tal "socialismo real" acaba de fornecer mais um exemplo de sua natureza.
Jang Song Thaek, que foi mentor do actual líder da Coreia do Norte, foi executado por ter, segundo a agência estatal KCNA (a imprensa livre de lá), ousado "sonhar sonhos diferentes".
Sugiro, aliás, aos ardentes defensores do governo brasileiro, que adoptem mais essa expressão desqualificadora de adversários e que foi usada contra o tal Jang: "escumalha humana desprezível". Não sei em Coreano. Mas em Português fica lindo.
E termino com diálogo entreouvido em sonhos (daqueles sonhos diferentes):
- Já comeste merda?
- Eu?! Que horror!
- Essa tua repulsa resulta de pensares na "merda real". Mas me refiro à "merda ideal". Deliciosa!
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Dia do Arquiteto
Corria o ano da graça de 1.974. Minha mulher e eu, que planeávamos ter filhos (a mais velha nasceu ao fim de 1.975), começámos a pensar em ter uma casa na qual pudéssemos educar os filhos da maneira como imaginávamos
Queríamos educar os filhos em casa, sem enviá-los à escola. Eu já desenvolvia os primeiros cursos que daríamos a eles...
Comprámos um belo terreno em Cotia, São Paulo, e procurei um arquiteto que projetasse uma casa para o terreno, a obedecer nossos critérios de como conviver em família.
Um colega de trabalho me disse que conhecia dois arquitetos arrojados, que poderiam ser úteis.
Levou-me, em um início de noite ao final do trabalho, à casa deles.
Era uma casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Eu estava de terno, pois fui direto do trabalho para a casa dos arquitetos.
Ao lá chegar, guiado por meu colega, fomos convidados a entrar. A casa estava mergulhada em uma névoa muito característica: era resultado de alto consumo de maconha, com seu cheiro inconfundível.
Os dois arquitetos nos receberam de modo simpático e começámos a conversar sobre o projeto.
Eles, mais do que ouvirem o que eu dizia, apegaram-se à imagem de um executivo trajado de modo formal.
Dias depois, foram à minha casa expor as ideias que haviam desenvolvido para nossa futura casa.
Haviam concebido uma habitação absolutamente convencional, adequada ao que eles imaginavam ser um executivo careta.
Passei-lhes uma descompostura. Eu lhes falara de planos heterodoxos e eles nos traziam um desenho banal?
Repeti, agora com mais ênfase, toda nossa proposta de vida. Proposta que deveria refletir-se no projeto da casa.
Espicaçados pelo desafio, voltaram no dia seguinte. Não haviam dormido aquela noite.
Trouxeram-nos um projeto fantástico, de acordo com nossa proposta de vida.
Em lugar de sala de estar, uma Ágora. Ao lado dela uma biblioteca.
Quartos todos separados por divisórias baixas. Banheiros sem portas (o que deixou em pânico nossas famílias. Não percebiam que a geometria dos ambientes oferecia privacidade mesmo sem portas...).
Aprovámos o projeto entusiasticamente.
Daí em diante os arquitetos é que quiseram radicalizar mais: queriam que fôssemos todos morar no terreno e ajudar na construção da casa.
Por outro lado, o projeto de educar os filhos fora da escola começou a ser bombardeado de todos os lados. Nossos amigos não eram simplesmente contra.. Ficavam raivosos diante da ideia.
Para um casal que acabara de passar por um período de prisão por afrontar a sociedade (sim, a ditadura era só expressão dessa sociedade) tudo isso pareceu suplantar nossas resistências.
Desistimos do projeto educacional. Nossos filhos, feliz ou infelizmente, foram para a escola pública.
Desistimos do projeto habitacional. Os arquitetos só nos deram prejuízo: montaram um escritório em imóvel alugado com meu aval. Sumiram em seguida e me deixaram encarregado de pagar três meses de aluguel para me livrar daquilo.
O terreno de Cotia transformou-se em um mico, meus filhos seguiram o curso normal de suas vidas, a estudar em escolas e a fazer nelas amizades que persistem até hoje.
Quanto aos dois arquitetos que contratei, espero que tenham longa vida e que tenham dado boas gargalhadas às custas do executivo sonhador que os sustentou - e a seus baseados - durante alguns meses.
Viva o Dia do Arquiteto!
Queríamos educar os filhos em casa, sem enviá-los à escola. Eu já desenvolvia os primeiros cursos que daríamos a eles...
Comprámos um belo terreno em Cotia, São Paulo, e procurei um arquiteto que projetasse uma casa para o terreno, a obedecer nossos critérios de como conviver em família.
Um colega de trabalho me disse que conhecia dois arquitetos arrojados, que poderiam ser úteis.
Levou-me, em um início de noite ao final do trabalho, à casa deles.
Era uma casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Eu estava de terno, pois fui direto do trabalho para a casa dos arquitetos.
Ao lá chegar, guiado por meu colega, fomos convidados a entrar. A casa estava mergulhada em uma névoa muito característica: era resultado de alto consumo de maconha, com seu cheiro inconfundível.
Os dois arquitetos nos receberam de modo simpático e começámos a conversar sobre o projeto.
Eles, mais do que ouvirem o que eu dizia, apegaram-se à imagem de um executivo trajado de modo formal.
Dias depois, foram à minha casa expor as ideias que haviam desenvolvido para nossa futura casa.
Haviam concebido uma habitação absolutamente convencional, adequada ao que eles imaginavam ser um executivo careta.
Passei-lhes uma descompostura. Eu lhes falara de planos heterodoxos e eles nos traziam um desenho banal?
Repeti, agora com mais ênfase, toda nossa proposta de vida. Proposta que deveria refletir-se no projeto da casa.
Espicaçados pelo desafio, voltaram no dia seguinte. Não haviam dormido aquela noite.
Trouxeram-nos um projeto fantástico, de acordo com nossa proposta de vida.
Em lugar de sala de estar, uma Ágora. Ao lado dela uma biblioteca.
Quartos todos separados por divisórias baixas. Banheiros sem portas (o que deixou em pânico nossas famílias. Não percebiam que a geometria dos ambientes oferecia privacidade mesmo sem portas...).
Aprovámos o projeto entusiasticamente.
Daí em diante os arquitetos é que quiseram radicalizar mais: queriam que fôssemos todos morar no terreno e ajudar na construção da casa.
Por outro lado, o projeto de educar os filhos fora da escola começou a ser bombardeado de todos os lados. Nossos amigos não eram simplesmente contra.. Ficavam raivosos diante da ideia.
Para um casal que acabara de passar por um período de prisão por afrontar a sociedade (sim, a ditadura era só expressão dessa sociedade) tudo isso pareceu suplantar nossas resistências.
Desistimos do projeto educacional. Nossos filhos, feliz ou infelizmente, foram para a escola pública.
Desistimos do projeto habitacional. Os arquitetos só nos deram prejuízo: montaram um escritório em imóvel alugado com meu aval. Sumiram em seguida e me deixaram encarregado de pagar três meses de aluguel para me livrar daquilo.
O terreno de Cotia transformou-se em um mico, meus filhos seguiram o curso normal de suas vidas, a estudar em escolas e a fazer nelas amizades que persistem até hoje.
Quanto aos dois arquitetos que contratei, espero que tenham longa vida e que tenham dado boas gargalhadas às custas do executivo sonhador que os sustentou - e a seus baseados - durante alguns meses.
Viva o Dia do Arquiteto!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Preferências
Dilma viaja para as exéquias de Mandela. Na bagagem leva os ex-presidentes Sarney, Lula, Fernando Henrique e Collor.
domingo, 8 de dezembro de 2013
Consolo e Verdade
Alberto Gonçalves, na revista Sábado da semana passada, a propósito de outro contexto, diz:
"[...]Os tementes a Deus desesperados por emprestar um sentido para o encantador absurdo da dimensão humana, [veem] a si próprios como esclarecidos no meio de ingênuos".
Meu primo Wanderley colocou no Facebook, há alguns dias, um vídeo com um discurso de um líder espírita, Divaldo Franco, proferido há 15 anos. Para quem quiser vê-lo, basta clicar aqui.
O objetivo declarado da palestra é o de mostrar que a reencarnação é mencionada em vários lugares da Bíblia. E, com isso, derrubar as objeções dos cristãos que não aceitam a ideia de reencarnação por entenderem que a Bíblia não a endossa. Mas o sr. Franco vai mais além e faz uma completa apologia da reencarnação.
Quanto às alegadas menções à reencarnação na Bíblia, o conferencista chega a dar uma explicação a uma afirmação de Jesus que sempre causa embaraços aos crentes. Trata-se da afirmação de Jesus de que seu retorno "numa nuvem, com poder e grande glória" ocorreria logo: "não passará esta geração até que tudo aconteça". (Lucas 21: 27 e 32). Essa afirmação de Jesus é tanto mais embaraçosa por repetir-se em três dos evangelhos canônicos (Mateus 24:34 e Marcos 13:30, além do já citado Lucas).
Pois bem. Divaldo Franco não é de se deixar apertar por dificuldades desse tipo. Para ele, Jesus não se referia à existência de seus discípulos naquele momento, mas na vida dos espíritos deles. Se as previsões escatológicas de Jesus não se cumpriram até os dias de hoje é porque aqueles discípulos continuam a se reencarnar, a gerar sucessivas existências até que - enfim - chegue o Juízo Final. Haja imaginação!
Aliás, a grande virtude da teoria das reencarnações (que, diga-se, não é apenas apanágio dos espíritas. A versão espírita é mais simples e - por isso - atrai mais adeptos. Mas há versões mais sofisticadas, como, por exemplo, a da Antroposofia), a grande virtude, dizia, é a de explicar muita coisa que sem ela ficaria sem explicação.
Entenda-se explicação, aqui, como versão dos factos que dá sentido ao que parecia absurdo ou injusto.
O próprio Divaldo Franco, em sua palestra, dá alguns exemplos. Um deles: o indivíduo que descobre ter um cancro (câncer, no Brasil) e se pergunta: Por que eu? E Divaldo, a brandir sua teoria da reencarnação, corrige: E por que não eu?
Conheço um caso que ilustra essa questão. Um dos filhos de Evangelista, o famoso ponta esquerda da linha dos cem gols do Santos F.C. da década de 30, teve um filho com severos problemas mentais e motores. Tanto Evangelista como quase toda a família eram membros da Primeira Igreja Batista de Santos. Há alguns anos, soube que esse filho de Evangelista e sua mulher haviam se tornado espíritas. Motivo: o Espiritismo lhes dava sentido a tudo que já haviam vivido.
