domingo, 26 de dezembro de 2010
E 2.011 promete ser inigualável
Faz algum tempinho que cá não venho.
Pudera!
Saí de São Paulo no sábado, 11 de dezembro, com uma terrível infecção urinária e uma gripe monumental.
Como não há mal que não traga algum benefício (será?), pude começar a testar os serviços de saúde cá de Bragança.
Fui maravilhosamente bem atendido, queriam até que me internasse no hospital, mas consegui autorização para ir recuperar-me em casa.
Entre consulta médica, exames de urina, exame de sangue, aplicação de soro, tive que pagar a fortuna de €7,75.
Preciso agora ir ao médico de família para consolidar os tratamentos recomendados.
E começaram a chegar filhos e netos. Da Austrália, dos USA, do Brasil. Ao todo, 16 pessoas: 11 adultos, dois quase adolescentes (10 anos), um garoto de 3 anos, uma menina de quase 2 anos e um bebé de 3 meses.
Fomos a Passos de Lomba para que a maioria conhecesse os parentes que lá vivem. As crianças se encantaram com porcos, patos e galinhas.
Eu me encantei - mais uma vez - com o vinho feito por meus primos, sem conservantes, nem acidulantes, nem civilizantes.
A consoada foi cá em casa. O almoço de hoje, 25, também. O bobó de camarão estava ótimo.
Amanhã, 26, começa a debandada. Afinal, todos os filhos fizeram sacrifícios profissionais para virem cá, juntar-se a nós.
Alguns partem para Madrid, outros para o Porto.
Restam ainda outros que ficarão até inícios de Janeiro.
O presente que me deram, com a presença, foi maior do que o que eu poderia almejar.
Meus filhos, genros e noras são maravilhosos. Os netos são encantadores.
Que mais poderia eu pedir ao destino?
Talvez um derradeiro gole de cognac.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Predestinado
Sou da turma da POLI-USP de 1.967.
Ontem à noite fui visitar um colega de turma. Visita muito agradável e cheia de histórias antigas, do pessoal de nossa turma.
E até de turmas anteriores.
Eu não sabia que Luiz Carlos Mendonça de Barros fora da turma anterior à nossa, a que se formou em 1.966.
Se quiser saber um pouco mais sobre ele, clique no nome do rapaz. Verá que logo em 1.967 ele já se enfronhou no mundo financeiro e foi em frente.
O que eu também não sabia é que ele foi presidente da Equipe de Recepção aos Bichos (não sei se o nome era exatamente esse) da minha turma, que chegou à POLI em 1.963.
Vai daí, o pessoal da minha turma costumava jogar partidas de futebol de salão (hoje se diz futsal). E um problema recorrente era conseguir bola.
Mendonção, como hoje é conhecido, soube da carência e não hesitou: comprou uma bola e passou a alugá-la para os bichos que jogavam futsal.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Um tipo inesquecível
Quando era criança, eu costumava ler vários artigos em Seleções. Meu pai era assinante.
Uma seção permanente da revista era o “Meu tipo inesquecível”.
Vai daí, lembrei-me, hoje, de uma figura gravada em minha memória para sempre.
Tratava-se de um goês radicado em Santos. Constava que fora alto funcionário sei lá do quê. A bebida o levou à ruína.
Hoje sei que a bebida não leva ninguém à ruína. É a ruína que às vezes leva o indivíduo à bebida.
Mas vamos adiante.
Não lembro o nome dele. Minha irmã mais nova talvez lembre.
Tinha aquela cor cinza característica dos indianos. Vivia a mendigar e, a partir de uma certa época, passou a fazer da entrada da Primeira Igreja Batista de Santos a sua residência.
Era aquele mendigo que sempre usa um paletó. Imundo, mas paletó.
A despeito de seu estado lastimável, transmitia uma imagem altiva, quase imponente, ao menos para crianças como eu, lá pelos nove ou dez anos.
Volta e meia abordava a mim e a meus amigos da Igreja com perguntas sobre gramática, aritmética, coisas assim. E distribuía balas.
Meu pai, é óbvio, presenteou-o com alguns livros de catequese.
Lia-os e os comentava ao reencontrar meu pai. Sempre com a ressalva de que lera com atenção mas – infelizmente – sem os confortos que uma verdadeira casa poderia oferecer.
Lembro-me, em particular, de um dia em que o tesoureiro da Igreja, o Nestor, lhe deu uma nota de dois cruzeiros (se não me falha a memória era uma nota amarela), que mal dava para pagar um cafezinho.
Preocupado com a utilização que dela faria o goês, o tesoureiro advertiu:
- Veja lá o que vai fazer com esse dinheiro!
Como calhou que eu estivesse por perto, pude perceber o que murmurou o goês ao retirar-se:
- Dá-me dois cruzeiros e me diz para não esbanjar!
De pessoas assim, tenho saudade.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Ainda no clima das eleições brasileiras
Pensando bem, é claro que a nova presidente é a favor do aborto. Ela tem DIU até no nome!
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Gêneros
Parece que Dilma gostaria de ser tratada por presidenta.
Os presidentes anteriores deveriam, então, passar a ser ditos presidentos.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Era uma vez - XXXVIII
A importância dos presos políticos dos anos 70
No tempo em que eu estava na cela 12, no chamado fundão do Pavilhão 2 do Presídio Tiradentes, houve um dia em que discutimos a respeito da eventual importância daquele nosso grupo de presos políticos no futuro do país.
Antes de falar sobre essa discussão, faço pequena digressão:
Ainda no Dops, conheci um senhor, lá pelos seus sessenta anos, preso por ser estelionatário.
Em conversa com ele, soube que, na juventude, já tinha puxado cana pelo mesmo motivo. E havia ficado preso no Presídio Tiradentes junto com o escritor Monteiro Lobato.
Ele me afirmava:
- Vocês que estão presos hoje, aqui, serão os que vão mandar no país daqui a alguns anos.
Reencontrei esse senhor no Presídio Tiradentes. Nas visitas de familiares ele segurava no colo um de seus netos e chorava por estar na situação em que estava.
Pois bem. Na discussão da cela defendi um ponto de vista inspirado nas premonições daquele simpático estelionatário.
- Vários de nós [presos políticos aqui encarcerados] seremos responsáveis por este país daqui a alguns anos. Aqui está a nata política da nação.
Meu companheiro de cela, o Jonas, sempre bastante cético, contraditava:
- Imagine! Nós somos um grupo de despreparados. Jamais teremos condição de assumir grandes responsabilidades na política nacional. As pessoas-chave sairão de outras áreas, não deste presídio.
Eu tinha de reconhecer que o grupo todo era muito fraquinho.
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O tempo passou. Vários dos meus companheiros de infortúnio carcerário tornaram-se figuras proeminentes da política nacional:
Frei Betto, Paulo Vanucchi etc etc.
Finalmente, a Dilma – moradora da Torre, a parte feminina do Presídio Tiradentes – torna-se, hoje, presidente do Brasil.
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Eu tinha razão.
Mas o Jonas também tinha: éramos – e somos – muito fraquinhos.
Ou mais precisamente: fraquinhos na qualificação para a direção da nação. Mas vários de nós – daquela turma encarcerada – tornaram-se fortíssimos em outras artes.
Se é que me entendem.
Brasil Norte, Brasil Sul
domingo, 31 de outubro de 2010
Olhar de Poliana
Uma das virtudes das atuais eleições brasileiras é que muito petista aprendeu o significado de tergiversar.
Não que não soubessem tergiversar.
Apenas não ligavam o nome à p'ssoa.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Perigos da fronteira
Daqui a pouco tempo estarei a morar praticamente na fronteira de Portugal e Espanha. Mas não me parece que Bragança seja um lugar de muitos perigos.
O título deste post refere-se à fronteira lingüística, se me permitem a imagem.
O Português e o Espanhol, justamente por serem um tanto parecidos, escondem armadilhas terríveis quando se transita de uma das línguas para a outra.
Já escrevi, aqui, a respeito do mico que paguei em Madrid por não saber que plaza, além de corresponder a praça, em Português, significa também vaga (em garagem).
Hoje descobri outra armadilha: recebi um e-mail da Iberia a anunciar novo número de sua revista Plus. É esse aí abaixo:
Fiquei intrigado. Afinal, chulo, em Português, significa grosseiro, vulgar.
Por mais criativos que sejam os marqueteiros contratados pela Iberia, penso que não chegariam ao ponto de convidar alguém para ler uma revista por ser chula.
Corri a um dicionário e descobri que chulo, em Espanhol, quer dizer legal, bacana.
Portanto, cara(o)s amiga(o)s, se ao encontrarem um(a) espanholito (a) ouvirem dele(a):
- Estás más chula(o) que nunca!
não chutem o balde.
Agradeçam o elogio.
Elogio da religião
Como se fazia no rádio, antigamente:
Dedico este vídeo a todos os meus queridos parentes profundamente religiosos.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Meus progressos na prosódia
Continuo sem saber por que os portugueses falam télémóvel e tulufone (ou até tufone). Mas aprendi há pouco tempo que o bebê do Brasil é bebé em Portugal.
