domingo, 30 de novembro de 2014

Historinhas do Porto

Aconteceu em um domingo festivo.
Representantes de bairros da cidade e de cidades vizinhas, como Matosinhos, disputariam uma competição de natação no Douro.
Para incentivar seu representante, a mulherada da zona peixeira de Matosinhos foi toda para o Cais da Ribeira.
Quando lá vinha ele a nadar rio acima, todas elas trataram de levantar seus vestidos para entusiasmá-lo e lhe emprestar vigor.
Mas o nadador ia cada vez mais lento e chegou em último lugar.
Seus adeptos correram a perguntar-lhe o que ocorrera.
Ele explicou:
- Como as mulheres levantavam as saias, o meu "coiso" atolou no lodo do fundo do rio e me vi em dificuldades para nadar mais rápido.
- Mas então por que não nadaste de costas.
E ele:
- Mas e a ponte?!

sábado, 29 de novembro de 2014

Quase Borges


Hoje recebemos dois casais amigos para uma feijoada brasileira.
Até com caipirinha.
Só não entendi ainda por que aqui na Europa só chega cachaça ruim. Fiz o que me foi possível com a cachaça disponível. Uma Seleta ou uma Boazinha seriam muito bem-vindas.

Como um dos amigos é médico, algumas histórias sobre assuntos médicos foram inevitáveis.
Para mim, a melhor foi a que garante que jamais será possível o transplante de cabeça.

Simples: se o indivíduo implanta em seu corpo uma nova cabeça, o que de facto ocorre é que a cabeça é que recebeu um novo corpo.


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

As voltas que a Dilma dá


Os analistas pró governo – oh função perigosa! - dão tratos à cachola para explicar a escolha da nova equipe econômica de Dilma 2.
Será isso? Será aquilo? Será aquiloutro?

Dilma faz quase o mesmo que Lula fez no início de seus oito anos de governo.

Agarra-se à salvadora corda da ortodoxia, como é mesmo?, “neoliberal”, ao ver que estava a afundar o país no pântano da irresponsabilidade das esquerdas.

Novembro 28

O dia 28 de Novembro de 1.975 talvez tenha sido o dia mais importante de minha vida. Digo “talvez” porque houve um dia, cuja data não sei precisar, lá pelos meus sete anos de idade, em que comprei cromos para um álbum de jogadores e me saiu uma “figurinha substitutiva”. Era um cromo vinculado a uma determinada página do álbum e que podia ser utilizado para substituir qualquer cromo faltante na página. Troquei-o por quarenta figurinhas que até então não tinha e levei uma descompostura de minha irmã. Garantiu-me ela que eu era um péssimo negociador de cromos. Até hoje não vislumbrei critérios que me permitam saber se ela estava certa. Quanto a mim, certo ou errado, fiquei feliz.
Também naquele ano da graça de 75, ao sair lá pelo meio-dia da Maternidade São Paulo para ir até minha casa buscar roupas para a recém promovida a mãe que me aguardava em um dos quartos daquele enorme edifício que servia de entrada do Mundo para um bando de novos seres humanos, liguei o rádio do carro na rádio Jovem Pan, que mandava ao ar seu noticiário da hora de almoço, e ouvi a voz cheia e redonda do locutor a dizer:
28 de Novembro de 1.975.
E essa data, assim sonora, grudou em algum lugar de meu cérebro para nunca mais dali sair.

Nascia uma menina avessa à técnica da tentativa e erro. Que nunca falou tatibitáti. Que só andou quando já sabia fazer curva. Que faz tudo que planeou para a própria vida, dentro dos prazos que se concedeu.

Vivemos, já há um bom tempo, separados por grande distância.

Para mim, ela está sempre pertinho. Defino as minhas próprias topologias.

E hoje dou-lhe um beijo. Um entre os muitos que ela receberá da família e d@s amig@s.
Mas o meu é especial. Afinal, quando o dr. Roberto quis me mostrar a placenta eu preferi fixar minha atenção nela.
A placenta que se dane.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A Justiça e seus paradoxos


O Real Madrid acaba de vencer o Basileia por 1 golo.
O comentarista do Sportv cá de Portugal, cujo nome imperdoavelmente me escapa, disse que o resultado era justo para o Real mas injusto para o Basileia.

