terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os portugueses e o rigor na linguagem


Hoje foi dia, entre outras coisas, de comprar uma televisão. Uma prima que mora em Braganca nos indicou uma loja no centro da cidade e lá fomos nós.
Ao entrarmos na loja - cheia de televisores - fomos logo atendidos por um senhor bastante simpático e solícito.
Disse eu:
- Quero comprar uma televisão.
E ele, para minha surpresa:
- Não trabalhamos mais com televisões. Agora só com LCD [pronúncia: élcedê, nada de élecedê].

Noves fora esse pequeno contratempo, conseguimos comprar a televisão (perdão, o LCD), não sem antes aumentarmos nossa cultura com uma completíssima aula sobre LCDs, plasmas e quejandos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Consoada feliz


Hoje, dia de Consoada, fomos às compras. O apartamento ainda precisa de um tudo: vassoura, detergente pra máquina de lavar loucas (é pra lavar pratos, coisas assim. Não pra lavar dementes do sexo feminino. Lembre que este mini-mini-computador não dispõe de c cedilha).
Mas, antes de mais nada, uma foto tirada da varanda da sala: meio dia e meia, muito sol, temperatura amena, uns 12 graus centígrados. Ao fundo, lá na Espanha, as serras da zona da Sanábria, cobertas de neve.


Passamos em casa de primos em Braganca e em seguida fomos à aldeia (Passos, claro), à casa da prima Zelinda. Um delicioso presunto, uma pinguinha (vinho feito em casa) e uma boa conversa. Mas não ficamos para a consoada por medo de que, à noite, a estrada ficasse coberta de gelo.
Amanhã voltaremos à aldeia para o almoco de Natal.

Alguns comentários:

1. O Asulado adverte: o correto não é "o aeroporto fica em Maia"; o certo é "o aeroporto fica na Maia". É assim que vou aprendendo.

2. O Bic Laranja lembra: sobre estradas de Portugal o especialista é o Manuel Campos Vilhena. Eu já tinha pensado nele quando escrevi. Mas já era tarde, estava com sono e fiquei com preguica de fazer a referência. Faco-a agora.

3. Aliás, já é tarde de novo. Agorinha mesmo tive de interromper a redacão deste post porque a Baixinha me pediu para ajudá-la a empurrar um móvel de um quarto até a cozinha, local que ela considera mais apropriado para o dito cujo. Isso lá é coisa que se faca à primeira hora do dia de Natal?!?!

Acho bom ir dormir.

Bom Natal a todos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Braganca - o início


O vôo, sábado à noite, saiu de Guarulhos - acredite quem quiser - rigorosamente no horário. E chegou ao Porto 35 minutos antes do previsto. A temperatura da manhã de domingo estava acima dos 10 graus centígrados e o sol magnífico. Céu sem uma nuvem. Foi entrar no carro e partir para Braganca. Ao longo do percurso (pela A4, depois pelo IP4), ainda alguma neve na beira da estrada. A temperatura chegou a bater em zero, mas - felizmente - nada de gelo na pista.
Já em Braganca, check-in no hotel e almoco no Gôndola.
Uma soneca à tarde, que ninguém é de ferro e jantar no - vejam só - Sabor Brasil.
Hoje, segunda-feira, tomar posse da nova morada e partir para as providências básicas: comprar talheres, alguns pratos, poucos copos, uma infinidade de pequenas necessidades em uma residência. Cama, mesa e algumas cadeiras o antigo proprietário teve a bondade de deixar para nosso uso.
Hoje ainda dormiremos no hotel. Amanhã inauguramos a nova residência.
Fica o registro feito às 11 e pouco da manhã de hoje, da janela do hotel: o céu azul, uns fiapos de névoa em vale próximo.



Observacões irrelevantes:

1. Desta vez, trouxe comigo meu computador minúsculo. Não consigo achar nele o c cedilha.

2. O aeroporto de São Paulo não fica em São Paulo. Fica em Guarulhos. O aeroporto do Porto não fica no Porto. Fica em Maia.

3. As estradas, em Portugal, são classificadas em hierarquia que não domino. Há, em primeiro lugar, as Auto Estradas, as "A"s. Penso que, em seguida vêm os "IP"s, Itinerários Principais. Há, ainda, os "IC"s, Itinerários Complementares, as "EN"s, Estradas Nacionais e sabe-se mais o que.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Segue o enterro


Outro dia, minha chefe (sim, eu tenho uma chefe. Maravilhosa, por sinal [ela lê o blog].) falava ao telefone e usou essa expressão, em substituição a algo do tipo paciência, vamos em frente.
Gostei.
E, dada a crise global que se abate sobre todos nós (ou quase todos, sejamos rigorosos), nada como repetir aos quatro ventos:
- Segue o enterro.
Em assim sendo, logo depois de chegar à minha terra (pra quem não sabe: Bragança, Portugal) vou começar a disparar fotos e comentários sobre o inverno mais rigoroso dos últimos 20 anos.
Pra quem, como eu, já passou dos 60, esse negócio de o mais qualquer coisa dos últimos vinte anos não impressiona. É pouco.
Aguardem.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Rumo à Terra Prometida


Próximo sábado, a esta hora, estarei começando a voar para o Porto. Dia seguinte, Bragança.
Começa neste finalzinho de ano um período de transição que, espero, deve durar uns dois aninhos. Ou seja, um pé aqui, outro lá.
Sabe aquela piada do português preso numa cela em frente à cela de um leproso?
O hanseniano (esse é o termo politicamente correto) cada dia jogava fora um dedo.
O português foi ao diretor do presídio e denunciou:
- Meu vizinho está a fugir aos poucos.
Pois é isso: vou aos poucos fugindo deste Egito em busca da Terra Prometida.
É certo que lá não jorra leite e mel. Mas o bagacinho é garantido.
Moisés não entrou na Terra Prometida. Hoje a garotada diria que morreu na praia. Mas foi no deserto, mesmo.
Jeová, em quem não acredito – mas sabe-se lá – me concederá alguns aninhos a curtir meu nordeste trasmontano.
Como dizia aquela paródia:
Segura na mão de deus e vamo que vamo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série O Brasil acabou - XI


Quando saio de casa de manhã posso escolher entre dois caminhos para ir ao trabalho. O mais curto é mais sujeito a congestionamentos. O outro, mais longo, raramente apresenta problemas de tráfego.
Hoje de manhã, como o caminho mais curto estivesse todo parado, resolvi ir pelo outro. Nele, ando boa parte em sentido contrário ao do trânsito intenso. Aliás, é por isso que ele é mais desimpedido.
Entrei em uma rua de duas mãos, rua estreita, de prédios residenciais. No sentido em que eu ia tudo estava livre. No sentido contrário, uma fila interminável de carros, deslocando-se lentamente.
Vai daí, um automóvel resolveu sair da fila e vir em minha direção pela contra-mão.
Eu poderia ter deslocado meu carro bem para a direita para dar passagem ao malandro. Mas achei aquilo um desaforo (não só comigo mas principalmente com os demais carros que iam no sentido contrário ao meu). Parei, ele parou em frente a meu carro e assim ficamos durante uma fração de minuto.
Do automóvel transgressor não se via nada dentro. Como já tornou-se regra de poucas exceções, em São Paulo, os vidros eram todos negros, opacos.
Lembrei-me de alguns casos recentes de motoristas que mataram a tiros outros motoristas, até mesmo pelo banal motivo de um ter reclamado do outro piscando os faróis.
Pensei que, em pouco tempo, estarei livre desta barbárie que aqui se instalou.
Desviei o carro e fui em frente. O outro, triunfante, acelerou na contra-mão.

Mais tarde, durante o almoço, fiquei sabendo, pela TV, da invasão de um Pronto-Socorro por estudantes de medicina bêbados.

Não tenho mais dúvidas. Nós, os brasileiros, perdemos a capacidade de conviver em sociedade.
Daqui pra frente, salve-se quem puder.
Espero poder.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Japonês impecável


O pecador acaba sendo você. Pecado da gula, claro. Trata-se do restaurante japonês que começou a funcionar há coisa de menos de dois meses, em São Paulo.
Fica em lugar distante dos centros gastronômicos mas - sorte minha! - pertinho de minha casa.