O cocô brasileiro vira cocó em Portugal. O grande prejudicado, neste caso, é um cunhado meu que por ter um nome um tanto complicado, obrigou-me a ensinar meus filhos, quando pequenos, a chamá-lo de Tio Cocó (Cocó era a alcunha dele na infância).
Paciência.
Como sobremesa, aprendi que bebé (ou bebê) vem do nome de um anão da corte de Stanisław Leszczyński, rei da República das Duas Nações.
Ao menos é o que informa a Infopédia.
Não entendo como vivi mais de 65 anos sem saber disso.
sábado, 23 de outubro de 2010
Bullying ontem e hoje
Quando eu tinha meus 9 anos e freqüentava o quarto ano do curso primário no Colégio Marçal, em Santos, fazia sempre o caminho de casa à escola com o coração na mão.
É que havia um garoto gordota e maior que eu que me encontrava pelo caminho e me atormentava com tapas nas costas, na cara e me desafiava. Eu, menor que ele, fugia a correr para a escola. Isso durou alguns meses. Ninguém em minha casa nunca soube nada a respeito disso. O problema era meu.
Um ano e meio depois entrei para o ginásio, no Colégio Canadá.
No início do segundo ano do Ginásio, eis que vejo o gordota a fazer parte da turma do primeiro ano, recém entrada no colégio.
Por alguma razão qualquer eu ficara maior que ele. Além de ser veterano, com todas as vantagens que isso acarreta.
Esperei um recreio propício e o enchi de porrada.
Problema resolvido. Garanto que a família dele também nunca ouviu falar do assunto.
Hoje não.
O chamado bullying é tratado por psicólogos e pedagogos.
E aplica-se até a animais, como se pode ver no post anterior.
Se o pessoal deixasse as crianças resolverem seus problemas por conta própria e aprenderem a viver a vida, tudo seria mais fácil.
Mas...
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Sujeitinho desagradável
Esse tal de Knut deve ser um chato de galocha, apesar do jeitinho bonitinho.
Primeiro foi a mãe que não o agüentou. Agora as namoradas. Três ursinhas, com as quais ele deveria começar a transar no ano que vem, resolveram sacaneá-lo sem parar. O coitado está a ser vítima de bullying por parte delas.
Ora, se nem a mãe quis saber dele, por que diabos as moçoilas deveriam aturá-lo?!
domingo, 17 de outubro de 2010
Da Idade Média ao presente em 10 horas de voo
O Brasil, nestas eleições presidenciais, mergulhou em uma discussão travada em clima medieval. Aborto, casamento de homossexuais, adoção de crianças por casais homossexuais etc etc são temas discutidos da maneira mais canhestra imaginável.
Por isso, o colunista da Folha de S.Paulo, José Simão passou a sugerir:
E quem é a favor da descriminalização do aborto, vota em quem? No bicho papão, no cão, no coisa ruim. Ou então se muda pra Europa.
É o que vou fazer.
Só pra dar uma ideia, a legislação brasileira a respeito do aborto é:
O aborto no Brasil é tipificado como crime contra a vida pelo Código Penal Brasileiro, prevendo detenção de 1 a 10 anos, de acordo com a situação. O artigo 128 do Código Penal dispõe que não se pune o crime de aborto nas seguintes hipóteses:
1. quando não há outro meio para salvar a vida da mãe;
2. quando a gravidez resulta de estupro.
Ler mais aqui.
Já a legislação portuguesa a respeito do mesmo tema evoluiu assim:
Até 1984, o aborto era proibido em Portugal em todas as situações. A lei 6/84 veio permitir a realização da interrupção voluntária da gravidez nos casos de perigo de vida para a mulher, perigo de lesão grave e duradoura para a saúde física e psíquica da mulher, quando existe malformação fetal ou quando a gravidez resultou duma violação.
Em 1997 esta legislação foi modificada, tendo existido um alargamento no prazo em situações de malformação fetal e do que até então era chamado de “violação”, actualmente denominado por “crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da mulher” (lei 90/97). A restrição da lei e a não resposta por parte dos estabelecimentos públicos ou publicamente reconhecidos, levou à existência de uma actividade de aborto clandestino especulativo e perigoso. Como consequência desta situação, o aborto foi, durante todos estes anos, a primeira causa de morte materna e a razão que levou milhares de mulheres aos hospitais com abortos retidos/incompletos ou com complicações resultantes desta prática.
Ao longo de mais de três décadas, muitas organizações, personalidades e profissionais de saúde lutaram por mudanças na lei, de forma a combater o aborto inseguro e ilegal. Com a lei 16/2007, a interrupção da gravidez pode, hoje, ser feita por opção da mulher até às 10 semanas.
Principais disposições legais
A alínea e) do n.º 1 do artigo 142.º do Código Penal em Portugal permite a interrupção da gravidez até às 10 semanas a todas as mulheres grávidas que o solicitem, desde que realizado em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido.
Qual é o prazo legal para a interrupção da gravidez por opção da mulher? Em Portugal, a interrupção da gravidez por opção da mulher pode ser efectuada nas primeiras 10 semanas de gravidez, calculadas a partir da data da última menstruação.
Quem pode solicitar uma interrupção da gravidez? Apenas a própria mulher poderá fazer o pedido de interrupção da gravidez, salvo no caso de ser psiquicamente incapaz.
Quem pode fazer a interrupção da gravidez? A interrupção da gravidez só pode ser realizada por médico, ou sob sua orientação e com o consentimento da mulher.
Onde se pode fazer uma interrupção da gravidez? As interrupções da gravidez podem ser efectuadas em estabelecimentos de saúde oficiais ou oficialmente reconhecidos.
As mulheres estrangeiras poderão fazer uma interrupção da gravidez em Portugal? As mulheres imigrantes têm os mesmos direitos de acesso à interrupção da gravidez, independentemente da sua situação legal.
Qualquer prestação de cuidados de saúde está sujeita a confidencialidade e ao segredo profissional, incluindo todas as etapas do processo de interrupção da gravidez descritas.
Ler mais aqui.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
O sumô e o marketing político
No dia em que fiquei a saber que existia a profissão de limpador de bunda de lutador de sumô, passei rapidamente da perplexidade para a racional constatação da óbvia necessidade da função.
O mesmo ocorreu comigo quando começaram a surgir os marqueteiros políticos, tais como o conhecido Duda Mendonça, que vende tanto Lulas quanto Pingos Doces ou qualquer outro produto.
Sem eles - assessores de lutadores de sumô e marqueteiros de políticos - seria difícil esconder a merda produzida por seus clientes.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Heróis e heróis
Pra mim, os maiores heróis nesse episódio dos mineiros chilenos foram os tais socorristas, que desceram para ajudar no resgate dos mineiros.
Claro que os mineiros se comportaram de maneira extraordinária durante os setenta dias debaixo da terra. Mas o termo herói - a meu ver - não é o que melhor os qualifica. A menos que se adote a genial e sarcástica definição de Millor Fernandes:
Herói é aquele que não teve tempo de fugir.
Já os tais socorristas se prontificaram a correr o mesmo risco que corriam os mineiros com o objetivo de salvá-los. Correram um enorme risco de modo voluntário.
No entanto, tão logo foi retirado lá do fundo o último mineiro, tudo virou festa e o presidente chileno pôs-se a falar sem parar, para comemorar o sucesso da operação. Ao fundo, via-se a roldana ainda a girar para retirar os socorristas.
E se alguma desgraça ocorresse durante o retorno dos socorristas? Todos continuariam a considerar a operação um sucesso?
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Partida
Hoje fiquei a saber que minha mudança já está em alto mar.
Muito bom.
Apenas lastimo que - eu - ainda estou em baixa terra.
Pra não dizer que não gosto de nada
Dos últimos 20 anos da música popular brasileira, salvo Renato Russo.
Fiquem com Eduardo e Mônica, retrato fantástico de uma época:
Acompanhe com a letra:
Eduardo e Monica
Composição: (Renato Russo)
Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade
Como eles disseram.
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
- Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir p'rá casa:
- É quase duas eu vou me ferrar.
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos -
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô.
Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola-cinema-clube-televisão".
E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia,
Teatro, artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava p'ro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás,
Mais ou menos quando os gêmeos vieram -
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.
Eduardo e Mônica voltaram p'rá Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação.
E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Cadê a solidariedade?
Em um post de 2.006, contei a história de minha saída do CAPI Vestibulares. Fui mandado embora, de maneira absolutamente injusta, e toda (TODA) a equipe de professores demitiu-se em solidariedade.
Um dos comentários, de Danilo Melo (que não sei quem é), afirmava:
Em 1968 com emprego saindo pelo ladrão era bem mais fácil ser solidário às injustiças da vida...
Pois bem. Hoje, pelo que alardeia o governo (e a oposição não desmente), há emprego saindo pelo ladrão, como dizia Danilo em 2.006.
E - me pergunto - haverá exemplos de solidariedade como aquela de que fui beneficiário?