Esse rapaz já poderia ser promovido a teólogo.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

De cicuta ainda não se cogita

Sócrates vai ficar em prisão preventiva por ao menos três meses. Espero que António Costa lhe envie uns bolinhos de bacalhau. A solidariedade - em Portugal - reside primordialmente no paladar.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Perna, para que te quero?

O motorista João Perna pode quebrar as duas do ex-primeiro-ministro.



Para que serve o PS?

Será que entendi bem?!
Para o novo secretário.geral do Partido Socialista (PS) a incursão do ex-primeiro-ministro Sócrates no noticiário policial não é algo que caiba ao PS apreciar?!
Trata-se tão somente de um caso de Photoshop?



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Petrolão e Berlusconi

O Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro funciona um bocadinho como os telemóveis. Seu sinal é espalhado por meio de torres repetidoras, espalhadas por todo lado.

Agora que o Petrolão - roubo de bilhões perpetrado contra a estatal Petrobrás pelo próprio PT e alguns de seus aliados - ameaça tisnar a festa da vitória nas eleições de Outubro, foi enviado às torres repetidoras um sinal:

Comparem a situação italiana que fez resultar da operação Mãos Limpas, na década de 90, a ascensão de Berlusconi com o movimento de indignação diante do Petrolão. A lógica elementar levará a malta a entender que combater a roubalheira na Petrobrás poderá significar a vitória do fascismo. E estaremos safos.   

E saíram as torres a fazer o que seu mestre manda.
Faltou combinar com os investigadores. Aliás, já devidamente enxovalhados.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Daqui não saio, daqui ninguém me tira

Em Portugal o “até agora ministro da Administração Interna sai do Executivo afirmando que nada tem a ver com os vistos gold, mas reconhece que o caso diminuiu a sua autoridade política.” (Público online)
É certo que Miguel Macedo, o ministro demissionário, fez apenas o que tinha de ser feito. Afinal, mesmo que ele nada tenha a ver com as irregularidades ligadas à atribuição de vistos gold, a questão é vinculada ao ministério que ele chefiava.

No Brasil, um escândalo de dimensões apocalípticas a envolver a maior empresa brasileira, a Petrobrás, nem sequer fez passar pelas cabeças da presidente da empresa, do ministro das Minas e Energia e da própria presidente da República – que presidia o Conselho da empresa quando a bandalheira já corria solta por lá – a ideia de no mínimo uma licença temporária dos dois primeiros.


A presidente da empresa, a senhora Graça Foster, veio a público a informar que vai aumentar os controles internos. Melhor que isso só se ela prometesse eliminá-los por completo. Teria piada.

Tuta-e-meia

No Brasil, o ano de 2013 foi monopolizado pelo julgamento do chamado Mensalão.
A respeito dele, falaram em 50 milhões de reais. Também em 150 milhões de reais. Alguma quantia dessa ordem seria o total envolvido na falcatrua.

Já agora, no decorrer de uma investigação a respeito de bandalheira alcunhada de Petrolão, um subordinado do diretor da Petrobrás Renato Duque, um tal de Pedro Barusco, propõe-se a devolver - só ele - a bagatela de 252 milhões de reais.


O Mensalão passou a valer tuta-e-meia, como se diz cá em Portugal.

Sim ou sopas


O pior legado do PT ao debate político no Brasil talvez seja a imposição de um tudo ou nada em qualquer discussão.

O país saiu dos eufemismos tucanos, que deram origem ao verbo “tucanar”, para entrar na pueril batalha de sim ou não. Ou, como se diz cá em Portugal, sim ou sopas.