Se eles mantiverem o nível inicial, já já não se consegue mais lugar pra jantar. Isso apesar de serem três os ambientes disponíveis: terraço externo (mas coberto com vidro), salão principal e mezanino.
Que fique claro que não ganhei nem um mísero sashimi pra falar bem do Tadashii. Aliás, eles nem sabem que eu existo, apesar de já ter estado lá duas maravilhosas vezes. Mas você pode entrar de cabeça no rodízio (o preço varia conforme o dia da semana e entre almoço e jantar, mas é algo tipo 40 reais, pouco mais pouco menos). O único arrependimento possível será o de ter comido demais.
Fica longe da sua casa?
A Esfiha Juventus também fica longe da minha e eu costumo ir até lá.
Comer bem não mede distâncias.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Mordam-se de inveja


A coluna de hoje da Mônica Bergamo , na Folha de S.Paulo, tem duas notas assim, ó:


DÁ UM TEMPO
Acendeu a luz amarela entre executivos da Telemar que negociam a compra da Brasil Telecom. Um dos conselheiros da Anatel já avisou informalmente que pode pedir vistas do processo que autoriza a negociação entre as duas empresas, em reunião que deve acontecer até o dia 18.

NO BOLSO
Se isso acontecer, a Telemar terá que pagar R$ 490 milhões aos acionistas da Brasil Telecom. A multa foi estipulada para o caso de o negócio não fechar até o fim de dezembro.


Recapitulando: a Anatel tem cinco conselheiros (veja aqui).

Se qualquer um deles pedir vistas do processo, vão 490 milhões de reais pelo ralo.
Não é que os conselheiros tenham de fazer nada irregular. Simplesmente pedir vistas do processo, atitude a que eles têm direito.

Ora, arredondando, 1% de 490 milhões costuma ser 5 milhões.

Dado o número de conselheiros, estamos falando de 5% para salvar os 100%.

Tudo limpo, redondinho.

Um dos conselheiros, segundo a coluna, já avisou informalmente que vai pedir vistas.

Humm, humm.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Mais especulações


Não sou praça de cidade do interior mas tenho cá minhas fontes luminosas.
Uma delas, mais por dentro que unha encravada, confidenciou-me:

Não. Esse mandato 69 não emplaca. Por que?
Na época do mensalão, Lula safou-se graças a uma negociação com a oposição, capitaneada por FHC. Não lhe cassariam o mandato, permitiriam sua reeleição mas o preço a pagar seria abrir caminho para Serra-2.010.
Lula aceitou de bom grado. Além de não ter alternativa, Lula sabia que depois da bonança vem a tempestade, ou seja, mais cedo ou mais tarde viria a crise financeira e econômica.
Ficará para Serra a carne de pescoço da crise. Na eleição de 2.014, Lula terá a faca e o queijo nas mãos, com comparações entre os números de seu governo e os do governo Serra. Eleito, encontrará o país com economia saneada.
A partir do acordo, Lula começou o processo de destruição pró-Serra em São Paulo: eliminou Mercadante, agora eliminou Marta.
Dilma? Receberá alguma recompensa por se prestar ao papel de fantoche.


A conferir.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mandato 69


A ideia de José Alencar, atual vice-presidente, candidatar-se a presidente em 2.010 tendo Lula como vice, ou seja, uma espécie de candidatura 69, me parece uma excelente ideia.
Logo depois da posse, Alencar se afastaria por motivo de saúde (todo mundo sabe que ele tem doença grave) e pronto: Lulla lá, de novo.

Gosto da ideia por alguns motivos:

1° - É engenhosa;
2° - O Brasil se livra de ter a Dilma como Presidente;
3° - O Brasil se livra de ter o José Serra como Presidente;
4° - O Brasil se livra de ter o Aécio Neves como Pósidente;
5° - Espero já não residir no país quando tudo isso acontecer.

Uma dúvida: algum constitucionalista pode me dizer se, além de tudo, esse arranjo não poderia incluir, em 2.014, a reeleição do Lulla?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

De perdas


Agora à noite sentei-me pra terminar uma dose de Grappa e me dei conta: deixei meu dente lá.
, no caso, é o consultório do meu dentista. Fui extrair um dente, hoje à tarde.
Terminado o trabalho, o dentista mostrou-me o dente, ensangüentado. Disse qualquer coisa sobre ter ele mais raízes do que o normal, algo assim (meu dentista é japonês de pouquíssimas palavras).
Meu deus. Quantas coisas fui perdendo ao longo da vida. Bibliotecas, uma levada pelos militares que me prenderam, outra dividida com ex-mulher, na separação.
Discos, nem se fala. Quantos foram distribuídos em razão de mudanças, ou sem razão.
Móveis, até automóveis. Perdi um sem número de coisas.
E também amigos, empregos, lugares que me eram caros.
Como fui deixar meu dente lá?!
Devia tê-lo trazido comigo. Arranjaria para ele um cantinho aconchegante, aqui em casa. Afinal, ele convive comigo (conviveu, devo dizer agora) desde a infância.
De vez em quando, ao passar por ele, daria uma piscadela cúmplice:
- E aí, companheiro?
E ele me retribuiria do alto de suas raízes já sem função, aposentadas.
Poderíamos trocar ideias. Quem sabe ele clareasse as minhas.
Prepararia para ele um lugar especial. Um nicho. Assim como fazem as pessoas com as nossas (delas) senhoras. Com os santos.
Não. Deixei-o lá. Ao abandono. Com certeza foi ao lixo. Parte de mim.
Antes de mim.

sábado, 22 de novembro de 2008

Os trapalhões

MUSSUM: CLIQUE PARA ASSISTIR

foto tirada daqui.



A já famosa Operação Satiagraha, da Polícia Federal (ou talvez seja melhor dizer: de uma das facções da Polícia Federal), envolve personagens tais como o juiz De Sanctis e o promotor De Grandis.

Com esses nomes e com as confusões que gerou, teria sido melhor chamá-la Operação Mussum.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Avaliação profissional


Em 1.974, depois de curtir um tempinho de tranca (como inquilino no Presídio Tiradentes) e depois de voltar à docência na USP e perceber que o mar ainda não estava pra peixe, resolvi – finalmente – curvar-me diante da dura realidade: fui trabalhar em empresa, em computação, única coisa que eu conhecia e que dava algum dinheiro. Foi difícil encontrar uma empresa que desse emprego a um cassado político, mas alguma coisa sempre se salva: a Promon Engenharia me contratou.
Trabalhar em empresa, como quase todo mundo sabe, tem como efeito colateral ser avaliado de tempos em tempos pelo chefe de plantão.
O meu, na época, era daquele tipo que se recebesse um memorando de um superior mandando que ele pulasse da janela do décimo andar não titubeava: pulava.
Vai daí, o sistema de avaliação adotado pela empresa naquelas priscas eras consistia em cada um – subordinado e chefe – responder a um mesmo questionário a respeito das qualidades ou defeitos do subordinado. A segunda etapa era uma reunião dos dois para comparar os resultados.
Sentei-me diante do DFL (era a sigla do meu chefe) e começamos a comparar as notas dadas por nós dois em cada quesito.
Surpreendentemente, as notas coincidiam em quase todos os itens.
A exceção era no capítulo “Capacidade de vender ideias aos outros”.
Ele me dera nota alta. Eu me atribuíra nota bem baixa.
Começamos a discutir sobre a discrepância. Por meio de alguns exemplos factuais, foi fácil convencê-lo de que eu estava certo: tinha baixa capacidade de vender ideias aos outros.
Mais do que depressa ele tratou de alterar para baixo a nota alta que me concedera.

Foi aí que observei:
- Acabamos de passar por uma situação em que demonstrei forte capacidade de convencimento do outro. Você comprou minha ideia integralmente.

A reunião acabou por aí. Até hoje não sei que nota ele finalmente adotou para esse item da minha avaliação.

Combustível para a imaginação

E porque hoje é sexta-feira, deliciem-se com as fotos de
Chema Madoz.
(sugestão do Pé de meia)



CLIQUE NO OLHO MÁGICO

domingo, 9 de novembro de 2008

A ilha engraçada


Circula na Internet um áudio, supostamente de programa ao vivo em uma rádio de São Paulo, no qual o locutor pergunta a um ouvinte, por telefone:
- Vamos ver se você acerta: nome de país com duas sílabas; uma delas se refere a algo bom para comer.
E o gaiato responde:
- Cuba!
O locutor, meio sem graça:
- Parabéns pela criatividade. Mas aqui na minha ficha consta como resposta certa “Japão”.

Pois é. Cuba permite piadas sem fim.

É verdade que tem gente que chora, quando vai lá. Tipo Zé Dirceu, por exemplo.

É verdade, também, que se o povo, lá, vive parcamente, há espertos, aqui, ganhando algum dinheirinho com o tema. Fernando Morais, por exemplo.

Agora, início da Era Obama, muita gente ressalta a presumível importância da atitude do novo presidente em relação à ilha de Fidel.

Isso me lembra um episódio lá do final da década de 80. Uma amiga minha, esquerdista habitante de Higienópolis (*), visitou Cuba. Na volta, levei-a à casa de minha mãe, que a conhecia desde pequena.