Duvido.
domingo, 3 de outubro de 2010
Meu (pen)último voto no Brasil
Acabo de votar. No mesmo Colégio Costa Manso no qual voto há quase 30 anos.
Talvez esse seja meu último voto no Brasil. Basta que não haja segundo turno.
Como voto em São Paulo, as pesquisas indicam vitória folgada do candidato tucano, já no primeiro turno. Restam as eleições presidenciais, nas quais há a ameaça (para alguns) ou esperança (para outros) de segundo turno.
Anulei o voto de ponta a ponta.
Não me resta nenhum interesse pela política brasileira. Apenas me sobrou uma certa curiosidade a respeito de até onde poderá descer a prática política no Brasil.
O fato de muitos candidatos serem incrivelmente desqualificados não quer dizer nada. A questão gritante é que vários deles serão eleitos. E, alguns, arrastarão vários desconhecidos e/ou pouco votados para a Câmara Federal e para as Assembleias estaduais.
Mas o eleitor, em sua grande maioria, não tem a menor condição de entender o sistema de voto proporcional.
E nossos maravilhosos ministros do Supremo Tribunal Federal transformaram o Título de Eleitor no único documento oficial que não permite que se vote.
E gostam de contar piadas sobre o que consideram ser a burrice dos portugueses.
Tenho pena dos que continuarão a viver nesta terra. Em particular, me preocupo por meus familiares que aqui permanecerão. Principalmente os mais jovens.
Mas pouco ou nada posso fazer para levá-los daqui.
Terão de viver sob as leis que o palhaço Tiririca aprovará.
Terão de viver sob uma justiça em que se negocia até o impedimento de voto de ministro do Supremo.
Terão de viver sob as ordens de um Executivo comprometido até a medula com o crime.
Quanto a mim, encerrei minha longa e inútil carreira de eleitor, nestepaiz.
sábado, 25 de setembro de 2010
Recordação
Um de meus melhores professores foi o Baronão. Era (e ainda é) tratado assim por que tinha um irmão mais novo, o Baroninho, por sinal nascido no mesmo exato dia em que nasci. Baroninho, já falecido, foi meu colega na POLI. Depois, deixou a POLI de lado e se firmou como matemático, tal qual o irmão mais velho.
Baronão, que me deu aulas no Curso Di Tulio, costumava entrar em sala de aula, às vezes, e dizer:
- Recordar é viver, então, vamos recordar.
E toca a retomar resumidamente tudo o que já havia sido ensinado.
Pois é. A foto abaixo me foi enviada por minha tia Clarisse.
Nela aparece meu avô Vicente. Ele casou-se com minha avó Amélia, quando ela tinha seus 15 anos. Aos 16 nasceu minha mãe, Celina. Aos 17, meu tio Antero; aos 18, minha tia Olinda; aos 19, meu tio Silas. Tudo isso eu cito mais ou menos. Não tenho as datas certas. Minha irmã Léa vai me corrigir. Aos 21 ou 22 anos, morreu minha avó Amélia, de febre amarela, no Rio de Janeiro. Corria o ano de 1.919, pouco mais, pouco menos.
Vai daí, meu avô Vicente, filho de italianos, mas adotado por um padrasto português logo que minha bisavó ficou viúva e casou-se novamente, resolveu casar-se com a irmã de minha avó. Como dizia minha mãe, a tia Tuta.
Daí vieram tio Afrânio e tio Paulo. Como minha tia avó também morreu precocemente (aqui entre nós, meu querido avô Vicente era um tremendo pé frio, né não?), meu avô casou-se pela terceira e derradeira vez com Dona Chiquinha, mulher linda, que gerou meu tio Vadinho, na foto, e minha tia Clarisse, até hoje a compartilhar alegrias com a gente, junto a seu gaúcho, o Reguera.
Tudo isso para explicar a foto abaixo, carregada de recordações: nela estão Dona Chiquinha, meu tio Vadinho (que me ensinou que careca adora um pente) e meu avô Vicente.
Taj e Allana
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Final de ano em Bragança
Pois é. Lá pra 20 ou 21 de dezembro vão começar a chegar a Bragança irmã, filhos, netos e sogra de um filho.
Vamos comemorar Natal e Ano Novo, ali, ao pé do Parque Natural de Montesinho, com neve ou sem neve. E já com os móveis que acabam de sair daqui de São Paulo rumo ao Velho Mundo.
Vamos conhecer - pessoalmente - a Isabella, nossa segunda neta, que irá pra lá, a partir de New York.
Vamos conhecer Allana, nossa terceira neta, recém nascida na Austrália.
E vamos poder brincar na neve (se houver) com o Taj e a Bruna, os demais netos.
Ficará faltando o Rafael, primeiro neto, que não poderá ir.
Não nos esqueçamos da Doga, que ficaria ressentida se fosse deixada de lado.
E que tudo seja inesquecível. Por ser maravilhoso.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Comunicado imprescindível
Dia desses, penso que 15 de setembro (ou terá sido 16? esses fusos horários complicam minha vida) nasceu Allana, primeira neta australiana.
Nós ainda não a vimos. Dizem ser mais bonita que o irmão Taj. Se isso for verdade, preparem-se para uma nova Miss Australia 2.028.
A mãe, Lu, está super bem.
Bola pra frente.
Enquanto nós mandamos nossos móveis para Bragança, Allana traz suas esperanças para o planeta Terra.
Caos
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Velório de Romeu
(escrito em 9/10 de agosto de 1.975)
O café não está dos piores, quero ver é acordar às sete pra pegar aquela papelada toda e botar em ordem. Mas não havia jeito, Romeu era subordinado seu e se ele não aparecesse no velório iria ser uma falação dos diabos entre os colegas de trabalho.
Pois é, meu senhor, basta estar vivo, a-vida-é-assim-mesmo, ainda por cima essa velha carpideira resolver despejar sua catarata de lugares comuns justo em cima de mim, parece que hoje não é o meu dia. Convenceu-se logo de que não era mesmo pois a velha a seu lado atraiu para aquele canto da sala um animado grupo de matronas, todas muito seguras em seus papéis, verdadeiras profissionais naquele ambiente de lágrimas & condolências. E foi o dilúvio. O senhor era chefe do Romeu, não era?, pobrezinho, tão jovem, ainda ontem tão sadio, tão disposto. Quem diria!... Distribuía para as velhotas expressões que o constrangimento devia tornar estúpidas, mas de qualquer forma sobrevivia. O fato é que o molenga do Romeu nunca esteve muito vivo, o prazo para entregarem aquele projeto já se estava esgotando e o homem sempre no mesmo ritmo, incapaz de dar duro e resolver logo a coisa. Aceita um café? Parece que adivinhava que a bomba iria estourar na minha mão, o vidente. Virou o café aproveitando para examinar a sala, a televisão do outro lado dominando a cena, mesmo desligada, embutida em um móvel sobre o qual estava uma bandeja com xícaras e uma garrafa térmica. Aquele montão de cadeiras certamente tinha sido trazido pela vizinhança, normalmente as poltronas e o sofá também não deveriam ficar todos assim, ao longo das paredes, tudo devia girar em torno da televisão, os móveis e a família. Pensou, por falta de idéia melhor, que afinal a morte talvez fosse o único evento capaz de romper a mania das novelas e dos shows de TV. Ou talvez não, porque a mulherada que o cercava parecia estar em pleno debate a respeito de capítulos mais recentes das novelas preferidas. Pensou na viúva, sentada ao lado de pessoas da família, menos por pena, mais para não ouvir a conversa à sua volta. Não era uma mulher totalmente feia, ou melhor, nela a questão se situava em outros termos, não era bonita nem feia, parecia simplesmente um pouco mais medíocre que o normal das esposas-de-funcionários-de-nível-médio. Que era a morte do Romeu para ela? Provavelmente volta a morar com os pais. Uma vez por ano leva flores ao túmulo, talvez mais, sei lá. O terrível é que me parece que nada é capaz de abalar nela essa atmosfera de cotidiano, romper esse bloco de bom senso. Não vai passar por nenhuma reorientação essencial, apenas leves alterações de rotinas diárias. No entanto, morrera o homem com o qual construira todos os orgasmos de sua vida, para o qual cozinhara durante uns vinte anos, entra-dia-sai-dia, um lava-passa de cuecas, camisas, meias e o diabo! Mediocridades compartilhadas, ainda mais que a falta de filhos os deixara todos esses anos cara a cara, sem biombos, interfaces protetoras, que coisa linda que os filhos são!, como é que podia associar essas coisas todas com Vinicius, velório é isso, a gente começa a revirar memória, esforço pra não dar aqueles bocejos indelicados... de repente, não mais que de repente, a gente desenterra poemas, amigos esquecidos, mortos pra gente, cujas mortes - dessas sem velórios, enterros, mais efetivas porque menos rituais - ajudaram a alterar nossos rumos, de um jeito ou de outro nos arrastaram até aqui, ou teriam nos empurrado mais pra lá se não tivessem sido, se os amigos (se os poemas) tivessem vivido mais, se suas forças de gravidade nos tivessem por mais tempo segurado em órbitas passadas, mortas agora. O senhor está acompanhando também? O último capítulo estava apaixonante! Claro, claro, ainda bem que essas madames não exigem muito das respostas, não são como Isabel, que queria tudo explicadinho, espoleta a Isabel, só sossegava na cama, mas antes!, veja a ironia. Que bicho terá comido a danada, sumiu. Naquele tempo as pessoas iam e vinham sem muitas cerimônias, sem batizados nem velórios, passavam. A fase das grandes amizades já havia passado, ainda não surgira a época das amizades formais, de conveniência, era o vazio-de-final-de-adolescência. Qualquer dia teorizo isso. Estará fazendo o quê, a Isabel, certamente ouvindo explicações de algum outro, será que já aprendeu a trepar?, vai ver pensa que a culpa era minha. De qualquer jeito, outro mundo, de qualquer modo, morta, mais talvez do que o Romeu. Biscoito? Obrigado. A questão é que Isabel não lhe dizia mais nada, agora que ausente. Outros vazios doíam mais, amizades nas quais esgotara imprudentemente toda a sinceridade e paixão que deveria ter espalhado mais de modo homogêneo pela vida inteira. Caso do Gomes. Porra, o Gomes! Houve época em que não podia imaginar um dia sem um papo com o Gomes. Sofreram juntos os dramas seus e os do mundo, discutiram em detalhes intermináveis os absurdos da vida, tudo com muito conhaque (o Gomes sabia beber conhaque) e muita música pra catalisar tristeza. Pensando nisso, será que pega mal se eu pedir um conhaque aí pra alguma responsável pelos comes-e-bebes?, seria até um jeito de sair desta roda de galinhas estéreis. Com licença.