Como toda religiosidade tem ligação com a ideia de consolo, o Espiritismo oferece uma alternativa das mais atraentes. Ao menos para os brasileiros. Na França, berço do fundador da seita, o Espiritismo não faz o mesmo sucesso. Talvez porque, lá, não haja tanta necessidade de consolo...
Apenas me incomoda a tentativa dos espíritas de utilizarem-se da Ciência para buscar validar suas teorias. Se o terreno das religiões é o consolo, o da ciência é o da busca da Verdade.
E a ciência prefere a ignorância à ilusão de saber.
É preferível a ignorância a um avatar de conhecimento.
Meu primo Wanderley colocou no Facebook, há alguns dias, um vídeo com um discurso de um líder espírita, Divaldo Franco, proferido há 15 anos. Para quem quiser vê-lo, basta clicar aqui.
O objetivo declarado da palestra é o de mostrar que a reencarnação é mencionada em vários lugares da Bíblia. E, com isso, derrubar as objeções dos cristãos que não aceitam a ideia de reencarnação por entenderem que a Bíblia não a endossa. Mas o sr. Franco vai mais além e faz uma completa apologia da reencarnação.
Quanto às alegadas menções à reencarnação na Bíblia, o conferencista chega a dar uma explicação a uma afirmação de Jesus que sempre causa embaraços aos crentes. Trata-se da afirmação de Jesus de que seu retorno "numa nuvem, com poder e grande glória" ocorreria logo: "não passará esta geração até que tudo aconteça". (Lucas 21: 27 e 32). Essa afirmação de Jesus é tanto mais embaraçosa por repetir-se em três dos evangelhos canônicos (Mateus 24:34 e Marcos 13:30, além do já citado Lucas).
Pois bem. Divaldo Franco não é de se deixar apertar por dificuldades desse tipo. Para ele, Jesus não se referia à existência de seus discípulos naquele momento, mas na vida dos espíritos deles. Se as previsões escatológicas de Jesus não se cumpriram até os dias de hoje é porque aqueles discípulos continuam a se reencarnar, a gerar sucessivas existências até que - enfim - chegue o Juízo Final. Haja imaginação!
Aliás, a grande virtude da teoria das reencarnações (que, diga-se, não é apenas apanágio dos espíritas. A versão espírita é mais simples e - por isso - atrai mais adeptos. Mas há versões mais sofisticadas, como, por exemplo, a da Antroposofia), a grande virtude, dizia, é a de explicar muita coisa que sem ela ficaria sem explicação.
Entenda-se explicação, aqui, como versão dos factos que dá sentido ao que parecia absurdo ou injusto.
O próprio Divaldo Franco, em sua palestra, dá alguns exemplos. Um deles: o indivíduo que descobre ter um cancro (câncer, no Brasil) e se pergunta: Por que eu? E Divaldo, a brandir sua teoria da reencarnação, corrige: E por que não eu?
Conheço um caso que ilustra essa questão. Um dos filhos de Evangelista, o famoso ponta esquerda da linha dos cem gols do Santos F.C. da década de 30, teve um filho com severos problemas mentais e motores. Tanto Evangelista como quase toda a família eram membros da Primeira Igreja Batista de Santos. Há alguns anos, soube que esse filho de Evangelista e sua mulher haviam se tornado espíritas. Motivo: o Espiritismo lhes dava sentido a tudo que já haviam vivido.
Como toda religiosidade tem ligação com a ideia de consolo, o Espiritismo oferece uma alternativa das mais atraentes. Ao menos para os brasileiros. Na França, berço do fundador da seita, o Espiritismo não faz o mesmo sucesso. Talvez porque, lá, não haja tanta necessidade de consolo...
Apenas me incomoda a tentativa dos espíritas de utilizarem-se da Ciência para buscar validar suas teorias. Se o terreno das religiões é o consolo, o da ciência é o da busca da Verdade.
E a ciência prefere a ignorância à ilusão de saber.
É preferível a ignorância a um avatar de conhecimento.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Notas australianas
O título é ambicioso, Mas, na verdade, o alcance deste post é bem mais limitado.
Em primeiro lugar, são impressões de segunda mão, recolhidas da Léa, que acaba de retornar de um período de imersão no universo aussie (pronuncia-se ózi).
Além disso, trata-se de impressões colhidas em uma cidade específica (Townsville), em um bairro específico dessa cidade. Um lugar junto ao mar.
É facto que quando lá estive, 2.007, em Gold Coast, um bocadinho mais ao sul da costa Leste, testemunhei muita coisa compatível com o que segue.
Feitas as devidas ressalvas, vamos lá:
1. As pessoas que ali vivem formam uma comunidade, que comemora a convivência com jantares que a todos reúnem às sextas-feiras.
2. As pessoas não têm quase preocupação alguma com a aparência. Parece-me que por não haver lá significativas diferenças de níveis de renda, ninguém precisa mostrar status ou algo que o valha. Aliás, já em Gold Coast eu observara que as pessoas vão a restaurantes e a centros comerciais descalças. Bem vestidas, mas sem sapatos ou mesmo chinelos.
3. Quase todos têm como automóvel esses veículos conhecidos como SUV. Cá em Portugal chamamo-los jipes.
4. As garagens das casas, quase invariavelmente, guardam o SUV e um barco.
5. Quase todos pescam. De um modo ou de outro. Alguns com vara e anzol, outros instalam no mar armadilhas para os peixes e retornam mais tarde para buscar o resultado.
6. Todos bebem bastante (nomeadamente cerveja e vinho branco).
7. A quase totalidade deles é tatuada. Mas com tatuagens que abarcam um braço inteiro, uma perna inteira, coisas assim.
8. 90% (estimativa do sistema Data Léa de pesquisa) desse pessoal vive às custas do governo.
9. Todos aparentam felicidade constante.
O juízo de valor fica por conta do leitor.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Mixórdia
Bobó de camarão, para mim, tem vários significados.
Uns dez anos depois de ter saído do Presídio Tiradentes, em São Paulo, fui convidado a comer um bobó de camarão em uma casa do Pacaembu, bairro de Sampa que já foi o reduto da alta burguesia e já era, na altura, um bocadinho decadente.
Ao lá chegar, fui informado que o cozinheiro responsável pelo bobó era nada mais nada menos que Frei Beto.
Fui à cozinha cumprimentá-lo. Ambos fomos civilizados. Nenhum de nós dois revelou o desconforto diante da presença do outro.
Pois nunca tivemos um relacionamento que se pudesse classificar de amigável. Quem quiser, procure neste blogue os posts relativos à prisão (São os "Era uma vez").
Sim. O bobó estava ótimo. Nem tudo que Frei Beto produz é ruim.
Cá em Portugal, minha mulher - a Léa - resolveu fazer bobó de camarão para os amigos portugueses.
Foi um sucesso. Ela havia recebido, de uma amiga que nos veio visitar, um bocado de azeite de dendê.
A mandioca compra-se cá.
Pois.
Nosso anjo da guarda, que vem cá em casa duas vezes por semana, resolveu fazer o bobó na casa dela.
E não é que também fez sucesso?!
O facto é que, hoje, trouxe-me um bocadinho ( um montão, na verdade!) do bobó que voltou a fazer na casa dela.
Disse-me que a filha caçula pede sempre que ela refaça o prato.
E o de que mais gostei é que o chama de Mixórdia.
Belo nome para o bobó de camarão.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Desculpas atrasadas
Um bocadinho atrasadas. Só quarenta anos.
No Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde a ditadura militar me deixou trancafiado pouco menos de dois anos (1.971 - 1.973), conheci boa parcela da Esquerda Revolucionária brasileira.
De muitos passei a querer distância.
Mas a alguns me afeiçoei. Guardo boas recordações de vários companheiros de presídio.
Um deles foi Luiz Bursztyn, o Bom Bril, alcunha que derivou da aparência dos cabelos dele.
Aliás, a mulher dele, também presa na ala feminina (conhecida como A Torre), tinha o nome de Jurema. Virou, claro, Ervilha, pois Jurema era uma marca conhecida de ervilhas em lata.
Convivi pouco com Bom Bril, pois morávamos em celas diferentes. Mas tínhamos nossas afinidades.
Poucos anos depois, talvez uns seis anos, trabalhava eu na Promon Engenharia e encontrei Bom Bril nos corredores da Empresa. Ele fazia parte de um grupo de visitantes. Paramos, cumprimentamo-nos... e eu não consegui lembrar o nome dele, nem a alcunha, nem nada. Apenas sabia que estivéramos presos junto.
Jamais me perdoei por essa falha de memória.
Como se isso não bastasse, fiquei com um volume - o de número 7 - da Mafalda, que era dele.
Está comigo até hoje. Como informa a capa, ele morava no Pavilhão 2, Xadrez 8.
Se por um desses raros acasos ele chegar a este blogue, quero que me diga para onde enviar o seu volume da Mafalda, com minhas esfarrapadas desculpas pelo lapso de memória.
A situação que vivíamos penso que explica parte dele.
No Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde a ditadura militar me deixou trancafiado pouco menos de dois anos (1.971 - 1.973), conheci boa parcela da Esquerda Revolucionária brasileira.
De muitos passei a querer distância.
Mas a alguns me afeiçoei. Guardo boas recordações de vários companheiros de presídio.
Um deles foi Luiz Bursztyn, o Bom Bril, alcunha que derivou da aparência dos cabelos dele.
Aliás, a mulher dele, também presa na ala feminina (conhecida como A Torre), tinha o nome de Jurema. Virou, claro, Ervilha, pois Jurema era uma marca conhecida de ervilhas em lata.
Convivi pouco com Bom Bril, pois morávamos em celas diferentes. Mas tínhamos nossas afinidades.
Poucos anos depois, talvez uns seis anos, trabalhava eu na Promon Engenharia e encontrei Bom Bril nos corredores da Empresa. Ele fazia parte de um grupo de visitantes. Paramos, cumprimentamo-nos... e eu não consegui lembrar o nome dele, nem a alcunha, nem nada. Apenas sabia que estivéramos presos junto.
Jamais me perdoei por essa falha de memória.
Como se isso não bastasse, fiquei com um volume - o de número 7 - da Mafalda, que era dele.
Está comigo até hoje. Como informa a capa, ele morava no Pavilhão 2, Xadrez 8.
Se por um desses raros acasos ele chegar a este blogue, quero que me diga para onde enviar o seu volume da Mafalda, com minhas esfarrapadas desculpas pelo lapso de memória.