Minha família sempre teve, em política, uma queda pela direita. Afinal, são quase todos batistas. Minha amiga sabia disso.

Na conversa com minha mãe e o restante da família não parou um instante de ressaltar as virtudes de Cuba. Aquela história de sempre: saúde, educação etc etc.

No caminho de volta à casa dela, segredou:

- Elogiei bastante Cuba porque tua família é de direita. Mas a verdade é que aquilo é um favelão.

(*)tradução, para os leitores portugueses: Higienópolis está para São Paulo assim como Cascais para Portugal.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

De máquinas


Alguém já disse que o italiano é que é feliz: pode chamar qualquer calhambeque de macchina.
Também me parece que o italiano é o único povo que sabe torcer, na Fórmula 1: torce pela Ferrari, não pelo piloto. Ainda que o campeonato seja principalmente de pilotos.
Não entendo bulhufas de automobilismo, mas os que entendem afirmam que o carro é algo como 70 ou 80 por cento do resultado. Ao piloto, sobram parcos 20 ou 30 por cento.
Pode-se discutir esse percentual, mas todos concordam em que o determinante é a macchina.
Talvez por mera coincidência, 2008 ficará marcado pelas vitórias quase concomitantes de dois negros: Lewis Hamilton, na F-1, e Barack Obama, para a presidência dos USA.

Em ambos os casos, exaltam-se as personalidades.
Em ambos os casos, o determinante é a máquina.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Deu(s) Obama

(foto AP, no portal G1)
Enfim, os americanos elegeram o pastel de vento.

Passadas as inevitáveis e entusiásticas comemorações, todos voltaremos à vida real.
Fico com a recorrente pergunta da Mafalda:

(imagem retirada do blog de Reinaldo Azevedo e modificada)

domingo, 2 de novembro de 2008

Avô coruja


Minha neta, que acaba de completar 8 anos, me manda - lá de Westport, CT, USA - uma historinha escrita por ela: A casa mal-assombrada. Tudo a propósito do Halloween.
Comecei a traduzir. Desisti logo de saída, quando me dei conta de que não conseguia encontrar, em português, uma expressão equivalente a bumpy street.
Vai em inglês, mesmo.
Ela é ótima. A história? Sim, também. Mas, claro, refiro-me à minha neta.
Confiram:

The Creepy House

By: Bruna Augusto Silvestre

(October, 2008)



“Hey Clare!” I yelled. “Hey!” She yelled back. I raced down the bumpy street to her. “Do you want to explore the old house down the street? You know, the one with the vines growing up of it,” She asked me. “I don’t know,” I whisper. I thought for a moment or two. “Ok,” I finally decided. “But it will be rough,” I told her. We scampered up the street. When we reached the house it became suddenly dark. Lightning struck. All the houses disappeared, except the old haunted one. We glared at the old creepy vines. We glanced at the green roof. “Bad color for a roof, don’t you think?” Asked Clare. “That roof is colored wood, that green thing is moss,” I answered. Soon it started to rain. We pulled on our hoods and hurried to the porch of the house. Over the porch was a wooden shield. The old, cracked doors slowly opened behind us. When we turned around shaking there was no one that could have opened the door. We looked at each other. “No turning back now,” I said in a low voice. We slowly walked in the wooden house and glanced around the dark, shadowy room. There was a cracked window in the corner, a chair was in the middle of the room, next to it was a wooden coffee table, and a staircase was in the far left hand corner. It looked about ready to fall. Next to it was a fancy doorway that led to the kitchen. We walked closer to the stair case. BOOM!!!! We jumped. The door slammed shut and startled us. We went up two steps. Creeeeeaaaaaak. The stairs creaked. Creeeeaaaaak. We were finally up there. “Ahhhh!” I screamed. “What” Clare said frightened. “Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!” She screeched with me. Right in front of us was a ghost, a witch, and a green goblin!!! “Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!” We ran down the creaky stairs, past the coffee table, and out the door. Still screaming we ran all the way to Clare’s house. We were so frightened we flopped on the couch. “Bruna!” I opened my eyes, and found myself in my bed with my mom. “You scared me,” She whispered. “It was just a bad dream,” I said after I stopped screaming. So I closed my eyes again, and Mom left my room.
Happy Halloween


Deixem-me ir pegar um lenço. Estou babando.
:)

sábado, 1 de novembro de 2008

Ao pó voltarás


Pois é. Dizem que um dos presidenciáveis para 2.010, no Brasil, cheira adoidado.
Isso é o tipo da coisa que circula à boca pequena, jamais na grande imprensa. Também, há que se notar, não é possível denunciar sem provas. E as provas, nesses casos, são de difícil concretização.
Da mesma forma, já faz tempo que sei - de fonte pra lá de fidedigna - que um antigo governador da província de São Paulo era traficante de drogas. Digo era porque ele já morreu. E olha que o falecido é tido, até hoje, como paradigma de político.
E daí?
A vida segue. Afinal, do pó viemos.

As coisas acontecem


Há muitos anos, em conversa com uma colega professora, na USP, ouvi dela o seguinte comentário:

- Adoro viajar! A mim me parece que as coisas sempre acontecem .

Para muitos é assim: o dia-a-dia ocorre tedioso, insípido. É preciso correr para , para desfrutar da vida.

Pois bem. Por razões que nada têm a ver com tédio, preparo-me para ir viver em Bragança.

Vai daí que, dia destes, ao percorrer no computador fotos de meu apartamento aqui em São Paulo, no qual já moro há 10 anos, percebi que sentirei enorme saudade dele.

Paciência. Nada se ganha sem que algo se perca.

Ou não.

sábado, 25 de outubro de 2008

Domingo do riso


Amanhã é o dia da grande piada. Ao menos em um bom número de grandes cidades brasileiras. É o dia do 2° turno das eleições para prefeito.
A democracia representativa é uma antiga anedota que continua a ser contada à falta de algo mais engraçado.
Quer algo mais engraçado do que uma dondoca paulistana preocupadíssima com o pessoal das favelas?
E o maridão argentino, então? Uma graça.
O Gabeira, cujo grande pecado foi ter contribuído pra soltar o Zé Dirceu, periga vencer no Rio. Se isso acontecer, vai ser muito engraçado. Parece que ele nunca levou a sério essa possibilidade. Deve estar se perguntando: como será que se administra essa bagunça?!
O único lugar em que se leva eleição a sério é no Rio Grande do Sul. Gaúcho é mesmo um bicho esquisito. E talvez reeleja um cara chamado Fogaça. Deve ser por ser lá a terra natal do churrasco.
Já o eleitor mineiro – ao menos o de Belzonte – está mais pra Garrincha e seus dribles desconcertantes. Uma hora o candidato do PMDB está 10 pontos na frente, três dias depois é o filho bastardo do governador Aécio e do prefeito Pimentel quem ameaça vencer.


Repara só: pra governar a igreja, Cristo escolheu o mais hipócrita dos apóstolos: Pedro. Ele sabia das coisas da política
De tudo isso, o mais engraçado – pra mim – é aquela fala de um apóstolo, dirigindo-se a Jesus:
- A Marta mandou perguntar se o senhor é casado, tem filhos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sugestão para a campanha da Marta


CLIQUE PARA AMPLIAR
Ao ler sobre a relação entre Jörg Haider e Stefan Petzner (veja aqui ou, se for assinante Folha ou UOL, pode ser aqui) tive uma ideia que ofereço com todo carinho à candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, para que ela a utilize no debate de hoje à noite na Globo:

Pergunte ao Kassab quem é o Petzner dele.

É só uma pergunta, né? Sem nenhuma conotação preconceituosa.

E mais: essa sim, é a pergunta certa. Afinal, o Haider era casado. Tinha filhas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Enfim: algo para elogiar


Campanha ateísta em Londres:

CLIQUE PARA LER SOBRE A CAMPANHA

Acaso


Uma filha de casal de classe média alta combina com o namoradinho o assassinato dos próprios pais.
Os tais pais são trucidados a pauladas.
Depois de algum tempo fica-se sabendo que o pai era algo assim como o fiel depositário do caixa 2 de um partido político avícola. E depositava a tal grana 2 em conta da filha.
Claro que ninguém tinha interesse em esticar o assunto. Portanto, ponto final.
Acaso? Coincidência?

Um rapaz e sua esposa espancam a filha dele e ele a joga da janela do apartamento. O pai dele, pressuroso advogado tributarista, esboça um plano para o casal: alguém entrou no apartamento e jogou a menina pela janela. No meu tempo de criança, esse tipo de criminoso era chamado de mentor.
Um rapaz não se sente impedido de jogar a própria filha pela janela.
Afinal, é filho de alguém que não se sente impedido de usar a própria criatividade para ocultar um crime.
Acaso? Coincidência?