Conseguiu seu conhaque sem muita dificuldade, esgueirou-se para o jardim da frente da casa e aboletou-se no murinho que o separava da calçada já deserta. O conhaque era de quinta categoria, mas a noite estava soberba. Estivesse com o Gomes, estaria bebendo um Macieira, no mínimo. Mas não teríamos nada pra dizer. Aqueles planos de largar tudo, sair por aí escrevendo poemas, hoje isso soaria como uma proposta de sair da Via Láctea à procura da origem do cosmos. Agora que tudo era farsa, já não sabia estabelecer até que ponto falavam sério naqueles papos de antes. antes do quê, afinal. Gozado como não houve nenhum ponto de ruptura bem delimitado, essas coisas só existem nas teorias. Certamente o Gomes era mais sincero, parecia falar sempre mais de dentro, mais pra valer. Ele sempre puxava os temas, as variantes do mesmo Tema. A partir do terceiro copo os dois já estavam mergulhados vitalmente naquele mundo de projetos e desespero, mas no início era o Gomes que os arrastava para aqueles ódios sem objeto, aquela nostalgia sem passado. A viúva, lá dentro, começava a chorar mais alto. Olhou o céu pintadinho de estrelas, pra que canto teria ido o Romeu, pra que lado teria ido o Gomes, foram se encontrando cada vez menos, o Gomes muito preocupado com desigualdades sociais, exploração capitalista, sua fase política - como ele mesmo costumava dizer. Eu sempre achei esse tipo de coisa meio paranóica. Mas ele insistia que agora sim, que agora tinha conseguido abordar os problemas pelo lado certo, pobre Gomes, precisava mesmo era de mulher. Tentou ainda discutir com o Gomes, mas já não se acertavam mais, os pontos de referência distintos, uma bagunça. Tudo que ele dizia o Gomes classificava de ideológico. Porra, Gomes, mulher é ideológico!? Bebiam mais um conhaque num silêncio meio embasbacante, depois era aquela despedida murcha, aparece cara, nada como antes, ou com aquelas lágrimas inexplicáveis borrando os olhos, levantava em silêncio, um silêncio todo expressivo, dava uns tapinhas nas costas do Gomes imóvel, olhos no chão, no nada, saía lento, um tempo já perdido pela frente. Depois foi a vida profissional pra mim, a revolução pro Gomes, nossas órbitas foram se descolando, morremos mutuamente. Serei para o Gomes hoje uma encarnação da classe média, exemplo de conceito, abstração. De certo modo Romeu está mais vivo, sua ausência me dará um trabalhão amanhã. Morto ou não, terei de dar um jeito naquela papelada. Nenhum de nós dois dava a mínima pelo mundo, sentíamos tudo como massa indiferente, achávamos sem sentido que alguém corresse atrás de objetivos nesse universo absurdo. Não sabíamos (eu acho que já sabia) que fazíamos a crítica de nosso futuro. Que puta incoerência. E pensar que aquela adolescência foi a nossa, que deve haver algo daquilo tudo sedimentado em algum canto cinicamente escondido dessa minha cabeça oca. O Gomes tentando mudar tudo, debatendo-se contra o estabelecido, vai ver está com a razão, sempre ele mais perto do certo, sei lá, pelo menos deve ter pra onde ir, pra onde olhar, sem sentir-se nesse ciclo interminável que só faz girar pra nos dar a sensação de movimento. Serviços urgentes, menos urgentes, filmes melhores, piores, livros chatos, outros bons, mulheres loiras, morenas, pintas que se espalham diferentemente pelos corpos pra criar uma sensação de diferença, de variação, de surpresa. Mas Aquiles não alcança mesmo a tartaruga, não é mesmo?, Gomes, continuemos inertes, parados na adolescência, ir à frente é ilusório, tanto é que fomos e estamos mortos. Despeja aí um conhaque e vamos ficar parados no antes, antes que você subverta o mundo, antes que eu me acabe de tédio. Que idéia idiota foi essa de matar nossas convicções, enterrar a perplexidade, descobrir certezas. Veja só, até já consigo borrar de novo os olhos daquela maneira estúpida de antes, sem que nada seja dito, nem mesmo pensado. Onde está você, Gomes, pra gente partilhar esse sofrimento feliz.
Foi virar mais um gole, copo vazio. Ainda esticou maquinalmente a mão para pegar a garrafa, pegou foi a lembrança do velório, viúva chorando, velhas carpideiras de mortes reais e televisionadas, o Romeu, caramba!, a papelada amanhã... Já é tarde, hora de cumprir o ingrato dever das despedidas cheias de pêsames e silêncios constrangidos. Entrou na sala, aproximou-se da viúva. Ao abraçá-la pensou - satisfeito - que suas lágrimas vinham bem a calhar, dariam a impressão de estar realmente triste.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Lição de puericultura
(texto sem data, escrito em um dia qualquer do segundo semestre de 1.975. Por algum motivo de que não me lembro, quase todo o texto está em minúsculas)
conseguiu acalmar o guri sabe lá como, tantos os truques que tentou, tudo misturado, quem tem tempo nessas horas pra ficar isolando causas metodicamente, o que importa é o efeito. correu ao livro recém adquirido, Manual do Petiz, coisa do gênero, o nome não recomendava mas a inexperiência sim, de repente tendo de cuidar daquela miudice de exigências inadiáveis. procurou choro no índice remissivo e foi enviado a umas poucas tautologias do tipo "o choro do lactente indica frio ou calor ou cólicas ou febre ou fome ou ...". folheou mais um pouco aquele amontoado de frases vazias e desistiu, mesmo porque o guri já recomeçara o berreiro.
lembrou do pediatra que procurara na semana passada. já teria voltado de férias? afinal, se o médico examinasse a criança talvez pudesse dizer alguma coisa além das generalidades daquele livro inútil. onde estava com a cabeça quando comprara aquilo? a finalidade óbvia daquela geringonça era a de capitalizar a preocupação de pais inexperientes e reunir para o autor uns restos de salários esquecidos aqui e ali pela indústria do entupa-seu-bebê-com-os-produtos-da-mais-avançada-techologia. enrolou bem aqueles cinqüenta centímetros barulhentos e arrancou para o pediatra.
ficou pouco tempo no consultório de ar condicionado e bichinhos disney. o suficiente pra responder um questionário genérico, ver o moleque ser profissionalmente apalpado pelo médico e receber umas três receitas cheias de nomes horrorosos. ao sair pagou um dinheirão a uma secretária estrategicamente situada em uma mesa cercada de mamães aflitas e/ou aparvalhadas.
chegou a pensar em tomar o rumo da farmácia mais próxima mas estava assustado diante daquele ciclo interminável: um livro caça-níqueis que recomenda os produtos Vamos&Venhamos que causam problemas que só o pediatra pode resolver - ou melhor - pode encaminhar aos remédios dos laboratórios especializados em introduzir o recém nascido na rotina dos produtos e ante-produtos e metaprodutos. ainda tentou desculpar o pediatra: se todos procuravam lucrar ao máximo, não era culpa dele se o objeto de seu trabalho eram crianças doentes. Além disso, ele até que ficava com uma fatia pequena nesse rendoso negócio que faziam com a saúde das pessoas... Também, que podia fazer o pediatra se a pediatria continuava na estaca zero? Se nada se sabe com um mínimo de segurança a respeito de crianças recém nascidas, já que essa estória de conhecimento e ciência também é controlada pela indústria das doenças, por uma indústria doente, também precisando de remédios?... e desculpou o livro via pediatra e este através da indústria e esta graças à sociedade. voltou pra casa furioso e descontrolado, se bem que era o guri que gritava sem parar.
aquele sem fim de conexões impessoais e opressoras o agitava. pensava um pouco em tudo sem conseguir fixar-se em nada. os livros, médicos, indústrias, ciências, sociedade, tudo girava num turbilhão gigante. Pensou em lançar tudo fora e começou pelo livro. O Manual do Petiz foi minuciosamente picado e lançado janela afora. Jogou fora o pediatra, os pediatras, os remédios, as indústrias de remédios. Foi preso e condenado a cinco anos de reclusão quando tentava jogar fora a sociedade.
domingo, 12 de setembro de 2010
Escritos antigos
Isso é que dá, ter de arrumar tudo para a mudança. Encontram-se escritos esquecidos, soterrados por pastas, papéis...