A situação que vivíamos penso que explica parte dele.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Talismã
De volta a casa, ainda sem saber onde lançar as cinzas da mulher, resumidas ao conteúdo daquela urna que ocupava o assento do passageiro, repassava na memória perguntas que sempre se fizera, sem resposta.
- Por que tantos anos com ela, se nunca a amara?
~Por que sempre fora fiel, se poucas vezes a desejara?
- Por que dividira com ela seus momentos de lazer, se não havia entre eles afinidade de espírito?
E assim, sucediam-se as interrogações.
Talvez por algum raio de sol que o ofuscou temporariamente no percurso, quem sabe em razão da emoção da cerimônia fúnebre, veio, enfim, a resposta:
Era certo que jamais a amara, nem tivera com ela uma vida sexual empolgante, nem dividira com ela suas ironias e seus sarcasmos, pois para ela os humores eram de outra natureza.
Mas, a seu lado, tudo dera certo. A vida, mesmo quando movida por acasos, se é que não sempre, fora muito boa.
Ela fora seu talismã. Era isso.
Chegou em casa, colocou a urna na sala, em lugar seguro, disfarçada entre alguns bibelôs.
Quem sabe as cinzas fossem avatar da companheira perdida.
- Por que tantos anos com ela, se nunca a amara?
~Por que sempre fora fiel, se poucas vezes a desejara?
- Por que dividira com ela seus momentos de lazer, se não havia entre eles afinidade de espírito?
E assim, sucediam-se as interrogações.
Talvez por algum raio de sol que o ofuscou temporariamente no percurso, quem sabe em razão da emoção da cerimônia fúnebre, veio, enfim, a resposta:
Era certo que jamais a amara, nem tivera com ela uma vida sexual empolgante, nem dividira com ela suas ironias e seus sarcasmos, pois para ela os humores eram de outra natureza.
Mas, a seu lado, tudo dera certo. A vida, mesmo quando movida por acasos, se é que não sempre, fora muito boa.
Ela fora seu talismã. Era isso.
Chegou em casa, colocou a urna na sala, em lugar seguro, disfarçada entre alguns bibelôs.
Quem sabe as cinzas fossem avatar da companheira perdida.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Odores e Reflexos
ALGUNS TÊM FÉ DE MAIS,
OUTROS TÊM FÉ DE MENOS.
UNS DESTILAM VENENOS,
OUTROS PROCURAM A PAZ.
UNS DIANTE DE ESPELHOS
NÃO VEEM O QUE SÃO.
PELO SIM, PELO NÃO,
CHAMAM À IMAGEM: PENTELHOS!
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Elogio dos elogios
O livro Cântico dos Cânticos é conhecido por ser poeticamente sensual (ou seria sensualmente poético?)-
De qualquer modo, logo no início, ele traz um elogio da mulher a seu amado que - para mim - dificilmente pode ser suplantado por qualquer outro.
A tradução que segue é minha, mas não difere quase nada das traduções tradicionais. Apenas há uma expressão que, literalmente, é teu peito (ou teus seios) e que as traduções para o Português vertem para teu amor, teus amores ou tuas carícias.
Como se trata de uma mulher a falar sobre um homem, teus seios não ficaria lá muito adequado.
Preferi traduzir como teu corpo. Penso que fica melhor. Mais nada contra as demais traduções.
De qualquer modo, logo no início, ele traz um elogio da mulher a seu amado que - para mim - dificilmente pode ser suplantado por qualquer outro.
A tradução que segue é minha, mas não difere quase nada das traduções tradicionais. Apenas há uma expressão que, literalmente, é teu peito (ou teus seios) e que as traduções para o Português vertem para teu amor, teus amores ou tuas carícias.
Como se trata de uma mulher a falar sobre um homem, teus seios não ficaria lá muito adequado.
Preferi traduzir como teu corpo. Penso que fica melhor. Mais nada contra as demais traduções.
domingo, 10 de novembro de 2013
Deus criou o mal
Circula na Internet um diálogo fictício entre um professor e Einstein, ainda menino. Vejam:
Grande número de pessoas adora esse tipo de conversa mole.
Isso resulta do facto de haver muita gente cristã e quase ninguém que leia a Bíblia.
Se lessem, veriam que Deus não concorda com esse vídeo.
Aí vem também a turma que é monoteísta mas acredita em vários deuses.
- Ah! Mas há o Deus do Antigo Testamento e há o Deus do Novo Testamento!
Quanto a mim, fui ensinado que há um só Deus que se expressa pelos 66 livros (para alguns, um bocadinho mais) da Bíblia, livros esses ditados por Ele a seus ghostwriters.
Aliás, o cristianismo, com essa invenção do três-em-um (Pai, Filho e Espírito Santo), bagunçou o monoteísmo um bocadinho.
E também poucos se dão conta de que Moisés, por exemplo, não era monoteísta. Moisés era monolátrico. Ou seja, acreditava que o seu Deus era o ó do borogodó, mas sabia que os demais povos tinham lá seus deuses. Só que inferiores ao dele, claro.
O monoteísmo surge apenas em Isaías. E é onde eu queria chegar com esse papo.
Em Isaías 45:18:
Porque assim diz o Senhor [...]: Eu sou o Senhor e não há outro.
Mas volto ao vídeo acima:
Em Isaías 45:7, está dito:
Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
(tradução Almeida corrigida)
Falou e disse. Alguma dúvida?
Grande número de pessoas adora esse tipo de conversa mole.
Isso resulta do facto de haver muita gente cristã e quase ninguém que leia a Bíblia.
Se lessem, veriam que Deus não concorda com esse vídeo.
Aí vem também a turma que é monoteísta mas acredita em vários deuses.
- Ah! Mas há o Deus do Antigo Testamento e há o Deus do Novo Testamento!
Quanto a mim, fui ensinado que há um só Deus que se expressa pelos 66 livros (para alguns, um bocadinho mais) da Bíblia, livros esses ditados por Ele a seus ghostwriters.
Aliás, o cristianismo, com essa invenção do três-em-um (Pai, Filho e Espírito Santo), bagunçou o monoteísmo um bocadinho.
E também poucos se dão conta de que Moisés, por exemplo, não era monoteísta. Moisés era monolátrico. Ou seja, acreditava que o seu Deus era o ó do borogodó, mas sabia que os demais povos tinham lá seus deuses. Só que inferiores ao dele, claro.
O monoteísmo surge apenas em Isaías. E é onde eu queria chegar com esse papo.
Em Isaías 45:18:
Porque assim diz o Senhor [...]: Eu sou o Senhor e não há outro.
Mas volto ao vídeo acima:
Em Isaías 45:7, está dito:
Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
(tradução Almeida corrigida)
Falou e disse. Alguma dúvida?
sábado, 9 de novembro de 2013
A modéstia de Lula
A revista Visão, cá de Portugal, publicou em seu número 1077, do final de Outubro, uma entrevista de Lula ao jornalista Jesús Ruiz Mantilla, do jornal espanhol El País.
A entrevista, publicada primeiramente aqui, foi traduzida do espanhol para o português de Portugal. Não deixa de ter piada um Lula a falar do modo lusitano.
A revista Visão até que poupou seus leitores do inteiro teor do panegírico inicial do entrevistador. Transcreveu apenas parte dele.
Lula, como sempre (e quanto mais diante de um entrevistador que assume gostosamente o papel de escada), fala da miséria em que recebeu o governo brasileiro e como deixou tudo quase às mil maravilhas. O quase é pra que reste algo de bom para sua sucessora fazer.
Mas, a meu ver, o auge de sua megalomania vem neste trecho:
Qualquer líder que esteja na oposição sabe que mudanças deve aplicar, ao chegar ao cargo. Hollande, por exemplo, sabia-o, durante a campanha...
Tive uma conversa estraordinária com ele. Sou amigo dele já há muito tempo. E dizia-lhe: não te podes esquecer do teu discurso, ao chegares à Presidência. Agarra as tuas propostas, enquadra-as, coloca-as na tua mesa de cabeceira e não te esqueças nunca das razões da tua eleição.
Com Obama, comentei: deves limitar-te a mostrar a mesma coragem que o povo americano demonstrou ao eleger-te Presidente.
Não sei o que seria de França e de Estados Unidos se Lula não tivesse dado essa mãozinha.
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Dúvida
Essa dúvida está colocada em sentido literal.
Mas poderia ser também uma metáfora.
Depende de se considera Porto uma cidade portuguesa, ou um destino seguro.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Milímetros que valem uma vida
Em 1954 o Brasil ficou com o segundo lugar no concurso de Miss Universo. Martha Rocha, aquela, a baiana, perdeu o título por pouco. Será?
Ao menos foi o que ficou registado na marchinha de carnaval:
Por duas polegadas a mais
passaram a baiana pra trás.
Por duas polegadas,
e logo nos quadris.
Tem dó, tem dó seu juiz.
(Alcyr Pires Vermelho, Pedro Caetano e Carlos Renato. Foram necessários três pra compor isso?!)
Mas alto lá: duas polegadas de rabo a mais são bastante coisa, não é? Pegue uma régua que tenha escala em polegadas e verifique. É muito.
Para homens razoavelmente normais é até muito bom. Mas para juízes de concurso de beleza deve ser uma tragédia.
Quanto a mim, dependo de apenas quatro milímetros. Não no rabo. Na aorta. Está com a régua ainda na mão? Então dê uma olhada. É quase nada.
E não estou a falar de concurso de beleza. Trata-se da minha vida. A única que tenho.
Por isso, saí hoje feliz da consulta ao cardiologista.
Ano passado, a angiotomografia apontou 46 mm de diâmetro de minha aorta ascendente. Ou seja, o mesmo que o exame feito em São Paulo, um ano antes, registara.
Meu cardiologista, por meio de eco (que não permite a visualização de toda a parte dilatada da aorta) constatou, em março deste ano, 44,5 mm de diâmetro da parte visível. Disse que para o fim do ano mediríamos de novo.
Hoje minha aorta emplacou 44 mm. O 0,5 a menos é desprezível. Ou seja, tudo continua como antes.
No primeiro semestre de 2011, um cirurgião em São Paulo me garantiu que era urgente que operasse. Mais de 2 anos depois, estou com o quadro totalmente estável.
Sem que eu tivesse recorrido ao bispo Edir Macedo ou ao apóstolo Valdemiro Santiago.