Uma menina de 15 anos é assassinada pelo ex-namorado depois de longo seqüestro.
Pouco depois fica-se sabendo que o pai da menina era procurado pela polícia há uns 17 anos. Fizera parte de uma milícia que assassinou muita gente em um estado do nordeste brasileiro.
Assim como costuma acontecer de meninas filhas de alcoólatras-que-espancam-a-mulher procurarem alcoólatras-que-espancam-a-mulher para casar, a menina resolveu namorar um garoto que se revelou assassino frio, tal qual o pai.
Acaso? Coincidência?

Sei lá. Apenas tenho a convicção – que não tenho como provar verdadeira – de que filhos de pais razoavelmente normais – seje lá o que seje isso – não saem por aí dando pauladas em pais adormecidos. Nem pais normais, ainda que bastante (d)espertos, usam sua experiência de vida para encobrir os crimes dos filhos. Do mesmo modo, filhos de pais razoavelmente normais não saem por aí a namorar seqüestradores assassinos.

Podem me xingar. É o que penso.

domingo, 19 de outubro de 2008

Futsal: campeonato mundial?!


Sou do tempo em que esse esporte era chamado de futebol de salão.
Esse negócio de futsal já é de um mau gosto horroroso.

Agora: que diabo de campeonato mundial é esse, em que 35 jogadores são brasileiros?

E com uma seleção brasileira em que quase todo mundo joga na Espanha (8 dos 14 selecionados)?

sábado, 18 de outubro de 2008

E$tado$ da matéria


A Folha de S.Paulo traz, hoje, uma propaganda de banco assim, ó:



E eu, que pensava que o grande orgulho de um banco deveria ser o de ser líquido.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Horário de progresso


Pronto. Taí um jeito de o Brasil aproximar-se de Portugal: dia 19, cá em Pindorama, entraremos no horário de verão. A diferença em relação a Portugal, que era de 4 horas, cairá para 3.
No último domingo do mês, dia 26, Portugal sairá do horário de verão. A diferença cairá para 2 horas, apenas.
Dessa maneira, vamos nos aproximando do tal de 1° mundo.
Não deixa de ser um progresso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Só bebo Brahma


O blogueiro Reinaldo Azevedo afirma hoje em um de seus posts (não dou o link do post porque o blog dele está com problemas e não fornece o link de cada post):

O tucano que não perceber que seu adversário fundamental é o PT está com a cabeça nas nuvens.

Essa afirmação me lembra aquela turma que fazia questão de só tomar Brahma (ou só Antarctica).
Quando as duas empresas se fundiram, viram suas convicções abaladas.

Parece que é o que acontecerá em breve com o chamado tio Rei.

domingo, 12 de outubro de 2008

Que venha o fim do mundo


Acabo de ler, no hilário blog Uma dama não comenta,uma versão do Atirei um pau no gato ensinado nas escolas do Brasil zil zil:

Não atire o pau no gato
porque isso não se faz
o gatinho é nosso amigo
não maltrate os animais.


Será que essa montanha de energúmenos que orientam a educação no Brasil zil zil nunca ouviu falar de Bruno Bettelheim, em particular de seu livro The Uses of Enchantment: The Meaning and Importance of Fairy Tales, 1976 (em português, Psicanálise dos contos de fadas)?!

A criança PRECISA da, digamos, violência dos contos infantis (e das cantigas também).
Isso é importante exatamente para fazer dela um adulto equilibrado.
E mais não digo por preguiça.
Procurem alfabetizar-se, pedagogos do Brasil zil zil.
(diga-se, parece que em Portugal a situação não é significativamente melhor).

Diante desse quadro devastador, talvez seja mesmo melhor que o mundo acabe.
A crise atual podia providenciar esse final caridoso.

sábado, 11 de outubro de 2008

A crise está brava


Parece que agora o pessoal, na saída do trabalho, sexta-feira, não deseja bom fim de semana: agora é
- Bom circuit breaker pra você.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

E dá-lhe eleições


Não sei por que o Obama ainda não adotou a bandeira da Marta: internet grátis pra todo mundo. Com essa promessa ele enterrava de vez o McCain.
Quanto à Marta, vai ter de inventar novas maluquices para o segundo turno. A internet grátis não funcionou a contento.
E os Institutos de Pesquisa (DataFolha, Ibope etc) não perdem a pose. Erraram tudo. Mas continuam imponentes.
Em São Paulo, elegeram vereador um dos três que apontei aí embaixo como candidatos Spam: o Trípoli.
São Paulo merece. Vejam como ele fica bonitinho com seus animais de estimação:


Ele entope sua caixa de e-mails

No cachorro eu talvez votasse.

E dá-lhe crise


Finalmente acontece alguma coisa que não acontecia desde que nasci. Acabou a monotonia. Crise igual só daqui a mais oitenta anos. Aproveitem.
Eu que imaginava passar a entrada de ano em Bragança, curtindo o friozinho de lá, já tenho dúvidas. Afinal, nenhum economista de respeito se arrisca a afirmar que haverá 2.009.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Candidatos SPAM- 3


Outro picareta.

PAU NELE!

Aliás, candidato picareta é o que não falta.
Esse, além de mandar spam, usou cadastro antigo: o spam veio para um e-mail que já não utilizo mais.
Deve ter sido por falta de grana: o cadastro antigo era mais barato.

Candidatos SPAM- 2


Esse aí é outro que não respeita nem caixa de e-mails:

NÃO VOTE NELE!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Candidatos SPAM


Tenho recebido uma quantidade grande de e-mails de candidatos a vereador. O indivíduo quer legislar por nós e começa por mandar spam.
Belo começo.

NÃO VOTE NESSE CARA!
Peguei esse aí pra cristo. Não vote nesse cara. Quem não respeita nem sua caixa de e-mails não vai respeitar mais nada.
Pau neles!

Em tempo: guardei o e-mail pro caso do meliante querer me processar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Voltei


E encontrei uma campanha eleitoral em fase final, com propostas que não são jabuticaba mas – me parece – apontam para realizações que ninguém no resto do mundo implementou.
Não sei de quem é a afirmação de que se alguma coisa só existe no Brasil e não é jabuticaba, não presta. Mas faz sentido.
A candidata que lidera as pesquisas em São Paulo afirma categoricamente que irá providenciar Internet banda larga pra todo mundo na cidade.
Ela, tão viajada, tão percorrida (como costumava dizer o grande Pagano Sobrinho, humorista já há muito falecido), deveria parar pra pensar: por que New York, Paris, Roma, Londres etc etc não implementaram essa maravilha ainda?!
Quanto a mim, espero que ela cumpra a promessa. Poderei economizar os setenta reais que pago à NET por mês para ter banda larga em casa.

Tudo isso me faz lastimar a quantidade de horas que já gastei na vida ouvindo abobrinhas dos políticos. Desde os debates sobre se salário era ou não era inflacionário, debates que esquentaram programas de TV no início da década de 60, até a discussão sobre a tampa de concreto que o higiênico Paulo Maluf pretende utilizar para cobrir os rios Pinheiros e Tietê.

E digo higiênico porque, afinal, ele lava até o dinheiro que usa.

Observação: Quanto ao restante da viagem, fantástico. Apenas pessoal demais para publicar aqui.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Vinhais e tais


Minha irmã fez anos logo no dia seguinte ao de nossa chegada a Vinhais. O Isaías, do restaurante Rossio, preparou uma festa inesquecível.


Vinte e poucos parentes compareceram. Foi a chegada triunfal de minhas irmãs e cunhados à terra de nosso pai.
A figura central da festa foi o Sr. Francisco, viúvo de nossa prima Idalina. Ele, que hoje vive em Vinhais, é o último habitante da aldeia de Passos de Lomba que conheceu pessoalmente meu pai.

Aos 94 anos, faz duas caminhadas ao dia por Vinhais
Para coroar tudo isso, deixo-vos com a lua cheia sobre o Parque Natural de Montesinho, no entardecer da segunda-feira, 15.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Da série o Brasil acabou - X



Parece que estamos em mais uma semana em que o prêmio acumulado da Mega-sena sairá para algo assim como Roraima, Acre, Rondônia etc etc.

Nem jogo dá pra levar a sério nesse país.

Atualização (18/09/2008): E saiu o prêmio para alguém do Estado do Rio de Janeiro. Talvez porque acumulou pouco... Sabe-se lá.