domingo, 16 de novembro de 2014

Pra falar a verdade

Durante muitos anos trabalhei em empresas privadas, no Brasil. Empresas sérias.
Antes de passar ao serviço público, como Auditor-Fiscal da Receita Federal, fui diretor de uma empresa que começou séria e acabou em um emaranhado de contravenções. Como diria Dilma, a presidenta, malfeitos.
Antes de cair fora, pude presenciar o diabo. Aquilo que a presidenta Dilma diz que se deve fazer em lutas eleitorais.
Corria o ano da graça de 1.988. Governo Sarney.
Alguns garotões envelhecidos dizem que para conhecer a política é preciso ler Platão e visitar o Congresso. Trancados em seus gabinetes, elucubram o futuro socialista da pátria amada. Eu usava e abusava das salas do Secretário da Receita Federal e do assessor especial do ministro das Comunicações, na época o ACM (Antônio Carlos Magalhães).
Vivi o intestino da República.
Nunca visitei o Congresso. Os congressistas e mesmo alguns ministros vinham a nossas suítes no Hotel Nacional.
Alguma coisa aprendi.
Sei, por exemplo, que é impossível que Lula e Dilma não saibam do que ocorria na Petrobrás.
Aliás, "saber" funciona aqui como eufemismo, quase mentira deslavada.

Adaptação abrupta ou gradual?


Os chefões da Camargo Corrêa se entregaram em São Paulo e foram levados a Curitiba em carros da Polícia Federal.
Já o manda-chuva da Mendes Júnior preferiu ir em seu jatinho particular entregar-se na capital paranaense.
Qual a melhor decisão?
Partamos do princípio de que todos estão acostumados a viver no luxo e no conforto. Princípio de fácil constatação empírica.
Os da Camargo Corrêa escolheram uma adaptação gradual à prisão. O da Mendes Jr preferiu passar direto do jatinho para a cela.
Qual a decisão mais sábia?

sábado, 15 de novembro de 2014

Zambujo e um Manual de Estética


Em meu tempo de criança, minha irmã mais velha gostava de mexer constantemente nos móveis da casa. Era guarda-roupa pra cá, cama pra lá, cristaleira de um jeito, depois de outro. Tudo mudava segundo o humor dela.
Meu pai, que trabalhava em casa, vivia a implicar com as alterações que ela promovia.
E as discussões eram inevitáveis.
- Isso assim não fica bem!
- O senhor não entende nada disso!
- E você! Acaso já leu algum Manual de Estética?
E por aí avançava a discussão.

À noite, costumávamos ficar ao lado de minha irmã ao piano. Eu de um lado, minha irmã mais nova do outro. Meus pais sentavam-se no sofá da sala para ouvir. A garotada da vizinhança vinha às vezes aboletar-se no murinho do jardim de casa para ouvir. Cantávamos de tudo um pouco.
Uma das músicas de que eu gostava era Risque. E a cantava a plenos pulmões. Pulmões fortes, aos nove anos de idade.



Um dia, meu pai – sem mencionar nenhum Manual de Estética – disse-me:
- Ouvi no rádio um cantor italiano a cantar uma versão de Risque em voz baixa, suavemente. Lindo!
Era uma sugestão. Que eu jamais acatei.


Descobri agora, tardiamente, que meu pai sugeria que eu ouvisse António Zambujo, anacronicamente.

Mais estrepolias de Chico Buarque


Não quis colocar aqui essa história antes das eleições brasileiras porque iriam pensar que eu estava a criticar Chico por ele ser cabo eleitoral da Dilma. É verdade que o clima continua o mesmo em terras tupiniquins. Mas como agora Inês já é morta, vamos aos factos.

Antes de mais, deixo claro que distingo autor e obra. É que gosto muito das canções compostas por Chico. Quanto ao próprio, comentei uma vez, em um texto, o facto de ele ter furtado carros quando jovem, junto com amigos que queriam divertir-se. Fui admoestado por atentos defensores de tudo que diz respeito à Esquerda. “Cuidado com a reputação das pessoas!”, diziam. Como se tais estrepolias não fossem de domínio público.

Li recentemente o livro Solo, de memórias de Cesar Camargo Mariano. Dele consta um episódio protagonizado por Chico. Raras são as críticas que Cesar Mariano faz a alguém em seu livro. E este episódio não se inclui entre elas. Ao contrário, ele o conta por considerá-lo um facto engraçado.

É verdade que até velório tem piada. Mas reproduzo aqui o relato de Cesar Mariano para salientar uma faceta do caráter de Chico Buarque.

Avaliações, é claro, são do leitor.