Atualização (21/11/2013) - Meu hermano, Luiz Brandão, me alerta para o facto de ser Terezinha Morango (Miss Brasil 1.957) a Miss que aparecia na foto deste post. E não Marta Rocha, Miss em 1.954. Eu poderia alegar que foi troca proposital. Afinal, já fiz isso em outros posts. Por exemplo este. Era uma imitação de procedimento muito utilizado pelo jornaleco Planeta Diário, da turma que mais adiante juntou-se ao pessoal do Casseta Popular e criou o grupo Casseta & Planeta, de saudosa memória na TV brasileira. Mas não foi. Foi erro meu, mesmo. Já corrigido.
Atualização (21/11/2013) - Meu hermano, Luiz Brandão, me alerta para o facto de ser Terezinha Morango (Miss Brasil 1.957) a Miss que aparecia na foto deste post. E não Marta Rocha, Miss em 1.954. Eu poderia alegar que foi troca proposital. Afinal, já fiz isso em outros posts. Por exemplo este. Era uma imitação de procedimento muito utilizado pelo jornaleco Planeta Diário, da turma que mais adiante juntou-se ao pessoal do Casseta Popular e criou o grupo Casseta & Planeta, de saudosa memória na TV brasileira. Mas não foi. Foi erro meu, mesmo. Já corrigido.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
O melão
Aproveitei esta segunda-feira para ir almoçar ao Geadas.
Parêntesis: Bragança tem excelentes restaurantes. Mas dois deles são superiores: o Solar e o Geadas.
Agora, então, que os dois filhos do casal que rege o restaurante entraram na orquestra, o Geadas está primoroso.
Cheguei um bocadinho tarde, como é de meu hábito.
Fui recebido como se fosse alguém muito especial e me foi sugerido um tornedor.
Tive, então, o prazer de passar quase uma hora em um ambiente bonito e tranquilo, mergulhado em um suave som de jazz.
Se as lascas de um presunto adorável, o queijo e algum salpicão abriram meu apetite, o prato principal me elevou ao cume da gastronomia.
Vinho e pão fizeram o contracanto.
Não fosse o possível desconforto, preferiria saborear esse tornedor ajoelhado no estrado de um genuflexório.
Ao menos seria mais justo.
Um bocadinho emocionado, resolvi completar a refeição com melão.
Emoção e melão levaram-me a recordações. Ainda mais que diante de mim, para além da janela do Geadas, reinava a paisagem das margens do Fervença. E a chuva começava a ceder lugar ao sol.
E me surgiu aos olhos da alma meu pai e minha mãe a saborear um melão espanhol. Era talvez o único dos luxos a que se permitiam.
Para eles, o melão era a exceção: aos filhos tudo; a nós o melão.
E sabíamos já que o melão era para os dois.
E gostava de vê-los saborear aquela ambrosia, com prazer e cumplicidade.
domingo, 3 de novembro de 2013
Egos em fuga
Primeiro eram egos em fúria.
Artistas brasileiros (Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e talvez outros menos nobres) uniram-se em um movimento curiosamente chamado Procure Saber (ao que parece eles já acharam) com o expresso objetivo de não permitir que fossem liberadas, no Brasil, biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes.
Entendiam que deixar uma biografia dessas ser publicada para só depois buscar reparação judicial rendia pouco dinheiro.
E eles, como quase todo mundo, gostam de muito.
Quando a iniciativa deles começou a ser duramente criticada, começaram os recuos.
Chico Buarque, de seu refúgio em Paris, tratou de procurar a porta de saída:
- Posso não estar muito bem informado sobre as leis e posso ter me precipitado.
Parece que, domingo passado ou um dia qualquer desses últimos, Roberto Carlos, conhecido como O Rei (presumo que do Reino da Música porque do Reino do Futebol é o Pelé, que - por sinal - é muito ruim de música), deu uma entrevista à TV Globo para dizer que não é bem assim.
Tenho um amigo que quando quer, ironicamente, defender algum argumento absurdo, começa a argumentação com um:
- Veja bem!
Caetano Veloso, ao perceber que ia levar bola nas costas, soltou o verbo no jornal O Globo de hoje:
Primeiro ele atira em Roberto:
- Atribuí a Roberto Carlos o fato de ter sido obrigado a chegar até ali. Eu, que sempre me posicionara contra a exigência de aprovação prévia para biografias.
O tiro ricocheteia em Chico Buarque:
- Chico era o mais próximo da posição dele [Roberto], eu, o mais distante.
Essa postura caetaneana me lembra aquela velhíssima anedota contada por José Vasconcelos:
O camarada roubou um porco e saiu em disparada, com o porco às costas.
Quando foi alcançado pelos que o perseguiam, perguntou:
.- Porco? Que porco? Tira esse bicho daí!
Caetano procura, no artigo acima, tirar o corpo fora. Não o do porco. O dele.
Isso graças a artigos como o de Ruy Castro:
E mesmo o de Janio de Freitas:
Para não dizerem que não mostrei o artigo a que Caetano também se refere, desta vez um bocadinho favorável a ele e aos demais trapalhões (o artigo de Fernanda Torres), aí vai a parte do texto que se refere ao nosso assunto. Antes ela fala de um livro que vai publicar e de outro livro, que dá título ao artigo.
Aos poucos a moçada vai tirando os respectivos da reta.
Não sei se é preciso, mas vou explicitar: gosto muito da produção de música popular de quase todos eles.
Neste último sábado, por exemplo, fiquei durante umas duas horas a ouvir e ver o show acústico MTV de Gilberto Gil.
Isso nada tem a ver com o caráter deles. Picasso, por exemplo, era excelente pintor mas...
Isso já é outra história. A que chegaremos, qualquer hora dessas.
Também acrescento que todos eles já produziram o que tinham para produzir.
Sendo assim, termino com o finalzinho do texto da doidivanas Barbara Gancia, sexta-feira última, também na Folha.
Artistas brasileiros (Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e talvez outros menos nobres) uniram-se em um movimento curiosamente chamado Procure Saber (ao que parece eles já acharam) com o expresso objetivo de não permitir que fossem liberadas, no Brasil, biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes.
Entendiam que deixar uma biografia dessas ser publicada para só depois buscar reparação judicial rendia pouco dinheiro.
E eles, como quase todo mundo, gostam de muito.
Quando a iniciativa deles começou a ser duramente criticada, começaram os recuos.
Chico Buarque, de seu refúgio em Paris, tratou de procurar a porta de saída:
- Posso não estar muito bem informado sobre as leis e posso ter me precipitado.
Parece que, domingo passado ou um dia qualquer desses últimos, Roberto Carlos, conhecido como O Rei (presumo que do Reino da Música porque do Reino do Futebol é o Pelé, que - por sinal - é muito ruim de música), deu uma entrevista à TV Globo para dizer que não é bem assim.
Tenho um amigo que quando quer, ironicamente, defender algum argumento absurdo, começa a argumentação com um:
- Veja bem!
Caetano Veloso, ao perceber que ia levar bola nas costas, soltou o verbo no jornal O Globo de hoje:
(clique na imagem para ampliá-la.
Mesmo assim ela não ficará em bom tamanho.
Não tenho culpa de Caetano precisar ser prolixo
Mesmo assim ela não ficará em bom tamanho.
Não tenho culpa de Caetano precisar ser prolixo
para defender o indefensável)
Primeiro ele atira em Roberto:
- Atribuí a Roberto Carlos o fato de ter sido obrigado a chegar até ali. Eu, que sempre me posicionara contra a exigência de aprovação prévia para biografias.
O tiro ricocheteia em Chico Buarque:
- Chico era o mais próximo da posição dele [Roberto], eu, o mais distante.
Essa postura caetaneana me lembra aquela velhíssima anedota contada por José Vasconcelos:
O camarada roubou um porco e saiu em disparada, com o porco às costas.
Quando foi alcançado pelos que o perseguiam, perguntou:
.- Porco? Que porco? Tira esse bicho daí!
Caetano procura, no artigo acima, tirar o corpo fora. Não o do porco. O dele.
Isso graças a artigos como o de Ruy Castro:
E mesmo o de Janio de Freitas:
Para não dizerem que não mostrei o artigo a que Caetano também se refere, desta vez um bocadinho favorável a ele e aos demais trapalhões (o artigo de Fernanda Torres), aí vai a parte do texto que se refere ao nosso assunto. Antes ela fala de um livro que vai publicar e de outro livro, que dá título ao artigo.
Aos poucos a moçada vai tirando os respectivos da reta.
Não sei se é preciso, mas vou explicitar: gosto muito da produção de música popular de quase todos eles.
Neste último sábado, por exemplo, fiquei durante umas duas horas a ouvir e ver o show acústico MTV de Gilberto Gil.
Isso nada tem a ver com o caráter deles. Picasso, por exemplo, era excelente pintor mas...
Isso já é outra história. A que chegaremos, qualquer hora dessas.
Também acrescento que todos eles já produziram o que tinham para produzir.
Sendo assim, termino com o finalzinho do texto da doidivanas Barbara Gancia, sexta-feira última, também na Folha.
sábado, 2 de novembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
O mundo é tudo aquilo que é o caso
Novembro chegou. E, por quaisquer motivos que não atinjo, minha cabeça está recheada dos mais variados assuntos. Não consigo fixar-me em nenhum deles.
Parte desse tumulto mental deve-se ao facto de ter minha atenção voltada ao mesmo tempo para diversos lugares distantes. Vivo em Portugal. Mas tenho filha em São Paulo, irmãs em Florianópolis e Rio de Janeiro. Essa última, aliás, está a passar umas boas semanas na Califórnia. Conversamos bastante ontem por Skype.
Na costa Leste dos EUA tenho filha, genro e netas.
No Canadá, filho e nora.
Minha mulher está agora na Austrália, a visitar a filha e o casal de netos.
Faltam-me apenas vínculos familiares na Ásia e na África.
Sabe-se lá.
Ontem, ao reler um texto dos primeiros deste blogue, percebi que muita coisa mudou em meu jeito de escrever.
Claro, em Fevereiro este blogue completa dez anos. Só isso já explica a mudança.
Mas desde que passei a residir cá em Portugal, as alterações se multiplicaram na minha escrita.
Sou um pouco como aquele jogador brasileiro de futebol que veio jogar na Itália.
Esqueceu o Português e não aprendeu o Italiano.
Mas não foi só a forma que se transformou.
Minhas ideias também não cessam de redefinir-se.
Não tenho paciência para isso, mas se conseguisse fazer uma análise comparativa entre todos os posts que produzi, nesses quase dez anos, certamente encontraria inúmeras contradições entre vários deles.
