quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Meu grito de guerra
Seria melhor dizer: meu pensamento de vitória.
Quando era menino, passava todas as noites de Domingo na igreja, no culto.
Meu pai, que era o pastor, era muito rigoroso com os horários (aliás, não só com os horários. Com tudo).
Graças a ele, os cultos sempre terminavam às 21 horas. E eu achava isso ótimo.
Mas uma vez por mês, servia-se a Ceia, no final do culto. Isso sempre prolongava um bocadinho a cerimônia.
Distribuía-se o pão, depois o suco de uva.
Parêntesis: até hoje não consigo aceitar essa recusa de servir vinho na Ceia. Pois se Jesus chega a dizer, na celebração da Páscoa com seus discípulos, ao beber o vinho, que só voltaria a beber do fruto da vide quando estivesse no Reino de Deus. Tradução: há vinho no céu. Aliás, em minha nada modesta opinião, sem vinho esse lugar seria tudo menos céu.
Mas enfim, na igreja baptista de Santos servia-se suco de uva no lugar de vinho. Penso que isso beira a blasfêmia. Fecha parêntesis.
Ao final desse ritual, meu pai recitava Marcos 14:26:
E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E o coral iniciava um cântico maravilhoso, com destaque da inesquecível voz de Daniel Bispo.
Pronto! Eu estava liberado!
Durante toda minha vida, até hoje, sempre que me saio bem de alguma empreitada, digo em meu interior:
- E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E me invade uma deliciosa sensação de paz.
Quando era menino, passava todas as noites de Domingo na igreja, no culto.
Meu pai, que era o pastor, era muito rigoroso com os horários (aliás, não só com os horários. Com tudo).
Graças a ele, os cultos sempre terminavam às 21 horas. E eu achava isso ótimo.
Mas uma vez por mês, servia-se a Ceia, no final do culto. Isso sempre prolongava um bocadinho a cerimônia.
Distribuía-se o pão, depois o suco de uva.
Parêntesis: até hoje não consigo aceitar essa recusa de servir vinho na Ceia. Pois se Jesus chega a dizer, na celebração da Páscoa com seus discípulos, ao beber o vinho, que só voltaria a beber do fruto da vide quando estivesse no Reino de Deus. Tradução: há vinho no céu. Aliás, em minha nada modesta opinião, sem vinho esse lugar seria tudo menos céu.
Mas enfim, na igreja baptista de Santos servia-se suco de uva no lugar de vinho. Penso que isso beira a blasfêmia. Fecha parêntesis.
Ao final desse ritual, meu pai recitava Marcos 14:26:
E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E o coral iniciava um cântico maravilhoso, com destaque da inesquecível voz de Daniel Bispo.
Pronto! Eu estava liberado!
Durante toda minha vida, até hoje, sempre que me saio bem de alguma empreitada, digo em meu interior:
- E tendo cantado o hino, partiram para o Monte das Oliveiras.
E me invade uma deliciosa sensação de paz.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Um equívoco bíblico
Este post tem o objetivo de mostrar, com um exemplo apenas, que não é tão simples compreender a Bíblia.
Os evangelhos, particularmente o de Mateus, procuram ligar a figura de Jesus às profecias do Velho Testamento. Isso acaba por gerar imensas confusões. Sobre essas confusões existe abundante bibliografia. Mas vamos ficar em um pequeno detalhe.
Para que se compreenda o que vem a seguir, é preciso primeiro lembrar que o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. O Novo Testamento em Grego. Mas, mesmo antes de Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido para o Grego: é o que se chama a Septuaginta, ou - mais no popular - a Setenta.
Os autores dos evangelhos considerados canônicos utilizaram-se do Antigo Testamento por meio da Setenta. Portanto em Grego.
Em Isaías 40:3, na versão em Português da tradução Almeida corrigida e revisada fiel, lê-se o que consta na Setenta:
Os evangelhos, particularmente o de Mateus, procuram ligar a figura de Jesus às profecias do Velho Testamento. Isso acaba por gerar imensas confusões. Sobre essas confusões existe abundante bibliografia. Mas vamos ficar em um pequeno detalhe.
Para que se compreenda o que vem a seguir, é preciso primeiro lembrar que o Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. O Novo Testamento em Grego. Mas, mesmo antes de Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido para o Grego: é o que se chama a Septuaginta, ou - mais no popular - a Setenta.
Os autores dos evangelhos considerados canônicos utilizaram-se do Antigo Testamento por meio da Setenta. Portanto em Grego.
Em Isaías 40:3, na versão em Português da tradução Almeida corrigida e revisada fiel, lê-se o que consta na Setenta:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.
Pois foi o que leram os evangelistas.
Daí que Lucas escreve:
Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas. (Lucas 3:4)
E João (a falar de João Baptista):
Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. (João 1:23)
Pois bem: o texto hebraico, original, diz outra coisa. O que aliás, já é reconhecido em várias outras traduções para o Português
A tradução Almeida Revisada:
Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.
A tradução da Nova Versão Internacional:
A tradução da Nova Versão Internacional:
Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus".
A versão da Sociedade Bíblica Britânica:
Eis a voz do que clama: Preparai no deserto o caminho de Jeová, endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus.
A tradução da Versão Católica:
Uma voz exclama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus.
Mas todas essas traduções mantiveram, no Novo Testamento, o texto adotado pelos evangelistas, ou seja, o texto errado.
Enfim, o texto de Isaías menciona uma voz que clama. Clama o quê? Clama a pedir que, no deserto, se prepare o caminho etc etc...
Os evangelistas, por conhecerem o texto de Isaías pela Setenta, colocaram a voz que clama no deserto.
A passar sede.
Se procurarmos na Internet, há inúmeras páginas que se utilizam desse bordão: Voz que Clama no Deserto.
Por ironia (a ironia adora essas coisas), há uma página no Facebook chamada exatamente de Voz que Clama no Deserto (aliás, há muitas), que ostenta na sua imagem do alto da página o seguinte dizer de Lutero:
A menos que me convençam, pelas Escrituras ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras.
Resta saber, a que Escrituras se referia o reformador.
Nota 1: É curioso que, por ser a Bíblia inspirada por Deus, este não tenha dado a dica aos evangelistas de que o texto grego estava errado.
Nota 2: Quem me chamou a atenção para esse equívoco foi a professora Rosangela Barreto Gonçalves, que me atura - junto com outros alunos - toda semana nas aulas de Hebraico.
Deixa que coloque aqui esse agradecimento, mas com a ressalva de que a prof. Rosangela certamente não compartilha de minhas ideias sobre a Bíblia.
Nota 1: É curioso que, por ser a Bíblia inspirada por Deus, este não tenha dado a dica aos evangelistas de que o texto grego estava errado.
Nota 2: Quem me chamou a atenção para esse equívoco foi a professora Rosangela Barreto Gonçalves, que me atura - junto com outros alunos - toda semana nas aulas de Hebraico.
Deixa que coloque aqui esse agradecimento, mas com a ressalva de que a prof. Rosangela certamente não compartilha de minhas ideias sobre a Bíblia.
domingo, 27 de outubro de 2013
Quando a noite cai
Pois. Quando a noite cai, ninguém estende a mão para ajudá-la a levantar-se.
O que talvez fosse uma mão na roda. Desde que a roda estivesse parada. Caso contrário, poderia magoar a mão.
Mas será possível mágoa em mão, se volta e meia alguém diz que traz mágoa no coração?
E por que frequentemente costuma substituir-se por volta e meia?
Por que não duas ou três voltas? Ou, sei lá, uma infinidade de voltas.
Será porque infinidade também costuma ser trocada por um sem número?
Um sem número de qualquer coisa é quantas coisas?
Nenhuma? Mas aí seriam zero coisas.
Muitas? Muitíssimas? Mas sempre haverá um número numerosíssimo para quantificar o sem número de coisas.
Alguém dirá: pra que levantar essa questão?
Não levantei nada. Afinal, quando se resolve um problema ninguém diz que abaixou o problema.
O que talvez fosse uma mão na roda. Desde que a roda estivesse parada. Caso contrário, poderia magoar a mão.
Mas será possível mágoa em mão, se volta e meia alguém diz que traz mágoa no coração?
E por que frequentemente costuma substituir-se por volta e meia?
Por que não duas ou três voltas? Ou, sei lá, uma infinidade de voltas.
Será porque infinidade também costuma ser trocada por um sem número?
Um sem número de qualquer coisa é quantas coisas?
Nenhuma? Mas aí seriam zero coisas.
Muitas? Muitíssimas? Mas sempre haverá um número numerosíssimo para quantificar o sem número de coisas.
Alguém dirá: pra que levantar essa questão?
Não levantei nada. Afinal, quando se resolve um problema ninguém diz que abaixou o problema.
sábado, 26 de outubro de 2013
Como se deve lavar louça?
Porque hoje é sábado (como disse Vinicius), resolvi tratar de assuntos sérios.
O que primeiro me ocorreu foi o modo de se lavar a louça.
Antes de entrar em tão transcendental tema, observo que se eu usasse loiça no lugar de louça, seria considerado pedante ou antiquado.
