No Presídio Tiradentes conheci os Betos e os Vannuchis da vida.
A ALN (Aliança Libertadora Nacional) só tinha heróis. Apenas se atrapalhavam um bocadinho quando tentavam explicar como haviam caído todos os militantes em estilo dominó.
Havia a Ala Vermelha, que oscilava entre submeter-se à ALN ou ter voz própria nas discussões do Presídio. Havia os trotskistas, os da 4ª Internacional, que eram a caricatura da Esquerda caricata.
O resto éramos uma porção de desenganados, a tentar pensar como refazer a vida, como encontrar novos rumos para a vida. Tudo isso em meio a discussões que deixariam envergonhados os contendores das disputas sobre o sexo dos anjos.
Hoje percebo que a grande vantagem daqueles anos foi da espécie das vacinas. Hoje olho estupefacto e triste para os que não passaram pela experiência da prisão e os vejo a continuar o debate sobre apodrecidos temas dos anos 20 ou 30 do século passado. Ou até mais antigos.
Em Portugal, ainda se vive a época que o Brasil já ultrapassou: a da Esquerda de dedo em riste, a combater os insanáveis defeitos do capitalismo. E a deixar no ar a ideia de que basta entregar à Esquerda o Poder e tudo se resolverá.
No Brasil, de facto, quase tudo se resolveu. O pessoal da Esquerda tirou a barriga da miséria e passou a apontar o dedo em riste para os adversários mas agora para justificar-se com a afirmação de que o que a Esquerda faz é tão somente mais do mesmo. E a batalhar para que a mamata não acabe nunca.
Como já se viu o que acontece quando essa turba toma o Poder, quero sim menos Estado, menos controlo, menos sábios a me dizer o que devo ser e fazer.
Sou, então, um neoliberal? Penso que não. Neo certamente não Não me parece que seja novo em nada.
Talvez liberal. Talvez.
(continua, talvez)
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