Braga - Restaurante Panorâmico


Essa é Braga, vista do Restaurante Panorâmico do Hotel do Elevador em Bom Jesus do Monte:

A comida? Sofrível

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Porto - verão de 2.008


Dizia-se que o verão de 2.008, em Portugal, seria dos mais quentes e secos.
Pois choveu bastante e as temperaturas foram das mais amenas.
Claro que, com a nossa chegada ao Porto, a chuva só ocorreu durante a madrugada. Os dias foram de sol.
Chegamos na quarta-feira, 10, e ficamos hospedados no Hotel Boa Vista, na Foz do Douro, até sábado, 13.
Do quarto, tínhamos esta vista:



Já no dia 10 fomos almoçar na imperdível Adega e Presuntaria Transmontana. Fica em Vila Nova de Gaia, do outro lado do Douro.
Continua excelente ou talvez melhor.
Dia 11 fomos do lado de cá do Douro, em um dos muitos restaurantes da Ribeira, o Chez Lapin. Tínhamos lá estado em anos anteriores. Agora está muito fraquinho. É aquela síndrome-do-restaurante-em-lugar-privilegiado. Como há freguesia garantida, a comida vai piorando, piorando...
Em resumo, uma merda.
Em compensação, no dia 12 fomos almoçar no Cafeína. Maravilha. Fica na rua Padrão, 100. Na região da Foz. Se for ao Porto, não deixe de visitá-lo. O garçom errou ao trazer vinho branco ao invés de tinto, errou novamente ao dizer que borrego era caça (borrego é carneirinho novo), mas a simpatia dele sobrepujava os erros e a comida, ah! a comida.
Não deixe de pedir entrada, prato principal e sobremesa. Não perca nada.
Antes do Cafeína fizemos um rápido passeio pelo Douro (menos de uma hora). Depois do almoço fomos à Livraria Lello, uma das mais bonitas do mundo:





Ainda houve tempo para ver os tubos do órgão da Igreja de Nossa Senhora do Carmo:


Sábado, 13, pela manhã, partida para Braga. Não sem dar uma paradinha para fotografar essa escultura:

domingo, 7 de setembro de 2008

Sou pequeno-burguês:
tanto faz quanto tanto fez


As eleições para prefeitos e vereadores, em todo o Brasil, não me dizem respeito.
Por ser um camarada de classe média, nenhum político tem interesse por mim.
Todas as atenções são voltadas para os pobres.
É um tal de prometer postos de saúde, escolas públicas em que o que mais se alardeia não é o nível do ensino mas a excelência do leite, transporte público de qualidade etc etc.
Quanto a mim, continuarei a pagar plano de saúde, escola privada para os filhos, combustível, manutenção e IPVA de meu carro.
Os políticos estão certos: preocupação com pobre confere maior dignidade ao candidato. Além do mais, pobre é maioria. Dá mais voto.
A única coisa que eles tomam cuidado pra que não aconteça: pobre deixar de ser pobre.
Isso seria uma desgraça.

sábado, 6 de setembro de 2008

Vou a Portugal.
Infelizmente, volto.


Eu havia marcado férias para outubro. Mas uma de minhas irmãs contou-me que ela e o marido iriam a um Encontro de Matemática em Braga, no mês de setembro. Antecipei as férias, convenci minha outra irmã a ir conosco e pronto: vamos os três irmãos, com respectivos e respectiva, passar alguns dias em Portugal.
Aliás, minha irmã e o marido, ambos matemáticos, já lá estão. O Encontro vai de 8 a 12 de setembro (segunda a sexta da próxima semana). Só há pouco tempo minha irmã deixou escapar que o tal Encontro era em homenagem ao marido dela e a outro matemático.
Como ele não é jogador de futebol, quase ninguém no Brasil sabe que ele existe.
É o país que temos.

CLIQUE PARA SABER UM POUCO SOBRE MAURICIO PEIXOTO
Ficaremos, minha mulher, minha outra irmã, meu outro cunhado e eu, no Porto, de 10 a 13, sábado. Aí, então, passaremos por Braga para recolher o outro casal e desfrutar um almoço no Restaurante Panorâmico, em Bom Jesus do Monte.
Saciada a fome, seguiremos para minha terra, Vinhais, distrito de Bragança.
Lá ficaremos hospedados em um apartamento do Isaías (primo).
Como felicidade pouca é bobagem, dia seguinte, domingo, 14 de setembro, é aniversário de minha irmã mais velha.
A comemoração será no restaurante do Isaías, com a presença de vários familiares (dos quais, diga-se, minhas irmãs e cunhados conhecem apenas dois que já visitaram o Brasil, há muitos anos).
A partir de segunda, 15, sei lá o que iremos fazer.
Mas contarei tudo aqui, em detalhes.
Desejem boa viagem a nós.

Vantagem adicional dessa viagem a Portugal: ficarei um mês quase inteiro livre da propaganda eleitoral. Aliás, por falar nisso, não poderia deixar de reproduzir aqui a foto genial que o repórter fotográfico Lalo de Almeida (Folha Imagem) conseguiu da candidata Marta Suplicy. Ganhou primeira página com todos os méritos.

Essa foto merece prêmio. Clique para ampliar

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lícitas ações


No tempo em que os animais falavam e eu ainda era dotado de alguma ingenuidade, tive uma conversa com um colega de trabalho durante a qual ele mencionou certo detalhe referente a uma licitação forjada.
Eu, admirado, exclamei:
- Ah! Essa licitação foi forjada?!
E ele, me olhando espantado, como se contemplasse um extraterrestre:
- T-o-d-a-s as licitações são forjadas.

Diga-se que essa conversa já tem quase vinte anos de idade. Mas nossos intrépidos jornalistas continuam a farejar irregularidades em licitações.
Ficou famoso o truque utilizado por Jânio de Freitas para denunciar o fato de os vencedores de uma licitação terem sido escolhidos com antecedência: alguns dias antes da dita licitação, Jânio publicou um anúncio nos Classificados com o resultado da licitação. Tudo devidamente abreviado para garantir que passasse desapercebido.
Depois de proclamado o resultado da licitação, ele mostrou o anúncio publicado com antecedência.

Agora a turma da Folha Online resolveu requintar o truque: espalhou o resultado de uma licitação futura ao longo de texto sobre ópera.

Dois comentários:

1.Daqui em diante, sempre que eu estiver lendo algum artigo da Folha, não poderei saber se o texto é pra valer ou se é simples disfarce de denúncia de alguma irregularidade. Ou seja, pra variar fizeram o leitor de bobo. A pretensa análise da obra de Strauss era, na verdade, uma denúncia contra o governo paulista e contra a empreiteira Camargo Correia.

2.Quem me garante que outros artigos espalhados pelo site da Folha Online não ocultavam denúncia contra as demais empresas concorrentes? Assim, qualquer que fosse o resultado da licitação, haveria um texto para denunciar a falcatrua: vencesse a Andrade Gutierrez, mostrariam ao distinto público uma crítica de romance de Gabriel Garcia Márquez com a vitória da Gutierrez nas entrelinhas; ganhasse a OAS, uma crônica do Cony desmascararia o resultado previamente combinado; etc etc.

Como costuma dizer Mino Carta, é do conhecimento do mundo mineral que as licitações são forjadas. Mas nossos valorosos jornalistas não são muito mais legítimos que elas.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ciência desvairada


A página de ciência da Folha de S.Paulo, hoje, é – de longe – a melhor produção do jornalismo nos últimos tempos (o tamanho desse “últimos” fica por sua conta).
Primeiro, uma nota sobre o fato de que cientistas estão começando a desconfiar que não se deve chamar os neandertais de estúpidos. Parece que eram apenas diferentes.
Aliás, nestes tempos politicamente corretos, eu diria (vá lá, digo e pronto) que não se deve chamar ninguém de estúpido.
Acontece que a ciência afirmava, até agora, que os neandertais desapareceram porque sua habilidade para construir ferramentas era inferior à do Homo sapiens. Vai daí, um bando de cientistas dedicou anos à análise das ferramentas de uns e de outros e chegou à conclusão: eram equivalentes.
Vejam só: os neandertais viveram aproximadamente 300 mil anos antes de desaparecerem completamente. Não é pouca porcaria. São 150 eras cristãs. Parece que conviveram com o homem moderno, na Europa, por uns 10 mil anos. Sumiram há uns 25 mil aninhos.
Pra mim, que não sou cientista, fica tudo muito claro: eles desapareceram porque já estavam de saco cheio. Afinal, conviver com o homem moderno durante cinco eras cristãs é osso duro de roer. Eu convivo com os ditos-cujos faz pouco mais de 60 anos e já estou porraqui.

