sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lícitas ações


No tempo em que os animais falavam e eu ainda era dotado de alguma ingenuidade, tive uma conversa com um colega de trabalho durante a qual ele mencionou certo detalhe referente a uma licitação forjada.
Eu, admirado, exclamei:
- Ah! Essa licitação foi forjada?!
E ele, me olhando espantado, como se contemplasse um extraterrestre:
- T-o-d-a-s as licitações são forjadas.

Diga-se que essa conversa já tem quase vinte anos de idade. Mas nossos intrépidos jornalistas continuam a farejar irregularidades em licitações.
Ficou famoso o truque utilizado por Jânio de Freitas para denunciar o fato de os vencedores de uma licitação terem sido escolhidos com antecedência: alguns dias antes da dita licitação, Jânio publicou um anúncio nos Classificados com o resultado da licitação. Tudo devidamente abreviado para garantir que passasse desapercebido.
Depois de proclamado o resultado da licitação, ele mostrou o anúncio publicado com antecedência.

Agora a turma da Folha Online resolveu requintar o truque: espalhou o resultado de uma licitação futura ao longo de texto sobre ópera.

Dois comentários:

1.Daqui em diante, sempre que eu estiver lendo algum artigo da Folha, não poderei saber se o texto é pra valer ou se é simples disfarce de denúncia de alguma irregularidade. Ou seja, pra variar fizeram o leitor de bobo. A pretensa análise da obra de Strauss era, na verdade, uma denúncia contra o governo paulista e contra a empreiteira Camargo Correia.

2.Quem me garante que outros artigos espalhados pelo site da Folha Online não ocultavam denúncia contra as demais empresas concorrentes? Assim, qualquer que fosse o resultado da licitação, haveria um texto para denunciar a falcatrua: vencesse a Andrade Gutierrez, mostrariam ao distinto público uma crítica de romance de Gabriel Garcia Márquez com a vitória da Gutierrez nas entrelinhas; ganhasse a OAS, uma crônica do Cony desmascararia o resultado previamente combinado; etc etc.

Como costuma dizer Mino Carta, é do conhecimento do mundo mineral que as licitações são forjadas. Mas nossos valorosos jornalistas não são muito mais legítimos que elas.

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