Lá vai um poema de janeiro de 1.983:
Escrevo sobre força
E uma fraqueza ronda.
Os feitos que quero
Não quero.
Os fatos que posso
Não quero.
Quero o que escapa,
derrapa.
A dúvida solapa
toda certeza.
domingo, 5 de setembro de 2010
Alegrias globais e locais
Não há como negar. Hoje, para mim, foi um dia triste.
Amanhã vou ao Porto aguardar o embarque para o Brasil, na terça.
Mas dois acontecimentos deram um colorido alegre a esse domingo.
Primeiro é o que leio no Público on line: a ETA apresentou à BBC um vídeo com declaração de cessar-fogo.
Tomara seja pra valer e seja definitivo.
Segundo: estava esta manhã sentado diante do computador quando reparei que um passarinho havia entrado na varanda de casa.
Como as proteções da varanda são de vidro, o passarinho tentava sair e batia com o bico no vidro. Andava de um lado a outro, quase em desespero.
Fiquei com receio de lançá-lo para fora e ele se esborrachar lá no chão, pois tudo indicava que ele não conseguia voar.
Resolvi deixá-lo ali até depois do almoço.
No começo da tarde, ao voltar, percebi que o passarinho continuava no chão da varanda, já agora quietinho, parado.
Resolvi arriscar.
Peguei-o com algum esforço pois minha aproximação o assustava muito e ele corria de um lado para outro.
Com uma dúvida enorme, lancei-o ao ar.
Foi o vôo mais lindo que já vi um pássaro dar.
sábado, 4 de setembro de 2010
Mais uma despedida
Hoje fui a Passos despedir-me dos parentes. Ou seja, de todos.
Passei na casa de Maria Tereza, conversámos um bocadinho. Ela reclamava do calor. Pudera, com toda aquela indumentária preta, de viúva, há de sentir muito calor.
Da próxima vez, vou propor-lhe que lance a moda de roupas brancas para as viúvas.
Ficará indignada, claro. Mas que seria bom, seria.
Fui, depois, à Dora. Descansava na parte de baixo da casa, onde antes eram guardadas as vacas. É fresquinho, lá. Brinquei com ela que as vacas eram tão saudáveis porque viviam na melhor parte da casa. Dora transformou aquilo em uma agradável sala de estar.
Dali fui ao Café do Otávio. Encontrei o Irineu, da Gestosa, filho do Zindo. Aproveitámos o Café para tomar um fino. Gostei do brinde dele:
- Que nossas esposas não fiquem viúvas!
Andei à casa da Zelinda. Ela limpava feijão, enquanto o Alípio exercitava sua habilidade em matar moscas, munido daquela espécie de espátula de plástico, própria para esse tipo de assassinato.
Jogámos meia hora de conversa fora.
Voltei ao Café, na esperança de encontrar o Marciano, que anda por aqui. É mais fácil nos encontrarmos na aldeia do que em São Paulo, onde moramos em bairros vizinhos. Mas não houve hipótese. Parece que estava pra Vinhais. Se não terá sido ele que quase me abalroou, na estrada de Passos a Vinhais, quando de meu retorno a Bragança.
Antes de partir, encontrei o Kiko, que me prometera um garrafão de vinho e um pouco de bagaço. Pedi a ele que mos dê aquando do Natal, quando estiverem cá meus filhos e netos.
No retorno a Bragança, não resisti a uma paradinha e a esta foto.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
O sumo da cultura
Quando criança, lia nos livros aquilo de donzela de lábios cor de romã. E ficava a imaginar que diabo de cor seria essa. Nunca vira uma romã.
Hoje, tomo sumo de romã e gosto de ver a Baixinha comer romã de verdade, com um prazer indisfarçável (e por que raios ela deveria disfarçar?).
Agora, decepção mesmo foi quando li na caixinha Tetra Pak do sumo de romã que, em espanhol, romã é granada.
Isso lá é cor pra lábios românticos?
Será (vou investigar) que nos romances em espanhol o mocinho comenta que a donzela tem lábios cor de granada?
Hoje saí às compras. Ou talvez seja mais correto dizer que saí à compra. Fui comprar apenas uma coisa: uma escada. A Baixinha pediu-me, na conversa de ontem pelo Skype, que comprasse uma escada maior do que a que já temos. Ela havia comprado uma de dois degraus. E se deu conta, agora, de que é necessária uma de cinco degraus. Não só por ela ser baixinha, mas para que eu, que não sou nenhum gigante mas sou bem maior que ela, possa alcançar livros na prateleira mais alta do escritório.
Entrei na loja, dei aquela volta de reconhecimento, vi que não havia escada alguma à venda. Por via das dúvidas, perguntei a uma atendente:
- Não têm escadas?
Que belo mico!
Para azar meu, a loja até tem uma escada mais ou menos no meio do salão, por ser este de dois níveis distintos.
Com um sorriso levemente irônico, a mocinha fulminou:
- Escadotes? Não, não temos.
Os dicionários trazem escadote sem nenhuma observação de ser termo usado em Portugal e não no Brasil. Mas, no Brasil, nunca ouvi ninguém utilizá-lo.
Sou, agora, o feliz proprietário de dois escadotes. O último dos quais paguei com pequena parte de minha inesgotável ignorância.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Calma e paixão
Estava ontem a reler o texto de uma caixinha de sumo de maracujá (observação: intelectual brasileiro jamais lê. Ele sempre relê) quando me surpreendi com o nome dessa fruta em um monte de outras línguas: passion fruit (inglês), fruit de la passion (francês), passievrucht (holandês), passionfrucht (alemão), passionfrukt (sueco).
Em primeiro lugar, apesar de eu ser o primeiro a reconhecer uma caixinha de sumo de frutas como fonte importante de cultura (e de um monte de outras coisas, a julgar pela Informação Nutricional), não se deve concluir do que foi dito acima que quem sabe alemão consegue falar tranqüilamente holandês e sueco. Devagar com o andor.
Mas o importante, a meu ver, é a brutal discrepância do nome da fruta em tudo quanto é língua (não consultei o mirandês, é verdade) e o nome da dita cuja em português.
Mais: os dicionários e a vida ensinam que a paixão nada tem de calma. E eu vivi uma já longa existência a ouvir que o maracujá é excelente calmante. Na TV brasileira já houve até um comercial, protagonizado por Juca de Oliveira, notável ator e autor teatral (na TV todos são a lesma lerda), em que ele afirmava:
- Beba Maracujina e fique calmiiiinho, calminho.
Se esse bendito comercial devesse ser vertido para, digamos, o sueco, teria de ser assim (em sueco, mas vai em português que eu não sou o Janer Cristaldo):
- Beba Paixãozina e fique arrebatado e exaltado.
(talvez em sueco até soe melhor)
O Houaiss diz que maracujá vem do tupi moroku'ya. Vá lá.
Mas por que diabos as outras línguas chamam de fruta da paixão a uma fruta que acalma?!
Algo errado
Logo ao acordar verifico que Internet, TV e telefone, viva!, funcionam.
Vou até a cozinha e o frigorífico de época que consegui comprar me arrasta para o início da década de 60, quando minha mãe me emprestou a geladeira que nos acompanhara durante anos, em Santos. Ela ia morar com minha irmã no Rio e eu instalei a geladeira no quarto da república de estudantes em que morava, em São Paulo. Como era bom, chegar à noite a meu quarto e poder fazer uma vitamina de frutas com leite fresco. Era meu jantar. Quanto aos frigoríficos, há diferenças: este é vermelho, aquele era branco. Este é Bosch, aquele era Frigidaire, se não me falha a memória (e como falha). Mas eu também mudei. E quanto.
Volto ao computador. E aprecio Diana Krall no Bic Laranja.
Ainda hoje duvido um bocadinho da existência dessa mulher. O que não me impede de apreciar sua música.
A luz do céu de Bragança está simplesmente maravilhosa.
É aí que me parece haver algo de errado em tudo isso.
Afinal, segundas-feiras não foram feitas pra deixar ninguém tão feliz.
domingo, 29 de agosto de 2010
Um domingo de mixed feelings
Fui a Passos, hoje. Almocei com Zelinda, Alípio, sua filha, genro e neta.
Não poderia ter sido melhor. Não a comida, que foi boa, mas o convívio.