Mas essa não é a única matéria interessante, na página de ciência do Folhão. Só que, como eles tinham de encaixar uma enorme publicidade de um automóvel na dita página, sobrou espaço apenas pra uma foto de macaquinhos (crédito da foto: Universidade Emory), com a legenda: Macacos-pregos nos EUA; estudo mostra que espécie fica mais satisfeita ao receber comida e ver amigos ganharem também do que só receber, hábito ligado à formação de redes sociais.
Desde o governo do presidente Sarney, o imortal, cujo lema – pra quem não lembra – era “tudo pelo social” (1.985-1.989), eu não via tanta preocupação com o próximo. Claro que até surgir o insuperável presidente Lulla. Esse ganha até de macaco-prego.

Deixei para o fim a melhor matéria. Ela se espreme entre a propaganda do tal automóvel e a beirada da página. Mas é notável.
Cientistas – sempre eles! – descobriram que as vacas, ao pastar, costumam posicionar-se na direção do norte magnético. Falta descobrir o porquê e, claro, o como.
Dou minhas singelas sugestões: o motivo deve ser alguma superstição. Afinal, tem gente que entende que deve dormir com a cama virada pra não sei onde, começar qualquer caminhada com o pé direito e evitar roupas de cor marrom (olha lá o Zé Sarney novamente!).
Se o Homo Sapiens pode ter essas manias, por que as vacas não?!
De resto, falta descobrir onde fica a bússola, dentro daquele corpanzil.
Vou pensar um pouco e conto pra vocês as minhas conclusões.
Sugestões são – óbvio – bem-vindas.

Ah! Assinantes Folha ou UOL saboreiam tudo isso aqui e aqui(menos a foto dos macaquinhos).

domingo, 24 de agosto de 2008

Quadro final de medalhas - Olimpíadas Pequim 2008


Aqui vai a classificação final das Olimpíadas Pequim 2008.
O critério, claro, foi sempre o de medalhas-por-100 milhões de habitantes.
Clique sobre o quadro para ampliar:

CLASSIFICAÇÃO FINAL
87 países conseguiram alguma medalha. Outros 118 países nada obtiveram.
A JAMAICA FOI A VENCEDORA. Pelo menos até descobrirem o que foi que os atletas jamaicanos fumaram antes das competições.
Portugal ficou em 39° lugar.
O Brasil na 51ª posição.
E não se fala mais nisso.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Padrão Globo de Qualidade


Essa manchete está, pelo menos até esta hora, na página principal do G1, o Portal de Notícias da Globo:

CLIQUE PARA LER A NOTÍCIA, ou eu deveria dizer AS NOTÍCIAS?
Está certo: afinal foram presos vários indivíduos, em três Estados, por roubarem muitos veículos.
Tudo bastante plural.

Ouro Português


CLIQUE PARA LER A MATÉRIA DO PÚBLICO

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Era uma vez XXXVI -
Dilma Rousseff, odores e cores


Neste domingo fui a uma feijoada de comemoração do aniversário de minha nora. Lá, encontrei minha ex-mulher e ex-companheira de presídio de Dilma Rousseff.
O ambiente festivo não permitia muita conversa, mas consegui ouvir dela, sobre Dilma, duas coisas interessantes:
Aos 25 anos, Dilma já demonstrava claramente sua vocação para a vida política. O mesmo não era possível dizer quanto a suas habilidades com as tintas: resolvida a pintar as camas da cela em que vivia de cor-de-abóbora ou laranja, pensou que conseguiria a cor desejada misturando vermelho com branco. Resultado: as camas ficaram cor-de-rosa.
Quando da famosa greve de fome do pessoal da ALN, sobre a qual já falei aqui, as meninas que não aderiram à greve estavam um tanto acanhadas ao preparar as refeições. Algumas propuseram que não utilizassem ingredientes com cheiros fortes. As meninas que estavam em greve de fome sentiriam o cheiro e ficaria mais difícil agüentar o sacrifício.
Dilma não titubeou: nada disso. Vamos utilizar os ingredientes de sempre. Elas estão em greve de fome porque querem. Não temos nada a ver com isso.
E assim foi feito.

Prata Portuguesa

VANESSA FERNANDES

Vanessa Fernandes exibe a medalha de prata conquistada hoje em Pequim, a primeira de Portugal nestes Jogos [foto Reuters, obtida no site do Público]

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ainda sobre Olimpíadas


Vou aproveitar enquanto os chineses dormem pra voltar ao tema do critério de classificação:
Arredondando, digamos que o Brasil tem 200 milhões de habitantes e que Portugal tem 10 milhões.
Se o Brasil ganha, digamos, quatro medalhas, isso vale 2 medalhas para cada 100 milhões.
Se Portugal ganha 1 medalha, isso vale 10 medalhas para cada 100 milhões.
E é assim que eu acho que se devam classificar os países nas Olimpíadas.
Por falar nisso, a classificação do dia de ontem em Pequim (dia 14, que acaba de terminar, lá pra eles) ficou assim, no meu critério de medalhas-por-100 milhões:

Clique para ampliar

Medalhas per capita


Tá bom. Já que todo mundo só fala em Olimpíadas, vamos falar também.

Entendo como totalmente injusto o critério de classificação dos países por quantidade de medalhas conquistadas.

A classificação deveria ser por medalhas per capita.
Não tem sentido comparar X medalhas ganhas pela China com as mesmas X medalhas ganhas por, digamos, a Finlandia.
Ora, a China tem mais de 1.300.000.000 habitantes. Já a Finlandia tem pouco mais de 5.000.000. São 260 chineses para cada finlandês.

Vai daí, até agora, início do dia 14 de agosto aqui em São Paulo, a classificação correta seria:

1° - Georgia
2° - Australia
3° - República Tcheca
4° - Finlandia
5° - Eslovaquia
6° - Suiça
7° - Azerbaijão
8° - Coréia do Sul
9° - Alemanha
10°- Itália

Onde estão os gigantes China e Estados Unidos?

Respectivamente, 21° e 15°.

Pra mim não faz diferença. Mas pra quem liga pra isso, deveria fazer.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rainhas do Telemarketing


Tenho um celular português. Ou seja, tenho um telemóvel. Pré-pago.
Vai daí que costumo utilizá-lo, cá do Brasil, de vez em quando, para ligar para Portugal. Ele funciona, então, em roaming. Por meio da operadora TIM.
De ontem para cá, deixou de funcionar. Sempre que ligava para algum número, ouvia a mensagem, falada por voz feminina e brasileira:
- O número chamado não existe. Por favor, verifique o número discado e tente novamente.
Entrei em contato com a TIM. Expliquei à moça que me atendeu qual era o problema.
Pediu-me o número do celular português, fez-me esperar alguns minutos para verificar e retornou:
- Não consigo saber nada sobre seu celular. O senhor terá de ligar prazEuropa.
Foi o que fiz.
Liguei prazEuropa.

domingo, 27 de julho de 2008

Entrar no céu não é fácil


Ainda no assunto Hinos do Cantor Cristão, há um outro hino – o n° 257 – que continha a seguinte estrofe (a 3ª), que foi posteriormente modificada:

Quem vai debalde querer entrar
Lá no céu? Lá no céu?
Pois se dirá: “Não há mais lugar”
Vais tu? Vou eu?
Quem vai parar na miséria atroz,
Sem mais ouvir a celeste voz?
Vai, por desgraça, qualquer de nós?
Vais tu? Vou eu?


Clique para ver como era o hino, originalmente
Ora, o advérbio debalde significa em vão, inutilmente.
Quase não é utilizado.

Contudo para nós, garotada da igreja, essa estrofe evocava mais ou menos este quadro:

Assim ninguém entra

P.S: Se existir algo que se pareça com o que imaginamos ser o céu, é lá que ficará - felizmente daqui a muuuuito tempo - minha irmã caçula. Ela teve a paciência de escanear esses hinos a partir do Cantor Cristão antigo que ela guarda.
Justo hoje, dia em que ela completa mais um aninho. Beijinhos, mana.

sábado, 26 de julho de 2008

Problemas com a censura


Ontem, nem sei por que, lembrei vagamente de uma piada que minha irmã contava, quando eu era garoto, piada inspirada em um hino do Cantor Cristão.
O Cantor Cristão reúne hinos a serem cantados nas igrejas batistas. Não sei se outras denominações o utilizam. Os hinos têm títulos mas os fiéis costumam conhecê-los pelo número de ordem deles no Cantor Cristão.
Vai daí, pedi a minha irmã que me dissesse qual o número do hino da piada.
Ela, por sorte, mandou-me, além do número, a partitura escaneada do Cantor Cristão dela.
Digo por sorte porque, logo que vi qual era o número, ao invés de abrir o anexo do e-mail com a partitura, peguei o Cantor Cristão da Baixinha (presente de minha outra irmã, de edição bem mais recente do que aquele do qual minha irmã escaneou a partitura) e procurei o dito cujo: hino 472.
Li, reli, nada.
Não sei se vocês sabem, mas os hinos evangélicos são compostos, em geral, de algumas estrofes e um estribilho. Canta-se a primeira estrofe, seguida do estribilho. Em seguida, a segunda estrofe, também seguida do estribilho. Etc etc.
Fui então ao anexo do e-mail. Constatei, surpreso, que o hino 472, que no Cantor da Baixinha tinha quatro estrofes, no Cantor de minha irmã tinha cinco.
Adivinha qual a estrofe que falta no Cantor da Baixinha?
Acertou: a estrofe da piada. Censuraram a piada.
Pra não dizerem que minto, aí vão as duas partituras, para comparação.

