terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série O Brasil acabou - XI


Quando saio de casa de manhã posso escolher entre dois caminhos para ir ao trabalho. O mais curto é mais sujeito a congestionamentos. O outro, mais longo, raramente apresenta problemas de tráfego.
Hoje de manhã, como o caminho mais curto estivesse todo parado, resolvi ir pelo outro. Nele, ando boa parte em sentido contrário ao do trânsito intenso. Aliás, é por isso que ele é mais desimpedido.
Entrei em uma rua de duas mãos, rua estreita, de prédios residenciais. No sentido em que eu ia tudo estava livre. No sentido contrário, uma fila interminável de carros, deslocando-se lentamente.
Vai daí, um automóvel resolveu sair da fila e vir em minha direção pela contra-mão.
Eu poderia ter deslocado meu carro bem para a direita para dar passagem ao malandro. Mas achei aquilo um desaforo (não só comigo mas principalmente com os demais carros que iam no sentido contrário ao meu). Parei, ele parou em frente a meu carro e assim ficamos durante uma fração de minuto.
Do automóvel transgressor não se via nada dentro. Como já tornou-se regra de poucas exceções, em São Paulo, os vidros eram todos negros, opacos.
Lembrei-me de alguns casos recentes de motoristas que mataram a tiros outros motoristas, até mesmo pelo banal motivo de um ter reclamado do outro piscando os faróis.
Pensei que, em pouco tempo, estarei livre desta barbárie que aqui se instalou.
Desviei o carro e fui em frente. O outro, triunfante, acelerou na contra-mão.

Mais tarde, durante o almoço, fiquei sabendo, pela TV, da invasão de um Pronto-Socorro por estudantes de medicina bêbados.

Não tenho mais dúvidas. Nós, os brasileiros, perdemos a capacidade de conviver em sociedade.
Daqui pra frente, salve-se quem puder.
Espero poder.

Sem comentários: