A esquerda brasileira (e outras, mas penso, aqui, nomeadamente na brasileira) é engraçada (quando não trágica). Enquanto Chico Buarque era um compositor de canções como A Banda, Rita, Carolina etc etc, e lançou três álbuns recheados de músicas de amor, com quase um único contraponto (Pedro Pedreiro). em uma época em que a esquerda glorificava os Geraldos Vandrés e suas canções arrebatadas, a respingar revoluções, a esquerda o tratou como um delinquente. O facto de ele ter sido preso por furto de automóvel era apenas um detalhe do que dele se propagava na década de 60 no ambiente quase revolucionário da rua Maria Antonia, em São Paulo.
E, de facto, Pedro Pedreiro e outras tentativas de Chico de cair nas graças da esquerda mostram uma visão quase infantil dos problemas sociais.
A meu ver, ele só encontrou a medida certa no álbum Construção, particularmente na canção com esse nome.
A partir mais ou menos daí, virou herói da esquerda.
Qualquer coisa parecida e paralela ocorreu com Caetano e Gil. A Tropicália era mal vista pela esquerda. Seus arautos, depois de um exílio, também foram alçados à condição de musas da esquerda.
De Roberto Carlos e Erasmo nem se fale. Foram execrados pela esquerda até há pouco.
Hoje, no momento em que eles (e alguns outros) se unem para impedir a liberação da publicação de biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes, a esquerda os defende com unhas e dentes.
Escrevi dias atrás sobre isso aqui. E reproduzi o texto no Facebook.
Meu amigo Reinaldo Lobo, homem orgulhosamente de esquerda, advertiu-me: "cuidado com o assassinato de caráter".
Reinaldo: preocupa-me bem mais o caráter dos assassinos.
E, infelizmente, isso não é figura de retórica. A menos que alguém me explique a coincidência da morte em série de sete testemunhas do assassinato de Celso Daniel.
Aliás, sobre isso, eu gostaria de contar alguns detalhes escabrosos dos quais tenho conhecimento mas não posso pois não possuo provas cabais.
Mas volto ao tema.
Hoje, em O Globo, Caetano Veloso escreve a respeito da polêmica das biografias não autorizadas e nomeadamente da repercussão que o movimento desses artistas suscitou na imprensa em geral.
O texto todo me parece meio aparvalhado. Mas não faltarão baluartes da esquerda para explicá-lo aos pobres de espírito tais como eu.
O que me parece mais significativo, é que a esquerda defenda essa turma e sua tese contrária a biografias não autorizadas no momento em que toda a esquerda - e mesmo o governo federal - se empenha em obter instrumentos legais de controle da imprensa. Imprensa que eles acusam de fortemente contra os altos interesses populares.
Fico a imaginar, eu que recebo o Boletim Carta Maior todo santo dia, como seria a imprensa democrática com que a esquerda tanto diz sonhar, quando toda ela fosse como o Carta Maior. E Emir Sader fosse, digamos, o Ministro da Informação.
Aí sim, viveríamos a tão almejada Democracia.
E não se iludam os Caetanos e Chicos. Eles seriam dos primeiros a serem cuspidos ao ostracismo.
Na melhor das hipóteses.
Eu disse "seriam"?
Talvez tenha errado no tempo verbal.
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