Clique para ver a versão censurada
Falta só contar a piada.
Na nossa igreja, em Santos, existia uma senhora portuguesa, de algumas posses, chamada Generosa.
Conta a lenda que num belo domingo convenceu sua empregada doméstica a acompanhá-la à igreja. A moça era negra. Hoje seria afro-descendente.
Ao chegarem ao templo, o culto já começado, cantava-se justamente o hino 472. Sua 2ª estrofe:

Hoste negra vem chegando,
Temerosa, atroz;
Vêm fileiras avançando
Com ardor feroz.


A moça levou um enorme susto. Ela entendeu assim:

Esta negra vem chegando,
Generosa atrás.


Imagine ser recepcionado dessa maneira, num lugar desconhecido, por um coral de centenas de vozes.

Portugal e Brasil: paralelos históricos


Pedro I, que reinou em Portugal entre 1.357 e 1.367, ficou famoso – entre outras coisas – por sua paixão por Inês de Castro.

António Sérgio, em sua Breve Interpretação da História de Portugal, nos conta que:

D. Pedro, a ajuizar pelas descrições de Fernão Lopes, o grande cronista, foi uma espécie de semi-louco, plebeu de modos, galhofeiro, violentíssimo na cólera, com a mania da justiça, ou melhor, da punição, e preciosos dotes de administrador. Segundo o testemunho daquele escritor, “diziam as gentes que tais dez anos nunca houve em Portugal como estes que reinara el-rei D. Pedro”.

Parece-me já ter ouvido, deste lado do Atlântico, algo semelhante.

Terá sido por tais coincidências que Lulla, ao final do jogo com o Grêmio, no final do ano passado, quando o Corinthians foi rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, teria exclamado:

- Agora, Inês é morta.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Essa velha humanidade


Em 2001, em Santiago de Compostela, enquanto encharcava de cerveja meu ateísmo, passei algum tempo a contemplar a estupenda fachada da Catedral.
Em minha imaginação, via os operários a erguerem aquela estrutura gigantesca, desacompanhados de tecnologias modernas, amparados em uma fé antiqüíssima.

Clique para ler sobre a Catedral
Já dentro da nave, desci ao túmulo do apóstolo.
Minha estupefação deveu-se aos degraus de mármore, gastos pelo pisar de peregrinos ao longo dos últimos nove séculos.

Clique para ler sobre o túmulo do apóstolo
Claro que os portugueses mais legítimos do que eu, aqueles que fizeram seus estudos básicos em Portugal, esboçarão um leve sorriso ao perceber minha admiração quase infantil diante de tradições de séculos tão remotos.

No entanto, para quem habituou-se a antigüidades não aquém do século 16, esses degraus machucados por quase uma dezena de séculos só podem embasbacar.

Por isso, é com prazer de quem saboreia um delicioso chocolate que leio sobre meu Trás-os-Montes, em Gama Barros (Historia da Administração Publica em Portugal nos séculos XII a XV, tomo XI, pág. 425):

Na ultima decada do seculo XI apparece um documento citando Pannonias como territorio onde existiam varias propriedades. Sob esse nome abrangia-se um terreno que podemos dizer vasto, pois as inquirições geraes de 1220 já registaram n’elle trinta e tres freguezias; mas não comprehendia todo o espaço que pertence ao actual districto de Villa Real.
Para designar todos os mais territorios que entestavam com o de Panoias, parece que não havia então um nome especial, e que tambem o não tinha o territorio do moderno districto de Bragança, que fórma agora, com o de Villa Real, a província de Traz-os-Montes. Era porém Bragança uma terra já de certo importante antes de lhe ser concedido o foral de 1187, que lhe chama algumas vezes villa, mas ainda mais civitate, e conclue declarando que por elle dá o soberano á cidade de Bragança e aos seus povoadores integralmente e para sempre a cidade e Lampazas com seus termos.
Foi isso mesmo que responderam os jurados nas inquirições de 1258 (4ª alçada) sobre os direitos fiscaes na villa de Vinas, dizendo que el-rei D. Sancho, o velho, dera por carta ao concelho de Bragança tudo que era regalengo na terra d’esse nome.


Valendo-me da generosa doação de D. Sancho, pretendo ocupar, em breve, um pequeno espaço que já foi de el-rei nas terras de Bragança.

domingo, 20 de julho de 2008

Ύβρις e Σωφροσύνη


Para a Grécia clássica, os grandes valores éticos eram Hýbris e Sophrosýne (fala-se Íbris e Sofrosine).
Hýbris é o excesso, o exagero, a sem-medida.
Sophrosýne é o comedimento, a moderação, a temperança.
Claro que Sophrosýne é o ideal grego, a excelência moral.
Quanto a mim, sempre fui Hýbris.
Mas devagar com o andor.
A coisa não é tão simples.
Neste sábado, chamou minha atenção o magnífico artigo de Drauzio Varella na Folha (aqui, para assinantes Folha ou UOL).
Em princípio, Varella é modelo de sophrosýne. Equilibrado, faz questão de dizer que curte uma cachacinha mas, por outro lado, é totalmente a favor da nova Lei Seca brasileira.
Um trecho de seu artigo, contudo, acendeu em mim uma luzinha amarela:

Aos sábados e domingos, quando estou de folga, tomo uma cachaça antes do almoço, hábito adquirido com os carcereiros da antiga Casa de Detenção. Difícil é escolher a marca, o Brasil produz variedade incrível. Tomo uma, ocasionalmente duas, jamais a terceira.

Esse jamais a terceira, a meu ver, já é Hýbris.
A fronteira entre os dois conceitos é muito sutil.
Todo cuidado é pouco.
Ou melhor, algum cuidado.
A Hýbris está sempre à espreita.

sábado, 19 de julho de 2008

Convenhamos


Minha irmã andou digitalizando fotos antigas.
Deu nisso.
Essa foto minha, na praia de Santos em 1.969...
É preciso reconhecer: eu tinha cara de terrorista.
Paciência.
O lado bom: como eu era magro!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ausências


Hoje, ao escrever um e-mail para um amigo com o qual não falo há tempos, lembrei-me do episódio.
Era uma dupla de colegas meus da Poli-USP.
Os dois fizeram ginásio e científico juntos. Quando entraram na Poli, um deles, o Paim, simplesmente passou a ignorar o outro, o Fábio.
Como o Paim sempre foi meio amalucado, o Fábio não se impressionou muito.
Um belo dia, já no segundo ano, pleno 1.964, golpe militar ainda fresquinho na praça, rolava uma assembléia estudantil no pátio da Poli velha, na Av. Tiradentes. Eis que, por acaso, o Paim postou-se junto ao Fábio, em meio à multidão de alunos atentos às arengas dos líderes. Mas nem uma palavra. A assembléia corria solta. De repente, alguns urubus começaram a voar mais baixo. Um deles passou bem perto dos dois.
O Paim vira-se pro Fábio e comenta, depois de dois anos de silêncio:
- Que rasante, hein!

P.S. Paim (engenharia eletrônica) faleceu pouco mais de uma década depois de formado, ao saltar de asa-delta em São Paulo, num dia de muito vento.
Fábio (engenharia química) faleceu anos depois, vítima de um câncer fulminante que o derrubou em pouquíssimos meses.

De Paim guardo lembranças agradáveis e engraçadas, dos anos de intenso convívio nos cursos de Engenharia Elétrica.
De Fábio recordo as muitas vezes em que nos encontramos na casa do amigo comum, meu irmão Luiz Brandão. Inesquecível seu estilo blasé, seu cachimbo, sua ironia.

Queria que ambos estivessem por aí.
Em certo sentido ainda estão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

ConversAfiada


Depois de trabalhar durante anos na TV Globo, depois de produzir um blog no portal IG no qual defendia com unhas, dentes e o resto do corpo o governo Lula, eis que Paulo Henrique Amorim surtou. Pelo menos é a única explicação que encontro para a reviravolta que se operou em seus textos.
PHA, como ele mesmo se intitula, chutou e continua chutando todos os paus de todas as barracas.
Imperdível. Impagável.
Vá até , correndo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Para Elsa Joana


O vídeo com a música de Edu Lobo e Chico Buarque na voz de Adriana Calcanhoto é minha homenagem à neta de minha prima Zelinda, Elsa Joana de Morais Nunes Ribeiro Alves ou, simplesmente, Elsa Ribeiro Alves.
Ela, que vive com os pais em Bragança, Portugal, acaba de conseguir a única vaga disponível para o seu nível na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa.
Com direito a matéria no Mensageiro de Bragança (clique aqui).




