quinta-feira, 2 de setembro de 2010
O sumo da cultura
Quando criança, lia nos livros aquilo de donzela de lábios cor de romã. E ficava a imaginar que diabo de cor seria essa. Nunca vira uma romã.
Hoje, tomo sumo de romã e gosto de ver a Baixinha comer romã de verdade, com um prazer indisfarçável (e por que raios ela deveria disfarçar?).
Agora, decepção mesmo foi quando li na caixinha Tetra Pak do sumo de romã que, em espanhol, romã é granada.
Isso lá é cor pra lábios românticos?
Será (vou investigar) que nos romances em espanhol o mocinho comenta que a donzela tem lábios cor de granada?
Hoje saí às compras. Ou talvez seja mais correto dizer que saí à compra. Fui comprar apenas uma coisa: uma escada. A Baixinha pediu-me, na conversa de ontem pelo Skype, que comprasse uma escada maior do que a que já temos. Ela havia comprado uma de dois degraus. E se deu conta, agora, de que é necessária uma de cinco degraus. Não só por ela ser baixinha, mas para que eu, que não sou nenhum gigante mas sou bem maior que ela, possa alcançar livros na prateleira mais alta do escritório.
Entrei na loja, dei aquela volta de reconhecimento, vi que não havia escada alguma à venda. Por via das dúvidas, perguntei a uma atendente:
- Não têm escadas?
Que belo mico!
Para azar meu, a loja até tem uma escada mais ou menos no meio do salão, por ser este de dois níveis distintos.
Com um sorriso levemente irônico, a mocinha fulminou:
- Escadotes? Não, não temos.
Os dicionários trazem escadote sem nenhuma observação de ser termo usado em Portugal e não no Brasil. Mas, no Brasil, nunca ouvi ninguém utilizá-lo.
Sou, agora, o feliz proprietário de dois escadotes. O último dos quais paguei com pequena parte de minha inesgotável ignorância.
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