Mas se usar cousa em lugar de coisa, também.
Aliás, sou tão antigo que - vejam só - já tive professores que falavam cousa.
Claro, havia outros que não falavam coisa com coisa.
Mas voltemos ao tema.
Desde quando conheci a vida na aldeia de Passos, chamou minha atenção a maneira como se lavam lá as louças.
Coloca~se a louça em uma grande vasilha ou na própria pia com o ralo fechado. Enche-se a dita cuja com água e detergente. Mergulha-se nessa sopa toda a louça a ser lavada. Uma vez a louça esfregada com um pano, enxágua-se e pronto. Nada de água corrente. Tudo é feito com água depositada em vasilhas.
Estava eu acostumado a lavar louça com água corrente.
Agora fiquei a saber que na Austrália (ao menos na casa de nossa filha aussie) passa-se água com detergente na louça e seca~se. Pronto. Diz-se que o detergente evapora.
Aliás, essa questão do detergente, na atualidade, envolve questões até de consciência.
Tenho uma amiga que simplesmente não utiliza detergente para lavar a louça. Para preservar o Planeta.
Já minha filha caçula lava as frutas que vai comer (maçãs, peras, laranjas, o que for) com detergente.
Muito difícil, esse mundo moderno.
O que primeiro me ocorreu foi o modo de se lavar a louça.
Antes de entrar em tão transcendental tema, observo que se eu usasse loiça no lugar de louça, seria considerado pedante ou antiquado.
Mas se usar cousa em lugar de coisa, também.
Aliás, sou tão antigo que - vejam só - já tive professores que falavam cousa.
Claro, havia outros que não falavam coisa com coisa.
Mas voltemos ao tema.
Desde quando conheci a vida na aldeia de Passos, chamou minha atenção a maneira como se lavam lá as louças.
Coloca~se a louça em uma grande vasilha ou na própria pia com o ralo fechado. Enche-se a dita cuja com água e detergente. Mergulha-se nessa sopa toda a louça a ser lavada. Uma vez a louça esfregada com um pano, enxágua-se e pronto. Nada de água corrente. Tudo é feito com água depositada em vasilhas.
Estava eu acostumado a lavar louça com água corrente.
Agora fiquei a saber que na Austrália (ao menos na casa de nossa filha aussie) passa-se água com detergente na louça e seca~se. Pronto. Diz-se que o detergente evapora.
Aliás, essa questão do detergente, na atualidade, envolve questões até de consciência.
Tenho uma amiga que simplesmente não utiliza detergente para lavar a louça. Para preservar o Planeta.
Já minha filha caçula lava as frutas que vai comer (maçãs, peras, laranjas, o que for) com detergente.
Muito difícil, esse mundo moderno.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Ainda a família
Escrevi anteontem a respeito de como os evangelhos falam de um Jesus que relegou sua família a papel secundário.
Meu primo Wanderley Franco fez um comentário ao post a mostrar o que ele chama de visão espírita desse assunto (é recomendável ler o comentário dele antes de prosseguir).
Quero falar a respeito desse comentário porque entendo que ele confirma o que eu falei.
Vamos dar uma espiada na análise do texto conforme a visão espírita:
Certas palavras na boca de Jesus parecem esquisitas por contrastarem com sua bondade, mansidão e inalterável benevolência por todos.
Pois é, primo. As discordâncias começam aí. Não as minhas com as suas (ou as da visão espírita). Mas as dessa visão e a Bíblia.
Já volto ao ponto. Antes é preciso dizer que tudo aquilo que nessa visão espírita é dado como incontestável, é certo que etc etc, não é nada rigoroso como a tal visão gostaria.
Para começar: Jesus pode ter existido. Mas isso não é assim factual, como a grande maioria pensa.
Eu até acho que existe uma boa probabilidade de ele ter existido mesmo. Mas as informações a respeito são muito poucas e bastante discutíveis. Os evangelhos que acabaram por ser estabelecidos como canônicos foram escritos várias décadas após a morte dele, por indivíduos que não o conheceram pessoalmente.
Então, vamos devagar com essas afirmações taxativas.
Volto ao ponto. Por que eu digo que essa visão que você apresenta discorda da Bíblia?
Um exemplo: apesar de os quatro evangelhos divergirem entre eles em vários pontos importantes (nascimento de Jesus, morte de Jesus, ressureição de Jesus etc etc), há um episódio em que os quatro evangelhos contam a mesma história: a expulsão dos vendilhões do templo, em Jerusalém.
Você deve recordar do acontecido. Jesus, ali, mostrou mansidão e inalterável benevolência por todos? Evidentemente não.
Mas, claro, essa visão espírita deve preocupar-se bem mais com as ideias de Hippolyte Léon Denizard Rivail e de outros espíritos evoluídos do que com a Bíblia.
Tudo até agora é preâmbulo.
O que mais me agrada em seu texto, ou se você preferir, nessa visão espírita, é que ela só confirma o que falei no post A família cristã.
Não é o pai que cria o espírito do filho, mas apenas lhe fornece o envoltório corporal (...).
Assim há duas ordens de família. As de laço espiritual e as de corporal (…).
[a de laço espiritual]é durável e se fortifica pela depuração, perpetuando-se no mundo espiritual através de diversas migrações da alma.
(...)a outra, frágil como a matéria, se extingue com o tempo e às vezes se dissolve moralmente desde a vida atual.
Enfim, mais uma teoria – a da tal visão espírita – a dizer que há uma tal família espiritual superior à família material, escrava do tempo e sujeita até a se dissolver moralmente desde a vida atual.
O que você, com os óculos de suas crenças, parece não perceber, é que todo esse maravilhoso mecanismo de migrações da alma é teoria. No entanto, você acha certo colocar essa teoria acima das frágeis e perecíveis realidades materiais.
Quanto a mim, tive três filhos que são o que de mais importante existe para mim, ao lado de meus ancestrais e de minhas irmãs. Enfim, para mim existe a família.
Mas as religiões e outras teorias insistem em inventar entidades superiores para adocicar a angústia de seus adeptos.
Foi isso que pretendi dizer naquele post e que sua visão espírita talvez tenha me ajudado a deixar mais claro.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Vou-me embora pra Bragança
A Doga, hoje, ficou triste.
Para ser exacto, não sei se foi triste ou se foi apreensiva que ela ficou.
A avó foi embora. Ela não sabe que é por um mês.
Mas ausência, pra ela, é por umas horas ou por um mês, igual.
Triste, será por perder a protectora.
Apreensiva, por ver-se só com o pretenso educador.
De um modo ou de outro, pus-lhe na sala a tigela de comida e vim para o escritório. Ela rodeou-me por um tempo. Depois foi lá e comeu tudo. Normalmente só come acompanhada. Ah! E engoliu o remédio misturado à ração. Coisa que ela separa sempre com zelo religioso. E me obriga ao penoso exercício de enfiá-lo goela abaixo.
De qualquer forma, amanhã cedo volto a Bragança.
O tempo, cá em Matosinhos, está muito chuvoso e com vento forte. Praia, desse jeito, é como revista de mulher nua. Não serve para (quase) nada. Da janela, olho o mar revolto. Para os surfistas, é o que há de melhor. Ficam com a praia só pra eles. E com o mar do jeito que gostam: agitado.
São os onanistas do mar.
Em Bragança vou relaxar, depois destes últimos dias agitados de preparo para viagem.
Lá, chova ou faça sol, as montanhas ficam sempre estáticas e maravilhosas.
Como convém às montanhas.
A avó foi embora. Ela não sabe que é por um mês.
Mas ausência, pra ela, é por umas horas ou por um mês, igual.
Triste, será por perder a protectora.
Apreensiva, por ver-se só com o pretenso educador.
De um modo ou de outro, pus-lhe na sala a tigela de comida e vim para o escritório. Ela rodeou-me por um tempo. Depois foi lá e comeu tudo. Normalmente só come acompanhada. Ah! E engoliu o remédio misturado à ração. Coisa que ela separa sempre com zelo religioso. E me obriga ao penoso exercício de enfiá-lo goela abaixo.
De qualquer forma, amanhã cedo volto a Bragança.
O tempo, cá em Matosinhos, está muito chuvoso e com vento forte. Praia, desse jeito, é como revista de mulher nua. Não serve para (quase) nada. Da janela, olho o mar revolto. Para os surfistas, é o que há de melhor. Ficam com a praia só pra eles. E com o mar do jeito que gostam: agitado.
São os onanistas do mar.
Em Bragança vou relaxar, depois destes últimos dias agitados de preparo para viagem.
Lá, chova ou faça sol, as montanhas ficam sempre estáticas e maravilhosas.
Como convém às montanhas.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
A família cristã
Fui criado em família baptista.
Meu pai era pastor.
Minha mãe, apesar de exercer a profissão de professora de Matemática no ensino secundário, teve sempre a religião como seu único Norte.
Os ensinamentos de Jesus eram, para eles, o que podia haver de mais sagrado.