E parabéns, também, pelo aniversário, anteontem.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Nove de Julho


Feriado em São Paulo. Dia de comemorar a revolta de São Paulo contra o resto do Brasil. Não é bem assim? Tá bom. Deixa pra lá. Quando tiver um tempinho, leia, por exemplo, 1932: A Guerra Paulista, de Hélio Silva, Editora Civilização Brasileira. Tem em tudo quanto é sebo. Meu exemplar é da 2ª edição, 1.976.
Bom mesmo foi comer a feijoada do Salada Record, ao lado do Brahma, esquina de Ipiranga com São João. Delícia de feijoada, acompanhada de caipirinha de cachaça Seleta. Magnífica.
Tudo incrivelmente barato. E servido pelo Chico, garçom impecável. Simpatia pura. Na companhia do amigo Amadeu. Melhor impossível.
Na onda da São Paulo moderna, fui sem carro, pra poder beber à vontade e não voltar dirigindo. Os vigilantes estão, agora, dando plantão nas portas de bares e restaurantes. O cidadão sai, pega o carro e eles logo se aproximam, bafômetro em punho.
É isso mesmo. Tá certo.
Depois, visitinha à tia Jessa, mergulhada em seu mal de Alzheimer, mas ainda em estado inicial da doença. Ela é o xodó da Clínica. Está sempre alegre. Canta, dança e conforta os outros velhinhos. Estar com ela me faz sentir a imensa maravilha que é estar vivo. De algum modo misterioso ela me transmite esse sentimento.
Obrigado, tia. Fico a dever-te isso.
Minha primogênita me envia e-mail: adivinha onde estou, pai. Num restaurante em Paris.
Pois é. Ela foi a trabalho por três dias. Claro, ficou maravilhada com a cidade que ainda não conhecia. E eu, que pensava que ela não gostaria de Paris.
Amanhã a roda continuará a girar.
E eu, quem sabe, me livrarei dessa gripe que me assola.
Assola mas não impede que me divirta.

(e não é que esse blog virou diário de adolescente!?)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Matamos teu filho mas pedimos desculpas


A estúpida morte do menino João Roberto mereceu comentários do Governador do Estado do Rio de Janeiro, do Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, do Comandante do 6° Batalhão da Polícia Militar, comandante dos assassinos.

O Secretário pediu desculpas.

Escárnio em estado puro.

O Secretário e o Comandante deviam simplesmente pedir demissão. No mínimo.

Mas isso nem passa pela cabeça deles. Eles falam em punir os subordinados que praticaram a lambança abominável. Quanto a eles, nada têm a ver com tudo isso.

Apenas pedem desculpas.

domingo, 6 de julho de 2008

Cassetada nos fatos


A sra. Bia Abramo, que escreve aos domingos na Folha de S.Paulo sobre TV, costuma cometer atentados contra a língua portuguesa aproveitando o clima de impunidade reinante em Pindorama.
Neste domingo, resolveu mudar de vítima. E feriu gravemente a história do Casseta & Planeta, programa fúnebre das noites de terça-feira na TV Globo.
Ensina a mestra:

O "Casseta" surgiu do "TV Pirata", que, por sua vez, é a aventura televisiva do "Planeta Diário", semanário que mudou os parâmetros de humor nos anos 80. De alguma maneira, todas as produções dessa linhagem inverteram a equação do humor a partir do final dos anos 70. Retomando, de certa forma, a esculhambação do "Pasquim", o "Planeta Diário" revolve o humor político em sentido quase que oposto ao da imprensa de resistência e, de quebra, revela um sentido de comicidade das contradições do cotidiano brasileiro, de forma menos edulcorada, mais "da rua" que seus antecessores.

(Assinante Folha ou UOL lê a íntegra aqui.)

Seja lá o que a moça quis dizer com essa ladainha gongórica, a questão é que a origem do programa de TV Casseta & Planeta é o jornal Planeta Diário mas é – também – a Casseta Popular.

O humor do Planeta Diário era bastante diferente do produzido pela revista Casseta Popular. Era muito mais sofisticado. A Casseta Popular fazia um humor mais grosseiro, ainda que nem sempre ruim.

Com a ida dos dois grupos para a TV, predominou, claro, o tipo de humor da Casseta Popular.

Antes de escrever, dona Bia podia ler, ao menos, este resumo da Wikipedia. Afinal, os atentados dominicais que ela perpetra são reproduzidos em mais de 400.000 exemplares da Folha.

sábado, 5 de julho de 2008

Wimbledon:
final sem sal nem açúcar


Antigamente, quando se queria dizer que alguma coisa era totalmente sem graça, dizia-se que era como dançar com irmã(o).
Agora talvez seja preferível dizer, de alguma coisa insossa, que é como final de torneio do Grand Slam entre irmãs.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A Lei de Ricupero


Certa vez, nos estúdios da Globo em Brasília, um animado ministro do governo Itamar Franco, Rubens Ricupero, sem saber que sua conversa com o entrevistador Monfort estava sendo transmitida para todo o Brasil, confessou: “No governo é assim: o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.

Isso parece valer também para os blogs de política. Sobre a libertação de Ingrid Betancourt, os blogs alinhados ao governo, ao PT etc, aqueles que se referem à grande imprensa pelo apelido de PIG (Partido da Imprensa Golpista: Folha, Estadão, Globo, Veja etc), passaram batidos. Para eles, nada aconteceu. Vejam, por exemplo, as últimas notícias no Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim:

Clique para ir ao Conversa Afiada
Já os pitbulls da direita chegam até a achar que a história de que Ingrid estava à beira da morte era contra-informação das FARC.

Engraçado, mesmo, é o blog de política (sic) de um tal Mello. No dia de ontem, o único post publicado foi sobre como enrolar os fios dos fones de ouvido sem se enrolar [com as notícias que não nos favorecem].

Resgate da verdade


Não nutro a menor simpatia pelas tais FARC.
Agora, passar anos ouvindo dizer que Ingrid Betancourt está à beira da morte e - de repente - vê-la saltitante e mais saudável que nunca é, no mínimo, estranho.
Parece que é pedir muito mas será que alguém poderia contar a verdade sobre todo esse episódio?

sábado, 28 de junho de 2008

Nossos heróicos bombeiros


Há alguns aninhos, ao olhar pela janela da sala de meu apartamento percebi o início de um incêndio no bosque existente próximo ao prédio em que resido.
Liguei imediatamente para o Corpo de Bombeiros. Dei os dados e recebi a informação de que as devidas providências seriam tomadas.
Passada uma meia hora, o fogo se alastrando, liguei novamente. Disseram-me que tudo tinha sido providenciado. Alertei-os para o fato de que não havia aparecido ninguém para conter o fogo.
- Fique tranqüilo. Já foram tomadas as providências.
Fiquei tranqüilo. Quem não ficou tranqüilo foi o fogo, que consumiu um pedaço nada desprezível do bosque.
Até hoje, aguardo – tranqüilo – que os bombeiros apareçam.
O fogo apagou, aparentemente sozinho, algum tempo depois.
No lugar das árvores, surgiu, uns dois ou três meses mais tarde, um belo empreendimento imobiliário.
Só então me dei conta de quais tinham sido as providências tomadas.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Humor afro-descendente


Minha caçula, que me superou em matéria de humor negro, garantiu que o Alexandre Nardoni, quando acabar de cumprir pena, já tem onde trabalhar:
Escritório de Advocacia Mattos Filho.

sábado, 21 de junho de 2008

Conclusões - 1


Chego, só aos 63 anos, à conclusão a que já chegara Capistrano de Abreu aos 48, ao explicar sua recusa em aceitar ser membro da ABL:

Ele conta, em carta a um amigo, que não quis fazer parte da Academia Brasileira de Letras por ser "avesso a qualquer sociedade, por já achar demais a humana".


Correspondência, Vol 1, 2ª edição, 1977, página 152

Desejos - 1


Talvez queira eu morrer ao cair de uma cadeira pouco estável que, por preguiça, tenha usado pra não ter de buscar a escada para pegar Grande Sertão: Veredas, lá na terceira prateleira, em meio a outras relíquias.
Seria talvez dolorido.
Mas, certamente, um dos poucos modos dignos de morrer.