“Roberto [Colossi, empresário de Simonal e do SOM 3] tinha ido à Itália para administrar a produção de alguns shows do Chico com o Toquinho. Ele sabia que nós estaríamos viajando naquele período, mas jamais imaginamos nos encontrar em Roma, do jeito que foi, na rua.
Depois de rirmos muito com aquela coincidência, Chico nos convenceu, Simonal e eu, de que tínhamos de mudar para o hotel onde eles estavam.
- Por quê, Chico?
- É que tenho alguns planos.
Mudamos para o hotel onde os quatro estavam hospedados e começamos a execução do plano, depois de um longo ensaio, naquela mesma madrugada.
Passava da meia-noite, e Chico achou que estava na hora de começar. Cada um foi para o seu quarto. Colossi, Marieta e eu nos posicionamos, cada um à frente de seu próprio quarto, com a porta aberta. Nossa tarefa era de apoio. Tínhamos de vigiar.
O hotel inteiro, a essa altura, dormia. Silêncio total.
Pé ante pé, saíram de seus quartos Chico, Toquinho e Simonal, nus, somente com uma toalha amarrada na cintura, e começaram a recolher os pares de sapatos deixados do lado de fora de cada quarto, para serem engraxados. Trocaram os sapatos do nosso andar inteiro, inclusive os nossos. O par que fosse do quarto 23, por exemplo, ia para o 32, do andar de cima; o do 32 ia para o 16, no andar abaixo do nosso. Além disso, eles separavam os pares: o direito subia, e o esquerdo ficava ou descia. Os avisos de “não perturbe” eram trocados por “despertar às 3h...”, e os pedidos de café da manhã eram preenchidos com os cardápios mais loucos.
(…)
Tudo tinha de ser muito rápido, porque, às 4h da manhã, começava um verdadeiro pandemônio naquele hotel. Todos gritando, brigando... E nós também, no meio deles. A cena era indescritível.
Porém, no terceiro dia de ação, ouvimos a campainha do elevador, que era exatamente em frente ao quarto do Colossi e do meu, bem na hora em que os três estavam executando a tarefa no nosso próprio andar. Nus. Era um garçom do hotel. Não houve a menor chance de avisá-los. Foi muito rápido.
Foi muito rápida também a nossa saída do hotel, naquela mesma manhã, a convite da gerência e da polícia.
Dias depois daquela missão naquele hotel chiquérrimo de Roma (…) retornamos ao Brasil. “

(Solo - memórias, Cesar Camargo Mariano, pág. 182 a 184)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Breve contribuição ao esforço de alfabetização


Foi no tempo em que eu vivia meu 12º ou 13º ano de vida.
Dona Yolanda, professora de Canto Orfeônico no Colégio Canadá, escolheu-me para representar o colégio em um concurso na rádio Cacique de Santos a respeito dos hinos pátrios.
O programa foi realizado no auditório da rádio e transmitido ao vivo.
Na plateia os adeptos de cada escola faziam sua algazarra.
As perguntas não respondidas desclassificavam o concorrente.
Ao final, sobramos uma garota de não me lembro qual colégio e eu.
Os organizadores do concurso resolveram, então, que duas perguntas extras seriam feitas para provocar o desempate.
A menina conseguiu responder a dela.
Era minha vez. Pediram, então, que eu dissesse os primeiros versos do Hino Nacional Brasileiro em ordem direta. Não consegui responder no tempo concedido e perdi o concurso.
O pessoal do Canadá protestou. A alegação era a de que aquela não era uma pergunta referente aos hinos pátrios mas uma pergunta “de Português”.
Restaria explicar para que serve saber a letra de todos os hinos pátrios se não se tem claro o significado delas.

Para redimir-me parcialmente da falha de umas tantas décadas passadas, aí vai o início do Ouvirundum em ordem direta. Quem sabe ajudo com isso muita gente a finalmente entender o que ele diz.

As margens plácidas do Ipiranga
ouviram o brado retumbante
do povo heróico.

O Infinito


As religiões metem-se nesse assunto sem perceber o sarilho que as espreita.

Vejam a biblioteca infinita citada por Borges. Nela os livros são compostos ao acaso. As letras de todos os alfabetos são neles lançadas sem nenhum critério. O número de páginas de cada livro é também obra do Acaso. Isso parece prenunciar uma balbúrdia. Mas ela é infinita.