Detenho-me, então, em um desses ensinamentos:
(clique no texto para ampliá-lo)
E, de facto, observei durante esses últimos longos anos, que muitos parentes meus seguiram esse preceito do Cristo e me evitaram o mais que puderam.
Tenho um primo pastor baptista que encontrou-me um dia na recepção de um laboratório de análises e ficou tão aflito para sair dali que terminou por esquecer sobre a mesa da recepcionista sua carteira, com documentos e cartões de crédito e dinheiro etc etc. Claro que, minutos depois, retornou em busca da dita cuja. Afinal, os pastores desses nossos tempos modernos não desperdiçam nem mesmo tostões.
É preciso, ao menos, reconhecer que têm eles certa coerência com os ensinamentos do Mestre.
Pois eu não concordo com isso.
Para mim, a família tem um peso incomparável com as demais relações. Tanto que tenho um amigo que me é tão caro que nos promovemos, ele e eu, a hermanos.
A figura de Jesus, que me parece ter uma boa probabilidade de ter existido, é tida como de um indivíduo que disse coisas maravilhosas e verdadeiras.
Pois discordo dessa afirmação relativa à hierarquia das relações entre pessoas.
Perdi contacto com boa parte dos parentes de meu lado materno, em grande parte graças a esse ensinamento do Cristo.
Quanto ao lado paterno de minha família, vim desfrutá-lo cá em Portugal. Diga-se logo que são todos católicos, como quase todo português.
Mas acrescente-se que, em Portugal, tudo que diz respeito ao catolicismo explode em festas.
E haja santo para tanta comemoração!
Volto a meus pais.
Não tenho como avaliar o valor que meu pai atribuía a esse ensinamento de Jesus. Ele se foi tão cedo que poucas conversas adultas tivemos oportunidade de manter.
Quanto a minha mãe, sou-lhe e serei sempre grato por não ter levado muito a sério esse preceito do Cristo. Poucas pessoas conheci na vida que tenham valorizado tanto a família quanto ela.
Quando ia ao Rio de Janeiro visitar os irmãos, inevitavelmente caía de cama ao retornar a São Paulo. Os irmãos - que a consideravam como mãe - despejavam nela suas angústias. Ela as absorvia todas. Como se dela fossem. Na época, apelidei essa enfermidade de souzafranquite. Pois tratava-se da família Souza Franco. Na verdade, se incluir aí meu tio Vadinho, tratava-se de franquite pura e simples.
Algumas vezes, Celyna foi mal entendida por parte da família. Sempre por colocar os irmãos acima de tudo. Quando estive preso, ela dedicou-se a mim como nunca. Até cigarros me levava no Presídio (naquela época eu fumava). E fumar, para ela, era pecado.
Mas um filho valia muito mais que um pecado.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)
António Manuel Pires Cabral, nascido em 1941 aqui pertinho de Bragança, em Chacim, freguesia de Macedo de Cavaleiros, é escritor e poeta.
Aí vai um de seus poemas:
Aí vai um de seus poemas:
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Os erros dos luteranos (e outros) segundo a Inquisição
O que vai a seguir é parte do Capítulo V (A Inquisição) do Livro Sexto da História de Portugal, de Fortunato de Almeida (vide Segundo Volume, página 63, Bertrand Editora, Chiado 2004):
O de que mais gostei foi a condenação da ideia de que não há mais que nascer e morrer.
Quanto a mim, adepto desse erro, acrescentaria apenas que, com um bocadinho de imaginação, o intervalo entre esses dois eventos pode ser maravilhoso.
domingo, 20 de outubro de 2013
Ainda sobre as biografias não autorizadas
A esquerda brasileira (e outras, mas penso, aqui, nomeadamente na brasileira) é engraçada (quando não trágica). Enquanto Chico Buarque era um compositor de canções como A Banda, Rita, Carolina etc etc, e lançou três álbuns recheados de músicas de amor, com quase um único contraponto (Pedro Pedreiro). em uma época em que a esquerda glorificava os Geraldos Vandrés e suas canções arrebatadas, a respingar revoluções, a esquerda o tratou como um delinquente. O facto de ele ter sido preso por furto de automóvel era apenas um detalhe do que dele se propagava na década de 60 no ambiente quase revolucionário da rua Maria Antonia, em São Paulo.
E, de facto, Pedro Pedreiro e outras tentativas de Chico de cair nas graças da esquerda mostram uma visão quase infantil dos problemas sociais.
A meu ver, ele só encontrou a medida certa no álbum Construção, particularmente na canção com esse nome.
A partir mais ou menos daí, virou herói da esquerda.
Qualquer coisa parecida e paralela ocorreu com Caetano e Gil. A Tropicália era mal vista pela esquerda. Seus arautos, depois de um exílio, também foram alçados à condição de musas da esquerda.
De Roberto Carlos e Erasmo nem se fale. Foram execrados pela esquerda até há pouco.
Hoje, no momento em que eles (e alguns outros) se unem para impedir a liberação da publicação de biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes, a esquerda os defende com unhas e dentes.
Escrevi dias atrás sobre isso aqui. E reproduzi o texto no Facebook.
Meu amigo Reinaldo Lobo, homem orgulhosamente de esquerda, advertiu-me: "cuidado com o assassinato de caráter".
Reinaldo: preocupa-me bem mais o caráter dos assassinos.
E, infelizmente, isso não é figura de retórica. A menos que alguém me explique a coincidência da morte em série de sete testemunhas do assassinato de Celso Daniel.
Aliás, sobre isso, eu gostaria de contar alguns detalhes escabrosos dos quais tenho conhecimento mas não posso pois não possuo provas cabais.
Mas volto ao tema.
Hoje, em O Globo, Caetano Veloso escreve a respeito da polêmica das biografias não autorizadas e nomeadamente da repercussão que o movimento desses artistas suscitou na imprensa em geral.
O texto todo me parece meio aparvalhado. Mas não faltarão baluartes da esquerda para explicá-lo aos pobres de espírito tais como eu.
O que me parece mais significativo, é que a esquerda defenda essa turma e sua tese contrária a biografias não autorizadas no momento em que toda a esquerda - e mesmo o governo federal - se empenha em obter instrumentos legais de controle da imprensa. Imprensa que eles acusam de fortemente contra os altos interesses populares.
Fico a imaginar, eu que recebo o Boletim Carta Maior todo santo dia, como seria a imprensa democrática com que a esquerda tanto diz sonhar, quando toda ela fosse como o Carta Maior. E Emir Sader fosse, digamos, o Ministro da Informação.
Aí sim, viveríamos a tão almejada Democracia.
E não se iludam os Caetanos e Chicos. Eles seriam dos primeiros a serem cuspidos ao ostracismo.
Na melhor das hipóteses.
Eu disse "seriam"?
Talvez tenha errado no tempo verbal.
E, de facto, Pedro Pedreiro e outras tentativas de Chico de cair nas graças da esquerda mostram uma visão quase infantil dos problemas sociais.
A meu ver, ele só encontrou a medida certa no álbum Construção, particularmente na canção com esse nome.
A partir mais ou menos daí, virou herói da esquerda.
Qualquer coisa parecida e paralela ocorreu com Caetano e Gil. A Tropicália era mal vista pela esquerda. Seus arautos, depois de um exílio, também foram alçados à condição de musas da esquerda.
De Roberto Carlos e Erasmo nem se fale. Foram execrados pela esquerda até há pouco.
Hoje, no momento em que eles (e alguns outros) se unem para impedir a liberação da publicação de biografias não autorizadas pelo biografado ou seus descendentes, a esquerda os defende com unhas e dentes.
Escrevi dias atrás sobre isso aqui. E reproduzi o texto no Facebook.
Meu amigo Reinaldo Lobo, homem orgulhosamente de esquerda, advertiu-me: "cuidado com o assassinato de caráter".
Reinaldo: preocupa-me bem mais o caráter dos assassinos.
E, infelizmente, isso não é figura de retórica. A menos que alguém me explique a coincidência da morte em série de sete testemunhas do assassinato de Celso Daniel.
Aliás, sobre isso, eu gostaria de contar alguns detalhes escabrosos dos quais tenho conhecimento mas não posso pois não possuo provas cabais.
Mas volto ao tema.
Hoje, em O Globo, Caetano Veloso escreve a respeito da polêmica das biografias não autorizadas e nomeadamente da repercussão que o movimento desses artistas suscitou na imprensa em geral.
O texto todo me parece meio aparvalhado. Mas não faltarão baluartes da esquerda para explicá-lo aos pobres de espírito tais como eu.
O que me parece mais significativo, é que a esquerda defenda essa turma e sua tese contrária a biografias não autorizadas no momento em que toda a esquerda - e mesmo o governo federal - se empenha em obter instrumentos legais de controle da imprensa. Imprensa que eles acusam de fortemente contra os altos interesses populares.
Fico a imaginar, eu que recebo o Boletim Carta Maior todo santo dia, como seria a imprensa democrática com que a esquerda tanto diz sonhar, quando toda ela fosse como o Carta Maior. E Emir Sader fosse, digamos, o Ministro da Informação.