Depois, fui ver Maria Tereza, fui ao café do Otavio e voltei à Zelinda, depois do Kiko me empurrar uma rifa de 20 euros para uma finalidade pra lá de nobre: um centro de convívio que será construído no terreno da escola (desativada), para permitir que os idosos façam suas refeições (pequeno almoço, almoço e jantar) lá, ou que recebam tudo isso em casa, se a locomoção já for difícil.
É a aldeia a preparar-se para o tempo final dos velhos habitantes.
Quando é que alguém vai acordar pra reavivar esses paraísos que são as aldeias trasmontanas?
Fiquei também a saber que morreu minha tia Juventina, no Brasil. Meia-irmã de meu pai. Nenhum de seus filhos ou sobrinhos dignou-se a avisar-me.
Paciência.
Voltei a Bragança e fiquei a saber que a Baixinha está com pneumonia. Já tive esse dissabor. Basta uma semana de repouso absoluto e pronto. Tudo resolvido. Só duvido que ela tenha capacidade de manter repouso absoluto por um dia que seja.
Mas tudo se resolve. Ou não.
sábado, 28 de agosto de 2010
Ainda sobre a Albufeira do Azibo
Dia destes, escrevi, aqui, sobre as praias fluviais da barragem do Azibo.
Eu não as conhecia. Aproveitei este sábado, de muito sol e calor, para ir até lá. É certo que deixei pra ir lá pras cinco da tarde. Mesmo assim, tratei de passar protetor solar nos antebraços e no rosto (o resto, devidamente coberto. Já chega minha neta, que se queimou toda, lá em Westport, e está de molho, à espera de melhoras).
De Bragança até lá são uns 25 km, pelo IP4. Mas isso é contado a partir de Bragança Sul. Como resido no extremo norte da cidade, de minha casa até lá são 40 km.Isso se faz em 20 ou 25 minutos, já que a velocidade permitida nos IP é de 110 km/h.
Vai-se pelo IP4 até encontrar-se a placa para Azibo. Entra-se, então, em uma estrada secundária bem cuidada, como podem constatar nas duas fotos abaixo:
Mas não se empolgue: vai andar apenas uns 200 metros nela e já está no Azibo.
O restante as fotos contam:
E agora, esta
Estava eu a ler a Sábado e encontro isto:
Diz ele que eram usados [blusões que tinham gola em pelúcia] pelos betos que tinham mota e provocavam tremenda inveja nos outros [...].
(Sábado, nº 330, pag. 19, in crônica de Nuno Markl)
Meu apelido de infância é Beto.
Fui ao dicionário:
beto
nome masculino e adjectivo
coloquial jovem bem comportado, geralmente um pouco presumido
presumido
adjectivo
1. vaidoso; presunçoso
2. afectado
3. que é uma hipótese; suposto; conjecturado
nome masculino
indivíduo com presunção ou vaidade
Ainda bem que pouca gente me trata por Beto.
Parece que, aqui em Portugal, Beto é o mesmo que Mauricinho, no Brasil.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Minha Luta (contra a PT)
Não. Este post não se refere, a não ser como blague, ao livrinho do Adolf.
Acontece que cheguei ao Porto na quarta de manhã, depois de vôo tranqüilo (às favas, a reforma ortográfica), a não ser por uma freada um tanto abrupta na aterrissagem no aeroporto da Maia. Sozinho. A Baixinha e a Doga ficaram em São Paulo.
Duas horas e meia até Bragança. Sol a todo vapor (essa expressão faz sentido?).
Já perto de Mirandela percebi que meus antebraços estavam vermelhos. Passei a dirigir tentando deixar os braços à sombra. Ainda bem que a Baixinha meteu em minha bagagem um protetor solar que vai me socorrer. Mas só depois de chegar em casa e abrir a mala.
Por falar em casa, estava por aqui tudo direitinho. Ou melhor, quase tudo.
A TV, a Internet e o telefone (que algum dia, pra provar que sou português, vou conseguir chamar de tulufone) não funcionavam.
Ocorre que contratei a MEO, da PT. E como isto aqui é a parte mais atrasada de Portugal, nada de fibra. Isso de fibra ainda é requinte de alfacinhas. Pra deixar tudo mais claro: a qualidade da Internet, cá em Bragança, talvez seja a pior de Portugal. E é equivalente (ou pouco superior) à melhor de que se dispõe no Brasil.
Como se percebe, nós, os brasileiros, temos toda a razão quando ridicularizamos a nós, os portugueses. Segue o jogo.
Ligo, então, à PT. Isto ainda na quarta-feira. Descobrem, sabe-se lá de que modo, que o problema é externo à minha morada. Por via das dúvidas (e nem Descartes conseguiu ter tantas dúvidas), fazem o agendamento (detesto essa palavra) de uma visita técnica para o caso de o problema persistir depois da intervenção na parte externa de minha residência: será na quinta, entre 14 e 18 horas. Isso significa que ficarei preso a meu apartamento durante toda a tarde de quinta-feira. Para quem passou um bom tempo (ou terá sido mau?) em uma cela de prisão, isso não deveria constituir nenhum drama. Acontece que vim até Bragança pra resolver uma porção de probleminhas. Uma tarde trancado em casa não era exatamente o que eu tinha pedido aos deuses. E, last but not least, eu tinha de 26 a 28 anos quando fiquei sob tranca no presídio Tiradentes. Agora, sou um ancião de 65 anos que não dispõe de muito tempo pra ver a banda passar.
Como todo mundo já adivinhou, o problema não foi resolvido e a visita não deu as caras. E nem satisfação.
Toca a ligar pro tal 16200 da PT, que - registe-se - é gratuito [alô pessoal do horário eleitoral da TV brasileira: é gratúito e não gratuíto] só pra quem liga de um telefone da PT. Mas justamente por eu estar a ligar por causa da falência múltipla de órgãos de meu sistema MEO, inclua-se aí o tulufone, tive de ligar do meu telemóvel TMN. E gastei, acreditem, DEZENAS de euros. É um tal de transferir a sua ligação (muito importante para nós) para outro lugar, que chego a pensar que a ideia era promover algum tipo de gincana, com prêmios ao final.
Que foi feito? Ora, claro!, agendou-se outra visita técnica para hoje, sexta-feira, entre 14 e 18 horas.
Penso que, afinal, a PT entende não ser justo eu ter ficado dois anos trancafiado no Brasil e - cá em Portugal - passar todo o tempo livre e solto. É preciso um certo equilíbrio.
Quase às 16 horas, recebo uma simpática ligação no telemóvel. Trata-se do visitante PT. Quer vir à minha residência. Fico à beira de sentir-me lisonjeado.
Logo muda de ideia. Diz que, se calhar (os portugueses adoram essa expressão), pode resolver o problema remotamente. Pena. Quase já havia aberto o vinho com que o receberia. Para respirar.
De facto, a TV e a Internet voltam ao meu convívio.
O tulufone é que insiste em não fazer ligações.
Meu quase futuro visitante diz que vai resolver também isso.
E desaparece de cena.
Ligo à PT, reporto o problema do tulufone e me dizem que vou ser contatado para as devidas providências.
Ainda bem que amanhã é sábado. Vou passear e deixar o tulufone pra segunda.
Que me encontrem no telemóvel.
A batalha continua na segunda-feira. Ainda de manhã, vou procurar um representante Zon.
sábado, 14 de agosto de 2010
O anti-herói de Salgueirais
Li sobre ele no Diário de Notícias de hoje.
Jorge, é o nome dele.
Foi detido pela segunda vez por conduzir com uma taxa de álcool acima do permitido.
Conduzir uma carroça atrelada por um burro, diga-se.
O que dele contam seus vizinhos de aldeia é que é digno de nota:
Tem 34 anos, não sabe ler nem escrever e de leis pouco percebe.
Jorge nasceu na Velosa, uma aldeia do outro lado da serra e foi viver para os Salgueirais com uma mulher mais velha que ficou viúva e tem uma pequena pensão.
O casal são uns pilha-galinhas. Deitam a mão a tudo quanto podem.
Chega a dizer um tal de Pedro Santos:
Uma ocasião vim a casa e vou dar com ele deitado na minha cama. Veio para roubar e adormeceu.
Outros ressaltam o tanto que sofrem os animais do casal:
Têm uma cadela que é pele e osso.
O burro leva cada enxerto de porrada que mete dó.
Mas Jorge é homem de princípios rígidos:
Posso deixar de conduzir o burro, mas o vinho não deixo.
Íntegra aqui.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Da série Mordam-se de inveja
A Albufeira do Azibo, no nordeste trasmontano, que tem uma praia com o maior número de bandeiras azuis na Europa, fica a menos de 30 km de casa.
E isso porque moro longe do mar.
