sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Ainda a família

Escrevi anteontem a respeito de como os evangelhos falam de um Jesus que relegou sua família a papel secundário.
Meu primo Wanderley Franco fez um comentário ao post a mostrar o que ele chama de visão espírita desse assunto (é recomendável ler o comentário dele antes de prosseguir). 
Quero falar a respeito desse comentário porque entendo que ele confirma o que eu falei.
Vamos dar uma espiada na análise do texto conforme a visão espírita:
Certas palavras na boca de Jesus parecem esquisitas por contrastarem com sua bondade, mansidão e inalterável benevolência por todos.
Pois é, primo. As discordâncias começam aí. Não as minhas com as suas (ou as da visão espírita). Mas as dessa visão e a Bíblia.
Já volto ao ponto. Antes é preciso dizer que tudo aquilo que nessa visão espírita é dado como incontestável, é certo que etc etc, não é nada rigoroso como a tal visão gostaria.
Para começar: Jesus pode ter existido. Mas isso não é assim factual, como a grande maioria pensa.
Eu até acho que existe uma boa probabilidade de ele ter existido mesmo. Mas as informações a respeito são muito poucas e bastante discutíveis. Os evangelhos que acabaram por ser estabelecidos como canônicos foram escritos várias décadas após a morte dele, por indivíduos que não o conheceram pessoalmente.
Então, vamos devagar com essas afirmações taxativas.
Volto ao ponto. Por que eu digo que essa visão que você apresenta discorda da Bíblia?
Um exemplo: apesar de os quatro evangelhos divergirem entre eles em vários pontos importantes (nascimento de Jesus, morte de Jesus, ressureição de Jesus etc etc), há um episódio em que os quatro evangelhos contam a mesma história: a expulsão dos vendilhões do templo, em Jerusalém.
Você deve recordar do acontecido. Jesus, ali, mostrou mansidão e inalterável benevolência por todos? Evidentemente não.
Mas, claro, essa visão espírita deve preocupar-se bem mais com as ideias de Hippolyte Léon Denizard Rivail e de outros espíritos evoluídos do que com a Bíblia.

Tudo até agora é preâmbulo.

O que mais me agrada em seu texto, ou se você preferir, nessa visão espírita, é que ela só confirma o que falei no post A família cristã.
Não é o pai que cria o espírito do filho, mas apenas lhe fornece o envoltório corporal (...).
Assim há duas ordens de família. As de laço espiritual e as de corporal (…).
[a de laço espiritual]é durável e se fortifica pela depuração, perpetuando-se no mundo espiritual através de diversas migrações da alma.
(...)a outra, frágil como a matéria, se extingue com o tempo e às vezes se dissolve moralmente desde a vida atual.

Enfim, mais uma teoria – a da tal visão espírita – a dizer que há uma tal família espiritual superior à família material, escrava do tempo e sujeita até a se dissolver moralmente desde a vida atual.

O que você, com os óculos de suas crenças, parece não perceber, é que todo esse maravilhoso mecanismo de migrações da alma é teoria. No entanto, você acha certo colocar essa teoria acima das frágeis e perecíveis realidades materiais.

Quanto a mim, tive três filhos que são o que de mais importante existe para mim, ao lado de meus ancestrais e de minhas irmãs. Enfim, para mim existe a família.

Mas as religiões e outras teorias insistem em inventar entidades superiores para adocicar a angústia de seus adeptos.

Foi isso que pretendi dizer naquele post e que sua visão espírita talvez tenha me ajudado a deixar mais claro.

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