segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Era uma vez - XXXVIII
A importância dos presos políticos dos anos 70


No tempo em que eu estava na cela 12, no chamado fundão do Pavilhão 2 do Presídio Tiradentes, houve um dia em que discutimos a respeito da eventual importância daquele nosso grupo de presos políticos no futuro do país.
Antes de falar sobre essa discussão, faço pequena digressão:
Ainda no Dops, conheci um senhor, lá pelos seus sessenta anos, preso por ser estelionatário.
Em conversa com ele, soube que, na juventude, já tinha puxado cana pelo mesmo motivo. E havia ficado preso no Presídio Tiradentes junto com o escritor Monteiro Lobato.
Ele me afirmava:
- Vocês que estão presos hoje, aqui, serão os que vão mandar no país daqui a alguns anos.
Reencontrei esse senhor no Presídio Tiradentes. Nas visitas de familiares ele segurava no colo um de seus netos e chorava por estar na situação em que estava.
Pois bem. Na discussão da cela defendi um ponto de vista inspirado nas premonições daquele simpático estelionatário.
- Vários de nós [presos políticos aqui encarcerados] seremos responsáveis por este país daqui a alguns anos. Aqui está a nata política da nação.
Meu companheiro de cela, o Jonas, sempre bastante cético, contraditava:
- Imagine! Nós somos um grupo de despreparados. Jamais teremos condição de assumir grandes responsabilidades na política nacional. As pessoas-chave sairão de outras áreas, não deste presídio.
Eu tinha de reconhecer que o grupo todo era muito fraquinho.

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O tempo passou. Vários dos meus companheiros de infortúnio carcerário tornaram-se figuras proeminentes da política nacional:
Frei Betto, Paulo Vanucchi etc etc.
Finalmente, a Dilma – moradora da Torre, a parte feminina do Presídio Tiradentes – torna-se, hoje, presidente do Brasil.

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Eu tinha razão.
Mas o Jonas também tinha: éramos – e somos – muito fraquinhos.
Ou mais precisamente: fraquinhos na qualificação para a direção da nação. Mas vários de nós – daquela turma encarcerada – tornaram-se fortíssimos em outras artes.
Se é que me entendem.

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