Aí sim, viveríamos a tão almejada Democracia.
E não se iludam os Caetanos e Chicos. Eles seriam dos primeiros a serem cuspidos ao ostracismo.
Na melhor das hipóteses.
Eu disse "seriam"?
Talvez tenha errado no tempo verbal.
sábado, 19 de outubro de 2013
Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)
Ernesto Manuel de Melo e Castro (Covilhã, 1932) é um experimentalista português. Aí vão três poemas de sua fase concretista (Ideogramas, 1962):
Observação: as cópias são sofríveis. Mas são as que consigo fazer...
Observação: as cópias são sofríveis. Mas são as que consigo fazer...
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Biografias não autorizadas
Essa questão das biografias não autorizadas, no Brasil, já vem de longe (Ruy Castro que o diga). Mas agora, os latifundiários da MPB, Chico, Caetano, Gil, Djavan, além do inefável místico Roberto Carlos e o talentoso Erasmo, resolveram brigar por mais alguns tostões, fora a lei Rouanet, fora tudo mais.
O maniqueísmo que existe em mim gostaria que todos eles tivessem comprado suas músicas de algum pobre coitado do morro, como era comum na época de Chico Alves.
Mas não. Tenho de aceitar que um mau caráter seja capaz de produzir belíssimas canções populares. Sim, a obra desprende-se do autor. Por menos que eu queira engolir essa ideia.
Nessa matéria que aí vai, Chico Buarque já inicia o processo de tirar o dele da reta. Percebeu que apostou no cavalo errado.
Ele, autor de canções maravilhosas, ele o garotão do Mackenzie, que furtava carros junto com os amigos para divertir-se. Que quando percebeu que A Banda tinha lhe rendido a fama de alienado passou a fazer Pedro Pedreiro e a assinar qualquer coisa que Antonio Candido assinasse antes.
Quanto aos baianos, contraponho-lhes uma proposta: continua a ser proibido publicar biografias não autorizadas, desde que seja proibido usar a Bahia como gancho pra ganhar dinheiro, usando os decantados encantos dela para gozar a vida em qualquer lugar que não seja lá. Topam?
O maniqueísmo que existe em mim gostaria que todos eles tivessem comprado suas músicas de algum pobre coitado do morro, como era comum na época de Chico Alves.
Mas não. Tenho de aceitar que um mau caráter seja capaz de produzir belíssimas canções populares. Sim, a obra desprende-se do autor. Por menos que eu queira engolir essa ideia.
Nessa matéria que aí vai, Chico Buarque já inicia o processo de tirar o dele da reta. Percebeu que apostou no cavalo errado.
Ele, autor de canções maravilhosas, ele o garotão do Mackenzie, que furtava carros junto com os amigos para divertir-se. Que quando percebeu que A Banda tinha lhe rendido a fama de alienado passou a fazer Pedro Pedreiro e a assinar qualquer coisa que Antonio Candido assinasse antes.
Quanto aos baianos, contraponho-lhes uma proposta: continua a ser proibido publicar biografias não autorizadas, desde que seja proibido usar a Bahia como gancho pra ganhar dinheiro, usando os decantados encantos dela para gozar a vida em qualquer lugar que não seja lá. Topam?
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Dificuldades de um estrangeiro
Sou português. Moro em Bragança. Mas o sotaque não engana ninguém.
Abro a boca e logo me perguntam quando retorno ao Brasil.
Quem mandou nascer lá e lá viver mais de sessenta anos?
E tem mais: desde que resolvi ter um pé no Porto, a confusão aumentou.
Quando explico que não vou voltar ao Brasil. Que moro em Bragança, escuto logo:
- Ah! Mora em Braga!?
Parece que os tripeiros pensam que ninguém vive em Bragança.
Também, quase todas as fotos do Castelo de Bragança não mostram um ser vivo.
Se alguém vive em algum lugar cujo nome comece por Bra, só pode ser Brasil ou Braga.
Bragança é, em Portugal, como o Acre no Brasil: as gentes se admiram ao constatar que alguém vive lá.
Coitados, não sabem o que é bom.
Abro a boca e logo me perguntam quando retorno ao Brasil.
Quem mandou nascer lá e lá viver mais de sessenta anos?
E tem mais: desde que resolvi ter um pé no Porto, a confusão aumentou.
Quando explico que não vou voltar ao Brasil. Que moro em Bragança, escuto logo:
- Ah! Mora em Braga!?
Parece que os tripeiros pensam que ninguém vive em Bragança.
Também, quase todas as fotos do Castelo de Bragança não mostram um ser vivo.
Se alguém vive em algum lugar cujo nome comece por Bra, só pode ser Brasil ou Braga.
Bragança é, em Portugal, como o Acre no Brasil: as gentes se admiram ao constatar que alguém vive lá.
Coitados, não sabem o que é bom.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
A solidariedade e o mundo virtual
Como é bonito ler, nas páginas da Internet (nomeadamente no Facebook e em blogues), as manifestações calorosas de solidariedade entre os humanos e destes em relação aos animais. Até mesmo em relação às árvores, florestas e todo o Reino Vegetal.
Não escapam nem mesmo as pedras.
No mundo virtual reina a solidariedade.
Faz pouco mais de cinco anos que uma tia minha, solteira, sem filhos, poucas amizades e de hábitos solitários, começou a mostrar sinais de demência.
Meu primo e eu resolvemos cuidar dela. E para isso solicitamos a ajuda de vários familiares. Uma dezena deles prontificou-se a colaborar financeiramente. Isso proporcionou a ela um fim de vida com o maior conforto e cuidado possíveis.
No final de Março deste ano ela se foi.
Serei sempre grato aos que nos ajudaram a minorar o sofrimento dos últimos anos de vida dela.
Mas fico pasmo com o descaso de muitos outros.
Já não falo de contribuição financeira. Quanto a isso, sei que muitas vezes é mesmo difícil abrir mão de recursos já escassos para ajudar a terceiros.
Mas penso naqueles que, mesmo morando na mesma cidade dela - São Paulo, assim como não tiveram um único tostão disponível, não se abalaram a ir até a clínica em que ela estava, apenas para dar a ela o conforto de sua companhia durante alguns poucos minutos.
Reservaram toda sua solidariedade para despejá-la nos comentários do Facebook.
Não escapam nem mesmo as pedras.
No mundo virtual reina a solidariedade.
Faz pouco mais de cinco anos que uma tia minha, solteira, sem filhos, poucas amizades e de hábitos solitários, começou a mostrar sinais de demência.
Meu primo e eu resolvemos cuidar dela. E para isso solicitamos a ajuda de vários familiares. Uma dezena deles prontificou-se a colaborar financeiramente. Isso proporcionou a ela um fim de vida com o maior conforto e cuidado possíveis.
No final de Março deste ano ela se foi.
Serei sempre grato aos que nos ajudaram a minorar o sofrimento dos últimos anos de vida dela.
Mas fico pasmo com o descaso de muitos outros.
Já não falo de contribuição financeira. Quanto a isso, sei que muitas vezes é mesmo difícil abrir mão de recursos já escassos para ajudar a terceiros.
Mas penso naqueles que, mesmo morando na mesma cidade dela - São Paulo, assim como não tiveram um único tostão disponível, não se abalaram a ir até a clínica em que ela estava, apenas para dar a ela o conforto de sua companhia durante alguns poucos minutos.
Reservaram toda sua solidariedade para despejá-la nos comentários do Facebook.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Oftalmoideologia
Amanhã vou buscar meus novos óculos. Mesmo com a chuva que cai no Porto, vou buscar meus óculos.
Quem sabe, com óculos novos, novinhos, possa eu enxergar o porquê de pessoas inteligentes e cultas reverenciarem o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Brasil (noves fora as que ganham dinheiro com isso. Essas entendo).
O país apresenta o pior desempenho dos chamados emergentes. Não tem programa estratégico. Aliás, não tem programa nem de curto prazo. Não tem infraestrutura. Nem plano para desenvolvê-la. Tem apenas a ambição de seus dirigentes. Voltada, por definição, para seu próprio interesse e nada mais.
O único sector da economia que contribui para que o PIB tenha variação positiva é o agro-negócio. E justamente esse é o sector Geni da economia. Toda gente, do governo e seus acólitos, joga pedras nos pejorativamente chamados ruralistas.
Essa conversa de que o governo tirou não sei quantos milhões de brasileiros da miséria é mais um enxugar de gelo. A renda familiar exigida pelas estatísticas para sair-se da miséria é ridícula.
A capacidade gerencial de Dilma é nula. Ela não sabe delegar e pior: mesmo centralizadora, não sabe decidir com eficácia.
Saiu do nada e ao nada voltará.
Mas, como dizia, vou buscar meus óculos.
Quem sabe, com óculos novos, novinhos, possa eu enxergar o porquê de pessoas inteligentes e cultas reverenciarem o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Brasil (noves fora as que ganham dinheiro com isso. Essas entendo).