Os que me conheceram cristão, recriminam que me tenha tornado ateu.
Os que me conheceram marxista-leninista me censuram por ter abandonado a Esquerda.
Fiquem eles todos, crentes nos mais variados mistérios, aferrados a seus mitos.
Quanto a mim, vou andar de bicicleta.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Meu grito de guerra
Seria melhor dizer: meu pensamento de vitória.
Quando era menino, passava todas as noites de Domingo na igreja, no culto.
Meu pai, que era o pastor, era muito rigoroso com os horários (aliás, não só com os horários. Com tudo).
Graças a ele, os cultos sempre terminavam às 21 horas. E eu achava isso ótimo.
Mas uma vez por mês, servia-se a Ceia, no final do culto. Isso sempre prolongava um bocadinho a cerimônia.
Distribuía-se o pão, depois o suco de uva.
Parêntesis: até hoje não consigo aceitar essa recusa de servir vinho na Ceia. Pois se Jesus chega a dizer, na celebração da Páscoa com seus discípulos, ao beber o vinho, que só voltaria a beber do fruto da vide quando estivesse no Reino de Deus. Tradução: há vinho no céu. Aliás, em minha nada modesta opinião, sem vinho esse lugar seria tudo menos céu.
Mas enfim, na igreja baptista de Santos servia-se suco de uva no lugar de vinho. Penso que isso beira a blasfêmia. Fecha parêntesis.
Ao final desse ritual, meu pai recitava Marcos 14:26:
E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E o coral iniciava um cântico maravilhoso, com destaque da inesquecível voz de Daniel Bispo.
Pronto! Eu estava liberado!
Durante toda minha vida, até hoje, sempre que me saio bem de alguma empreitada, digo em meu interior:
- E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E me invade uma deliciosa sensação de paz.
Quando era menino, passava todas as noites de Domingo na igreja, no culto.
Meu pai, que era o pastor, era muito rigoroso com os horários (aliás, não só com os horários. Com tudo).
Graças a ele, os cultos sempre terminavam às 21 horas. E eu achava isso ótimo.
Mas uma vez por mês, servia-se a Ceia, no final do culto. Isso sempre prolongava um bocadinho a cerimônia.
Distribuía-se o pão, depois o suco de uva.
Parêntesis: até hoje não consigo aceitar essa recusa de servir vinho na Ceia. Pois se Jesus chega a dizer, na celebração da Páscoa com seus discípulos, ao beber o vinho, que só voltaria a beber do fruto da vide quando estivesse no Reino de Deus. Tradução: há vinho no céu. Aliás, em minha nada modesta opinião, sem vinho esse lugar seria tudo menos céu.
Mas enfim, na igreja baptista de Santos servia-se suco de uva no lugar de vinho. Penso que isso beira a blasfêmia. Fecha parêntesis.
Ao final desse ritual, meu pai recitava Marcos 14:26:
E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E o coral iniciava um cântico maravilhoso, com destaque da inesquecível voz de Daniel Bispo.
Pronto! Eu estava liberado!
Durante toda minha vida, até hoje, sempre que me saio bem de alguma empreitada, digo em meu interior:
- E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E me invade uma deliciosa sensação de paz.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Um equívoco bíblico
Este post tem o objetivo de mostrar, com um exemplo apenas, que não é tão simples compreender a Bíblia.
Os evangelhos, particularmente o de Mateus, procuram ligar a figura de Jesus às profecias do Velho Testamento. Isso acaba por gerar imensas confusões. Sobre essas confusões existe abundante bibliografia. Mas vamos ficar em um pequeno detalhe.
Para que se compreenda o que vem a seguir, é preciso primeiro lembrar que o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. O Novo Testamento em Grego. Mas, mesmo antes de Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido para o Grego: é o que se chama a Septuaginta, ou - mais no popular - a Setenta.
Os autores dos evangelhos considerados canônicos utilizaram-se do Antigo Testamento por meio da Setenta. Portanto em Grego.
Em Isaías 40:3, na versão em Português da tradução Almeida corrigida e revisada fiel, lê-se o que consta na Setenta:
Os evangelhos, particularmente o de Mateus, procuram ligar a figura de Jesus às profecias do Velho Testamento. Isso acaba por gerar imensas confusões. Sobre essas confusões existe abundante bibliografia. Mas vamos ficar em um pequeno detalhe.
Para que se compreenda o que vem a seguir, é preciso primeiro lembrar que o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. O Novo Testamento em Grego. Mas, mesmo antes de Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido para o Grego: é o que se chama a Septuaginta, ou - mais no popular - a Setenta.
Os autores dos evangelhos considerados canônicos utilizaram-se do Antigo Testamento por meio da Setenta. Portanto em Grego.
Em Isaías 40:3, na versão em Português da tradução Almeida corrigida e revisada fiel, lê-se o que consta na Setenta:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.
Pois foi o que leram os evangelistas.
Daí que Lucas escreve:
Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas. (Lucas 3:4)
E João (a falar de João Baptista):
Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (João 1:23)
Pois bem: o texto hebraico, original, diz outra coisa. O que aliás, já é reconhecido em várias outras traduções para o Português
A tradução Almeida Revisada:
Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.
A tradução da Nova Versão Internacional:
A tradução da Nova Versão Internacional:
Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus".
A versão da Sociedade Bíblica Britânica:
Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho de Jeová, endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.
A tradução da Versão Católica:
Uma voz exclama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus.
Mas todas essas traduções mantiveram, no Novo Testamento, o texto adotado pelos evangelistas, ou seja, o texto errado.
Enfim, o texto de Isaías menciona uma voz que clama. Clama o quê? Clama a pedir que, no deserto, se prepare o caminho etc etc...
Os evangelistas, por conhecerem o texto de Isaías pela Setenta, colocaram a voz que clama no deserto.
A passar sede.
Se procurarmos na Internet, há inúmeras páginas que se utilizam desse bordão: Voz que Clama no Deserto.
Por ironia (a ironia adora essas coisas), há uma página no Facebook chamada exatamente de Voz que Clama no Deserto (aliás, há muitas), que ostenta na sua imagem do alto da página o seguinte dizer de Lutero:
A menos que me convençam, pelas Escrituras ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras.
Resta saber, a que Escrituras se referia o reformador.
Nota 1: É curioso que, por ser a Bíblia inspirada por Deus, este não tenha dado a dica aos evangelistas de que o texto grego estava errado.
Nota 2: Quem me chamou a atenção para esse equívoco foi a professora Rosangela Barreto Gonçalves, que me atura - junto com outros alunos - toda semana nas aulas de Hebraico.
Deixa que coloque aqui esse agradecimento, mas com a ressalva de que a prof. Rosangela certamente não compartilha de minhas ideias sobre a Bíblia.
Nota 1: É curioso que, por ser a Bíblia inspirada por Deus, este não tenha dado a dica aos evangelistas de que o texto grego estava errado.
Nota 2: Quem me chamou a atenção para esse equívoco foi a professora Rosangela Barreto Gonçalves, que me atura - junto com outros alunos - toda semana nas aulas de Hebraico.
Deixa que coloque aqui esse agradecimento, mas com a ressalva de que a prof. Rosangela certamente não compartilha de minhas ideias sobre a Bíblia.
domingo, 27 de outubro de 2013
Quando a noite cai
Pois. Quando a noite cai, ninguém estende a mão para ajudá-la a levantar-se.
O que talvez fosse uma mão na roda. Desde que a roda estivesse parada. Caso contrário, poderia magoar a mão.
Mas será possível mágoa em mão, se volta e meia alguém diz que traz mágoa no coração?
E por que frequentemente costuma substituir-se por volta e meia?
Por que não duas ou três voltas? Ou, sei lá, uma infinidade de voltas.
Será porque infinidade também costuma ser trocada por um sem número?
Um sem número de qualquer coisa é quantas coisas?
Nenhuma? Mas aí seriam zero coisas.
Muitas? Muitíssimas? Mas sempre haverá um número numerosíssimo para quantificar o sem número de coisas.
Alguém dirá: pra que levantar essa questão?
Não levantei nada. Afinal, quando se resolve um problema ninguém diz que abaixou o problema.
O que talvez fosse uma mão na roda. Desde que a roda estivesse parada. Caso contrário, poderia magoar a mão.
Mas será possível mágoa em mão, se volta e meia alguém diz que traz mágoa no coração?
E por que frequentemente costuma substituir-se por volta e meia?
Por que não duas ou três voltas? Ou, sei lá, uma infinidade de voltas.
Será porque infinidade também costuma ser trocada por um sem número?
Um sem número de qualquer coisa é quantas coisas?
Nenhuma? Mas aí seriam zero coisas.
Muitas? Muitíssimas? Mas sempre haverá um número numerosíssimo para quantificar o sem número de coisas.
Alguém dirá: pra que levantar essa questão?
Não levantei nada. Afinal, quando se resolve um problema ninguém diz que abaixou o problema.
sábado, 26 de outubro de 2013
Como se deve lavar louça?
Porque hoje é sábado (como disse Vinicius), resolvi tratar de assuntos sérios.
O que primeiro me ocorreu foi o modo de se lavar a louça.
Antes de entrar em tão transcendental tema, observo que se eu usasse loiça no lugar de louça, seria considerado pedante ou antiquado.
Mas se usar cousa em lugar de coisa, também.
Aliás, sou tão antigo que - vejam só - já tive professores que falavam cousa.
Claro, havia outros que não falavam coisa com coisa.
Mas voltemos ao tema.
Desde quando conheci a vida na aldeia de Passos, chamou minha atenção a maneira como se lavam lá as louças.
Coloca~se a louça em uma grande vasilha ou na própria pia com o ralo fechado. Enche-se a dita cuja com água e detergente. Mergulha-se nessa sopa toda a louça a ser lavada. Uma vez a louça esfregada com um pano, enxágua-se e pronto. Nada de água corrente. Tudo é feito com água depositada em vasilhas.
Estava eu acostumado a lavar louça com água corrente.
Agora fiquei a saber que na Austrália (ao menos na casa de nossa filha aussie) passa-se água com detergente na louça e seca~se. Pronto. Diz-se que o detergente evapora.
Aliás, essa questão do detergente, na atualidade, envolve questões até de consciência.
Tenho uma amiga que simplesmente não utiliza detergente para lavar a louça. Para preservar o Planeta.
Já minha filha caçula lava as frutas que vai comer (maçãs, peras, laranjas, o que for) com detergente.