Nela estão infinitos livros sem sentido algum.
Mas em suas prateleiras estão, igualmente, todas as obras primas da literatura mundial. Traduzidas para todas as línguas.
Lá estão todos os manuscritos dos textos bíblicos, inclusivamente os originais, desconhecidos para nós.
Todos os livros já escritos e todos que ainda a capacidade humana produzirá.

Deixem, portanto, de falar em deuses. Ou, ao menos, de lhes atribuir caracteres absolutos, infinitos, e – ao mesmo tempo – querer decifrar suas vontades e decisões.

Quem somos nós para entender o infinito?

Entre dois pontos de uma reta há uma infinidade de outros pontos. Por mais próximos que eles estejam, um do outro, sempre haverá uma infinidade de outros pontos entre eles.
Se preferir, pense em números. Entre dois números reais sempre haverá uma infinidade de outros números reais.

Quando eu era menino, olhava o rótulo da lata de Toddy. Nesse rótulo havia um garoto que segurava uma lata de Toddy. E nessa lata de Toddy que ele segurava havia um garoto que segurava uma lata de Toddy na qual havia um garoto que segurava uma lata de Toddy na qual...


Tenham cuidado, crianças. O infinito é algo a ser tratado apenas pela Matemática e pelas Artes.

sábado, 8 de novembro de 2014

Palavras curiosas

Há palavras com histórias tristes. Histórias como as de pessoas que tinham tudo para dar certo na vida e, contudo, deslizaram para um pântano sem saída.

Puntual, por exemplo.
No início da década de 60 do século passado, quando comecei a estudar Mecânica, aprendi que “puntual” era algo relativo a ponto. A velocidade, por exemplo, era uma grandeza puntual. Quando o indivíduo está a conduzir em uma estrada, a cada ponto ele está a uma determinada velocidade. Ao final do percurso ele pode determinar a velocidade média com a qual percorreu seu caminho. Essa já não é algo puntual. É relativa a todo o trecho percorrido.
Os modernos dicionários de Português sumiram com o termo “puntual”. Tenho um antigo Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de 1.972. O mais próximo de “puntual” que ele regista é “puntiforme” ou “punctiforme” - aquilo que tem forma ou aparência de ponto.
Achei na Internet, felizmente, o termo “puntual” no Wikcionário (figura).



Hoje em dia diz-se, por exemplo, que a velocidade é grandeza pontual.
Ora, pontual é quem chega na hora. A qualquer velocidade.


Outra palavra que sofreu com as intempéries da vida foi “caráter”.
Essa palavrinha é mesmo curiosa. No singular ela tem mesmo uma conotação moral. Já no plural não. Se digo "O caráter deste indivíduo é..." isso já nos leva para o lado da moral. Mas se digo "Os caracteres deste indivíduo são...", aí não. Por isso é que quando, nas décadas de 60 e 70, os manuais de computadores (em inglês) referiam-se a letras, números e símbolos especiais, no singular como "character", no plural como "characters", o pessoal da área de informática conseguia traduzir o plural para "caracteres" mas achava errado traduzir o singular para "caráter". Passaram, então, a falar e a escrever bisonhamente "caractere". Pouco depois o Aurélio consagrou a bobagem...

Déjà pensé


Toda quinta-feira chegam a nossa casa as revistas Sábado e Visão.
Esta semana só esvaziamos a caixa de correio na sexta, ontem.
À noite comecei a ler a Sábado, que sempre começo a ler a partir do fim, onde fica a página de Alberto Gonçalves. Quanto à Visão, nem a toquei.

Não sei se a ideia surgiu ontem mesmo, à noite.
O de que tenho certeza é que acordei hoje a organizar na cabeça um pequeno conto.
Já ao pequeno almoço ele estava esquematizado. Começo, meio, fim.
Faltava formalizá-lo. Sentar ao computador e escrevê-lo.

Levei para a casa de banho a revista Visão. Pus-me a ler o conto de Lobo Antunes: Amadeu.
Não demorei a dar-me conta: era exatamente o conto que eu imaginara.

Teve a sorte de ser escrito por ele e não por mim.