Atualização: E, vai daí, até campeonato nacional de volei de praia vai haver lá neste final de semana.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Fragmentos de um discurso escatológico - 2
Em 1.968, recém formado em Engenharia, mas estudando para o vestibular de Filosofia, na USP, fui morar no centro do movimento estudantil daquela época: a R. Maria Antonia, em São Paulo. Ainda lá funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Ao prestar vestibular, conheci o Eliandro, um rapaz que havia abandonado o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), considerado uma das três melhores escolas de engenharia do país (as três eram: POLI-USP, onde me formei, o ITA e o IME - Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro). Era um excelente aluno no ITA, o Eliandro, mas abandonara a escola por considerá-la uma fábrica de loucos. E, como eu, resolvera fazer Filosofia na USP. Procurava um lugar para morar. Claro, convidei-o a dividir comigo o apartamento que acabara de alugar. A família dele era de Vitória, no Espírito Santo.
Graças a ele, recebíamos, nos finais de semana, a visita de vários alunos do ITA. Alguns deles tinham um hábito digno de nota. Vamos a ele:
É preciso começar por lembrar que, naquela época, (quase) todo mundo fumava. Logo, (quase) todo mundo carregava consigo um isqueiro.
Não sei o que o pessoal comia lá no ITA. O fato é que a turma peidava com uma freqüência assustadora.
Para eliminar os terríveis odores resultantes da reiterada prática, usavam o isqueiro. Bastava o indivíduo querer peidar, sacava o isqueiro, colocava-o próximo ao próprio rabo, e - ao eliminar os gases - acionava o isqueiro.
Dois eram os resultados benéficos:
1. Eliminavam-se os maus odores;
2. Provocavam-se chamas de beleza às vezes surpreendente.
Caso você ainda guarde aquele velho isqueiro, experimente.
Fragmentos de um discurso escatológico
Não sou o Barthes, mas lanço meus fragmentos.
Quando você começar a sair com aquela pessoa, não espere demais: as soon as possible, coloque a questão:
- A gente pode peidar sem problema?
Talvez a pessoa fique um tanto desconcertada. Talvez até proteste pela sua falta de romantismo.
Deixe claro:
- Meu bem, se pergunto isso é porque pretendo uma relação duradoura. E - você há de convir - não há relação duradoura sem flatulência liberada.
Pronto. Ganhou a parada.
E nunca mais use flatulência. É peido, mesmo. Se quiser ser um tanto erudito(a), prefira peidorrada.
É vernáculo.
Ah! E nada de xixi, cocô, bumbum, pum etc etc (etc pode).
Isso é linguagem de criança. Você está iniciando uma relação adulta.
Portanto, mije, cague, peide. De preferência pela bunda. Ou, como dizem os portugueses, usuários da (pen)última flor do Lácio há muito mais tempo, pelo cu.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
De casamentos, educação e sangue de galinha
Hoje a Folha de S.Paulo traz várias matérias um tanto curiosas, como a que apresenta o resultado de pesquisa que demonstrou: a religião das pessoas (ou a ausência dela) não influencia a decisão pelo dissolução do casamento. Católicos, evangélicos, neo-pentecostais etc etc apresentam percentuais semelhantes de separações.
Isso no Brasil.
Aliás, ainda sobre o Brasil, há a estarrecedora constatação de que dos 135,8 milhões de eleitores, nada menos que 8 milhões são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever mas nunca freqüentaram escolas. No total, 27 milhões.
Mas a matéria que mais atraiu minha atenção foi - de longe - a que noticia o fim do frango ao molho pardo nos restaurantes de São Paulo.
Tudo por que não se consegue facilmente o sangue de galinha para preparar o molho.
Bons tempos, aqueles em que minha mãe comprava a galinha na feira de terça, deixava a inocente solta no quintal até domingo. Aí, ao voltar da Escola Dominical para casa, para o almoço, minha cândida mamãezinha armava-se de uma faca afiada e de um prato fundo, ia pro quintal, segurava a vítima, esticava-lhe o pescoço um tanto, raspava as penas do dito cujo e - com ar banal - cortava o pescoço da protagonista do almoço, devagar.
Não fosse o sangue escapar do prato colocado logo ali embaixo.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Uma Eurocidade?
Na última vez em que estive em Bragança, assisti a um programa na TV Galícia a respeito das relações entre os povos fronteiriços nas regiões norte de Portugal e sul da Galícia. As inúmeras entrevistas apresentadas deixavam claro que o intercâmbio era saudável para ambos os lados da fronteira.
Vejo agora, no Diário de Trás-os-Montes, matéria a respeito do projeto de Eurocidade aproximando ainda mais Chaves de Verin.
Há algum tempo, estive em Chaves e visitei um quase parente que tem lá duas pastelarias. Ele me contou que os flavienses vão a Verin com muita freqüência e a propósito de um quase tudo.
Sobre Verin quase nada sei dizer. Lembro que nos idos de 2.000, quando fui à aldeia de Passos pela segunda vez, proveniente de Santiago de Compostela, ouvi de meu primo Alípio a pergunta:
- Viestes por Vrin?
Como não percebi que Vrin era o mesmo que Verin, respondi que não.
- Então por onde viestes?!
Sim. Havíamos chegado a Passos por Verin.
Pra quem não conhece a região, aí vão dois mapinhas:
Tomara a ideia frutifique.
Ao menos é o que desejo, eu, que vou morar a 15 km da Galícia.
sábado, 10 de julho de 2010
Ambiente do futebol brasileiro
Algumas pessoas ficaram chocadas ao saber que o goleiro Bruno conheceu Eliza Samudio em uma orgia. Mais: segundo ele, orgias são comuns no meio freqüentado por jogadores de futebol.
Ao dizer isso, Bruno apenas confirmou algo que muita gente sabe mas a imprensa prefere minimizar para não atrapalhar os negócios que o futebol proporciona.
Já lá em meados da década de 80, fui trabalhar no Banco Multiplic, na área de Sistemas. Um novo diretor de informática montara uma equipe nova e me contratou para fazer parte dela.
O pessoal dessa nova equipe incluía gente mineira, de Belzonte, alguns cariocas e muitos paulistas.
Como parte do processo de integração, resolvemos marcar uns jogos semanais de futebol society, logo após o expediente. Eu sempre fui um jogador medíocre mas dava conta do recado nessas peladas, desde os tempos de futebol de praia, em Santos.
Por isso mesmo, fiquei surpreso ao constatar a dificuldade de me sair bem no primeiro jogo com meus novos colegas de trabalho. Ao final da partida, como costuma acontecer nesses eventos, fomos todos tomar cerveja no bar do clube. Fiquei então sabendo que vários de meus colegas tinham passagem por grandes clubes de São Paulo e Rio de Janeiro. Todos na época do futebol juvenil. Um tinha jogado no São Paulo, dois outros no Flamengo. Isso explicava minha dificuldade durante o jogo. Estava diante de jogadores acima da média.
Todos contaram que tiveram propostas para profissionalização e - todos - não aceitaram e foram seguir suas vidas na área de informática.
Motivo alegado por todos: o ambiente no mundo do futebol é de banditismo puro.
Nesses mais de 25 anos, de lá para cá, claro que muita coisa mudou. Por exemplo, o surgimento, em grande número, dos Atletas de Cristo. Até onde sei, os jogadores evangélicos só se entregam a orgias espirituais.
Mas a baixaria continua a ser predominante.
O pior, a meu ver, é que esse ambiente podre fornece à juventude brasileira os seus ídolos.
Bola pra frente.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Melhor momento da Copa
Pra mim, o melhor momento dessa Copa foi protagonizado pelo técnico da Alemanha.
Sob a mira das câmeras, ele enfiou o dedo no nariz, cavucou bem, retirou um fragmento, enrolou-o com os dedos e... engoliu a bolinha resultante.
Como diria minha caçula:
- Eca!
Isso diz (quase) tudo sobre esse mundo do futebol.
O quase vai por conta do que ocorre cá no Brasil em torno do goleiro do Flamengo.
Até quando os heróis da humanidade serão esses seres que pensam com os pés?
sábado, 3 de julho de 2010
Ainda sobre a Copa
Minha relação com a propaganda foi sempre conflituosa. Ainda criança, lá pelos nove ou dez anos talvez, perguntei a minha mãe por que a mercearia da esquina (Mercearia Carioca, esquina de Oswaldo Cruz com Epitácio Pessoa, em Santos) só vendia manteiga de 1ª qualidade.
Naquele tempo (não sei se ainda é assim) todas as embalagens de manteiga vinham com essa inscrição: Manteiga de Primeira Qualidade. E eu, ainda engatinhando nos mistérios do marketing, achava que se tratava de uma classificação.
Depois de alguns aninhos, cheguei à óbvia conclusão: a propaganda é a arte de embelezar a mentira.
Durante esta Copa, as TVs e as rádios foram inundadas por mensagens dos patrocinadores do Brasil. Ou melhor, dos patrocinadores da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Sim, porque essa reunião de jogadores para disputar esse torneio chamado Copa do Mundo não é a seleção brasileira. É a seleção da CBF.
E a CBF é aquele bicho híbrido, que sempre ao ser questionado por malversação de recursos alega tratar-se de entidade de direito privado que não deve satisfações a ninguém. E, quando resolve disputar qualquer torneio, passa a ser a representante da pátria.
Mas voltemos à vaca fria.