O país apresenta o pior desempenho dos chamados emergentes. Não tem programa estratégico. Aliás, não tem programa nem de curto prazo. Não tem infraestrutura. Nem plano para desenvolvê-la. Tem apenas a ambição de seus dirigentes. Voltada, por definição, para seu próprio interesse e nada mais.
O único sector da economia que contribui para que o PIB tenha variação positiva é o agro-negócio. E justamente esse é o sector Geni da economia. Toda gente, do governo e seus acólitos, joga pedras nos pejorativamente chamados ruralistas.
Essa conversa de que o governo tirou não sei quantos milhões de brasileiros da miséria é mais um enxugar de gelo. A renda familiar exigida pelas estatísticas para sair-se da miséria é ridícula.
A capacidade gerencial de Dilma é nula. Ela não sabe delegar e pior: mesmo centralizadora, não sabe decidir com eficácia.
Saiu do nada e ao nada voltará.
Mas, como dizia, vou buscar meus óculos.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Caso Maddie
A polícia britânica prossegue nas investigações que a polícia portuguesa abandonou desde 2008.
Tudo muito interessante. Tomara que se chegue a um final feliz.
Mas uma observação deve ser feita:
Quem tem 41 suspeitos não tem suspeito algum.
domingo, 13 de outubro de 2013
O Jogo
O indivíduo joga no Euromilhões.
Deve acertar cinco números dentre os cinquenta primeiros números inteiros positivos.
E é preciso fazer coincidir as duas "estrelas" que escolheu, entre onze, com as sorteadas, para fazer jus ao primeiro prémio.
Há os que têm sua chave favorita. São dias de aniversário dos filhos, dos pais, coisas assim. Jamais dá certo, mas continuam a acreditar naquela chave.
Há os que jogam a esmo. Instigam o acaso.
Há os que desenvolvem regras do bom jogar. Não repetem números sorteados no sorteio anterior. Ou evitam números consecutivos. Ou jogam só em números pares. Ou apenas em ímpares.
Enfim, há de tudo que a mente humana consegue imaginar.
Difícil é aceitar que qualquer desses métodos leva à mesma probabilidade de vitória.
Que não há nenhuma divindade, ser superior ou o diabo, que favoreça alguma de tais estratégias.
Ninguém se importa.
O ganhador, se houver algum, será pelas artes do Acaso, o único mistério que, se calhar, merece o nome de divindade.
Se calhar.
Deve acertar cinco números dentre os cinquenta primeiros números inteiros positivos.
E é preciso fazer coincidir as duas "estrelas" que escolheu, entre onze, com as sorteadas, para fazer jus ao primeiro prémio.
Há os que têm sua chave favorita. São dias de aniversário dos filhos, dos pais, coisas assim. Jamais dá certo, mas continuam a acreditar naquela chave.
Há os que jogam a esmo. Instigam o acaso.
Há os que desenvolvem regras do bom jogar. Não repetem números sorteados no sorteio anterior. Ou evitam números consecutivos. Ou jogam só em números pares. Ou apenas em ímpares.
Enfim, há de tudo que a mente humana consegue imaginar.
Difícil é aceitar que qualquer desses métodos leva à mesma probabilidade de vitória.
Que não há nenhuma divindade, ser superior ou o diabo, que favoreça alguma de tais estratégias.
Ninguém se importa.
O ganhador, se houver algum, será pelas artes do Acaso, o único mistério que, se calhar, merece o nome de divindade.
Se calhar.
sábado, 12 de outubro de 2013
Dia para não esquecer
Recebemos hoje a visita de dois doutores, acompanhados das mulheres e de um filho.
Um deles é um médico cirurgião que operou a Léa.
O outro é um doutor em Psicologia.
Um deles é ateu. O outro, católico.
Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno de temas tais como Fé, Crença e que tais.
Depois de tanta conversa agradável, fica-se à espera de que o Universo interrompa seu curso para tratar de nossas divergências.
Claro, elas não se dissolverão.
Mas, no auge das discussões, surgiu uma menção a poema de José Régio.
Fui ao escritório buscar a Antologia de Poesia Portuguesa e - como não podia deixar de ser - lá estava o poema, às páginas 1227/1228.
Poema que foi lido em voz alta e emocionada.
Ei-lo:
Dias como esse dão sabor à vida.
Entre outras coisas, lembrei-me do dia em que, em um apartamento do quarto andar do Edifício Canadá, na rua Maria Antonia, em São Paulo, no intenso ano de 1968, meu amigo Henrique, também de pé e solene, leu Tabacaria, de Pessoa.
E chorámos.
Como diz Jorge Ben em uma de suas músicas, agora ninguém chora mais.
Mas talvez as emoções de hoje, mais controladas, sejam mais intensas.
Um deles é um médico cirurgião que operou a Léa.
O outro é um doutor em Psicologia.
Um deles é ateu. O outro, católico.
Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno de temas tais como Fé, Crença e que tais.
Depois de tanta conversa agradável, fica-se à espera de que o Universo interrompa seu curso para tratar de nossas divergências.
Claro, elas não se dissolverão.
Mas, no auge das discussões, surgiu uma menção a poema de José Régio.
Fui ao escritório buscar a Antologia de Poesia Portuguesa e - como não podia deixar de ser - lá estava o poema, às páginas 1227/1228.
Poema que foi lido em voz alta e emocionada.
Ei-lo:
(clique no texto para ampliá-lo)
Dias como esse dão sabor à vida.
Entre outras coisas, lembrei-me do dia em que, em um apartamento do quarto andar do Edifício Canadá, na rua Maria Antonia, em São Paulo, no intenso ano de 1968, meu amigo Henrique, também de pé e solene, leu Tabacaria, de Pessoa.
E chorámos.
Como diz Jorge Ben em uma de suas músicas, agora ninguém chora mais.
Mas talvez as emoções de hoje, mais controladas, sejam mais intensas.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Portugal tropeça no hino de Israel
Eu jamais ouvira o Hino Nacional de Israel.
Antes do início da partida de futebol entre Portugal e Israel, a valer pela classificação para a Copa de 2014 no Brasil, o hino tocou, interpretado por orquestra.
Como é praxe, apenas um pequeno trecho do hino.
O estádio de Alvalade, o maior de Portugal, estava lotado. É óbvio: a imensa maioria era de portugueses.
Ao ouvir as primeiras notas do hino israelense pensei:
- Tomara que tirem logo essa gravação do ar. Mais um pouco dessa música e todos ficarão a favor da seleção de Israel.
Para quem, como eu, nunca o ouviu. E para quem o conhece e o aprecia, aí vai Hatikva:
Portugal não conseguiu vencer. Não sei se graças à beleza do hino ou por causa da inteligência dos jogadores de Israel.
Tanto faz. Ter tido a atenção chamada para o hino, valeu.
Antes do início da partida de futebol entre Portugal e Israel, a valer pela classificação para a Copa de 2014 no Brasil, o hino tocou, interpretado por orquestra.
Como é praxe, apenas um pequeno trecho do hino.
O estádio de Alvalade, o maior de Portugal, estava lotado. É óbvio: a imensa maioria era de portugueses.
Ao ouvir as primeiras notas do hino israelense pensei:
- Tomara que tirem logo essa gravação do ar. Mais um pouco dessa música e todos ficarão a favor da seleção de Israel.
Para quem, como eu, nunca o ouviu. E para quem o conhece e o aprecia, aí vai Hatikva:
Portugal não conseguiu vencer. Não sei se graças à beleza do hino ou por causa da inteligência dos jogadores de Israel.
Tanto faz. Ter tido a atenção chamada para o hino, valeu.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Há 200 anos...
...nascia Giuseppe Verdi.
Que esse registo valha por homenagem ao ramo materno de minha família.
As origens italianas ficaram um bocadinho esquecidas pelos descendentes dos Comenale, entre os quais me incluo.
Ocorre que meu avô, Vicente Martins Franco, era - na verdade, um Comenale. Sua mãe, minha bisavó Philomena, foi da Itália ao Brasil com o marido, naquele navio que ficou famoso por transportar também os Matarazzo (1.881).
Pouco depois de chegados ao Brasil, nasce meu avô.
Logo em seguida, morre o meu bisavô. Minha bisavó se casa, então, com o português Manoel Martins Franco.
Este adota os filhos dela e lhes dá o sobrenome Martins Franco.
Segundo me informa minha irmã, um de meus tios avós obteve, mais tarde, o direito de voltar a usar o sobrenome Comenale. Meu avô, contudo, não se interessou por isso. Permaneceu Martins Franco.
Na infância, eu soube vagamente que algumas Comenale que moravam em São Paulo tentaram contacto com minha mãe. Mas nada disso foi adiante.
Mas queiram ou não, nossos antepassados são italianos.
Que esse registo valha por homenagem ao ramo materno de minha família.
As origens italianas ficaram um bocadinho esquecidas pelos descendentes dos Comenale, entre os quais me incluo.
Ocorre que meu avô, Vicente Martins Franco, era - na verdade, um Comenale. Sua mãe, minha bisavó Philomena, foi da Itália ao Brasil com o marido, naquele navio que ficou famoso por transportar também os Matarazzo (1.881).