Muito difícil, esse mundo moderno.
O que primeiro me ocorreu foi o modo de se lavar a louça.
Antes de entrar em tão transcendental tema, observo que se eu usasse loiça no lugar de louça, seria considerado pedante ou antiquado.
Mas se usar cousa em lugar de coisa, também.
Aliás, sou tão antigo que - vejam só - já tive professores que falavam cousa.
Claro, havia outros que não falavam coisa com coisa.
Mas voltemos ao tema.
Desde quando conheci a vida na aldeia de Passos, chamou minha atenção a maneira como se lavam lá as louças.
Coloca~se a louça em uma grande vasilha ou na própria pia com o ralo fechado. Enche-se a dita cuja com água e detergente. Mergulha-se nessa sopa toda a louça a ser lavada. Uma vez a louça esfregada com um pano, enxágua-se e pronto. Nada de água corrente. Tudo é feito com água depositada em vasilhas.
Estava eu acostumado a lavar louça com água corrente.
Agora fiquei a saber que na Austrália (ao menos na casa de nossa filha aussie) passa-se água com detergente na louça e seca~se. Pronto. Diz-se que o detergente evapora.
Aliás, essa questão do detergente, na atualidade, envolve questões até de consciência.
Tenho uma amiga que simplesmente não utiliza detergente para lavar a louça. Para preservar o Planeta.
Já minha filha caçula lava as frutas que vai comer (maçãs, peras, laranjas, o que for) com detergente.
Muito difícil, esse mundo moderno.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Ainda a família
Escrevi anteontem a respeito de como os evangelhos falam de um Jesus que relegou sua família a papel secundário.
Meu primo Wanderley Franco fez um comentário ao post a mostrar o que ele chama de visão espírita desse assunto (é recomendável ler o comentário dele antes de prosseguir).
Quero falar a respeito desse comentário porque entendo que ele confirma o que eu falei.
Vamos dar uma espiada na análise do texto conforme a visão espírita:
Certas palavras na boca de Jesus parecem esquisitas por contrastarem com sua bondade, mansidão e inalterável benevolência por todos.
Pois é, primo. As discordâncias começam aí. Não as minhas com as suas (ou as da visão espírita). Mas as dessa visão e a Bíblia.
Já volto ao ponto. Antes é preciso dizer que tudo aquilo que nessa visão espírita é dado como incontestável, é certo que etc etc, não é nada rigoroso como a tal visão gostaria.
Para começar: Jesus pode ter existido. Mas isso não é assim factual, como a grande maioria pensa.
Eu até acho que existe uma boa probabilidade de ele ter existido mesmo. Mas as informações a respeito são muito poucas e bastante discutíveis. Os evangelhos que acabaram por ser estabelecidos como canônicos foram escritos várias décadas após a morte dele, por indivíduos que não o conheceram pessoalmente.
Então, vamos devagar com essas afirmações taxativas.
Volto ao ponto. Por que eu digo que essa visão que você apresenta discorda da Bíblia?
Um exemplo: apesar de os quatro evangelhos divergirem entre eles em vários pontos importantes (nascimento de Jesus, morte de Jesus, ressureição de Jesus etc etc), há um episódio em que os quatro evangelhos contam a mesma história: a expulsão dos vendilhões do templo, em Jerusalém.
Você deve recordar do acontecido. Jesus, ali, mostrou mansidão e inalterável benevolência por todos? Evidentemente não.
Mas, claro, essa visão espírita deve preocupar-se bem mais com as ideias de Hippolyte Léon Denizard Rivail e de outros espíritos evoluídos do que com a Bíblia.
Tudo até agora é preâmbulo.
O que mais me agrada em seu texto, ou se você preferir, nessa visão espírita, é que ela só confirma o que falei no post A família cristã.
Não é o pai que cria o espírito do filho, mas apenas lhe fornece o envoltório corporal (...).
Assim há duas ordens de família. As de laço espiritual e as de corporal (…).
[a de laço espiritual]é durável e se fortifica pela depuração, perpetuando-se no mundo espiritual através de diversas migrações da alma.
(...)a outra, frágil como a matéria, se extingue com o tempo e às vezes se dissolve moralmente desde a vida atual.
Enfim, mais uma teoria – a da tal visão espírita – a dizer que há uma tal família espiritual superior à família material, escrava do tempo e sujeita até a se dissolver moralmente desde a vida atual.
O que você, com os óculos de suas crenças, parece não perceber, é que todo esse maravilhoso mecanismo de migrações da alma é teoria. No entanto, você acha certo colocar essa teoria acima das frágeis e perecíveis realidades materiais.
Quanto a mim, tive três filhos que são o que de mais importante existe para mim, ao lado de meus ancestrais e de minhas irmãs. Enfim, para mim existe a família.
Mas as religiões e outras teorias insistem em inventar entidades superiores para adocicar a angústia de seus adeptos.
Foi isso que pretendi dizer naquele post e que sua visão espírita talvez tenha me ajudado a deixar mais claro.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Vou-me embora pra Bragança
A Doga, hoje, ficou triste.
Para ser exacto, não sei se foi triste ou se foi apreensiva que ela ficou.
A avó foi embora. Ela não sabe que é por um mês.
Mas ausência, pra ela, é por umas horas ou por um mês, igual.
Triste, será por perder a protectora.
Apreensiva, por ver-se só com o pretenso educador.
De um modo ou de outro, pus-lhe na sala a tigela de comida e vim para o escritório. Ela rodeou-me por um tempo. Depois foi lá e comeu tudo. Normalmente só come acompanhada. Ah! E engoliu o remédio misturado à ração. Coisa que ela separa sempre com zelo religioso. E me obriga ao penoso exercício de enfiá-lo goela abaixo.
De qualquer forma, amanhã cedo volto a Bragança.
O tempo, cá em Matosinhos, está muito chuvoso e com vento forte. Praia, desse jeito, é como revista de mulher nua. Não serve para (quase) nada. Da janela, olho o mar revolto. Para os surfistas, é o que há de melhor. Ficam com a praia só pra eles. E com o mar do jeito que gostam: agitado.
São os onanistas do mar.
Em Bragança vou relaxar, depois destes últimos dias agitados de preparo para viagem.
Lá, chova ou faça sol, as montanhas ficam sempre estáticas e maravilhosas.
Como convém às montanhas.
A avó foi embora. Ela não sabe que é por um mês.
Mas ausência, pra ela, é por umas horas ou por um mês, igual.
Triste, será por perder a protectora.
Apreensiva, por ver-se só com o pretenso educador.
De um modo ou de outro, pus-lhe na sala a tigela de comida e vim para o escritório. Ela rodeou-me por um tempo. Depois foi lá e comeu tudo. Normalmente só come acompanhada. Ah! E engoliu o remédio misturado à ração. Coisa que ela separa sempre com zelo religioso. E me obriga ao penoso exercício de enfiá-lo goela abaixo.
De qualquer forma, amanhã cedo volto a Bragança.
O tempo, cá em Matosinhos, está muito chuvoso e com vento forte. Praia, desse jeito, é como revista de mulher nua. Não serve para (quase) nada. Da janela, olho o mar revolto. Para os surfistas, é o que há de melhor. Ficam com a praia só pra eles. E com o mar do jeito que gostam: agitado.
São os onanistas do mar.
Em Bragança vou relaxar, depois destes últimos dias agitados de preparo para viagem.
Lá, chova ou faça sol, as montanhas ficam sempre estáticas e maravilhosas.
Como convém às montanhas.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
A família cristã
Fui criado em família baptista.
Meu pai era pastor.
Minha mãe, apesar de exercer a profissão de professora de Matemática no ensino secundário, teve sempre a religião como seu único Norte.
Os ensinamentos de Jesus eram, para eles, o que podia haver de mais sagrado.
Detenho-me, então, em um desses ensinamentos:
(clique no texto para ampliá-lo)
E, de facto, observei durante esses últimos longos anos, que muitos parentes meus seguiram esse preceito do Cristo e me evitaram o mais que puderam.
Tenho um primo pastor baptista que encontrou-me um dia na recepção de um laboratório de análises e ficou tão aflito para sair dali que terminou por esquecer sobre a mesa da recepcionista sua carteira, com documentos e cartões de crédito e dinheiro etc etc. Claro que, minutos depois, retornou em busca da dita cuja. Afinal, os pastores desses nossos tempos modernos não desperdiçam nem mesmo tostões.
É preciso, ao menos, reconhecer que têm eles certa coerência com os ensinamentos do Mestre.
Pois eu não concordo com isso.
Para mim, a família tem um peso incomparável com as demais relações. Tanto que tenho um amigo que me é tão caro que nos promovemos, ele e eu, a hermanos.
A figura de Jesus, que me parece ter uma boa probabilidade de ter existido, é tida como de um indivíduo que disse coisas maravilhosas e verdadeiras.
Pois discordo dessa afirmação relativa à hierarquia das relações entre pessoas.
Perdi contacto com boa parte dos parentes de meu lado materno, em grande parte graças a esse ensinamento do Cristo.
Quanto ao lado paterno de minha família, vim desfrutá-lo cá em Portugal. Diga-se logo que são todos católicos, como quase todo português.
Mas acrescente-se que, em Portugal, tudo que diz respeito ao catolicismo explode em festas.
E haja santo para tanta comemoração!
Volto a meus pais.
Não tenho como avaliar o valor que meu pai atribuía a esse ensinamento de Jesus. Ele se foi tão cedo que poucas conversas adultas tivemos oportunidade de manter.
Quanto a minha mãe, sou-lhe e serei sempre grato por não ter levado muito a sério esse preceito do Cristo. Poucas pessoas conheci na vida que tenham valorizado tanto a família quanto ela.
Quando ia ao Rio de Janeiro visitar os irmãos, inevitavelmente caía de cama ao retornar a São Paulo. Os irmãos - que a consideravam como mãe - despejavam nela suas angústias. Ela as absorvia todas. Como se dela fossem. Na época, apelidei essa enfermidade de souzafranquite. Pois tratava-se da família Souza Franco. Na verdade, se incluir aí meu tio Vadinho, tratava-se de franquite pura e simples.
Algumas vezes, Celyna foi mal entendida por parte da família. Sempre por colocar os irmãos acima de tudo. Quando estive preso, ela dedicou-se a mim como nunca. Até cigarros me levava no Presídio (naquela época eu fumava). E fumar, para ela, era pecado.