Tivemos de engolir, durante quase um mês, exaltações ao espírito guerreiro do brasileiro que bebe Brahma ou Coca-Cola.
Nos comerciais dessas empresas, o Brasil era invencível, insuperável etc etc.
Pois bem. Mal terminou o jogo com a Holanda e surgiram comerciais, tanto da Brahma quanto da Coca-Cola, lamentando a derrota.
Estavam já gravados com antecedência.
Afinal, patriotismo é mercadoria a ser vendida aos trouxas.
Brahma e Coca-Cola - assim como todos os outros patrocinadores da CBF - querem mais é levar a turma no bico e faturar.
São todos manteiga de 1ª qualidade.
Atualização: Pouco depois de publicar este post, li no Kibe Loco que o caderno Copa, da Folha de S.Paulo, de 29/06/2010, dia seguinte ao da vitória do Brasil sobre o Chile, publicou - por engano - a versão-em-caso-de-derrota do anúncio do Extra, outro patrocinador da CBF.
Fui conferir. Foi isso mesmo. Olha aí:
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Curiosidade
Eu só queria saber o que foi que o tal de Dunga falou para os jogadores do Brasil durante o intervalo do jogo.
O que se viu foi o time brasileiro dominando o jogo no primeiro tempo, tendo quase decidido tudo já nesse início. E, depois, ao voltar para o segundo tempo, mostrar-se um time nervoso, histérico mesmo, e sucumbir diante da inteligência do adversário.
Só recomendo aos diretores de empresas que pensem duas ou três vezes antes de contratar o Dunga para palestras motivacionais com seus empregados.
Ao menos vamos mudar de assunto, tanto aqui no Brasil quanto em Portugal.
Até que enfim.
domingo, 27 de junho de 2010
O prato frio da vingança
Em 1.966 a Copa do Mundo de futebol foi na Inglaterra. O Brasil teve uma participação pífia e foi eliminado pelo time português de Eusébio. Eu, aos 21 anos, ainda ficava chateado com essas coisas.
Na final, Alemanha e Inglaterra disputaram o primeiro lugar de modo muito equilibrado. Por fim, a Inglaterra mandou uma bola no travessão do gol alemão, a bola caprichosamente bateu no travessão, bateu no chão - em cima da linha do gol (o que, pelas regras do futebol, não configura gol) - e o juiz deu gol para a Inglaterra. Com isso a Inglaterra foi campeã.
Hoje, 44 aninhos depois, a Inglaterra foi eliminada da Copa pela Alemanha, depois de ter empatado o jogo ao final do primeiro tempo com um chute no travessão do gol alemão. A bola caprichosamente bateu no travessão, bateu no chão - 33 cm após a linha do gol - e o juiz não deu o gol para a Inglaterra. Com isso a Inglaterra foi eliminada da Copa.
Se eu ainda tivesse 21 anos, talvez passasse a acreditar em algum tipo de justiça cósmica.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Par ou ímpar
Quase todo mundo já sabe que a equipe da Costa do Marfim precisa golear a Coreia do Norte e esperar que Portugal perca para o Brasil para poder continuar na Copa.
Mas há algumas situações que trarão a necessidade de decidir qual dos dois - Portugal ou Costa do Marfim - continua na Copa por meio de sorteio.
Basta, por exemplo, que o Brasil vença Portugal por 3 a zero e que a Costa do Marfim consiga passar pela Coreia do Norte por 6 a zero.
Pronto. Tudo terá de ser decidido no par ou ímpar.
Classe A, nível Z
Caetano Veloso é que disse algo assim durante um programa de auditório transmitido pela TV, no qual ele foi vaiado:
- Não há coisa mais Z do que um público classe A.
Os moradores do apartamento acima do meu são um casal em torno dos sessenta anos. Ele é, ao que parece, dono de uma construtora ou coisa parecida.
Quando estavam reformando o apartamento, antes de mudarem para ele, deram de meter uma britadeira para tirar o piso da cozinha. Quase colocam a minha cozinha abaixo. Não fosse o zelador correr lá para que parassem com aquilo e não sobraria nenhum copo nos armários aqui de casa. Isso tudo por se tratar de alguém do ramo. Imagine se fosse um leigo.
Nos últimos tempos, deram de orientar a empregada a arrastar a cama do casal para facilitar a limpeza ou lá o que seja. Mas tiveram o bom senso de dizer a ela que fizesse isso sempre depois das 9 horas da manhã.
Pois ontem, pouco depois das 8, a moça resolveu adiantar o serviço e toca a arrastar a cama. A Baixinha, que passara mal durante a noite graças a um almoço fora de casa, resolveu pedir à portaria que solicitasse aos vizinhos que aguardassem as 9 horas para arrastar a cama.
Pra quê.
A vizinha virou fera e foi aos gritos admoestar o porteiro. Gritava coisas do tipo:
- Sou eu que lhe pago o salário!
- Só por causa de uma cama arrastada tenho de ser advertida. Justo eu, que tenho de aturar as brigas e a gritaria do casal do andar de baixo! (eu e a Baixinha)
- Cala a boca! (esse era o estribilho)
Tudo dito de modo discreto, claro, claro. Aqui do alto podia-se escutar tudo nitidamente. Os prédios vizinhos também tiveram a ventura de acompanhar os detalhes do discurso da Casa Grande contra a Senzala.
A Baixinha desculpou-se com o porteiro por tê-lo metido nessa enrascada e eu esperei que o marido da fera chegasse, à noite, para explicar a ele que apenas havíamos pedido que a limpeza fosse postergada por uma hora, já que a Baixinha não estava bem. Sem falar que isso significa simplesmente pedir que respeitem o regulamento do condomínio. Além disso, queria saber dele o que eram as tais “brigas e gritaria” nossas.
Ele desconversou e alegou que tudo que conversávamos no quarto, à noite, ele ouvia nitidamente. Deu como exemplo, uma discussão nossa, na noite anterior, “a respeito do cachorro”.
Evidente: não tinha havido nenhuma “discussão sobre o cachorro” nem naquela noite nem em nenhuma outra. Ele estava blefando.
Demos por encerrado o “caso” e fomos dormir.
Acordei, agora de manhã, com uma ideia:
Não fosse falsa a afirmação dele de que ouve nossas conversas, faria algo assim:
Lá pelas 11 e meia, meia-noite, diria em tom de voz que ele pudesse ouvir:
- Amorzinho, já pedi a você que não deixe seu olho de vidro neste copo. Costumo fazer gargarejo com ele e vou acabar engolindo seu olho por engano.
Ou então:
- Querida, não esvazie essa garrafa de vômito. Vou levá-la ao laboratório pela manhã.
Talvez meu vizinho passasse a usar uns tapa-ouvidos para dormir.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
De volta a São Paulo
O final das férias foi tumultuado. A casa de pernas pro ar, graças às mudanças que resolvemos promover.
No feriado que em Portugal é conhecido como "Corpo de Deus" e no Brasil, como todo mundo fala latim, é chamado de "Corpus Christi" deveríamos ter ido a Passos. Não houve energia para tanto.
Na sexta partimos para o Porto, para embarcar no sábado em direção ao Brasil.
Nesta terça-feira, 8 de junho, aniversário da Baixinha, almoçámos em um restaurante português no Tatuapé, o Bacalhoeiro. Simplesmente perfeito. É verdade que fica um bocadinho longe de minha casa. Demorámos pouco mais de uma hora para chegar lá, de carro, com pouco trânsito. Mas talvez isso seja um defeito meu, ou de minha casa, e não do restaurante.
Agora, bola pra frente. Aliás, durante o próximo mês não se vai falar de outra coisa: Copa do Mundo.
A todos, continuação.
domingo, 30 de maio de 2010
Salada de frutas
Portugal está em crise. Aí o primeiro ministro (aqui se escreve PM) Zezinho Sócrates vai ao Brasil e pede pra conversar com quem? Com Chico Buarque.
Talves ele quisesse ouvir aqueles versos:
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia.
Já o polêmico Diogo Mainard se queixa, na revista Veja, de que Caetano Velloso tenha se tornado colunista.
E eu, sem querer conversar com Chico ou com Caetano ou com Mainard, passei este sábado às voltas com o pessoal que veio instalar uma nova lareira aqui em casa, com o moço que veio instalar uma ducha higiênica na casa de banho etc etc.
No final das contas, sobrou-me o domingo, pra ir a Passos, visitar quem ainda não foi visitado.
E o sábado, que foi lindo nesta Bragança dos deuses, tornou-se prosaico pela contingência das reformas mas manteve sua dignidade ao fornecer temperatura amena, na faixa dos 22ºC.
E, pra vocês, continuação.
Continuação é dessas palavras que abreviam uma frase.
Começou-se, sabe deus quando, a dizer:
Continuação de bom ano
Continuação de bom final de semana
Continuação de boas férias
Continuação de boas festas
E por aí vai.
Tudo isso foi substituído – sinteticamente – por
CONTINUAÇÃO
É como nosso OBRIGADO, expressão igualmente sintética que correu mundo e transmudou-se em ARIGATÔ, em japonês (ao menos é o que dizem).
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