Pouco depois de chegados ao Brasil, nasce meu avô.
Logo em seguida, morre o meu bisavô. Minha bisavó se casa, então, com o português Manoel Martins Franco.
Este adota os filhos dela e lhes dá o sobrenome Martins Franco.
Segundo me informa minha irmã, um de meus tios avós obteve, mais tarde, o direito de voltar a usar o sobrenome Comenale. Meu avô, contudo, não se interessou por isso. Permaneceu Martins Franco.
Na infância, eu soube vagamente que algumas Comenale que moravam em São Paulo tentaram contacto com minha mãe. Mas nada disso foi adiante.
Mas queiram ou não, nossos antepassados são italianos.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Vindimas
Hoje foi dia de vindimas para minha prima Zelinda.
E foi a primeira vez na vida em que participei de vindimas de modo ativo.
Primeiro almoça-se, que é preciso transmitir energia aos que irão vindimar.
Depois vai-se às vinhas, aparelhados com baldes, tesouras e sacos plásticos.
Cortam-se os cachos, primeiro reunidos nos baldes, depois concentrados nos enormes sacos plásticos.
Transportam-se os sacos ao lagar. Despejam-se nele os cachos de uva que vão ser pisados para que formem a massa que, fermentada, gerará o milagre do vinho.
Das emoções de hoje não esquecerei jamais.
Obs: Na foto, perceba que o castanheiro ao fundo já está carregado de ouriços. Já, já, será a hora da colheita das castanhas.
E foi a primeira vez na vida em que participei de vindimas de modo ativo.
Primeiro almoça-se, que é preciso transmitir energia aos que irão vindimar.
Depois vai-se às vinhas, aparelhados com baldes, tesouras e sacos plásticos.
Cortam-se os cachos, primeiro reunidos nos baldes, depois concentrados nos enormes sacos plásticos.
(clique na foto para ampliá-la)
Transportam-se os sacos ao lagar. Despejam-se nele os cachos de uva que vão ser pisados para que formem a massa que, fermentada, gerará o milagre do vinho.
Das emoções de hoje não esquecerei jamais.
Obs: Na foto, perceba que o castanheiro ao fundo já está carregado de ouriços. Já, já, será a hora da colheita das castanhas.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Extractos da antologia Poemas Portugueses (Jorge Reis-Sá e Rui Lage)
Transcrever Pessoa é quase covardia.
Pois.
Ainda a pensar em minha neta, nascida no Brasil mas da qual esvaiu-se o Português: gostaria que ela pudesse saborear Pessoa. Isso, por exemplo:
Mas que diabos estou a dizer?
Pessoa tem poemas em Inglês.
E aí vai para minha neta um deles, o Soneto nº 27:
(Este foi copiado da Obra Poética, Poemas Ingleses, pag.597, Companhia José Aguilar Editora, 1974)
Pois.
Ainda a pensar em minha neta, nascida no Brasil mas da qual esvaiu-se o Português: gostaria que ela pudesse saborear Pessoa. Isso, por exemplo:
(clique nos textos para ampliá-los)
Mas que diabos estou a dizer?
Pessoa tem poemas em Inglês.
E aí vai para minha neta um deles, o Soneto nº 27:
(Este foi copiado da Obra Poética, Poemas Ingleses, pag.597, Companhia José Aguilar Editora, 1974)
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Comemoração
Decididamente, a Bíblia é faca de vários gumes.
Esse provérbio tem sido exaltado ao longo dos séculos.
Merece tanto enaltecimento?
Começo por pensar no filho de um Fernandinho Beira-Mar, por exemplo. Será mesmo bom que ele siga os ensinamentos do pai?
Alguém certamente dirá: Assim não vale! Que exemplo esdrúxulo!
É evidente que o autor desse provérbio não tinha algo assim em mente.
Mas vamos pegar mais leve.
Vários de meus conhecidos foram formados - pelos próprios pais, por professores, por amigos mais velhos - na ortodoxia marxista. Alguns deles não se desviaram desse caminho mesmo na velhice.
E continuam a vomitar stalinismo, ainda que em versão edulcorada.
A questão, a meu ver, é: é salutar que alguém fique fiel toda a vida àquilo que aprendeu na infância?
É evidente que não há resposta unívoca para tal pergunta.
Mas eu apostaria todas as minhas fichas em que está mais perto de ter acertado quem rompeu com os ensinamentos primevos. Romper exige reflexão. Manter o rumo talvez seja também fruto de reflexão, mas ninguém pode garantir.
Na maior parte dos casos não é.
O mundo está repleto de gentes que são católicas porque os pais eram, que são evangélicos porque os pais eram, que são socialistas porque os pais eram, que são budistas porque os pais eram, que são ateus porque os pais eram. A lista é quase inesgotável.
Quanto a mim, produziria provérbio mais ou menos assim:
Essa conversa vem a propósito do que vim a saber hoje:
Tenho uma neta que, do alto de seus treze anos, informou aos pais que é ateia, que não fará crisma e que abandonou a escola religiosa.
Talvez não fosse necessário acrescentar que se trata de estudante modelo.
A segunda geração de minha descendência está a sair-se melhor que a encomenda.
Um brinde a minha neta!
Esse provérbio tem sido exaltado ao longo dos séculos.
Merece tanto enaltecimento?
Começo por pensar no filho de um Fernandinho Beira-Mar, por exemplo. Será mesmo bom que ele siga os ensinamentos do pai?
Alguém certamente dirá: Assim não vale! Que exemplo esdrúxulo!
É evidente que o autor desse provérbio não tinha algo assim em mente.
Mas vamos pegar mais leve.
Vários de meus conhecidos foram formados - pelos próprios pais, por professores, por amigos mais velhos - na ortodoxia marxista. Alguns deles não se desviaram desse caminho mesmo na velhice.
E continuam a vomitar stalinismo, ainda que em versão edulcorada.
A questão, a meu ver, é: é salutar que alguém fique fiel toda a vida àquilo que aprendeu na infância?
É evidente que não há resposta unívoca para tal pergunta.
Mas eu apostaria todas as minhas fichas em que está mais perto de ter acertado quem rompeu com os ensinamentos primevos. Romper exige reflexão. Manter o rumo talvez seja também fruto de reflexão, mas ninguém pode garantir.
Na maior parte dos casos não é.
O mundo está repleto de gentes que são católicas porque os pais eram, que são evangélicos porque os pais eram, que são socialistas porque os pais eram, que são budistas porque os pais eram, que são ateus porque os pais eram. A lista é quase inesgotável.
Quanto a mim, produziria provérbio mais ou menos assim:
Ensina o que quiseres à criança.
Se ela tiver inteligência e personalidade,
fará seus próprios juízos e tomará seu próprio rumo.
Essa conversa vem a propósito do que vim a saber hoje:
Tenho uma neta que, do alto de seus treze anos, informou aos pais que é ateia, que não fará crisma e que abandonou a escola religiosa.
Talvez não fosse necessário acrescentar que se trata de estudante modelo.
A segunda geração de minha descendência está a sair-se melhor que a encomenda.
Um brinde a minha neta!
domingo, 6 de outubro de 2013
Pragmatismo
Nas recentes eleições autárquicas em Portugal, o Bloco de Esquerda (BE) teve 2,42% dos votos dos portugueses, conseguiu eleger, em todo o país, apenas oito vereadores e perdeu o comando da única autarquia na qual o autarca era seu militante.
Logo após o pleito, seus dirigentes foram à TV a salientar a estrondosa derrota... do PSD.
O BE é a agremiação política que quer expulsar a troika de Portugal, deixar de pagar a dívida externa etc etc.
Para os brasileiros, nenhuma novidade. O Partido dos Trabalhadores (PT) em sua época de vacas magras pregava essas mesmas bandeiras ridículas. Apenas o Fora a Troika era traduzido para Fora o FMI.
Depois que o PT perdeu o medo de ser feliz e começou a buscar o Poder de verdade, o guru Lula vangloriou-se de seu governo ter pago a totalidade da dívida externa. Era uma frase sem sentido, mas o PT jamais fez questão de dizer coisa com coisa.
No tempo da ditadura, no Brasil, os grupelhos de esquerda compraziam-se em autodenominar-se Esquerda Revolucionária. Era a forma de separar-se do Partido Comunista, tido por reformista.
De facto, a clivagem verdadeira na esquerda sempre foi entre a que detém alguma parcela de poder e aquela que por ainda não desfrutar dessa ambrosia aferra-se a palavras de ordem despropositadas e absurdas para atrair a atenção (e a adesão) dos indignados do mundo.
A esse segundo grupo pertence, no Brasil, Marina Silva. E a ele pertence por excesso de ambição. Afinal, ela era militante do PT e logo que Lula foi eleito Presidente da República ela ocupou um ministério, no qual ficou por cinco anos. Só pediu demissão quando bateu de frente com Dilma e percebeu que não seria a preferida de Lula, para a sucessão do patriarca.
Ou seja, ocupou o Ministério do Meio Ambiente até perceber que o PT não lhe permitiria dominar o ambiente por inteiro.