Mas um filho valia muito mais que um pecado.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)
António Manuel Pires Cabral, nascido em 1941 aqui pertinho de Bragança, em Chacim, freguesia de Macedo de Cavaleiros, é escritor e poeta.
Aí vai um de seus poemas:
Aí vai um de seus poemas:
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Os erros dos luteranos (e outros) segundo a Inquisição
O que vai a seguir é parte do Capítulo V (A Inquisição) do Livro Sexto da História de Portugal, de Fortunato de Almeida (vide Segundo Volume, página 63, Bertrand Editora, Chiado 2004):
O de que mais gostei foi a condenação da ideia de que não há mais que nascer e morrer.
Quanto a mim, adepto desse erro, acrescentaria apenas que, com um bocadinho de imaginação, o intervalo entre esses dois eventos pode ser maravilhoso.
domingo, 20 de outubro de 2013
Ainda sobre as biografias não autorizadas
A esquerda brasileira (e outras, mas penso, aqui, nomeadamente na brasileira) é engraçada (quando não trágica). Enquanto Chico Buarque era um compositor de canções como A Banda, Rita, Carolina etc etc, e lançou três álbuns recheados de músicas de amor, com quase um único contraponto (Pedro Pedreiro). em uma época em que a esquerda glorificava os Geraldos Vandrés e suas canções arrebatadas, a respingar revoluções, a esquerda o tratou como um delinquente. O facto de ele ter sido preso por furto de automóvel era apenas um detalhe do que dele se propagava na década de 60 no ambiente quase revolucionário da rua Maria Antonia, em São Paulo.
E, de facto, Pedro Pedreiro e outras tentativas de Chico de cair nas graças da esquerda mostram uma visão quase infantil dos problemas sociais.
A meu ver, ele só encontrou a medida certa no álbum Construção, particularmente na canção com esse nome.
A partir mais ou menos daí, virou herói da esquerda.
Qualquer coisa parecida e paralela ocorreu com Caetano e Gil. A Tropicália era mal vista pela esquerda. Seus arautos, depois de um exílio, também foram alçados à condição de musas da esquerda.
De Roberto Carlos e Erasmo nem se fale. Foram execrados pela esquerda até há pouco.
Hoje, no momento em que eles (e alguns outros) se unem para impedir a liberação da publicação de biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes, a esquerda os defende com unhas e dentes.
Escrevi dias atrás sobre isso aqui. E reproduzi o texto no Facebook.
Meu amigo Reinaldo Lobo, homem orgulhosamente de esquerda, advertiu-me: "cuidado com o assassinato de caráter".
Reinaldo: preocupa-me bem mais o caráter dos assassinos.
E, infelizmente, isso não é figura de retórica. A menos que alguém me explique a coincidência da morte em série de sete testemunhas do assassinato de Celso Daniel.
Aliás, sobre isso, eu gostaria de contar alguns detalhes escabrosos dos quais tenho conhecimento mas não posso pois não possuo provas cabais.
Mas volto ao tema.
Hoje, em O Globo, Caetano Veloso escreve a respeito da polêmica das biografias não autorizadas e nomeadamente da repercussão que o movimento desses artistas suscitou na imprensa em geral.
O texto todo me parece meio aparvalhado. Mas não faltarão baluartes da esquerda para explicá-lo aos pobres de espírito tais como eu.
O que me parece mais significativo, é que a esquerda defenda essa turma e sua tese contrária a biografias não autorizadas no momento em que toda a esquerda - e mesmo o governo federal - se empenha em obter instrumentos legais de controle da imprensa. Imprensa que eles acusam de fortemente contra os altos interesses populares.
Fico a imaginar, eu que recebo o Boletim Carta Maior todo santo dia, como seria a imprensa democrática com que a esquerda tanto diz sonhar, quando toda ela fosse como o Carta Maior. E Emir Sader fosse, digamos, o Ministro da Informação.
Aí sim, viveríamos a tão almejada Democracia.
E não se iludam os Caetanos e Chicos. Eles seriam dos primeiros a serem cuspidos ao ostracismo.
Na melhor das hipóteses.
Eu disse "seriam"?
Talvez tenha errado no tempo verbal.
E, de facto, Pedro Pedreiro e outras tentativas de Chico de cair nas graças da esquerda mostram uma visão quase infantil dos problemas sociais.
A meu ver, ele só encontrou a medida certa no álbum Construção, particularmente na canção com esse nome.
A partir mais ou menos daí, virou herói da esquerda.
Qualquer coisa parecida e paralela ocorreu com Caetano e Gil. A Tropicália era mal vista pela esquerda. Seus arautos, depois de um exílio, também foram alçados à condição de musas da esquerda.
De Roberto Carlos e Erasmo nem se fale. Foram execrados pela esquerda até há pouco.
Hoje, no momento em que eles (e alguns outros) se unem para impedir a liberação da publicação de biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes, a esquerda os defende com unhas e dentes.
Escrevi dias atrás sobre isso aqui. E reproduzi o texto no Facebook.
Meu amigo Reinaldo Lobo, homem orgulhosamente de esquerda, advertiu-me: "cuidado com o assassinato de caráter".
Reinaldo: preocupa-me bem mais o caráter dos assassinos.
E, infelizmente, isso não é figura de retórica. A menos que alguém me explique a coincidência da morte em série de sete testemunhas do assassinato de Celso Daniel.
Aliás, sobre isso, eu gostaria de contar alguns detalhes escabrosos dos quais tenho conhecimento mas não posso pois não possuo provas cabais.
Mas volto ao tema.
Hoje, em O Globo, Caetano Veloso escreve a respeito da polêmica das biografias não autorizadas e nomeadamente da repercussão que o movimento desses artistas suscitou na imprensa em geral.
O texto todo me parece meio aparvalhado. Mas não faltarão baluartes da esquerda para explicá-lo aos pobres de espírito tais como eu.
O que me parece mais significativo, é que a esquerda defenda essa turma e sua tese contrária a biografias não autorizadas no momento em que toda a esquerda - e mesmo o governo federal - se empenha em obter instrumentos legais de controle da imprensa. Imprensa que eles acusam de fortemente contra os altos interesses populares.
Fico a imaginar, eu que recebo o Boletim Carta Maior todo santo dia, como seria a imprensa democrática com que a esquerda tanto diz sonhar, quando toda ela fosse como o Carta Maior. E Emir Sader fosse, digamos, o Ministro da Informação.
Aí sim, viveríamos a tão almejada Democracia.
E não se iludam os Caetanos e Chicos. Eles seriam dos primeiros a serem cuspidos ao ostracismo.
Na melhor das hipóteses.
Eu disse "seriam"?
Talvez tenha errado no tempo verbal.
sábado, 19 de outubro de 2013
Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)
Ernesto Manuel de Melo e Castro (Covilhã, 1932) é um experimentalista português. Aí vão três poemas de sua fase concretista (Ideogramas, 1962):
Observação: as cópias são sofríveis. Mas são as que consigo fazer...
Observação: as cópias são sofríveis. Mas são as que consigo fazer...
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Biografias não autorizadas
Essa questão das biografias não autorizadas, no Brasil, já vem de longe (Ruy Castro que o diga). Mas agora, os latifundiários da MPB, Chico, Caetano, Gil, Djavan, além do inefável místico Roberto Carlos e o talentoso Erasmo, resolveram brigar por mais alguns tostões, fora a lei Rouanet, fora tudo mais.
O maniqueísmo que existe em mim gostaria que todos eles tivessem comprado suas músicas de algum pobre coitado do morro, como era comum na época de Chico Alves.
Mas não. Tenho de aceitar que um mau caráter seja capaz de produzir belíssimas canções populares. Sim, a obra desprende-se do autor. Por menos que eu queira engolir essa ideia.
Nessa matéria que aí vai, Chico Buarque já inicia o processo de tirar o dele da reta. Percebeu que apostou no cavalo errado.
Ele, autor de canções maravilhosas, ele o garotão do Mackenzie, que furtava carros junto com os amigos para divertir-se. Que quando percebeu que A Banda tinha lhe rendido a fama de alienado passou a fazer Pedro Pedreiro e a assinar qualquer coisa que Antonio Candido assinasse antes.
Quanto aos baianos, contraponho-lhes uma proposta: continua a ser proibido publicar biografias não autorizadas, desde que seja proibido usar a Bahia como gancho pra ganhar dinheiro, usando os decantados encantos dela para gozar a vida em qualquer lugar que não seja lá. Topam?
O maniqueísmo que existe em mim gostaria que todos eles tivessem comprado suas músicas de algum pobre coitado do morro, como era comum na época de Chico Alves.
Mas não. Tenho de aceitar que um mau caráter seja capaz de produzir belíssimas canções populares. Sim, a obra desprende-se do autor. Por menos que eu queira engolir essa ideia.
Nessa matéria que aí vai, Chico Buarque já inicia o processo de tirar o dele da reta. Percebeu que apostou no cavalo errado.
Ele, autor de canções maravilhosas, ele o garotão do Mackenzie, que furtava carros junto com os amigos para divertir-se. Que quando percebeu que A Banda tinha lhe rendido a fama de alienado passou a fazer Pedro Pedreiro e a assinar qualquer coisa que Antonio Candido assinasse antes.
Quanto aos baianos, contraponho-lhes uma proposta: continua a ser proibido publicar biografias não autorizadas, desde que seja proibido usar a Bahia como gancho pra ganhar dinheiro, usando os decantados encantos dela para gozar a vida em qualquer lugar que não seja lá. Topam?
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Dificuldades de um estrangeiro
Sou português. Moro em Bragança. Mas o sotaque não engana ninguém.
Abro a boca e logo me perguntam quando retorno ao Brasil.
Quem mandou nascer lá e lá viver mais de sessenta anos?
E tem mais: desde que resolvi ter um pé no Porto, a confusão aumentou.
Quando explico que não vou voltar ao Brasil. Que moro em Bragança, escuto logo:
- Ah! Mora em Braga!?
Parece que os tripeiros pensam que ninguém vive em Bragança.
Também, quase todas as fotos do Castelo de Bragança não mostram um ser vivo.
Se alguém vive em algum lugar cujo nome comece por Bra, só pode ser Brasil ou Braga.
Bragança é, em Portugal, como o Acre no Brasil: as gentes se admiram ao constatar que alguém vive lá.
Coitados, não sabem o que é bom.
Abro a boca e logo me perguntam quando retorno ao Brasil.
Quem mandou nascer lá e lá viver mais de sessenta anos?
E tem mais: desde que resolvi ter um pé no Porto, a confusão aumentou.
