Esse provérbio tem sido exaltado ao longo dos séculos.
Merece tanto enaltecimento?
Começo por pensar no filho de um Fernandinho Beira-Mar, por exemplo. Será mesmo bom que ele siga os ensinamentos do pai?
Alguém certamente dirá: Assim não vale! Que exemplo esdrúxulo!
É evidente que o autor desse provérbio não tinha algo assim em mente.
Mas vamos pegar mais leve.
Vários de meus conhecidos foram formados - pelos próprios pais, por professores, por amigos mais velhos - na ortodoxia marxista. Alguns deles não se desviaram desse caminho mesmo na velhice.
E continuam a vomitar stalinismo, ainda que em versão edulcorada.
A questão, a meu ver, é: é salutar que alguém fique fiel toda a vida àquilo que aprendeu na infância?
É evidente que não há resposta unívoca para tal pergunta.
Mas eu apostaria todas as minhas fichas em que está mais perto de ter acertado quem rompeu com os ensinamentos primevos. Romper exige reflexão. Manter o rumo talvez seja também fruto de reflexão, mas ninguém pode garantir.
Na maior parte dos casos não é.
O mundo está repleto de gentes que são católicas porque os pais eram, que são evangélicos porque os pais eram, que são socialistas porque os pais eram, que são budistas porque os pais eram, que são ateus porque os pais eram. A lista é quase inesgotável.
Quanto a mim, produziria provérbio mais ou menos assim:
Ensina o que quiseres à criança.
Se ela tiver inteligência e personalidade,
fará seus próprios juízos e tomará seu próprio rumo.
Essa conversa vem a propósito do que vim a saber hoje:
Tenho uma neta que, do alto de seus treze anos, informou aos pais que é ateia, que não fará crisma e que abandonou a escola religiosa.
Talvez não fosse necessário acrescentar que se trata de estudante modelo.
A segunda geração de minha descendência está a sair-se melhor que a encomenda.
Um brinde a minha neta!
2 comentários:
vc esqueceu dos "do contra" como esta que vos escreve: sou corintiana porque meu pai era são-paulino; sou atéia porque meus pais eram católicos; me considero liberal porque meus pais eram conservadores, e por aí vai. Por ironia do destino, meu filho odeia futebol e minha filha dá um braço por uma picanha, apesar de filha de vegetariana...O mundo é assim: dá voltas. Importante é rolar com ele. Assim não cria limo. Conhece esse provérbio? "pedra que rola não cria limo" ;)
Mas tudo isso, Maray, só acontece com pessoas especiais, como você e - pelo que você conta - seus filhos.
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