quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ausências


Hoje, ao escrever um e-mail para um amigo com o qual não falo há tempos, lembrei-me do episódio.
Era uma dupla de colegas meus da Poli-USP.
Os dois fizeram ginásio e científico juntos. Quando entraram na Poli, um deles, o Paim, simplesmente passou a ignorar o outro, o Fábio.
Como o Paim sempre foi meio amalucado, o Fábio não se impressionou muito.
Um belo dia, já no segundo ano, pleno 1.964, golpe militar ainda fresquinho na praça, rolava uma assembléia estudantil no pátio da Poli velha, na Av. Tiradentes. Eis que, por acaso, o Paim postou-se junto ao Fábio, em meio à multidão de alunos atentos às arengas dos líderes. Mas nem uma palavra. A assembléia corria solta. De repente, alguns urubus começaram a voar mais baixo. Um deles passou bem perto dos dois.
O Paim vira-se pro Fábio e comenta, depois de dois anos de silêncio:
- Que rasante, hein!

P.S. Paim (engenharia eletrônica) faleceu pouco mais de uma década depois de formado, ao saltar de asa-delta em São Paulo, num dia de muito vento.
Fábio (engenharia química) faleceu anos depois, vítima de um câncer fulminante que o derrubou em pouquíssimos meses.

De Paim guardo lembranças agradáveis e engraçadas, dos anos de intenso convívio nos cursos de Engenharia Elétrica.
De Fábio recordo as muitas vezes em que nos encontramos na casa do amigo comum, meu irmão Luiz Brandão. Inesquecível seu estilo blasé, seu cachimbo, sua ironia.

Queria que ambos estivessem por aí.
Em certo sentido ainda estão.

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