Dona Osmarina (seu nome de batismo), então, resolveu unir-se aos Verdes. Disputou a presidência com Dilma e teve votação não desprezível (quase 20% do eleitorado). A partir de então, como quase todo roqueiro, partiu para carreira solo.
Decidiu formar seu próprio partido político. Um não-partido, claro. Dona Osmarina pretende ser original. E fundou a Rede de Sustentabilidade. Como o povo brasileiro é um bocadinho diminuído intelectualmente (como se diz cá em Portugal), passou-se a falar em Rede. Já Sustentabilidade é palavra muito grande. Septissílabos não costumam caber no vocabulário popular.
Claro. Foi barrada pela máquina petista de manutenção do Poder dentro da Ordem Democrática (PODE).
O PODE é um tantinho distraído. Deixa escapar algumas coisinhas, mas - ao percebê-las - trata de consertá-las. Foi assim com o caso Celso Daniel. Foi assim com o julgamento do mensalão (perdão!, Ação Penal nº 470). e parece que continuará assim com o caso Osmarina.
Restou a essa outra Silva (livrai-nos deles, Senhor!) a escolha entre continuar a desenvolver a Rede e ingressar em outra agremiação política (outro partido, jamais!).
Venceu a entrada em outro ninho. E lá se foi Osmarina, desta vez para o PSB (Partido Socialista Brasileiro, seja isso o que Deus queira).
No PSB já existe um indivíduo com pretensões à Presidência da República. Vou perguntar ao meu amigo Zé Carlos, do estacionamento de Osasco no qual costumava deixar meu carro e no qual, vez ou outra, fazia uma fezinha no Bicho, que bicho vai dar.
Talvez ele saiba.
Só me incomoda a alternativa que Osmarina entende ser a que a ela se ofereceu: ou ser programática ou ser pragmática.
Quase todos estão a criticá-la por ter se mostrado pragmática.
Ora. Quanto a mim, não acredito em programa que não seja pragmático.
O dicionário me diz que pragmático é o "que tem motivações relacionadas com a ação ou com a eficiência".
Eu trocaria eficiência por eficácia.
De resto, programa político que não seja pragmático só pode mesmo subsistir em cabeças acadêmicas.
Quanto ao PT, mostrou-se já furioso por ter Osmarina escolhido o PSB como guarida de suas pretensões presidenciais.
Claro, está em jogo a reeleição de Dilma e o consequente bem viver de grande parcela da militância petista.
O Boletim Carta Maior, por exemplo, coloca em editorial:
A BORBOLETA VIROU LAGARTA?
O tabuleiro mexeu: Campos e Marina estarão juntos em 2014. Nasce a 'quarta via', o socialismo econeoliberal."Para destruir o chavismo do PT", diz a suave senadora que deixou o PT em 2009, 'para ser coerente com a luta 'pelo desenvolvimento sustentável'. Marina decidiu. E comunicou a seus pares em caráter irrevogável: será a vice de Eduardo Campos, que ganha assim um discurso palatável à classe média, ele que antes só falava à Fiesp e à Febraban. Marina perde a Rede, mas sobretudo, a aura de maria imaculada e ganha a companhia dos Bornhausen, os afáveis banqueiros de Santa Catarina, que terão o comando do PSB no Estado e voz ativa na esfera nacional. Os Demos também querem 'destruir o chavismo do PT' e tem precedência na fila. É natural que ocupem espaços. Parece não incomoda-la: Marina é obstinada.
Logo após o pleito, seus dirigentes foram à TV a salientar a estrondosa derrota... do PSD.
O BE é a agremiação política que quer expulsar a troika de Portugal, deixar de pagar a dívida externa etc etc.
Para os brasileiros, nenhuma novidade. O Partido dos Trabalhadores (PT) em sua época de vacas magras pregava essas mesmas bandeiras ridículas. Apenas o Fora a Troika era traduzido para Fora o FMI.
Depois que o PT perdeu o medo de ser feliz e começou a buscar o Poder de verdade, o guru Lula vangloriou-se de seu governo ter pago a totalidade da dívida externa. Era uma frase sem sentido, mas o PT jamais fez questão de dizer coisa com coisa.
No tempo da ditadura, no Brasil, os grupelhos de esquerda compraziam-se em autodenominar-se Esquerda Revolucionária. Era a forma de separar-se do Partido Comunista, tido por reformista.
De facto, a clivagem verdadeira na esquerda sempre foi entre a que detém alguma parcela de poder e aquela que por ainda não desfrutar dessa ambrosia aferra-se a palavras de ordem despropositadas e absurdas para atrair a atenção (e a adesão) dos indignados do mundo.
A esse segundo grupo pertence, no Brasil, Marina Silva. E a ele pertence por excesso de ambição. Afinal, ela era militante do PT e logo que Lula foi eleito Presidente da República ela ocupou um ministério, no qual ficou por cinco anos. Só pediu demissão quando bateu de frente com Dilma e percebeu que não seria a preferida de Lula, para a sucessão do patriarca.
Ou seja, ocupou o Ministério do Meio Ambiente até perceber que o PT não lhe permitiria dominar o ambiente por inteiro.
Dona Osmarina (seu nome de batismo), então, resolveu unir-se aos Verdes. Disputou a presidência com Dilma e teve votação não desprezível (quase 20% do eleitorado). A partir de então, como quase todo roqueiro, partiu para carreira solo.
Decidiu formar seu próprio partido político. Um não-partido, claro. Dona Osmarina pretende ser original. E fundou a Rede de Sustentabilidade. Como o povo brasileiro é um bocadinho diminuído intelectualmente (como se diz cá em Portugal), passou-se a falar em Rede. Já Sustentabilidade é palavra muito grande. Septissílabos não costumam caber no vocabulário popular.
Claro. Foi barrada pela máquina petista de manutenção do Poder dentro da Ordem Democrática (PODE).
O PODE é um tantinho distraído. Deixa escapar algumas coisinhas, mas - ao percebê-las - trata de consertá-las. Foi assim com o caso Celso Daniel. Foi assim com o julgamento do mensalão (perdão!, Ação Penal nº 470). e parece que continuará assim com o caso Osmarina.
Restou a essa outra Silva (livrai-nos deles, Senhor!) a escolha entre continuar a desenvolver a Rede e ingressar em outra agremiação política (outro partido, jamais!).
Venceu a entrada em outro ninho. E lá se foi Osmarina, desta vez para o PSB (Partido Socialista Brasileiro, seja isso o que Deus queira).
No PSB já existe um indivíduo com pretensões à Presidência da República. Vou perguntar ao meu amigo Zé Carlos, do estacionamento de Osasco no qual costumava deixar meu carro e no qual, vez ou outra, fazia uma fezinha no Bicho, que bicho vai dar.
Talvez ele saiba.
Só me incomoda a alternativa que Osmarina entende ser a que a ela se ofereceu: ou ser programática ou ser pragmática.
Quase todos estão a criticá-la por ter se mostrado pragmática.
Ora. Quanto a mim, não acredito em programa que não seja pragmático.
O dicionário me diz que pragmático é o "que tem motivações relacionadas com a ação ou com a eficiência".
Eu trocaria eficiência por eficácia.
De resto, programa político que não seja pragmático só pode mesmo subsistir em cabeças acadêmicas.
Quanto ao PT, mostrou-se já furioso por ter Osmarina escolhido o PSB como guarida de suas pretensões presidenciais.
Claro, está em jogo a reeleição de Dilma e o consequente bem viver de grande parcela da militância petista.
O Boletim Carta Maior, por exemplo, coloca em editorial:
A BORBOLETA VIROU LAGARTA?
O tabuleiro mexeu: Campos e Marina estarão juntos em 2014. Nasce a 'quarta via', o socialismo econeoliberal."Para destruir o chavismo do PT", diz a suave senadora que deixou o PT em 2009, 'para ser coerente com a luta 'pelo desenvolvimento sustentável'. Marina decidiu. E comunicou a seus pares em caráter irrevogável: será a vice de Eduardo Campos, que ganha assim um discurso palatável à classe média, ele que antes só falava à Fiesp e à Febraban. Marina perde a Rede, mas sobretudo, a aura de maria imaculada e ganha a companhia dos Bornhausen, os afáveis banqueiros de Santa Catarina, que terão o comando do PSB no Estado e voz ativa na esfera nacional. Os Demos também querem 'destruir o chavismo do PT' e tem precedência na fila. É natural que ocupem espaços. Parece não incomoda-la: Marina é obstinada.
Maravilha. Os assalariados do PT não têm vergonha e criticam Osmarina por aceitar o apoio dos Bornhausen.
O PT, que aceitou o apoio de Maluf, de Collor, de Sarney, de Renan, do diabo e de seus anjos.
Aqui entre nós: falta vergonha na cara dessa turma. Ou melhor, faltava dinheiro para chegarem ao final de cada mês. Agora já o tem garantido.
O triste é que quando parece que o PT já alcançou o mais abjeto dos níveis de luta política, percebe-se que o poço não tem fundo.
E há quem faça esse tipo de luta política graciosamente. Como se diz em Portugal: à borla. Existe idiota pra tudo, nesse mundão.
sábado, 5 de outubro de 2013
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
A rainha da floresta e seus gnomos
Marina Silva era, até ontem, o novo bote salva-vidas de boa parte dos eleitores brasileiros.
Depois de ter sido agraciada com quase 20 milhões de votos na eleição presidencial de 2.010 (algo próximo de 20% dos votos), Marina decidiu construir um partido que não fosse exatamente um partido. E partiu para a formação da Rede.
Apesar de afirmar-se capaz de levar o Brasil a melhores rumos, Marina não soube gerenciar o processo de formação de sua Rede. E ficou sem partido para disputar as próximas eleições, em 2.014.
Se tivesse conseguido formar a Rede seria uma possível ameaça à liderança de Dilma, a atual presidente. Sua candidatura tornaria provável que a eleição passasse a uma segunda volta.
O Partido dos Trabalhadores (PT), construído pelo talentoso oportunista Lula da Silva e transformado pelo inefável José Dirceu em máquina de poder, já aparelhou a estrutura sindical, com seus riquíssimos fundos de pensão, as estatais, particularmente a Petrobrás e todo e qualquer nicho de governo que renda dinheiro e/ou poder.
Chegou ao poder para dele jamais sair.
Na sequência virá o controle da imprensa (a mídia, no jargão petista), assim como já veio o domínio do pensamento marxista de salão nas universidades, graças a excrescências como Marilena Chauí e que tais.
Ao invés da família Mesquita (jornal Estadão), dos Frias (Folha de SPaulo), dos Civita (Editora Abril) e dos Marinho (Organizações Globo), o Brasil terá informações administradas por Rui Falcão, Tarso Genro e o resto da camarilha petista. O João Bosta, que não gostava de seu nome, passará a chamar-se António Bosta.
Quanto a Marina, que foi petista até quando percebeu que não seria a eleita de Lula, poderá reingressar na floresta - que lhe é tão cara - e conviver com os gnomos que encontrar no oco das árvores.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Aventuras no país das coincidências
Comentei dia desses as coincidências na morte de Celso Daniel. Foram sete testemunhas do crime ou de algum evento a ele associado que morreram em sequência. Detalhes na Wikipédia.
Mas o Brasil é pródigo em coincidências. Leio hoje, no Público, que a empresa Oi (brasileira) e a PT (portuguesa) acabam de anunciar a assinatura de acordo de intenções para uma fusão entre elas.
Até aí nada.
Mas vejam quantas coincidências:
Corre à boca pequena, no Brasil, o boato de que a Oi é do Lula. Claro, é apenas um boato. Do mesmo tipo daquele que afirmava que o Banco Santos era do Sarney.
Mas além de boatos, há alguns factos notáveis.
Um dos casos mais rumorosos do período Lula foi a aplicação na empresa Gamecorp, do Lulinha, de R$ 5 milhões por parte da Telemar... atual Oi, uma concessionária de serviços públicos. A Gamecorp tinha capital de R$ 10 mil. E era propriedade de um filho do Presidente da República. Como se isso não bastasse (e, pelos resultados da investigação, não bastava e não bastou), logo depois de tal aporte de recursos, Lula assinou decreto tornando legal a fusão entre a Telemar e a Brasil Telecom, fusão que deu origem à Oi. Até então a legislação não permitia tal fusão.
A única consequência boa de todo esse imbroglio, para nós contribuintes, foi o dito "Em países decentes os negócios são feitos de acordo com a lei. No Brasil as leis são feitas de acordo com os negócios".
Mas vamos adiante.
Já vimos que a Oi é controlada pela Telemar Participações S.A.. Mas quem são os principais acionistas da PT (Portugal Telecom) ?
Segundo o quadro acima (extraído do sítio da PT), o principal acionista é o Grupo Espírito Santo, do Banco Espírito Santo (BES).
E nisso nos deparamos com mais uma coincidência.
No final de 2.012, o Blog do Garotinho publicou um post com uma acusação.
Aquela Rose (Rosemary Nóvoa de Noronha), que viajava com Lula sempre que dona Marisa não o fazia, aquela, que era chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo, aquela que Dilma demitiu quando se descobriu que fazia tráfico de influência graças a sua proximidade com Lula, aquela enfim, esquecida como tantos outros protagonistas de tantos outros escândalos. Rose aparece no post do Blog do Garotinho acusada de levar 25 milhões de euros para a cidade do Porto e de depositá-los em uma agência do BES.
Os petistas logo dirão, como sempre fazem: Esse Garotinho é um crápula. Não merece atenção!
Até concordo com a primeira afirmação. Mas a segunda não decorre da primeira. Estabelecer essa vinculação de implicação lógica entre as duas frases é um velho truque.
Que eu saiba, nada disso foi investigado pelo Ministério Público brasileiro nem por Polícia Federal nem por ninguém com competência para isso.
E se foi, deve ter terminado como o caso do Lulinha mencionado acima. Arquive-se e fim de papo.
E reparem que a denúncia menciona a existência de documentos comprobatórios e não sujeitos a sigilo bancário.
E daí?! Coincidências. Meras coincidências.
Mas o Brasil é pródigo em coincidências. Leio hoje, no Público, que a empresa Oi (brasileira) e a PT (portuguesa) acabam de anunciar a assinatura de acordo de intenções para uma fusão entre elas.
Até aí nada.
Mas vejam quantas coincidências:
Corre à boca pequena, no Brasil, o boato de que a Oi é do Lula. Claro, é apenas um boato. Do mesmo tipo daquele que afirmava que o Banco Santos era do Sarney.
Mas além de boatos, há alguns factos notáveis.
Um dos casos mais rumorosos do período Lula foi a aplicação na empresa Gamecorp, do Lulinha, de R$ 5 milhões por parte da Telemar... atual Oi, uma concessionária de serviços públicos. A Gamecorp tinha capital de R$ 10 mil. E era propriedade de um filho do Presidente da República. Como se isso não bastasse (e, pelos resultados da investigação, não bastava e não bastou), logo depois de tal aporte de recursos, Lula assinou decreto tornando legal a fusão entre a Telemar e a Brasil Telecom, fusão que deu origem à Oi. Até então a legislação não permitia tal fusão.
A única consequência boa de todo esse imbroglio, para nós contribuintes, foi o dito "Em países decentes os negócios são feitos de acordo com a lei. No Brasil as leis são feitas de acordo com os negócios".
Mas vamos adiante.
Já vimos que a Oi é controlada pela Telemar Participações S.A.. Mas quem são os principais acionistas da PT (Portugal Telecom) ?
Segundo o quadro acima (extraído do sítio da PT), o principal acionista é o Grupo Espírito Santo, do Banco Espírito Santo (BES).
E nisso nos deparamos com mais uma coincidência.
No final de 2.012, o Blog do Garotinho publicou um post com uma acusação.
Aquela Rose (Rosemary Nóvoa de Noronha), que viajava com Lula sempre que dona Marisa não o fazia, aquela, que era chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo, aquela que Dilma demitiu quando se descobriu que fazia tráfico de influência graças a sua proximidade com Lula, aquela enfim, esquecida como tantos outros protagonistas de tantos outros escândalos. Rose aparece no post do Blog do Garotinho acusada de levar 25 milhões de euros para a cidade do Porto e de depositá-los em uma agência do BES.
Os petistas logo dirão, como sempre fazem: Esse Garotinho é um crápula. Não merece atenção!
Até concordo com a primeira afirmação. Mas a segunda não decorre da primeira. Estabelecer essa vinculação de implicação lógica entre as duas frases é um velho truque.
Que eu saiba, nada disso foi investigado pelo Ministério Público brasileiro nem por Polícia Federal nem por ninguém com competência para isso.
E se foi, deve ter terminado como o caso do Lulinha mencionado acima. Arquive-se e fim de papo.
E reparem que a denúncia menciona a existência de documentos comprobatórios e não sujeitos a sigilo bancário.
E daí?! Coincidências. Meras coincidências.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Ainda as Eleições autárquicas
O mapa dos resultados, praticamente finais, publicado pelo Público, não deixa dúvida: o Partido Socialista (PS) venceu de maneira categórica.
Penso que esse resultado é o que todos já esperavam. O governo do Partido Social Democrata, em coligação com o Partido Popular, não para de levar surra da opinião pública há muito. Mesmo que as eleições autárquicas não tenham relação estreita com o quadro político nacional, é evidente que a má avaliação do governo Passos Coelho pesou um bocadinho no resultado das eleições municipais.
Outra coisa é dizer quem venceu, em termos de lideranças.
António José Seguro passa a ser um político-sande.
As duas fatias do pão que o abriga chamam-se Sócrates e António Costa.
Herdou do anterior primeiro-ministro a desgraça de se ver obrigado a defender um governo caótico.
Vai passar ao agora mais autarca de Lisboa do que nunca a possibilidade de tornar-se primeiro-ministro.
Para Seguro, essas eleições ofertaram uma vitória de Pirro.
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