Quando explico que não vou voltar ao Brasil. Que moro em Bragança, escuto logo:
- Ah! Mora em Braga!?
Parece que os tripeiros pensam que ninguém vive em Bragança.
Também, quase todas as fotos do Castelo de Bragança não mostram um ser vivo.
Se alguém vive em algum lugar cujo nome comece por Bra, só pode ser Brasil ou Braga.
Bragança é, em Portugal, como o Acre no Brasil: as gentes se admiram ao constatar que alguém vive lá.
Coitados, não sabem o que é bom.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
A solidariedade e o mundo virtual
Como é bonito ler, nas páginas da Internet (nomeadamente no Facebook e em blogues), as manifestações calorosas de solidariedade entre os humanos e destes em relação aos animais. Até mesmo em relação às árvores, florestas e todo o Reino Vegetal.
Não escapam nem mesmo as pedras.
No mundo virtual reina a solidariedade.
Faz pouco mais de cinco anos que uma tia minha, solteira, sem filhos, poucas amizades e de hábitos solitários, começou a mostrar sinais de demência.
Meu primo e eu resolvemos cuidar dela. E para isso solicitamos a ajuda de vários familiares. Uma dezena deles prontificou-se a colaborar financeiramente. Isso proporcionou a ela um fim de vida com o maior conforto e cuidado possíveis.
No final de Março deste ano ela se foi.
Serei sempre grato aos que nos ajudaram a minorar o sofrimento dos últimos anos de vida dela.
Mas fico pasmo com o descaso de muitos outros.
Já não falo de contribuição financeira. Quanto a isso, sei que muitas vezes é mesmo difícil abrir mão de recursos já escassos para ajudar a terceiros.
Mas penso naqueles que, mesmo morando na mesma cidade dela - São Paulo, assim como não tiveram um único tostão disponível, não se abalaram a ir até a clínica em que ela estava, apenas para dar a ela o conforto de sua companhia durante alguns poucos minutos.
Reservaram toda sua solidariedade para despejá-la nos comentários do Facebook.
Não escapam nem mesmo as pedras.
No mundo virtual reina a solidariedade.
Faz pouco mais de cinco anos que uma tia minha, solteira, sem filhos, poucas amizades e de hábitos solitários, começou a mostrar sinais de demência.
Meu primo e eu resolvemos cuidar dela. E para isso solicitamos a ajuda de vários familiares. Uma dezena deles prontificou-se a colaborar financeiramente. Isso proporcionou a ela um fim de vida com o maior conforto e cuidado possíveis.
No final de Março deste ano ela se foi.
Serei sempre grato aos que nos ajudaram a minorar o sofrimento dos últimos anos de vida dela.
Mas fico pasmo com o descaso de muitos outros.
Já não falo de contribuição financeira. Quanto a isso, sei que muitas vezes é mesmo difícil abrir mão de recursos já escassos para ajudar a terceiros.
Mas penso naqueles que, mesmo morando na mesma cidade dela - São Paulo, assim como não tiveram um único tostão disponível, não se abalaram a ir até a clínica em que ela estava, apenas para dar a ela o conforto de sua companhia durante alguns poucos minutos.
Reservaram toda sua solidariedade para despejá-la nos comentários do Facebook.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Oftalmoideologia
Amanhã vou buscar meus novos óculos. Mesmo com a chuva que cai no Porto, vou buscar meus óculos.
Quem sabe, com óculos novos, novinhos, possa eu enxergar o porquê de pessoas inteligentes e cultas reverenciarem o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Brasil (noves fora as que ganham dinheiro com isso. Essas entendo).
O país apresenta o pior desempenho dos chamados emergentes. Não tem programa estratégico. Aliás, não tem programa nem de curto prazo. Não tem infraestrutura. Nem plano para desenvolvê-la. Tem apenas a ambição de seus dirigentes. Voltada, por definição, para seu próprio interesse e nada mais.
O único sector da economia que contribui para que o PIB tenha variação positiva é o agro-negócio. E justamente esse é o sector Geni da economia. Toda gente, do governo e seus acólitos, joga pedras nos pejorativamente chamados ruralistas.
Essa conversa de que o governo tirou não sei quantos milhões de brasileiros da miséria é mais um enxugar de gelo. A renda familiar exigida pelas estatísticas para sair-se da miséria é ridícula.
A capacidade gerencial de Dilma é nula. Ela não sabe delegar e pior: mesmo centralizadora, não sabe decidir com eficácia.
Saiu do nada e ao nada voltará.
Mas, como dizia, vou buscar meus óculos.
Quem sabe, com óculos novos, novinhos, possa eu enxergar o porquê de pessoas inteligentes e cultas reverenciarem o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Brasil (noves fora as que ganham dinheiro com isso. Essas entendo).
O país apresenta o pior desempenho dos chamados emergentes. Não tem programa estratégico. Aliás, não tem programa nem de curto prazo. Não tem infraestrutura. Nem plano para desenvolvê-la. Tem apenas a ambição de seus dirigentes. Voltada, por definição, para seu próprio interesse e nada mais.
O único sector da economia que contribui para que o PIB tenha variação positiva é o agro-negócio. E justamente esse é o sector Geni da economia. Toda gente, do governo e seus acólitos, joga pedras nos pejorativamente chamados ruralistas.
Essa conversa de que o governo tirou não sei quantos milhões de brasileiros da miséria é mais um enxugar de gelo. A renda familiar exigida pelas estatísticas para sair-se da miséria é ridícula.
A capacidade gerencial de Dilma é nula. Ela não sabe delegar e pior: mesmo centralizadora, não sabe decidir com eficácia.
Saiu do nada e ao nada voltará.
Mas, como dizia, vou buscar meus óculos.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Caso Maddie
A polícia britânica prossegue nas investigações que a polícia portuguesa abandonou desde 2008.
Tudo muito interessante. Tomara que se chegue a um final feliz.
Mas uma observação deve ser feita:
Quem tem 41 suspeitos não tem suspeito algum.
domingo, 13 de outubro de 2013
O Jogo
O indivíduo joga no Euromilhões.
Deve acertar cinco números dentre os cinquenta primeiros números inteiros positivos.
E é preciso fazer coincidir as duas "estrelas" que escolheu, entre onze, com as sorteadas, para fazer jus ao primeiro prémio.
Há os que têm sua chave favorita. São dias de aniversário dos filhos, dos pais, coisas assim. Jamais dá certo, mas continuam a acreditar naquela chave.
Há os que jogam a esmo. Instigam o acaso.
Há os que desenvolvem regras do bom jogar. Não repetem números sorteados no sorteio anterior. Ou evitam números consecutivos. Ou jogam só em números pares. Ou apenas em ímpares.
Enfim, há de tudo que a mente humana consegue imaginar.
Difícil é aceitar que qualquer desses métodos leva à mesma probabilidade de vitória.
Que não há nenhuma divindade, ser superior ou o diabo, que favoreça alguma de tais estratégias.
Ninguém se importa.
O ganhador, se houver algum, será pelas artes do Acaso, o único mistério que, se calhar, merece o nome de divindade.
Se calhar.
Deve acertar cinco números dentre os cinquenta primeiros números inteiros positivos.
E é preciso fazer coincidir as duas "estrelas" que escolheu, entre onze, com as sorteadas, para fazer jus ao primeiro prémio.
Há os que têm sua chave favorita. São dias de aniversário dos filhos, dos pais, coisas assim. Jamais dá certo, mas continuam a acreditar naquela chave.
Há os que jogam a esmo. Instigam o acaso.
Há os que desenvolvem regras do bom jogar. Não repetem números sorteados no sorteio anterior. Ou evitam números consecutivos. Ou jogam só em números pares. Ou apenas em ímpares.
Enfim, há de tudo que a mente humana consegue imaginar.
Difícil é aceitar que qualquer desses métodos leva à mesma probabilidade de vitória.
Que não há nenhuma divindade, ser superior ou o diabo, que favoreça alguma de tais estratégias.
Ninguém se importa.
O ganhador, se houver algum, será pelas artes do Acaso, o único mistério que, se calhar, merece o nome de divindade.
Se calhar.
sábado, 12 de outubro de 2013
Dia para não esquecer
Recebemos hoje a visita de dois doutores, acompanhados das mulheres e de um filho.
Um deles é um médico cirurgião que operou a Léa.
O outro é um doutor em Psicologia.
Um deles é ateu. O outro, católico.
Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno de temas tais como Fé, Crença e que tais.
Depois de tanta conversa agradável, fica-se à espera de que o Universo interrompa seu curso para tratar de nossas divergências.
Claro, elas não se dissolverão.
Mas, no auge das discussões, surgiu uma menção a poema de José Régio.
Fui ao escritório buscar a Antologia de Poesia Portuguesa e - como não podia deixar de ser - lá estava o poema, às páginas 1227/1228.
Poema que foi lido em voz alta e emocionada.
Ei-lo:
Dias como esse dão sabor à vida.
Entre outras coisas, lembrei-me do dia em que, em um apartamento do quarto andar do Edifício Canadá, na rua Maria Antonia, em São Paulo, no intenso ano de 1968, meu amigo Henrique, também de pé e solene, leu Tabacaria, de Pessoa.
E chorámos.
Como diz Jorge Ben em uma de suas músicas, agora ninguém chora mais.
Mas talvez as emoções de hoje, mais controladas, sejam mais intensas.
Um deles é um médico cirurgião que operou a Léa.
O outro é um doutor em Psicologia.
Um deles é ateu. O outro, católico.
Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno de temas tais como Fé, Crença e que tais.
Depois de tanta conversa agradável, fica-se à espera de que o Universo interrompa seu curso para tratar de nossas divergências.
Claro, elas não se dissolverão.
Mas, no auge das discussões, surgiu uma menção a poema de José Régio.
Fui ao escritório buscar a Antologia de Poesia Portuguesa e - como não podia deixar de ser - lá estava o poema, às páginas 1227/1228.
Poema que foi lido em voz alta e emocionada.
Ei-lo:
(clique no texto para ampliá-lo)
Dias como esse dão sabor à vida.
Entre outras coisas, lembrei-me do dia em que, em um apartamento do quarto andar do Edifício Canadá, na rua Maria Antonia, em São Paulo, no intenso ano de 1968, meu amigo Henrique, também de pé e solene, leu Tabacaria, de Pessoa.
E chorámos.
Como diz Jorge Ben em uma de suas músicas, agora ninguém chora mais.
Mas talvez as emoções de hoje, mais controladas, sejam mais intensas.
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